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Nas águas, mais arrobas com menor custo

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tip nas águas

TIP NAS ÁGUAS: Período chuvoso é extremamente favorável à engorda intensiva a pasto. Pode-se alojar 10 cab/ha e obter ganhos similares aos do confinamento, fornecendo menos ração no cocho.

Se na seca a TIP é rentável para o produtor, imagine nas águas, quando as pastagens apresentam alta produção forrageira e melhor teor proteico? Neste período, é possível trabalhar com altas lotações, porém fornecendo menor quantidade de ração no cocho para se atingir o ganho individual projetado. “A TIP nas águas acelera a engorda, antecipa o abate dos animais e eleva a produtividade por hectare. Trata-se de uma estratégia muito vantajosa e está sendo adotado em todo o Brasil”, garante Matheus Moretti, gestor técnico de bovinos de corte da Agroceres Multimix.

Segundo ele, é possível obter ganhos similares aos do confinamento, mesmo com lotações altas (10 cab/ha), fornecendo aos animais de 1% a 2% do peso vivo em concentrado, ante 1,5% a 2,2% na seca, período em que se  tem ganhos semelhantes no sistema, mas com lotação de 4 a 7 cab/ha. Sintetizando: nas águas, produz-se mais arrobas na TIP, gastando menos. “E não se economiza apenas com ração. Maiores produtividades permitem diluir custos fixos, como formação de pastagens, administração e mão de obra”, detalha Moretti, ressaltando, porém, que é importante ter cochos cobertos, para evitar que a água da chuva estrague o alimento no cocho.

Muitos produtores consideram essas instalações caras, mas o gestor da Agroceres comenta que a forma de encarar o custo da cobertura deve ser diferente. “Devemos avaliar esse desembolso sob a ótica do custo: benefício. Uma cobertura feita de madeira, ferro e chapa galvanizada, custa em torno de R$450 a R$500 por metro, o que pode parecer caro em um primeiro momento, porém, se  considerarmos a quantidade de arrobas produzidas por metro de cocho e diluirmos esse investimento em 5 anos, por exemplo, veremos que ele não chega a R$2 por arroba ganha”, explica Moretti.

Pode-se ainda pensar que, em relação ao produtor que não tem um sistema de terminação intensiva, a melhoria no padrão de acabamento e rendimento de carcaça paga a conta da cobertura. O desafio em alguns projetos é o desembolso inicial para estruturar toda a área, o que não inviabiliza a estratégia. “Podemos escalonar o investimento, cobrindo os cochos aos poucos, ou ainda, optar por trabalhar com dois tratos. Neste caso, tem-se um operacional maior, mas funciona perfeitamente”, salienta o técnico.

Equacionada essa questão, o sistema flui tranquilamente. Após adubar as pastagens no início das águas, para elevar a produção forrageira e garantir altas lotações, basta esperar o capim atingir a altura adequada e introduzir os animais na área, tratando-os uma ou duas vezes ao dia, dependendo do tipo de cocho. Opta-se pela lotação contínua, uma vez que, ao rotacionar, sempre que os animais mudam de piquete existe a tendência de ocorrer queda no consumo de ração. “Na fase de engorda, queremos que a dieta do animal oscile o menos possível”, salienta Moretti, defendendo a importância do manejo contínuo. De acordo com ele, em alguns projetos, por uma questão de manejo da pastagem e adubação, opta-se pelo manejo alternado, em que as áreas são divididas ao meio. Outro cuidado importante é não trabalhar com piquetes grandes (devem ter de 15 a 20 ha) e formar lotes homogêneos, de 90 a 120 animais.

Excelentes resultados no MT

Por potencializar a produção pecuária, a TIP está sendo usada no Brasil de norte a sul, com grande sucesso. No município de Campo Novo dos Parecis, por exemplo, no noroeste mato-grossense, o produtor Carlos Diogo Mota Garcia, dono da Fazenda Garcia 13, criou um modelo de integração lavoura-pecuária (ILP) que tem a TIP como peça-chave. “Sem ela, eu não conseguiria explorar todo o potencial das minhas terras”, explica. Agricultor experiente, Garcia começou a fazer recria/engorda de bovinos em 2018. Em poucos meses, montou toda a infraestrutura necessária para isso (curral, cercas, bebedouros, cochos cobertos, fábrica de ração, caminhões distribuidores) e está muito satisfeito com os resultados obtidos nos dois primeiros giros realizados. “Lucrei R$ 470/cab. Como a lotação, nas águas, foi de 6 cab/ha, embolsei R$ 2.820/ha, usando milho próprio (custo de R$ 22/sc) e fontes proteicas abundantes na região, que tem vocação agrícola e é um dos melhores lugares do País para se engordar boi ”, diz o produtor mato-grossense.

