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Boas práticas na confecção e oferta de dietas completas para vacas leiteiras – Parte 2

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Vagão forrageiro: Detalhes importantes para uma boa consistência da TMR

Depois de falarmos sobre as vantagens da TMR (total mixed ration) e pontuarmos algumas características intrínsecas a esse conceito, partimos para um detalhe importante: o vagão forrageiro.

É importante salientar que fatores associados ao vagão são responsáveis pela maior parte das falhas na consistência da TMR. Inúmeros tipos de vagão estão disponíveis no mercado e podem funcionar muito bem, desde que a manutenção seja feita sempre que necessário, principalmente no que diz respeito a ajuste do número e afiamento das facas e desgaste das peças responsáveis pela mistura, e de que as recomendações de carregamento sejam seguidas. Alguns fatores relacionados ao vagão merecem atenção especial quando se busca estabilidade na dieta completa:

  • Checagem do nível e calibração da balança do vagão: Independente do tipo de equipamento, é muito importante que o vagão esteja em nível durante o carregamento dos ingredientes e mistura da batida. Quando o vagão está desnivelado, ingredientes podem acumular em um lado do equipamento, o que aumenta a margem de erro da balança e dificulta a boa mistura. Outro ponto importante é que: a cada três meses é recomendado que seja realizada calibração da balança do vagão. Normalmente, um erro de precisão inerente ao equipamento de 2 a 3% já é esperado. Entretanto, algumas balanças, quando descalibradas, podem apresentar erros superiores a 6%. Esses erros podem gerar desperdícios diários que, quando somados ao longo de um ano, seriam suficientes para alimentar todo o rebanho por semanas.
  • Tipo de vagão misturador: Existem vários tipos de vagões, mas basicamente os tipos mais usados são classificados em horizontais e verticais. Os principais pontos determinantes do manejo com esses vagões são relacionados com o tipo de alimentos utilizados na dieta, a ordem de carregamento dos ingredientes, o grau de processamento necessário para forragens e capacidades mínima e máxima de carregamento. Vagões verticais misturam melhor pequenas quantidades e são preferencialmente utilizados quando o número de vacas a serem alimentadas é menor. Além disso, são muito utilizados em sistemas de produção que necessitam incluir fardos de feno e outros alimentos grosseiros e pouco processados. Por outro lado, vagões horizontais misturam muito bem cargas pesadas, com vários ingredientes úmidos e com menor tamanho de partículas. A escolha do vagão deve levar em conta o tipo de ingredientes disponíveis na propriedade, tamanho da carga que será misturada e também assistência técnica dos revendedores. Entretanto, essas recomendações de manejo com o vagão podem variar principalmente devido à grande diversidade e modelos lançados a cada ano. Uma recomendação para a escolha do tipo de vagão na ocasião da compra é solicitar testes demonstrativos, incluindo os alimentos que são utilizados na fazenda (várias empresas no mercado fazem esse tipo de teste).

