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Influenza – a gripe de todos!

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Introdução:

A Influenza é uma das mais preocupantes enfermidades atuais. Devido as suas características, como alta mutação e transmissão viral, capacidade de infecção em múltiplas espécies: humanos, suínos, aves, bovinos e outros, e sobretudo, com a íntima relação entre as espécies, tornou-se o símbolo da chamada “One Health” (saúde única).

Com potencial pandêmico, o vírus da Influenza requer muita atenção, comprometimento e envolvimento direto dos humanos, um dos vetores principais para a transmissão da doença.

A doença mostra-se de difícil controle e prevenção. Pela alta incidência, o pensamento atual, além de tentar controlar e prevenir, é como conviver com a enfermidade no dia a dia das granjas.

 

1 – Resfriado ou gripe?

Como os sintomas são bastante similares há uma confusão resfriado e gripe. Na verdade, são duas doenças diferentes, provocadas por tipos de vírus diferentes.

O resfriado, possui sintomas mais leves, sendo causado por vários tipos de vírus, como: rinovírus, adenovírus, coronavírus e metapneumovírus. O rinovírus é o principal, com mais de 100 subtipos diferentes.

A gripe é causada pelo vírus da Influenza dos tipos A e B. A vacina da gripe, portanto, protege apenas para o vírus Influenza, e não protege para os vírus do resfriado, sem vacinas disponíveis. As pessoas costumam culpar a eficácia da vacina da gripe, quando estão resfriadas, no entanto, a vacina tem o objetivo de prevenir somente a gripe, com sintomas mais graves, podendo levar a complicações como a pneumonia.

 

2 – Sobre o vírus da Influenza:

O vírus Influenza tipo A, é um vírus RNA pertencente à família Orthomyxoviridae, sendo uma importante zoonose.

 

2.1 – Os tipos de vírus da influenza são A, B, C e D. Os tipos A e B são os principais responsáveis pelas epidemias sazonais.

Tipo A é o principal causador de surtos e epidemias. É encontrado em várias espécies de animais, além dos humanos. É classificado em subtipos, como A(H1N1) e A(H3N2). O vírus A(H1N1) está associado a sintomas mais intensos e a uma maior possibilidade de acarretar complicações. Já o tipo B infecta exclusivamente seres humanos. É dividido em duas linhagens principais: B/Yamagata e B/Victoria.

Tipo C Infecta humanos e suínos, É detectado com menos frequência, geralmente causa infecções leves, não estando relacionado com epidemias.

O Tipo D foi isolado nos Estados Unidos em suínos e bovinos, sem evidências de infecção humana.

 

2.2 – O Instituto Butantan explica que o vírus influenza, causador da gripe, circula em nossa sociedade há muito tempo e é considerado o patógeno que mais provocou mortes na história da humanidade (Instituto Butantan, 2022). As pandemias mais bem descritas e estudadas ocorreram nos séculos: 20 (gripe espanhola, gripe asiática e gripe Hong Kong) e 21 (gripe suína, depois nomeada H1N1 pandêmica).

Quando ouvimos falar da influenza, geralmente ouvimos também uma sigla associada ao vírus, como H3N2 e H1N1.

O vírus da influenza é composto por quatro tipos: A, B, C e D. Na superfície dos tipos A e B há duas proteínas, a hemaglutinina (HA), que tem o papel de ligar o vírus ao receptor, sendo essencial para causar a infecção, e a neuraminidase (NA), que faz o vírus ser liberado da célula hospedeira para fazer a replicação em outras.

No tipo A, há uma variedade de subtipos. Até o momento, foram identificadas 18 diferentes hemaglutininas (de H1 até H18) e 11 neuraminidases (de N1 até N11). E é daí que vêm as nomenclaturas que tanto ouvimos falar. Todas essas proteínas podem se misturar, criando um novo subtipo.

Essa variação de subtipos pode gerar mais de 30 mil vírus diferentes, porém apenas três estão adaptados para atingir humanos (até o momento): H2N2, H1N1 e H3N2, sendo que apenas os dois últimos circulam atualmente no mundo. O restante dos arranjos acomete principalmente aves aquáticas e selvagens, consideradas como hospedeiros naturais do vírus. Também podem infectar e causar doenças em aves domésticas, mamíferos aquáticos, suínos e morcegos entre outros mamíferos.

 

2.3 – O vírus Influenza nos suínos: O acompanhamento de um dos laboratórios brasileiros de vacina autógena, nos mostrou os principais tipos encontrados do vírus Influenza, nas granjas de suínos, no Brasil.

Os tipos H1N1, H1N1 pandêmico, H3N2 são os tipos mais prevalentes, demonstrados nos resultados das análises do laboratório. A informação do laboratório é que são detectados, às vezes, somente uma das proteínas do vírus (H ou N), não sendo possível detectar o tipo completo do vírus. É importante observar aqui, que as cepas H1N1 e H3N2, são encontradas facilmente nas granjas, sendo as mesmas cepas encontradas na vacina humana da campanha nacional, o que demonstra a íntima relação das cepas dos suínos com as cepas humanas.

