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Fatores importantes para se garantir saúde do aparelho locomotor das matrizes suínas

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A produção de suínos, no sistema industrializado, fez com que as matrizes e reprodutores fossem confinados em construções que proporcionam o máximo de aproveitamento da área construída, que facilitam as práticas de limpeza e desinfecção. Para se atingir esses objetivos, as construções tiveram como base o concreto, as estruturas metálicas e mais recentemente, o plástico. Todos esses materiais oferecem um contato diferente entre os cascos dos suínos e o chão do ambiente. Para se contrapor a essa adaptação de materiais das construções na suinocultura moderna, temos as características anatômicas dos cascos dos suínos, que são muito pequenos para suportar um peso elevado dos animais, de 200 kg em uma matriz jovem, até 450 kg em um reprodutor adulto, por exemplo. Desta forma, a realidade da suinocultura é a seguinte: tem-se um animal pesado e que se movimenta muito pouco, além de cascos com áreas de contato pequenas para suportar um grande peso.

Os problemas locomotores das fêmeas suínas causam dor e dificuldade de movimentação, comprometendo a busca por alimento e água.  Por causa dessas alterações, sobretudo a ingestão de água, há consequências negativas para a saúde geniturinária e a deficiência de ingestão de nutrientes, resultando em perdas de produtividade reprodutiva, levando ao descarte precoce das matrizes.

Existem poucas investigações a respeito da prevalência e do grau de lesões nos cascos dos suínos e aparelho locomotor em matrizes e reprodutores suínos. Em estudo realizado recentemente no Brasil por KRAMER et al. (2013), foram analisadas as prevalências das lesões de casco nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, evidenciando que a situação brasileira assemelha-se à realidade mundial, na qual a maioria das fêmeas apresentaram alguma lesão, sendo o crescimento e erosão da almofada plantar a lesão de maior prevalência (92%) em animais que apresentam algum grau de claudicação.

Ao se fazer uma análise média da prevalência das lesões de casco em publicações de 2007 a 2014, notar-se-ão 87% de prevalência de lesões de casco em animais que apresentam claudicação, evidenciando que praticamente todas as matrizes que se apresentam mancando, nos sistemas de produção de todo o mundo, indicam algum tipo de lesão nos cascos dos suínos. O grau das claudicações e lesões dos cascos dos suínos não foi contabilizado, mas essa talvez seja a segunda – ou terceira – causa mais frequente de descarte de matrizes. Sabe-se que o alto percentual de porcas que apresentam lesões nos cascos dos suínos  pode estar relacionado à intensa seleção genética e ao manejo adotado na suinocultura, os quais buscam animais de rápido crescimento, proporcionando maior peso corporal no menor tempo possível. Esse rápido crescimento pode ter impactos na saúde do aparelho locomotor, porque o crescimento da massa muscular pode não vir acompanhada do crescimento da estrutura esquelética e de anexos, como os cascos dos suínos. É possível observar esse descompasso entre o crescimento muscular e o estrutural ósseo, quando se constata que a maioria dos defeitos estruturais que as leitoas apresentam durante a fase de preparação para cobertura, são relacionadas a desvios do alinhamento do crescimento dos membros, falhas no crescimento dos cascos dos suínos e calosidades nas partes distais dos membros.

A distribuição do peso corporal entre os membros pode ser um fator determinante no desenvolvimento de lesões, de forma diferenciada entre unhas e membros. As unhas laterais dos membros posteriores suportam pesos significativamente maiores, quando comparadas às unhas mediais dos membros posteriores e às unhas anteriores. Esses fatores – possivelmente – explicam a razão pela qual os membros posteriores e suas unhas laterais apresentam maior prevalência de lesões. Além disso, o rápido crescimento dos animais favorece o aparecimento de lesões e deformações, no mesmo ritmo em que desaparecem, dependendo principalmente das condições nutricionais, da velocidade de desgaste das unhas e da qualidade do ambiente que esses animais são criados.