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Carlos Diogo Garcia encontrou na TIP uma solução para explorar seus 500 ha de solos arenosos. Nos módulos de engorda, os animais ganham 1,4 kg/cab/dia.
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Fotos: Garcia Agro Fazenda.

Segundo ele, a terminação intensiva a pasto foi um “grande achado”, porque a Fazenda Garcia 13, cuja área total soma 3.346 ha, possui 500 ha de solos arenosos, onde se produzia pouca soja, o que puxava os números da propriedade para baixo. Plantar cana não era alternativa, porque as usinas ficam distantes. “Restava a pecuária, mas eu precisava de um sistema que garantisse alta produtividade, por isso optei pela TIP”, explica. Cerca de 360 ha dessa área de solos arenosos, mas de fertilidade construída devido a 10 anos de lavoura, foram estruturados em módulos de pastejo rotacionado e destinados à recria, com lotação de 3,75 cab/ha. Os 140 ha restantes ficaram para engorda, sob pastejo alternado.

Os animais normalmente entram na fazenda com 210 kg e recebem suplementação específica, na proporção de 0,8% a 1,2% do peso vivo, visando ganho de 1 kg/cab/dia durante os 180 dias de recria. Na seca, uma parte deles é transferida para pastagens temporárias de ILP. “Cultivamos 2.200 ha de soja no verão e milho consorciado com capim na safrinha, mas apenas 800 ha são cercados para uso dos bovinos na seca. Nos 1.400 ha restantes, o capim apenas protege o solo, mas agora vamos colhê-lo para fazer feno”, relata o produtor, explicando que tanto os animais de recria quanto os de TIP são “sequestrados” no início das águas, na área de lazer dos módulos, por 30 a 45 dias, para evitar que eles comam a brotação da gramínea. A adubação é feita tanto nesse período quanto no final da seca, para prolongar o uso do pasto.

Essa estratégia favorece a TIP, pois aumenta a produção forrageira disponível para engorda nas águas. Garcia diz não ter enfrentado nenhuma dificuldade para tratar os bovinos nesse período do ano, pois os cochos têm cobertura e os corredores de acesso aos módulos são cascalhados. A praça de alimentação, em formato de Y, facilita o trato e o produtor tem equipamento adequado para distribuição da ração. Os animais entram nos piquetes de TIP com 390 kg (13@) e saem com peso ideal para abate (21@). “Meu custo fixo praticamente não mudou com a entrada da pecuária na fazenda Tive apenas de contratar técnicos dessa área”, diz o produtor, cujo rebanho anual já soma 2.380 cabeças.

TIP em pasto de tifton

Em plena região dos Pampas, município de São Gabriel, RS, o produtor Ricardo André Schuch Júnior, administrador da Fazenda Dona Lucy, de 1.500 ha, também está fazendo TIP nas águas, mas em pastagens de tifton (100 ha), com altas lotações. Ele se dedica à agricultura junto com parceiros, destinando 500 ha à cultura de arroz e 400 à de soja. Nesta última área, após a colheita da oleaginosa, planta aveia e azevém para consumo dos animais durante os meses de seca, usando cerca elétrica para formar piquetes, que dão para aguadas naturais. Os bezerros Angus e Hereford são adquiridos na região e chegam à propriedade em maio, indo para as pastagens de inverno, onde recebem 1% de seu peso vivo em ração. “No final de setembro, quando temos de preparar o solo para novo plantio de soja, eles são transferidos para o tifton, onde é feita a terminação”, explica o produtor.

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Os cochos self service da Fazenda Dona Lucy têm capacidade para 4 t cada e facilitam a vida do produtor Ricardo Schuch, de São Gabriel, RS.
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Fotos: Ricardo André Schuch Júnior.