 

2.4 – A transmissão do vírus Influenza: O vírus da Influenza é altamente transmissível e mutante.

Um comparativo é feito com a transmissão do agente Mycoplasma hyopneumoniae, comentado pelo artigo da pesquisadora Takeuti. O Mycoplasma apresenta uma lenta transmissão, na proporção de transmissão de um suíno enfermo para outro suíno saudável. Na Influenza, a proporção de transmissão é de um suíno enfermo para outros dez suínos saudáveis, sendo, portanto, dez vezes mais rápida a transmissão do que o Mycoplasma.

O pesquisador brasileiro Guilherme Arruda (Iowa State University) nos trouxe no evento Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, em Chapecó – SC, em 2023, informações surpreendentes e preocupantes sobre a transmissão do vírus Influenza, entre os humanos e os suínos. Segundo o pesquisador, as pesquisas mostraram que a transmissão dos humanos aos suínos ocorreu, nesses estudos, 370 vezes, e na transmissão do vírus pelos suínos aos humanos, apenas 17 vezes.

Este fato, segundo essas informações, colocam os humanos no centro da transmissão do vírus Influenza aos suínos, e compromete os humanos diretamente no controle da doença, através da biosseguridade, e da vacinação recomendada para a prevenção à doença.

Um estudo publicado na revista PLOS Pathogens revelou que o vírus da cepa de influenza A, responsável pela pandemia de H1N1 de 2009, passou de humanos para suínos cerca de 370 vezes desde 2009. Como resultado, a variação subsequente nos suínos, resultou na evolução da variante pdm09.

 

3 – A gripe aviária – situação dos Estados Unidos da América – EUA:

Tubos de ensaio rotulados como de teste para gripe aviária atrás de bandeira dos Estados Unidos em foto de ilustração • 14/01/2023 REUTERS/Dado Ruvic.

O vírus da gripe aviária, cepa H7N9, chegou aos aviários industriais americanos, causando um surto, que não ocorria desde 2017, contaminando as aves de postura e os seus respectivos ovos. A doença avançou e atingiu mamíferos como os bovinos (vacas leiteiras) e os humanos. No caso das aves, a recomendação é o abate sanitário das aves contaminadas e o descarte dos respectivos ovos, o que está causando uma grande crise de abastecimento nos EUA, e de inflação, sobretudo dos ovos.

 

3.1 – Situação por espécie:

Aves: O vírus H5N1 já matou cerca de 120 milhões de aves em 49 estados. Em janeiro de 2025, foram notificados 11.065 casos em aves silvestres. Em fevereiro de 2025, 956 rebanhos leiteiros foram afetados em 16 estados. Em março de 2025, foi registrado o primeiro surto da gripe aviária mortal H7N9 em uma granja avícola desde 2017.

Rebanhos leiteiros: Uma mutação na cepa D1.1 presente no gado leiteiro proporciona a replicação do vírus em mamíferos. A transmissão do subtipo para as vacas pode ter se dado através de pássaros.

Humanos: Em abril de 2022, foi identificado um caso de influenza aviária A(H5N1) em humanos nos Estados Unidos. Em fevereiro de 2025, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA confirmou 67 casos humanos no país desde 4 de março de 2024.

Impacto na produção: A gripe aviária resultou na diminuição da oferta de ovos e no aumento dos preços do produto. Alguns supermercados passaram a limitar a quantidade que cada consumidor pode comprar.

 

4 – Diagnóstico do vírus Influenza:

O diagnóstico clínico é baseado nos sintomas (tosse seca, coriza, redução do consumo de ração, febre). Às vezes, não são observados os sintomas clássicos da doença, pois a Influenza que era conhecida como uma doença aguda, agora, é reconhecida como endêmica, nos planteis de suínos. Um sintoma, que na maioria das vezes, conseguimos confirmar o diagnóstico á a presença de tosse em leitões lactentes. Encontramos lesões pulmonares extensas e graves em pulmões de leitões com apenas sete dias de idade.

As lesões observadas são, no início, consolidações crânio-ventrais, que se assemelham as lesões encontradas na Pneumonia Enzoótica. Depois se tornam multifocais, com distribuição lobular, mais características da Influenza. Muitas vezes, as lesões se confundem entre as doenças, o que dificulta o diagnóstico clínico.

Leitão com sinais de coriza, sintoma típico da Influenza. Fonte: Arquivo pessoal.
Pneumonia intersticial (edemas), lesões típicas da Influenza. Fonte: Arquivo pessoal
Lesões multifocais, com distribuição lobular, lembrando um tabuleiro de jogo de xadrez. Esses pulmões foram enviados ao laboratório, com a conformação do diagnóstico da Influenza. Fonte: Arquivo pessoal

Neste artigo, trazemos fotos de campo, encontradas em surtos, em suínos sacrificados e necropsiados, ocorridas nas granjas de suínos do sul do Brasil.

