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Exigências nutricionais para codornas na fase de produção

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A coturnicultura é um segmento dentro da avicultura destinado à criação de codornas, que vem se destacando como excelente atividade produtiva, com baixo investimento inicial, pequeno espaço e proporcionando rápido retorno econômico (SILVA et al, 2005). Dentro desse segmento, o custo com a alimentação representa cerca de 70%, sendo a proteína responsável por cerca de 25% deste custo (SILVA & RIBEIRO, 2001).

As exigências nutricionais de codornas diferem das outras aves por serem mais exigentes em proteína (aminoácidos), menos em cálcio e mais energia (SILVA et al., 2012). Dentre os nutrientes mais importantes para produção de ovos, a proteína bruta da dieta, quando fornecida em níveis marginais, promove redução no crescimento e na produção de ovos e, quando fornecida em excesso, pode limitar o desempenho das aves (JORDÃO FILHO et al., 2006).

Segundo Silva et al. (2012) os níveis de proteína bruta recomendados na literatura variaram de 16% até 25%, enquanto as recomendações de energia metabolizável também apresentaram elevada heterogeneidade, cuja oscilação é de 2.600 a 3.150kcal. Essas diferenças talvez reflitam variações genéticas, experimentais ou climáticas, que afetam o desempenho das codornas.

Avaliando diferentes níveis de proteína (14, 17, 20, 23 e 26%) na dieta de codornas japonesas na fase de produção, Lima et al. (2014) verificaram que o nível de 20% proteína bruta na dieta foi o que promoveu os melhores índices produtivos. Segundo Murakami (2002), a taxa de postura possui uma correlação positiva com o teor proteico da dieta.

De acordo com Scottá et al. (2011), avaliando rações com 19,5% de PB, concluíram que o melhor desempenho zootécnico de codornas japonesas na fase de produção foi naquelas alimentadas com relação metionina+cistina digestível: lisina digestível de 66%. Nesse contexto, observamos na Tabela 1 que a relação de metionina+cistina digestível: lisina digestível (82%) para codornas japonesas para fase de produção, difere do estudo acima.

Tabela 1. Exigências de codornas japonesas para fase de produção Rostagno et at. (2017)

Fase de Postura

Peso corporal (g)

0,190

0,200

0,210

Consumo, g/dia

25,85

24,48

23,13

Massa de ovo, g/dia

11

10

9

Energia Metab., kcal/kg

2800

2800

2800

Proteína Bruta %

18,92

19,00

19,07

Cálcio %

2,990

3,158

3,342

Fósforo disponível %

0,309

0,327

0,346

Sódio %

0,147

0,155

0,164

Lisina digestível %

1,149

1,107

1,059

Metionina digestível %

0,517

0,498

0,477

Metionina + Cisteína digestível%

0,942

0,908

0,869

Treonina digestível %

0,701

0,675

0,646

Triptofano digestível %

0,241

0,232

0,222

Valina digestível %

0,862

0,830

0,794

Isoleucina digestível %

0,747

0,720

0,688

Avaliando as exigências nutricionais de lisina para codornas durante a fase de produção, em função do nível de proteína da ração, Ribeiro et al. (2003) concluíram que a exigência de lisina total foi 1,07% ou consumo de 287 mg/dia, com 20% de proteína na ração e de 1,15% ou consumo de 321 mg/dia, com 23% de proteína na ração.

De acordo com Klasing (1994), uma possível deficiência dos aminoácidos pode ocasionar aumento do consumo de ração para suprir as exigências, refletindo no aumento da deposição desproporcional de tecido adiposo em relação à deposição muscular. Em relação às exigências de aminoácidos para aves, torna-se difícil sua definição, principalmente porque sabemos que vários fatores, como: expressão genética, densidade calórica na dieta, ambiência, densidade populacional e sanidade, podem influenciar esses requerimentos (ARAÚJO et al., 2001).

Segundo Garcia et al. (2000), ao analisarem exigências nutricionais de cálcio (2,5%; 3,0%; 3,5% e 4,0%) e fósforo disponível (0,27%; 0,32%; 0,37% e 0,42%) para codornas japonesas em postura, concluíram que as exigências nessa fase foram 0,36% de fósforo disponível e 2,5% de cálcio. Na mesma linha de pesquisa, Stanquevis et al. (2021) avaliando níveis de cálcio (1,70%; 2,40%; 3,10% e 3,80%) e fósforo disponível (0,15%; 0,30%; 0,45% e 0,60%) para codornas no início de produção, estimaram que 2,68% de cálcio e 0,38% de fósforo foram as melhores respostas para o desempenho das aves. Na última Tabela Brasileira para Aves e Suínos, em 2017, para fase de produção, os autores sugeriram níveis de cálcio por volta de 3,15% e fósforo disponível em 0,32%.

No caso da energia, Barreto et al. (2007) afirmaram que somente uma parte do total de energia consumida, equivalente em torno de 20 a 27%, é destinada à produção. Entretanto, quando essa energia é oferecida na dieta em níveis marginais, não atendendo à manutenção e à produção de ovos, pode prejudicar o desempenho zootécnico dessas aves. A energia é o fator de maior relevância para que sejam obtidos ótimos resultados de produção (LEESON et al., 1996).

Fonseca et al. (2021), avaliando diferentes níveis de energia metabolizável (2.600; 2.875 e 3.150 kcal/kg) e quatro níveis de lisina digestível (0,90; 1,05; 1,20 e 1,35%) na dieta de codornas na fase de produção em clima quente, concluíram que o nível de 3.150 kcal/kg associado com 0,90% de lisina digestível atendeu as exigências das aves, promovendo a melhor produção e qualidade dos ovos em clima quente.

