Gestão Enfoco – Ganho Compensatório
Antes de começar a falar especificamente sobre o ganho compensatório, gostaria de fazer um breve comentário para relembrarmos a forma como ocorre o crescimento do animal. Isso será importante e nos ajudará a entender alguns pontos que serão discutidos mais à frente.
De maneira bem simplista, o crescimento do animal é definido pelo aumento do seu peso corporal. Indo um pouco mais a fundo, esse crescimento pode ocorrer de duas maneiras: a) pelo aumento do número de células que compõem os tecidos e órgãos; ou b) através do aumento do volume dessas células (Owens et al., 1993).
Sabe-se que após a concepção, inicia-se o desenvolvimento embrionário do feto na barriga da vaca. Nesse primeiro momento, todos os tecidos crescem pelo aumento do número de células. Essa fase é muito importante, pois nela será definido o número de células musculares que o animal apresentará em sua vida futura, uma vez que, após o nascimento, o tecido muscular, assim como o nervoso, perde a capacidade de multiplicação celular. Este é um assunto atual e muito importante, já até discutimos ele em outro texto, falando sobre programação fetal.
Após o nascimento, a todo momento ocorre a degradação e síntese de novos tecidos no corpo do animal, sendo que o aumento da massa corporal (aumento de peso) irá ocorrer quando a quantidade de síntese (anabolismo) for maior do que a degradação (catabolismo). Estas taxas de síntese e degradação estão diretamente relacionadas às condições nutricionais do animal.
A avaliação do crescimento é obtida pelo aumento do peso corporal por unidade de tempo, o conhecido GMD, muito discutido em nosso dia a dia nas fazendas. No entanto, quando pensamos em produção de carcaça, uma segunda análise deve ser levada em conta, um diagnóstico envolvendo as mudanças na forma e composição corporal do animal deve ser feito, passando a considerar os diferentes tecidos que irão compor o ganho de peso.
Essa segunda maneira de encarar o crescimento do animal assume uma importância ainda maior, em cenários em que a comercialização do animal é feita com base no peso de carcaça (maneira normalmente feita em negociações com o frigorífico).
A partir destas observações, podemos voltar ao assunto principal deste artigo e aprofundar um pouco mais no tema: ganho compensatório.
O crescimento compensatório nada mais é que um ganho de peso acima do esperado, após um período em que o animal passou por restrição alimentar (Bohman, 1955).
Essa situação não é difícil de ser encontrada em nosso dia a dia. Quem nunca encontrou um animal no confinamento, ganhando muito peso, e o produtor feliz da vida por estar explorando o famoso ganho compensatório? Ou ainda, um animal que passa por uma seca severa, e que quando inicia as chuvas, começa a ganhar muito peso?
No entanto, para entender se esse tipo de ganho é vantajoso – ou não –, e saber como explorá-lo (caso seja viável) da melhor forma dentro do sistema de produção, precisamos primeiro visualizar o que está acontecendo com o organismo do animal durante o período de restrição e o que ocorre no momento seguinte, no período pós restrição.
Vale ressaltar que existe uma forte correlação entre a dieta que o animal consome, a atividade metabólica dos órgãos, o gasto de energia (principalmente com a mantença) e o crescimento do animal (Ferrel, 1986).
Durante o período de restrição, com o baixo consumo de nutrientes, e por uma questão de sobrevivência, o organismo do animal entende que é preciso diminuir sua atividade e poupar energia e para isso, ele busca a diminuição do gasto de energia via redução do tamanho dos órgãos. (Figura 1).
Isso ocorre porque os órgãos com grande atividade metabólica, como: coração, pulmão, rins e TGI, apesar de representarem muito pouco em relação ao peso do animal (9%), têm um gasto de energia muito alto, chegando a ser quase 50% do gasto de energia para o animal se manter vivo. Para se ter uma ideia, o tecido muscular representa 41% do peso do animal e representa apenas 23% do gasto de energia (Baldwin, 1985).
Após o período de restrição, quando o animal volta a consumir uma dieta normal, a capacidade digestiva e metabólica precisa ser refeita e, para isso, os órgãos que haviam reduzido de tamanho precisam crescer para restabelecer sua capacidade de digerir e aproveitar o alimento. Assim, grande parte do ganho de peso que o animal apresenta, durante o crescimento compensatório, se dá pela reconstrução dos órgãos que haviam reduzido de tamanho (Figura 2).
Se fizermos uma análise da qualidade do ganho de peso nessa situação, ela é baixa, visto que grande parte do ganho de peso do animal ocorre por crescimento de componentes não carcaça (vísceras).
Sendo assim, sabendo como se dá o ganho compensatório, a avaliação da sua exploração deve ser feita, sempre, associada ao resultado econômico em questão, através da produção líquida de carcaça. Provavelmente existirão cenários em que, mesmo com acontecendo os efeitos descritos para o ganho compensatório, a sua exploração poderá ser vantajosa (ex.: compra de animais com deságio, baixo custo da dieta).
Lembre-se:
Na fase de terminação, em que a diária do animal apresenta maior custo do que a diária do pasto, tem-se recomendado a “reconstrução” das vísceras em sistema de pré terminação ou pré confinamento, de forma que a capacidade metabólica do animal seja restabelecida com um custo mais baixo.
Caro Matheus, muito importante e oportuno o conteudo do seu artigo, como diversos outros anteriores com os quais voçe nos brindou. Muito obrigado e ja estamos aguardando os proximos.
Um abraço.
MOACIR GOMES – de Sta Maria da Vitoria-Bahia.