Figura 1 – Corte longitudinal e lateral das extremidades inferiores dos membros dos suínos

Visualização estruturas anatômicas. Vizcaíno et al., (disponível em www.3tres3.com.pt/artigos/as-coxeiras-das-porcas-são-subestimadas-ii_6355/) consultado em Março de 2020.

As matrizes que possuem rachaduras nos cascos dos suínos, crescimento excessivo das unhas e erosão, ou sobre crescimento da almofada plantar, apresentam maior incidência de claudicação e redução do desempenho reprodutivo. As lesões que acometem o córion, como as rachaduras profundas e lesões da linha branca, são mais passíveis de causarem processos inflamatórios graves e intensa dor.

As lesões na almofada plantar podem variar de lesões superficiais a rachaduras profundas, que resultam em dor e claudicação. O crescimento e erosão da almofada plantar é a lesão de maior prevalência no Brasil, sendo comum encontrar mais de 90% das porcas com essa lesão (KRAMER et al., 2013).

Figura 2 – Sobre crescimento de unhas e erosão de almofada plantar

Visualização estruturas anatômicas. Vizcaíno et al., (disponível em www.3tres3.com.pt/artigos/as-coxeiras-das-porcas-são-subestimadas-ii_6355/) consultado em Março de 2020.

Devido à fragilidade tecidual, a linha branca é também muito susceptível ao efeito abrasivo do concreto e do efeito erosivo de enzimas bacterianas. Essas lesões, quando não são decorrentes do sobre-crescimento da almofada plantar, sobretudo, em animais jovens, estão relacionadas com a fase de recria e possivelmente, associadas à baixa suplementação vitamínica e mineral que esses animais são expostos em algumas das granjas, porque em alguns sistemas esses animais são alimentados com dietas comerciais, formuladas para animais de abate, as quais não têm vitaminas, micro minerais, cálcio e fósforo suficientes para a melhor mineralização óssea e o perfeito crescimentos das estruturas dos cascos dos suínos. Em alguns casos também, a umidade das instalações, pelo uso de lâmina d’água ou pelo contato constante com fezes e/ou urina, podem contribuir para os danos aos cascos dos suínos.

Rachaduras horizontais na parede do cascos dos suínos são lesões paralelas à banda coronária. A prevalência média das rachaduras horizontais nos rebanhos brasileiros supera 50% das fêmeas (KRAMER et al., 2013) e normalmente, compromete várias unhas em um mesmo animal.

A parede do casco normalmente tem grande capacidade de suportar tensão, funcionando como parede elástica. Quando a qualidade do tecido cornificado está diminuída, em decorrência de alterações subclínicas, como nos casos de laminite ou erosão da almofada plantar, a capacidade de resistência à tensão é diminuída. Rachaduras profundas na parede do casco podem causar claudicação, com possível intensificação da dor quando há infecção e inflamação secundárias.

O crescimento exagerado das unhas é relativamente comum e ocorre quando o desgaste das unhas é inferior ao crescimento da cápsula córnea. A ocorrência dessas lesões pode estar relacionada ao crescimento da almofada plantar, com a manutenção dos animais em piso que não proporcione desgaste adequado das unhas, bem como pela ocorrência de laminite. Nesse caso, normalmente, mais de um dígito apresenta o sobre-crescimento da unha.

As características do piso e do ambiente onde as porcas se encontram podem alterar a locomoção do animal, interferindo na integridade dos cascos dos suínos. Cobertura do piso, umidade, dureza, quão escorregadio é o piso, sua abrasividade, limpeza, qualidade e espaçamento entre as barras do piso ripado ou a presença de defeitos ou irregularidades, podem resultar na ocorrência de lesões de casco.


Gestação individual ou coletiva: qual o impacto sobre o aparelho locomotor?

O tipo de alojamento na gestação também influencia no desenvolvimento de lesões. A baixa incidência de problemas locomotores é um indicador de bem-estar animal, porque o descarte precoce de matrizes está vinculado a condições dolorosas. Embora os sistemas de alojamento de porcas em baias coletivas sejam uma iniciativa de tornar os ambientes de criação mais apropriados para que os animais expressem seus comportamentos naturais, como o convívio em grupos, nota-se que, os animais levam um tempo para se adaptarem aos novos grupos e, com isso, estabelecem disputas corporais produzindo lesões.