Essa área é estruturada em cinco módulos de pastejo, adubada e manejada intensivamente para sustentar 5 UA (2.500 kg de peso vivo) por hectare. “Somente faço TIP nas águas”, salienta Schuch. Após passar pela recria nas pastagens de aveia/azevém, os animais entram na área de TIP, os mais pesados (acima de 360 kg) vão direto para o módulo de 20 ha destinado à terminação, que é manejado em lotação contínua. Lá recebem ração na proporção de 1,6% a 2% do peso vivo. Já os novilhos mais leves (abaixo de 360 kg) vão para quatro módulos também de 20 ha cada, mas que são divididos em quatro piquetes rotacionados. Essa categoria recebe suplementação na faixa de 1,2% do PV, explorando mais o pasto. O período de permanência na área de tifton varia de 180 a 200 dias. Todos os módulos contam com cochos metálicos desenvolvidos pelo próprio Schuch, inspirado nos comedouros de galinha, que eliminam a necessidade de trato diário. Cada um deles tem capacidade para armazenar até 4 t de uma ração contendo sal branco como regulador de consumo e funciona em sistema self service. Conforme os animais vão comendo, mais ração vai caindo por gravidade.

Ricardo Schuch abate 800 animais de alta qualidade por ciclo anual, ou seja, tem desfrute de 100%. “Assumi a gestão da fazenda em 2016 e comecei a buscar formas de tornar a pecuária tão lucrativa quanto as lavouras de grãos. A recria em pastagens de integração e a TIP foram a saída que encontrei. Excelente, por sinal, pois permitem ganho de 1 kg/cab/dia ao longo do ciclo de recria/engorda. A área de tifton era infestada com capim anonni, uma invasora aqui do Sul. Estava completamente degradada, tinha baixos teores de matéria orgânica e fósforo. Fomos construindo a fertilidade do solo, 20 ha por ano, até chegar aos 100 ha de tifton”, relata o produtor. Segundo ele, não fosse a TIP, os animais teriam de ser vendidos após a recria. “A terminação intensiva a pasto me permite fazer pecuária intensiva e sustentável, porque não temos problema de dejetos e os animais convivem nos pastos com emas, graxains e outros animais da fauna local. Produzimos carne em harmonia com a natureza”, garante.

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Para saber mais sobre a TIP nas águas, click no QR Code ao lado e assista ao filme com recomendações sobre o uso da técnica neste período do ano.

Reboleiras podem ocorrer e devem ser monitoradas

A terminação intensiva a pasto tem inúmeras vantagens, porém demanda alguns cuidados de manejo. Um dos problemas que pode ocorrer, principalmente na região Centro-Oeste, são as chamadas “reboleiras”, áreas sem capim, formadas pelo pisoteio dos animais e que podem reduzir a capacidade de suporte da pastagem.

Matheus Moretti, gestor técnico da Agroceres Multimix, afirma que esse fenômeno ocorre normalmente nas áreas de TIP, devido às altas lotações trabalhadas e ao comportamento gregário dos bovinos, que gostam de se reunir em determinado ponto do piquete para deitar e ruminar. Um cuidado importante seria medir a área das reboleiras utilizando GPS, por exemplo, após cada ciclo de engorda, para ver se elas estão aumentando de tamanho ou estão estabilizadas.

Segundo o gestor, as reboleiras não têm padrão de formação definido. Em algumas fazendas, surgem perto do cocho ou do bebedouro; em outras, no canto dos piquetes. O problema é pontual em algumas propriedades e o monitoramento se faz necessário para se avaliar a real lotação ou uma possível reforma. “Nos projetos de TIP que acompanhamos e que formaram reboleiras, elas variaram de 5% a 15% da área, raramente ultrapassando esse tamanho”, afirma Moretti. Caso os pontos descobertos ultrapassem 15% a 20%, é interessante antecipar a reforma do pasto para não perder produtividade.

Mais uma vez o gestor técnico ressalta que essa reforma antecipada, se necessária, deve ser avaliada sob a ótica do custo: benefício. “Hoje, o Brasil produz uma média de 3 a 5@/ha/ano. Na TIP, conseguimos fazer de 2 a 3 ciclos de engorda na mesma área por ano, chegando a produzir, por exemplo, 90@/ha. Neste caso, estamos fazendo 18 anos de uma pecuária extensiva em um único ano de TIP”, afirma Moretti.

 

Autora: Maristela Franco, editora chefe da Revista DBO.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

 

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