Início Aves de Postura Ação&Manejo: Métodos de debicagem

Ação&Manejo: Métodos de debicagem

1
11737
debicagem

O assunto hoje é Métodos de Debicagem

A avicultura industrial passou por inúmeras transformações, como o aumento do volume de produção mundial para atender à crescente demanda por produtos e subprodutos dessa atividade e os diferentes níveis de exigência dos consumidores. O grande crescimento da avicultura brasileira é atribuído às novas tecnologias, melhoramento das linhagens, sanidade e nutrição das aves. Com isto, a indústria conseguiu aumentar o seu potencial de produção para disponibilizar aos consumidores uma fonte proteica saudável a um custo baixo (Rodrigues, 2016).

Nas explorações avícolas de postura, os índices de produtividade são influenciados pela hierarquização social, que mediante a intensificação da produção originam plantéis suscetíveis à agressividade e ao canibalismo (ARAÚJO et al., 2000). A manifestação desse tipo de comportamento pode estar associada à forma do bico, a intensidade da luz, predisposição genética para agressividade, idade, nutrição, densidade na gaiola ou piso e hierarquia das aves dentro do grupo (MAZZUCO, 2008).

A seleção genética para produção de ovos está indiretamente associada, em determinadas linhagens, às características negativas de comportamento, como a agressividade. Um dos maiores problemas enfrentados pela maioria dos produtores é, sem dúvida, a incidência de canibalismo no plantel, que pode variar consideravelmente, sendo que sua ocorrência se torna imprevisível, pois diversos fatores contribuem para esse comportamento (MAZZUCO, 2008).

Nesse contexto, a prática do manejo de debicagem é o método mais eficiente nos sistemas produtivos, principalmente para reduzir o canibalismo e arranque de penas, diminuir a quebra de ovos, seleção e desperdício de ração, melhorando a conversão alimentar, comportamento das aves e reduzindo mortalidade (ROCHA et al., 2008; ARAÚJO et al., 2005).

Entretanto, a debicagem apresenta desvantagens sob a ótica do bem-estar animal, alegando que é um procedimento que vai contra o bem-estar das aves, pois causa estresse, dor e, após este procedimento, as aves passam por um período em que não conseguem se alimentar normalmente, ocorrendo perda de peso e diminuição de seu desempenho produtivo. No entanto, é um manejo importante e essencial na avicultura de postura, pois não há uma alternativa viável que reduza efeitos negativos causados pelo canibalismo, arranque de penas, bicagem de ovos e mortalidade.

Por dentro dos Métodos de Debicagem

Convencional por lâmina quente

A debicagem é um manejo realizado na fase de crescimento das aves, que influencia diretamente no desenvolvimento e na qualidade das frangas. Um dos maiores desafios para os criadores de poedeiras é atingir um nível de debicagem adequado, sendo esta uma característica primordial para seu sucesso (HUNTON, 1998). O estresse resultante do mau procedimento e de falhas na debicagem pode afetar a produção inicial de ovos.

debicagem

O método convencional de debicagem com utilização de lâmina quente é o mais empregado pela maioria das granjas, porém, apesar de seus efeitos benéficos, sua metodologia demonstra controvérsias no que diz respeito ao bem-estar das aves (GENTLE, 2011; DENNIS & CHENG, 2010;). Essa prática de manejo consiste no corte e na cauterização do bico da ave com lâmina quente, sendo ideal realizá-lo com sete a oito dias de vida do animal, e quando houver necessidade da redebicagem deve ser feita até a 12ª semana de idade.


Radiação Infravermelha

Nos últimos anos, alguns métodos alternativos e menos agressivos vêm sendo testados para melhorar o bem-estar das aves. Como exemplo, podemos citar o tratamento de bico realizado por meio de radiação infravermelha no primeiro dia de vida da ave no incubatório. Essa metodologia consiste na exposição do bico de pintainhas à luz infravermelha, que é utilizada para tratar o tecido córneo da ponta do bico.

Dessa forma, há queda gradual do bico. Em aproximadamente 10 dias a ponta do bico amolece e cai, sem cortes que possam favorecer a entrada de patógenos ou gerar sangramentos, proporcionando tempo para o animal adaptar-se à alteração de tamanho e forma do mesmo, o que não é observado ao se debicar uma ave por meio do método de lâmina quente (DENNIS et al., 2009).  Nesse método também é necessário realizar a segunda debicagem, em torno de 70 dias de vida das aves. Por se tratar de um método automatizado, esse tipo de debicagem oferece precisão no tratamento e uniformidade de corte do bico, minimizando, assim, o erro do operador.

Por se tratar de uma tecnologia menos traumática, espera-se que tenha melhor aceitação sob o ponto de vista do bem-estar animal. Segundo Honaker & Ruszler (2004), sua aplicação no incubatório representa menor custo, quando comparada ao método convencional realizado na granja. Enquanto um profissional experiente no processo de debicagem convencional por LQ consegue debicar de 1000 a 1200 pintainhas/hora, no sistema automático por RI estima-se a debicagem de 4000 mil aves/hora (NOVA-TECH ENGINEERING, 2012).