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  • Desgaste de peças do misturador: As peças em contato com os alimentos, como: as facas, rosca sem fim e chapas de cobertura, possuem vida útil e quando desgastados diminuem a capacidade de mistura. O grau e velocidade de desgaste depende do tamanho do rebanho, número de horas trabalhadas, dos cuidados de limpeza e manutenção e do tipo de alimento utilizados na TMR.
  • Ordem de carregamento dos ingredientes: Recomendações específicas para ordem dos ingredientes depende do tipo de vagão, dos ingredientes utilizados e também devem ser ajustadas de acordo com a experiência do operador em trabalhar com aqueles ingredientes. A variação da densidade e forma física dos ingredientes são grandes desafios para obtenção de misturas homogêneas. De maneira geral, ingredientes grosseiros (na maioria das vezes) devem ser adicionados primeiro. A adição de feno ou pré secado devem ser adicionados primeiro e pré-processado (picado) antes de ser adicionado em vagões com rosca do tipo horizontal. Além do feno, outros ingredientes de difícil mistura, como milho de alta umidade e silagem de capim, devem ser adicionados primeiro na batida do vagão, principalmente em vagões verticais. Ingredientes adicionados em pequenas quantidades devem ser colocados logo após ingredientes concentrados. Quando a silagem de milho for o único volumoso da dieta, ela deve ser colocada primeiro, pois o carregamento de concentrados no vagão vazio causará acúmulo dos mesmos nos cantos do vagão. Nesse sentido, adicioná-la ao final da ordem de ingredientes pode ser uma estratégia para diminuir impacto do vagão na moagem excessiva da silagem, desde que não atrapalhe a mistura (recomenda-se teste de ordem de ingredientes para validar a ordem). Vale lembrar que novos vagões vêm sendo desenvolvidos e alguns têm recomendações diferentes, por isso é sempre importante seguir as recomendações do fabricante e adaptá-las a cada realidade. Testes comparativos com diferentes ordens de carregamento também são necessários e auxiliam na tomada de decisão. O uso do CV (coeficiente de variação) pode ser a metodologia adotada (como considerado no artigo anterior).
  • Tempo de mistura: Outro fator que afeta a consistência da TMR e é um dos problemas mais comuns nas propriedades é a mistura incompleta do último ingrediente da batida, decorrente de tempo insuficiente de mistura. De modo geral, são necessários de 3 a 5 minutos após a adição do último ingrediente para que se obtenha uma mistura adequada, entretanto é comum observarmos propriedades misturando por apenas 30-60 segundos. Além disso, conforme desgaste dos componentes do misturador, o tempo necessário para que a mistura fique adequada pode aumentar. Por isso, também é alta a correlação entre TMR inconsistente e equipamentos desgastados. Por outro lado, tempo de mistura em excesso também é prejudicial, pois desgasta o equipamento, gasta mais combustível e tempo. Além disso, diminui o tamanho de partícula da dieta total, predispondo os animais a distúrbios metabólicos, como a acidose ruminal. O tempo ideal de mistura é indicado pelo fabricante do vagão, mas pode ser aferido para cada dieta específica, com o método das peneiras e avaliação dos CV com diferentes tempos de mistura.

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  • Sobrecarga do vagão: Um aspecto importante a ser considerado é que fatores como número de tratos, tamanho de lotes, tipo de ingredientes, distância a ser percorrida pelo vagão são grandes determinantes na hora da escolha/compra do vagão. Tanto o excesso quanto a falta de carga afetam a qualidade da mistura da dieta. Quando a carga do vagão é muito baixa, os alimentos a serem misturados não atingem o topo das roscas sem fim e não são adequadamente misturados. Por outro lado, o excesso de carga é um grande determinante da ocorrência de TMR inconsistente. O excesso de carga diminui a vida útil do misturador, afeta a calibração da balança e a capacidade de mistura dos ingredientes. De acordo com pesquisas do Dr. Oelberg, a sobrecarga aumenta, não somente o coeficiente de variação na análise das peneiras, mas também afeta a composição nutricional da dieta, como mostra a figura 1.
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Figura 1. Coeficientes de variação dos nutrientes em amostras de TMR de um vagão sobrecarregado (vagão com excesso de carga) ou com a carga recomendada (vagão normal). Fonte: Adaptado de Oelberg, 2011.

A composição da TMR pode ser afetada em vários graus de magnitude e em praticamente todos os componentes nutricionais.  De acordo com um trabalho realizado pelo Dr. Oelberg em fazendas americanas (mas que reflete o que acontece em nossa realidade), vagões são grandes causadores da baixa constância na proporção de ingredientes da dieta. A equipe do Dr. Oelberg avaliou as causas de variação na qualidade das misturas e verificou que mais de 20% das fazendas avaliadas e com qualidade regular de mistura tinham equipamentos desgastados, 13,5% apresentavam tempo de mistura insuficiente após a adição do último ingrediente, 10% dos problemas eram devido à falta de processamento adequado do feno e restante dos problemas (em torno de 23%) estavam ligados a ordem de carregamento, desnível de vagão, forma física dos ingredientes, sobrecarga dos vagões e/ou combinação de problemas;

As vacas são animais que maximizam seu potencial quando submetidos a rotina. Dentro de um mesmo lote de animais, quanto mais constantes (em qualidade, proporções e horários) forem as ofertas das dietas, melhor. O dispêndio de trabalho e custos fixos na produção de uma dieta de boa ou de má qualidade é praticamente o mesmo. Portanto, boas práticas na confecção e oferta de dietas completas permitem bom desempenho e saúde dos animais, reduzem custos e aumentam a vida útil dos implementos. O uso do conceito de TMR de forma eficiente e consistente, assim como o monitoramento contínuo da qualidade e manejo na confecção da dieta, exercem grande impacto sobre a produção de leite e, consequentemente, sobre a lucratividade da fazenda.

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Referências bibliográficas

Oelberg, T. 2011. TMR AuditsTM Melhora a Consistência de TMR. Oficina de nutrição pecuária de gado leiteiro Penn State.

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