O diagnóstico laboratorial mais utilizado é com a técnica de RT – PCR (trascriptase reversa – reação em cadeia da polimerase). É medido também o CT (Cycle Threshold), traduzido como limite do ciclo. Quanto menor o valor de CT, maior é a quantidade de vírus presente na amostra. Nos diagnósticos laboratoriais que realizamos, temos encontrados altos valores de CT nas amostras analisadas.

 

5 – Controle e prevenção:

5.1 – Baseados nas informações, a primeira ação seria promover a vacinação de todas as pessoas envolvidas com granjas de suínos, e assim, evitar a reinfecção do vírus, e a entrada de novas cepas, carregados pelos colaboradores, produtores e técnicos. Aqui nos deparamos com barreiras das pessoas, seja por razão de medo da vacina, crenças políticas, ou de negação do real efeito da vacina.

Um grande problema, é a entrada de terceiros nas granjas, para fazerem serviços de manutenção. É mais difícil ainda contar com a colaboração dessas pessoas, que não tem ligação direta com a suinocultura.

 

5.2 – Vacinas disponíveis:

5.2.1 – Brasil: Está disponível uma única vacina comercial, suspensão inativada de vírus, a qual contém somente uma cepa do vírus da Influenza Suína: pH1N1. Sabendo ser um vírus altamente mutagênico, faz pouco sentido o investimento nesta vacina, em função das inúmeras cepas existentes, e circulantes nas granjas de suínos.

Quanto as vacinas autógenas (produzidas a partir de um agente extraído de um grupo de animais infectados em uma propriedade), temos no país um laboratório com disponibilidade de vacina. É a vacina para a prevenção da Influenza mais utilizada no momento, porém, com resultados ainda sendo validados.

5.2.2 – Bolívia: Neste país, encontramos uma vacina comercial, com três cepas; as mais prevalentes: vírus inativado: uma cepa do H1N1, e duas cepas do H3N2. Como a vacina apresenta três cepas, torna-se viável o seu uso, com uma maior chance de sucesso no controle da doença. Torna-se difícil o convencimento dos produtores na utilização da vacina, por desconhecimento da real importância da doença, ou por desconfiança da eficácia da vacina.

5.2.3 – Europa: Existem duas vacinas registradas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) disponíveis na Europa, uma vacina trivalente contendo H1N1, H1N2 e H3N2 em combinação com um adjuvante carbômero. A outra vacina contém uma cepa pandêmica H1N1 também usando o adjuvante carbômero. Vacinas bivalentes com óleo adjuvante (H1N1, H3N2) também estão disponíveis em alguns países europeus.

Vacinas autógenas que são amplamente utilizadas nos Estados Unidos podem ser usadas na UE se nenhuma vacina licenciada estiver disponível para o subtipo de vírus isolado.

 

5.3 – Nebulização:

A nebulização das instalações com o uso de desinfetantes viricidas se tornou uma das principais ferramentas no controle da doença. No entanto, não adianta dizer que faz a nebulização. Somente a nebulização bem-feita, com o equipamento adequado, com o desinfetante ideal, na dose correta, e ainda com o fechamento hermético da instalação poderá garantir a eficácia do processo, e o controle desejado da doença.

Os desinfetantes a base de glutaraldeído e dos persulfatos, são os produtos mais eficazes como agentes viricidas.

Os equipamentos adequados são o nebulizador térmico e o atomizador.

 

Conclusões:

A Influenza tornou-se uma doença muito especial, uma vez que envolve diversas espécies, como aves, suínos, bovinos e os humanos, conhecida como a “gripe de todos”.

A partir da pandemia de gripe de Influenza A em 2009, o olhar mudou sobre a doença, e surgiu a necessidade One Health, com a visão além dos seres humanos, unindo com os animais e o ambiente onde vivem.

A Influenza não é somente uma doença aguda de surtos; mas endêmica nas granjas de suínos. Daí a necessidade, além de controlar e prevenir, de aprendermos conviver com a doença.

Para o controle da doença, é necessário o comprometimento das pessoas em adotar a vacinação anual. As pessoas não vacinadas causam a constante reinfecção do vírus e a introdução de possíveis novas cepas virais nas granjas de suínos.

O Brasil carece ainda de vacinas com resultados expressivos, com a redução de sintomas e lesões.

A Influenza é uma doença imunossupressora, a qual abre as portas para outros agentes secundários, agravando os prejuízos zootécnicos.

É necessário maior conhecimento e conscientização sobre a Influenza nas empresas e granjas, para podermos controlar, prevenir e, sobretudo, conviver de forma mais equilibrada com a doença.

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