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Produção de bovinos a pasto: os “ três Cs ” do manejo da pastagem – Parte 2

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Manejo da Pastagem - Nutrição Animal - Agroceres Multimix

A importância do manejo da pastagem

Sem sombra de dúvida o segredo do período das águas reside sobre o manejo da pastagem. Neste período as condições ambientais são extremamente favoráveis ao crescimento das plantas. As chuvas, que normalmente acontecem entre os meses de outubro/novembro a março/abril, aliadas às temperaturas mais elevadas e a maior quantidade de horas de luz por dia, trazem (desde que não haja limitações de fertilidade do solo) o ambiente perfeito para o crescimento e acúmulo de forragem. Nesse cenário, teríamos então as condições perfeitas para a produção de bovinos de corte.
No entanto, não é difícil de encontrarmos fazendas que apresentam resultados muito aquém dos esperados para este período do ano. Normalmente o problema encontrado é falta de planejamento e manejo. Um dos grandes erros que o pecuarista comete em relação ao manejo da pastagem é não planejar a quantidade de animais por área, o que afeta diretamente a eficiência de colheita. Na visão de alguns, o importante é ter pasto farto e com muita massa de forragem.
Com o intuito de provar para você, leitor, que o manejo do pasto é fator crucial na obtenção de sucesso na produção de bovinos de corte, usarei como exemplo neste texto, um fato que presenciei recentemente.
Pouco tempo atrás, visitei uma fazenda em que o produtor estava extremamente satisfeito com o pasto que tinha disponível. Conversar sobre a importância do manejo da pastagem e eficiência de colheita eram assuntos que não interessavam a ele. Na ocasião, o que me dizia repetidas vezes na esperança de um elogio era: “veja como o pasto está bom, olhe quanta forragem eu tenho! ”.

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Minutos antes do pastejo…

Aproveitando que naquele momento um lote de animais iria entrar no piquete (o qual ele acreditava ser o pasto bom), combinei de continuarmos a rodar pela fazenda e depois de um tempo retornarmos para ver como os animais estavam se comportando.
Bom, o resultado você pode conferir na foto abaixo:

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30 minutos após a entrada dos animais

O produtor ficou desconcertado. Apesar da situação ruim, de grande prejuízo, aproveitei o momento para então discutir sobre a importância da estrutura do pasto e a relação dela com a colheita de forragem pelo animal (o gado não consome o pasto tombado).
O que temos que entender é que, além do valor nutricional (quantidade de proteína e fibra), a estrutura do pasto tem grande efeito sobre a quantidade de forragem consumida pelo animal, e consequente impacto no seu ganho de peso.
Para começar, é preciso entender a dinâmica de acúmulo de forragem na pastagem. A planta inicia seu desenvolvimento com um aumento mais intenso da quantidade de folhas verdes. A partir de um dado momento, em função da competição por luz entre perfilhos vizinhos e pela própria fisiologia da planta, começa a ocorrer o alongamento dos colmos e, então, com o sombreamento das partes inferiores, começa a ocorrer senescência (morte das porções mais velhas da planta) (Figura 01). Esse processo pode ser facilmente visualizado em pastos que o capim está mais alto. Ao abrirmos uma touceira veremos que a quantidade de material morto acumulada na porção inferior, próxima ao solo, é grande. Esse material não é consumido pelos animais.
De forma geral, o amadurecimento da planta (crescimento) resulta em decréscimo do valor nutritivo e comprometimento da estrutura da pastagem, visto o maior acúmulo de compostos fibrosos e principalmente colmos.
É sabido que os bovinos consomem preferencialmente folhas verdes, sendo o colmo uma estrutura do pasto que dificulta a formação do bocado pelo animal. Para visualizar o que falamos, pare por um instante e pense no movimento que o boi faz para apreender a forragem. Quando o pasto está com bastante folha, a formação do bocado é muito mais fácil do que quando o pasto está com muito colmo.
Além de dificultar a formação do bocado, o acúmulo de colmo aumenta o risco de tombamento e pisoteio do capim, resultando em redução da eficiência de colheita de forragem e aumento nas perdas produtivas (lembre-se do pasto do pecuarista que conversamos no início do texto).

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Figura 1: Representação do pasto

Assim, o momento ideal de entrar com os animais em uma determinada área, para que ela seja pastejada, é quando ocorre o máximo acúmulo de folhas verdes e não quando temos a máxima produção de massa. A partir dessa mudança de paradigma, teremos uma maior eficiência de colheita e uma melhora no consumo dos animais, tanto em quantidade como em qualidade refletindo assim em melhora no ganho de peso. No entanto, esta prática não é tão simples de ser realizada.
No caso do manejo rotacionado, já existem trabalhos que apontam para a altura de entrada ideal para cada tipo de forragem, sendo essa uma medida muito prática e fácil de ser adotada na fazenda.
Em contrapartida, no manejo de lotação contínua, essa pratica é um pouco mais complicada, pois os animais permanecem o tempo todo na mesma área. Nessa modalidade de manejo tem-se utilizado a taxa de lotação para controlar a estrutura do pasto e a eficiência de colheita de forragem pelo animal. A dificuldade do ajuste de lotação durante o período das águas é a oscilação que ocorre no acúmulo (crescimento) de forragem durante a estação chuvosa (existem momento de maior e menor velocidade de acúmulo) o que pede ajustes na taxa de lotação para a manutenção da estrutura do pasto.
Portanto, o manejo do pasto é muito mais do que produção de forragem. O pecuarista que busca eficiência durante o processo de produção e utilização da forragem deve ter em mente os “três Cs” do manejo da pastagem: CRESCIMENTO, COLHEITA e CONVERSÃO (Figura 2).

