A Salmonella é uma das principais bactérias que causam graves, e muitas vezes mortais, intoxicações alimentares em todo o mundo.
Um levantamento feito no Brasil (França H. dos Santos et al., 2025) mostrou que de 2007 a 2023 ocorreram 11.809 surtos de origem alimentar, desses, 2.626 de origem bacteriana e 556 devidos a Salmonella sp. (21,1%).
Nos EUA, estima-se que anualmente ocorram 1,2 milhões de infeções por Salmonella; no Reino Unido, em 2022 foi relatada a ocorrência de 8125 casos, sendo a Salmonella Enteritidis e S. Typhimurium as mais prevalentes.
Essas intoxicações são frequentemente associadas à manipulação e consumo de carne de frangos e de ovos.
Os animais são os maiores reservatórios de salmonelas não tifóides para humanos, e a resistência dessa bactéria tem sido relacionada ao alto consumo de antibióticos usados na alimentação animal.
Com o banimento do uso dos promotores de crescimento na Europa em 2006, houve uma mudança de foco, buscando compostos naturais, como nutracêuticos e fitoterápicos (Biagini L et al., 2022) para controle da salmonelose.
Entre todas as medidas para amenizar a infeção por Salmonella, como biossegurança, vacinações, medicações, etc., temos as estratégias nutricionais.
Dentro desta linha, podemos destacar o uso de probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos e fitoterápicos.
PROBIÓTICOS
Probióticos são microrganismos vivos que incluem bactérias, fungos e leveduras.
Eles melhoram o desempenho das aves e substituem o uso de antibióticos, além de inibir a colonização de Salmonella em aves.
Os mecanismos pelos quais os probióticos exercem seu efeito incluem a produção de compostos antimicrobianos (ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio etc.), exclusão competitiva de patógenos, e a modulação da resposta imune do hospedeiro (Ramirez-Hernandez a., et al.,2019).
Diversos são os probióticos usados nas rações avícolas, podendo citar: Lactobacillus (L. plantarum, L. reuteri); Bifidobacterium (B. longum); Enterococcus (E. durans); Saccharomyces (S. boulardii); Bacillus (B. subtilis, B. amyloliquefaciens e B. licheniformis) e Streptococcus (S. faecium).
Wu H. et al., 2024, mostraram que os probióticos reduzem a S. Typhimurium em frangos de corte, promovendo melhoria do desempenho zootécnico, modulando a microbiota cecal e diminuindo a inflamação intestinal e do fígado, pela redução das citoquinas anti-inflamatórias, sendo uma alternativa para a substituição dos antibióticos.
Enan G.et al., 2023, mostraram que a utilização do Bacillus Subtilis mostrou maior efetividade na redução do crescimento de Salmonella sp., particularmente S. Enteritidis e S. Typhimurium.
PREBIÓTICOS
Prebióticos são carboidratos não digeríveis que estimulam o crescimento e a modulação de bactérias benéficas, tais como Bifidobacterium e Lactobacilos, que competem com o crescimento da Salmonella no trato gastrointestinal (Rocha T.M et al, 2011).
O modo de atuação dos prebióticos incluem a produção de ácidos graxos de cadeia curta, que inibem o crescimento de patógenos, incrementando a resposta imune do hospedeiro e, consequentemente a resistência a infeção por Salmonella (Revolledo L, et al, 2006).
Tarabees et al., 2023, avaliaram os efeitos simbióticos da associação de probióticos e prebióticos e verificaram efeito positivo do prebiótico na resposta imune e na redução da IL-6 e iNOS (óxido nítrico sintase induzida) em aves infectadas com Salmonella. Também aumentou níveis totais de IgY e afetou positivamente níveis de biomarcadores hematológicos de antioxidantes quando comparados ao grupo controle.
Em avicultura, os prebióticos mais utilizados são: Oligossacarídeos (fruto-oligossacarídeos; galacto-olissacarídeos; mananoligossacarídeos (MOS)), inulina, betaglucanas, etc.).
ÁCIDOS ORGÂNICOS
O uso de ácidos orgânicos tem se mostrado efetivos na inibição e no controle da Salmonella em frangos e poedeiras.
A ação destes ácidos orgânicos ocorre pela redução do pH intestinal, ocasionando a rutura da membrana celular da Salmonella, interferindo no pH intracelular e inibindo os processos metabólicos essenciais.
Esses produtos podem ser utilizados via água de bebida ou ração, isoladamente ou em combinação de dois ou mais ácidos orgânicos.
Dentre os ácidos orgânicos comumente utilizados, destacamos o ácido lático; acético; butírico; cítrico; fumárico; propiônico e benzoico.
Observa-se uma grande variação nos resultados obtidos com a utilização dos ácidos orgânicos, devido as diferentes composições e concentrações.
A suplementação com ácido butírico em frangos de corte mostrou-se efetiva na redução da S. Enteritidis, melhorando a morfologia dos enterócitos e aumentando as bactérias benéficas (Hu Z, et al.,2023).
FITOTERÁPICOS
Os fitoterápicos são compostos bioativos derivados de plantas, como os óleos essenciais, compostos fenólicos e saponinas.
O modo de ação dessas substâncias se dá pelo rompimento da membrana celular bacteriana, interferindo nos processos metabólicos, e pelo aumento da resposta imune do hospedeiro.
Estudos demonstraram que a incorporação na ração ou na água de bebida de óleos essenciais derivados do orégano, timol ou cinamaldeído reduzem significativamente a descamação intestinal e a colonização de Salmonella em frangos e poedeiras (El-Saadony M.T. et al, 2022). Outros autores indicam que esses compostos alteram o transporte de elétrons, interferindo na produção de ATP (Low W. et al, 2017).
Fitoquímicos, particularmente os taninos, inibem o crescimento de Salmonella, atuando no quórum sense e agentes anti-virulência, desestabilizando membranas e quelatando ferro, reduzindo doenças (Al-Mnaser A., et al, 2022).
SINERGISMO
Várias evidências indicam que a aplicação combinada de múltiplas estratégias nutricionais, incluindo probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos e fitoterápicos contribuem para um melhor controle da salmonelose em aves.