Debicagem em V

Também tem-se adotado a debicagem V nas granjas, mas ainda são escassas as pesquisas sobre a realização dessa debicagem, em que é utilizado o debicador Verschuuren que realiza movimento de corte transversal com uma lâmina que no centro possui um formato em V. Essa técnica apresenta vantagens em relação à debicagem por lâmina quente e radiação infravermelha, porque elimina a segunda debicagem que é a mais estressante e dolorosa devido à idade da ave, justificando ser um método que merece ser estudado.

debicagem

Desgaste natural do bico

Existem pesquisas que enfocam métodos menos invasivos para a ave, que é a utilização de materiais abrasivos dentro dos comedouros, que promovem o desgaste natural do bico cada vez que a ave se alimenta (VAN de WEERD, 2006). Essa técnica procura reproduzir o que acontece na natureza quando as aves repetidamente ciscam e bicam o solo em busca de alimento.

A ideia surgiu a partir de trabalhos de Tauson (1986), que objetivava atender normativas da União Europeia em relação à presença de dispositivos de desgaste de unhas em gaiolas para poedeiras. Já que não ocorre o corte do bico, o bem-estar das aves é a principal vantagem do método. Outro ponto positivo é que o manejo fica mais fácil, pois o desgaste do bico ocorre naturalmente, sem a necessidade direta de intervenção humana.


Conclusão

A debicagem é uma prática comum e necessária na avicultura industrial brasileira, tendo como objetivo o favorecimento do consumo da ração balanceada, uniformidade do lote em padrões técnicos aceitáveis e redução da quebra de ovos, melhorando o desempenho e as condições de bem-estar das aves durante a vida produtiva, uma vez que evita o canibalismo e a mortalidade. Pela importância desse manejo, é necessário estudar métodos alternativos que sejam eficientes e, ao mesmo tempo, aceitáveis do ponto de vista do bem-estar das aves.

 

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

 

 

Bibliografia

ARAÚJO, L.F.; CAFÉ, M.B.; JUNQUEIRA, O.M.; ARAÚJO, C.S.S.; MOGYCA, N.S.S.; CUNHA, M.I.R. Diferentes Níveis de Debicagem para Frangas Comerciais. ARS Veterinária. v. 16, n.1, p: 46-51, 2000.

ARAÚJO, L.F.; CAFÉ, M.B.; LEANDRO, N.S.M. et al. Performance of layer hens submitted or not to different methods of the beak trimming. Ciência Rural, v.35, n.1, p.169-173, 2005.

ARAÚJO, L.F.; JUNQUEIRA, O.M.; ARAÚJO, C.S.S. Debicagem em poedeiras comerciais. Revista Avicultura Industrial, v. 1095, n. 10, 2001.

DENNIS, R.L.; FAHEY, A.G, CHENG, H.W. Infrared beak treatment method compared with conventional hot-blade trimming in laying hens. Poultry Science, v.88, n. 1, p. 38 – 43, 2009.

DENNIS, R. L.; CHENG, H. W. A comparison of infrared and hot blade beak trimming in laying hens. Journal of Poultry Science, v. 9, n. 8, p. 716-719, 2010.

GENTLE, M.J. Pain issues in poultry. Applied Animal Behaviour Science, v.135, n. 3, p. 252– 258, 2011.

HONAKER, C.F.; RUSZLER, P.L. The effect of claw and beak reduction on growth parameters and fearfulness of two Leghorn strains. Poultry Science, v.83, n.6, p. 873-81. Jun, 2004.

HUNTON, P. La polla perfecta. Avicultura professional, v.16, p.25-27, 1998.

MAZZUCO, H. Ações sustentáveis na produção de ovos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, suplemento especial p.230-238, 2008.

NOVA-TECH ENGINEERING, LLC. Products Infrared Beak Treatment (IRBT). Willmar, MN. Available in: http://www.nova-tech-eng.com/irbt. Accessed on: September 10, 2012.

ROCHA, J.S.R.; LARA, L.J.; BAIÃO, N.C. Produção e bem-estar animal: aspectos éticos e técnicos da produção intensiva de aves. Ciências veterinárias dos trópicos. RecifePE, v. 11, p.49-55, abril, 2008.

RODRIGUES, J. S. Bem-estar nos sistemas de produção de aves poedeiras. Jataí-GO, 2016.

TAUSON. R. Avoiding excessive growth of claws in caged laying hens. Acta Agriculturae Scandinavica , v.36, p. 95-106, 1986.

VAN DE WEERD, H. A. Beak blunting in hens: let the birds do the job. Poultry International, v. 45, n.11, p. 28-31, 2006.

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Resolva a conta abaixo *OBRIGATÓRIO