A adoção de gestações individuais ou coletivas, além da quantidade e tipos de movimentação dos animais, podem contribuir para o desenvolvimento de lesões de casco e outros tipos de traumatismos e, consequentemente, levar as fêmeas à claudicação.

Porcas alojadas em baias com sistemas eletrônicos de alimentação apresentaram maior probabilidade de desenvolver lesão em alguma das unhas, quando comparadas a porcas mantidas em gaiolas individuais. Achados de Cunha et al., 2018 evidenciaram os efeitos do alojamento coletivo 7 dias após a inseminação ou 30 dias após a inseminação em populações de leitoas e porcas e observaram redução na taxa de parto do grupo de leitoas alojado com 7 dias. Além disso, esses animais também apresentaram aumento na incidência de injúrias na pele e de claudicação, quando comparados ao grupo alojado aos 30 dias após a inseminação. A contabilização das perdas reprodutivas foi maior no grupo alojado com 7 dias pós-inseminação, porque as fêmeas estavam em fase de maior vulnerabilidade gestacional, o que não indica redução na incidência de disputas que causem lesões no aparelho locomotor. Não foram observados efeitos reprodutivos em porcas adultas. Além dos fatores hormonais que afetam a produtividade das matrizes em sistemas que produzem estresse, as adaptações sociais de hierarquia induzem aos menores consumos de ração para os grupos de porcas submissas e maiores consumos aos pequenos grupos de porcas dominantes. Esse desequilíbrio no comportamento de consumo está intimamente relacionado com a alteração da ingestão de nutrientes, sendo que as fêmeas submissas poderão apresentar deficiência de nutrientes importantes para a manutenção do aparelho locomotor, assim como os demais sistema orgânicos.


Como a nutrição pode auxiliar no desenvolvimento do aparelho locomotor?

Para que o rebanho seja formado por matrizes longevas e produtivas, com pernas e cascos dos suínos saudáveis, é fundamental que se inicie o processo de nutrição e formação da estrutura esquelética da sua futura reprodutora, desde o dia em que ela foi concebida. Há muitas evidências e trabalhos científicos que demonstraram a correlação positiva entre peso ao nascimento e eficiência reprodutiva das matrizes, ou seja, leitoas nascidas com peso ideal apresentarão melhor eficiência reprodutiva que suas irmãs que nascerem com peso inferir a 1 kg. Leitões que nascem com baixo peso podem apresentar crescimento retardado e essa característica pode ser indicadora de desenvolvimento da estrutura corporal insuficiente para uma futura reprodutora. Por isso, a nutrição intrauterina é fundamental para um rebanho de avós ou bisavós, para que a frequência de nascimentos de leitoas de baixo peso não seja alta e se possa aproveitar ao máximo as leitoas produzidas.

As futuras matrizes devem ser colocadas em ambiente de creche adequado quando desmamadas e precisam receber nutrição vitamínica, mineral e proteica, capaz de modular a taxa de crescimento, dentro da curva desejada para o cruzamento genético, para que todas as estruturas corporais se desenvolvam sincronizadamente, sem que ocorra pressão sobre cascos dos suínos ou articulações por falta de desenvolvimento de alguns tecidos, em detrimento do acelerado crescimento da massa muscular. Os materiais genéticos modernos têm como características muito fortes o crescimento muscular e se não estivermos atentos ao desenvolvimento esquelético, reprodutivo e dos anexos, poderão ocorrer os desvios e as deformações que culminam no descarte das leitoas. A nutrição vitamínica e mineral é fundamental para essa fase, pois as necessidades atendidas para os cevados, em dietas comerciais, são inferiores às necessidades para mineralização robusta dos ossos e formação perfeita das articulações e cascos dos suínos. O aumento do peso corporal dos animais aumenta a pressão exercida por unidade de área do casco, o que, por sua vez, aumenta a possibilidade de desenvolvimento de lesões, não somente sobre os cascos dos suínos, mas também sobre todas as articulações e ligamentos.