De acordo com Sechinato et al. (2006) é importante que a ave receba quantidades suficientes de todos os nutrientes, dentre esses os minerais, pois participam intensamente nos processos bioquímicos corporais. Nesse sentido, recomendações de microminerais são apresentadas na Tabela 2 para todas as fases de criação de codornas.

Tabela 2. Níveis mínimos de microminerais para todas as fases de criação de codornas

Minerais (ppm)

Silva & Costa (2009)

NRC (1994)

Crescimento
Ferro

95

120

Iodo

1,0

0,3

Cobre

3,6

5,0

Manganês

68

60

Zinco

30

25

Selênio

1,0

0,2

Cobalto

0,2

Produção
Ferro

95

60

Iodo

1,0

0,3

Cobre

3,6

5,0

Manganês

68

60

Zinco

30

50

Selênio

0,5

0,2

Cobalto

0,2

Fonte: Silva & Costa (2009)

De acordo com Silva et al. (2012) as vitaminas exercem funções metabólicas diversas, atuando como precursoras ou como coenzimas nos processos metabólicos dos nutrientes. Sob estresse calórico, o consumo de ração reduz, ocasionando o aumento de perdas endógenas de muitas vitaminas e alterando as exigências. As micotoxinas, como por exemplo a Fumonisina B1, pode aumentar a exigência de ácido fólico em codornas (BUTKERAITIS et al., 2004). Nesse contexto, são apresentadas as recomendações de vitaminas na Tabela 3 para crescimento e produção de codornas.

Tabela 3. Recomendações de vitaminas para codornas europeias em todas as fases.

Crescimento

Produção de ovos

Vit. Lipossolúveis

Silva et al. (2009)

NRC (1994)

Silva et al. (2009)

NRC (1994)

Indústria Brasileira

A (UI)

850

1.650

1.650

3.300

7.000

D3 (UI)

300

750

250

900

2.100

E (UI)

45

12

75

25

50

K3 (mg/kg)

0,55

1,5

1,5

1

2

Vit. Hidrossolúveis
B12 (mg/kg)

0,004

0,003

0,002

0,003

3

Biotina (mg/kg)

0,30

0,30

0,10

0,15

0,10

Colina (mg/kg)

1.300

2.000

2.090

1.500

1.500

Folacina (mg/kg)

0,36

1

0,3

1

1

Niacina (mg/kg)

15

40

9

20

39,8

Ác. Pantotênico (mg/kg)

5

10

4,5

15

15,6

Piridoxina (mg/kg)

2,5

3

3

3

4

Riboflavina (mg/kg)

5

4

2,5

4

3

Fonte: Silva & Costa (2009).

O custo com alimentação é o mais oneroso da criação, sendo a proteína, energia e fósforo os que mais impactam nesse custo (mais de 85%). Para desenvolver todo o seu potencial zootécnico, devemos lembrar que o ótimo desempenho depende da interação de vários fatores, como: genética, nutrição, sanidade, manejo, densidade, bem-estar animal, entre outros. Nesse sentido, podemos descrever como considerações a importância do fornecimento balanceado dos nutrientes exigidos pelas aves para que possam desempenhar todo seu potencial zootécnico e com a maior rentabilidade aos produtores.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix


REFERÊNCIAS:

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BARRETO, S.L.T.; QUIRINO, B.J.S.; BRITO, C.O.; UMIGI, R.T. et al. Níveis de energia metabolizável para codornas japonesas na fase inicial de postura. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, p.79-85, 2007.

BUTKERAITIS, P.; OLIVEIRA, C.A.F; LEDOUX, D.R.; OGIDO, R.; ALBUQUERQUE, R.; ROSMANINHO, J.F.; ROTTINGHAUS, G.E. Effect of dietary fumonisin B1 on laying japanese quail. British Poultry Science, v.45, p.798-801, 2004.

FONSECA, T.S.; TON, A.P.S.; CORASSA, A.; SBARDELLA, M.; RODRIGUES, C.P.; ANDRADE, E.A.; AMARAL, A.D.; DOMICIANO, I.R.; GRIESER, D.O. Metabolizable energy and digestible lysine for Japanese quais reared in a hot climate. Livestock Science, 2021.

GARCIA, J.; MURAKAMI, A. E.; MARTINS, E. N.; FURLAN, A. C., Exigências nutricionais de cálcio e fósforo para codornas japonesas (Coturnix coturnix japônica) em postura, Acta Scientiarum 22(3):733-739, 2000.

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KLASING, K. C. Comparative avian nutrition. CAB International, p. 350, 1994.

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LIMA, R.C.; COSTA, F.G.P.; GOULART, C.C. et al. Exigência nutricional de proteína bruta para codornas japonesas (Coturnix coturnix japônica) na fase de postura. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.66, n.4, p.1234-1242, 2014.

MURAKAMI, A.E. Nutrição e alimentação de codornas japonesas em postura. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., 2002, Recife. Anais… Recife: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2002, p.283-309.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirements of poultry. 9.ed., 1994. 155p.

RIBEIRO, M.L.G; SILVA, J.H.V.; DANTAS, M.O.; COSTA, F.G.P; OLIVEIRA, S.F.; JORDÃO FILHO, J.; SILVA, E.L. Exigências nutricionais de lisina para codornas durante a fase de produção, em função do nível de proteína da ração. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, p.156-161, 2003.

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SILVA, J.H.V.; COSTA, F.G.P. Tabela para codornas japonesas e europeias. 2.ed. Jaboticabal, SP: FUNEP, 2009. 110p.

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STANQUEVIS, C.E.; FURLAN, A.C.; MARCATO, S.M. et al. Calcium and available phosphorus requirements os japanese quais in Early egg-laying stage. Poultry Science, p.147-158, 2021.

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