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Figura 2: Os “três Cs” do manejo de pastagem

Após ajustados os “três Cs” do manejo da pastagem, podemos então pensar em potencializar a resposta dos animais com a utilização de suplementos nutricionais. Temos realizado vários trabalhos de suplementação de bovinos no período das águas e conseguido excelentes resultados a campo.
Existem atualmente várias opções de suplementos disponíveis. A escolha da melhor estratégia (suplementação) a ser adotada deve ser baseada em conceitos técnicos e econômicos, considerando o consumo de produto e o ganho adicional conquistado, sendo a análise do custo de produção da arroba adicional, fundamental para a tomada de decisão.
Pode-se ainda utilizar a suplementação como ferramenta para explorar, de forma conjunta, o ganho por animal e por área, o que aumentaria a quantidade de arrobas produzidas por hectare/ano, mas essa é uma conversa para um outro texto.
Chegando ao fim, te convido para deixar seu comentário ou compartilhar uma experiência pessoal em relação ao que foi apresentado. Fique por dentro do agBlog. Até a próxima.

Agroceres Multimix. Muito Mais Que Nutrição

12 COMENTÁRIOS

    • Olá, Melissa!
      A escolha da espécie forrageira deve levar em consideração as características da propriedade.
      Antes da escolha, você deve se atentar ao tipo e a fertilidade do solo da fazenda, se informar sobre as características climáticas da região, e definir qual o sistema de produção (manejo) que será empregado.
      De forma geral, hoje a espécie mais utilizada em gado de corte são as braquiárias.

  1. Bom dia Matheus.
    Parabéns, pela matéria.
    Gostaria de saber quanto um boi de 300 kg vivo consome por dia de capim verde aveia e azevém e qual a conversão alimentar deste alimento. Eu sei que vai variar da genética, qualidade do capim, se tem mineral ou não, mas em média quanto é?

    • Olá, Alvair!
      Obrigado! Fico feliz que gostou do texto.

      Sobre sua pergunta. Você tem razão quando comenta que existem variáveis que irão influenciar a resposta. Como número médio, falando em animais em pastejo, normalmente consideramos o consumo de MS sendo 2% de peso do animal. No caso de um pasto bem manejado de aveia/azevem, acredito que esse valor possa subir um pouco (2,1 – 2,2% PV). No seu caso: animal de 300 kg, se adotarmos o 2,0% como padrão, o consumo de MS seria de 6 kg/dia. Para saber a quantidade de matéria natural que o animal consome por dia, é só dividir esse valor pela quantidade de MS do capim (valor médio de 20%). Assim, o consumo de forragem fresca, é em média 30 kg/dia. Para o cálculo da conversão, basta dividir o consumo de MS por dia pelo GMD. Assumindo um ganho médio de 0,800 kg/dia, a conversão seria de 7,5 kg MS/kg PV (6 ÷ 0,8).

      Grande abraço!

  2. Excelente artigo sobre a importância dos três “Cs”. Mas tenho uma dúvida sobre a rotação de pastos: Qual o tamanho da área de lazer em relação a área total dos piquetes ??

    • Boa tarde, Eduardo!

      Em projetos que temos implantado, tenho buscado trabalhar com pelo menos 30m² por animal. Um ponto importante ao dimensionar a área da praça, é se atentar a capacidade máxima (lotação) que pretende trabalhar em seu rotacionado.

      Espero ter ajudado. Abraço!

  3. Olá, bom dia, Matheus!
    Quero parabeniza-lo pela excelente matéria sobre INTENSIFICANDO A RECRIA.
    Como você mesmo disse, planejamento é a palavra chave. É preciso, mesmo, parar para pensar…antes do manejo de pastejo.
    Continue passando essa confiança e credibilidade, próprios do seu perfil. E, é claro, você faz parte de um time em um grande grupo!
    Um forte abraço!
    Jadson Ramos da Silva
    Graduando em Zootecnia
    (77) 98811-0360
    (77) 99145-1311

    • Estou lisonjeado com o comentário, Jadson.
      Mensagens como a sua nos enche de orgulho e nos incentiva ainda mais em cumprir com nosso objetivo de fornecer informações técnicas de qualidade.
      Se precisar de mais informações ou tiver críticas e sugestões, por favor, escreva para nós.
      Mais uma vez, muito obrigado!

  4. Boa tarde. Gostei muito do assunto, acho muito válido para quem trabalha com manejo de pastagem, estão de parabéns. Gostaria se for possível de receber a parte 1
    do assunto para que eu possa acompanhar com mais detalhes. Muito obrigado e tenham um bom fim de semana.

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