Alguns nutrientes – especificamente – se destacam com funções para a nutrição e fortalecimento dos cascos. 

A resistência do casco, além de ser definida pelo tipo de queratina que o constitui, está relacionada com sua composição mineral. Os níveis de cálcio, fósforo, cobre e zinco são altos na queratina “dura” como na parede do casco, enquanto água, sódio, potássio e ferro estão presentes em níveis mais altos na queratina “mole”, como nas almofadas plantares (ANIL et al., 2007; VAN RIET et al., 2013). Deficiências na suplementação desses minerais podem resultar na redução da resistência do casco, predispondo-o a lesões. O consumo insuficiente de cálcio e fósforo na dieta diminui a disponibilidade e concentração plasmática do mineral, reduzindo sua disponibilidade para deposição nos tecidos dos cascos dos suínos.

Aminoácidos sulfurados, como cisteína e metionina, são importantes para os processos de queratinização dos tecidos córneos, cascos dos suínos e sobre unhas (WENDT, 2011). Os aminoácidos sulfurados, o zinco e cobre são compostos que participam do processo de crescimento dos tecidos que compõem a parede do casco, assim como o equilíbrio do suprimento de cálcio e fósforo (VAN AMSTEL & SHEARER, 2001; LEAN et al., 2013). Por essa interrelação entre nutrientes, quando estes não são fornecidos em quantidade adequada, ocorre a formação de cascos dos suínos mais frágeis e susceptíveis a rachaduras de parede. O zinco é o micro mineral mais abundante no meio intracelular e faz parte de mais de 200 sistemas enzimáticos. Além disso, participa na formação de proteínas estruturais durante o processo de queratinização e na regulação enzimática durante a diferenciação dos queratinócitos, sendo fundamental para garantir a integridade celular.

Segundo Souza et al.(2015) ao suplementarem porcas e leitoas gestantes e lactantes com minerais complexados com metionina, composto por zinco, manganês e cobre, na proporção 50, 20 e 10 ppm, respectivamente, verificaram a prevalência de lesões nos cascos dos suínos e graus de claudicação nos animais antes do início do ciclo e depois do tratamento ao longo da gestação e lactação. Além disso, foi constatada redução no grau de claudicação em ambos os grupos: primíparas e pluríparas. Não somente os minerais complexados com aminoácido podem aumentar as possibilidades de absorção e utilização no metabolismo dos suínos, os demais complexos com outras substâncias facilitadoras da absorção também podem aumentar a disponibilidade dos minerais para os tecidos de maior demanda, como, nesse caso: os tecidos estruturais, esqueléticos e tegumentares.

As vitaminas também exercem papel importante na integridade dos cascos dos suínos. A vitamina A é demandada durante os processos de diferenciação celular (MÜLLING et al., 1999; VAN RIET et al., 2013). As vitaminas D e E também participam dos processos de produção dos tecidos queratinizados (TOMLINSON et al., 2004). A biotina, por sua vez, é possivelmente a vitamina de maior importância no processo de queratinização (TOMLINSON et al., 2004) e a que recebeu maior atenção no meio científico, em relação à saúde dos cascos dos suínos (VAN RIET et al., 2013). Trata-se de uma vitamina hidrossolúvel do complexo B, requerida no processo de queratinização e essencial para a produção da substância cimentante intercelular (MÜLLING et al., 1999; VAN BARNEVELD & VANDEPEER, 2008).

Com base nas informações apresentadas, nota-se que a nutrição de reprodutoras é algo que precisa ser observado de perto. As necessidades desses animais são muito diferenciadas das necessidades dos animais de engorda, porque são aqueles que têm uma previsão de permanecerem muito tempo no rebanho. A reprodução vai exigir desses animais uma estrutura esquelética e de cascos dos suínos que assegurem seu perfeito deslocamento em busca de alimento e água. Além de a prolificidade das matrizes modernas fazer com que esses animais tenham uma taxa de mobilização de reservas corporais acelerada e uma alta taxa de translocação de nutrientes, das mães para os fetos.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

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