Pegando a referência clássica de Mertens (1987), que sugere que um bovino teria seu consumo limitado pelo enchimento físico do rúmen, sendo a concentração de fibra (FDN) do alimento, o limitante da capacidade ingestiva, um animal em pastejo teria um potencial de consumir forragem até que se atingisse a ingestão de 1,2% do seu peso em FDN.
Na prática, o que essa informação tem a ver com o título desse texto? Bem, com base nesse valor de Mertens, gostaria de estabelecer uma linha de raciocínio para entendermos a importância do manejo da estrutura do pasto, associado ao potencial de consumo do animal.
A ideia é desenvolver um raciocínio lógico para compreender o porquê da palavra “potencial” conectada ao consumo. Para que possamos entender a importância de manejar a estrutura do pasto que ofertamos para nossos animais.
Antes de seguir, é preciso contextualizar o ambiente em que vamos desenvolver nosso raciocínio. Para ilustrar, vamos assumir um animal na fase de recria, com 300kg de peso vivo, no período das águas, consumindo um pasto de Braquiária com valor de FDN médio de 60%.
Cenário definido, podemos calcular o consumo potencial de forragem do animal, com base no dado de Mertens.
Peso animal = 300 kg
Consumo de FDN (MS) = 300 x 1,2% = 3,6 kg MS de FDN
Concentração FDN no pasto = 60%
Consumo de Pasto = 3,6 kg FDN (MS) ÷ 60% = 6 kg MS de Pasto
Para colocar uma outra referência na conta, podemos calcular o consumo em % do peso vivo do animal, que é de 2% (6 kg MS ÷ 300 kg PV x 100). Seguindo o raciocínio, vamos entender por que estamos chamando esse consumo de “potencial”.
A palavra potencial foi utilizada, uma vez que esse seria o consumo máximo que o animal poderia apresentar (dada a limitação do FDN). Porém, não significa que ele irá consumir essa quantidade, uma vez que, para atingir esse consumo, o animal precisa pastejar.
Meio óbvio não!? Sim e não!
A importância do manejo e estrutura do pasto
É nesse ponto que gostaria de demonstrar para você a importância do manejo e estrutura do pasto, relacionados ao pastejo do animal.
Se o boi precisa pastejar 6 kg de MS de pasto por dia, quantos bocados ele precisa dar para bater essa meta? Ou melhor, quanto tempo ele precisa pastejar?
Tendo como referência que cada bocado do animal corresponde, em média, a apenas 1 grama de consumo de MS, no nosso exemplo o animal precisaria dar 6 mil bocados para bater a meta de consumo de matéria seca.
Assumindo que cada bocado dado pelo animal gaste, em média, 5 segundos, podemos concluir que o animal precisa de 8,3 horas pastejando para consumir a meta diária de 6 kg de MS de pasto.
Número bocados = 6.000
Tempo Bocado = 5 segundos
Tempo Pastejo = 6.000 x 5 = 30.000 segundos (ou 8,3 horas)
Sabendo dessa informação, como podemos ajudar o animal, através do manejo do pasto, a bater sua meta de pastejo?
O tempo de pastejo é influenciado pelo peso do bocado e pelo tempo gasto pelo animal para dar 1 bocado. Pensando no animal pastejando na sua fazenda:
- Em cada bocado dado, o animal consegue “encher” a boca, ou precisa ficar procurando a folha para consumir?
- O animal abaixa a cabeça e consegue fazer bocados sucessivos, ou ele precisa ficar procurando o pasto para fazer seu bocado?
Nas figuras a seguir apresentamos qual seria o tempo de pastejo do animal, variando os dois pontos destacados: peso do bocado (Figura 1) e tempo para dar 1 bocado (Figura 2). Note que fizemos questão de criar cenários positivos e negativos.
Figura 1. Tamanho bocado (gramas) vs. Tempo de Pastejo
Figura 2. Tempo para dar 1 bocado (segundos) vs. Tempo de Pastejo
Pelos valores dos gráficos, fica evidente que, ao reduzir o tamanho do bocado e/ou aumentar o tempo para dar um bocado, o tempo de pastejo aumenta significativamente, afetando negativamente o consumo de pasto pelo animal.
O problema disso é que, além de pastejar, o animal precisa descansar e ruminar, tendo assim um limite máximo de tempo pastejando (algo em torno de 12 horas). Quanto maior o tempo de pastejo, maior o gasto com a procura de alimento, e menor o tempo para as demais atividades.
Fica claro o problema da falta de uma boa estrutura do pasto. Não ofertar uma estrutura que favoreça a formação do bocado compromete o tempo de pastejo e, consequentemente, o consumo potencial do animal.
Em cenários desfavoráveis ao pastejo, o consumo de forragem é limitado pela estrutura do pasto e não pela quantidade/composição do alimento (teor de FDN). A solução nesse caso é, pura e simplesmente, ajuste de manejo.
Uma vez estabelecido o manejo que favoreça o consumo de forragem, podemos começar a pensar em como fazer o animal aumentar seu consumo, com o objetivo de alcançar maiores metas de GMD. Para isso, precisamos voltar à informação inicial do texto e entender a questão do consumo limitado pela FDN e como manipulá-lo.
Mas, esse é um assunto para um próximo texto. Gostou do assunto? Coloque um SIM nos comentários, se você quer que continuemos a abordar esse assunto.
Entender que Pasto é uma Cultura. Bom Início.
Como Manejar a Entrada e Saída dos Animais por Classe. O Retorno Financeiro será Realidade.
Muito bom
Gostei