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Impacto do uso de antibióticos em leitões após o nascimento

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Com o avanço da produtividade na suinocultura, entender o comportamento, a fisiologia e o desenvolvimento dos animais vem sendo a chave para conseguir bons resultados nos sistemas de produção modernos.

À medida que as leitegadas se tornam ainda mais numerosas, situações como desuniformidade, baixo peso ao nascer e poucas reservas corporais criam um ambiente de grande desafio e que afetam a produtividade e até mesmo a expressão do potencial genético da fêmea e do leitão.

Assim, torna-se necessário um trabalho constante no cuidado com o leitão a fim de mitigar as perdas que são fatais para a saúde financeira da granja.

Quando a maneira convencional de combater os problemas de produção não resolve, optamos por novas tecnologias, manejos e conceitos que precisam ser revistos e testados à nova realidade. Um dos manejos amplamente utilizados na rotina de uma granja, é o uso de antibióticos (ATB) como profilaxia ou terapia no manejo pós nascimento.

Muitos estudos vêm sendo conduzidos a fim de entender melhor o impacto dessa prática. Ruczizka et al. (2019) avaliaram o desempenho de leitões tratados ao nascimento com antibiótico (ceftiofur, 5,0 mg/kg de peso vivo) em comparação a leitões não tratados. Os autores observaram que a aplicação não interferiu no desenvolvimento durante a fase de lactação. No entanto, aos 97 dias de idade, houve diferença no ganho de peso diário (GPD) entre animais tratados e não tratados. Esses resultados estão diretamente relacionados à diversidade bacteriana presente no trato intestinal dos animais.

Durante as fases iniciais da vida do leitão, a diversidade e composição da microbiota intestinal é dinâmica. Pode ser influenciada a cada mudança sofrida pelo animal, seja por manejo ou por condições ambientais (Yu et al, 2018). Nesse sentido, Schokker et. al (2014) realizaram um estudo comparando três grupos, sendo: T1 controle – sem ATB e sem uniformização; T2- com ATB, 0,1 ml de tulatromicina e sem uniformização; T3 – com ATB, 0,1 ml de tulatromicina e com uniformização.

Neste último, a uniformização foi considerada um evento estressante. Analisando não só o efeito do ATB, mas o efeito do estresse sobre a composição da microbiota intestinal e o desenvolvimento imunológico dos leitões, encontraram uma diferença entre a composição da microbiota intestinal devido aos eventos que ocorreram durante os primeiros dias de vida do animal (4º dia).

Na sequência do mesmo experimento, Schokker et. al (2015) observaram uma diferença na expressão gênica aos 55 dias e uma diferença na composição da microbiota aos 175 dias de vida, no entanto, sem diferenças significativas entre os tratamentos e que esse resultado pode ser consequência da microbiota recém adquirida após o desmame (28 dias).

A expressão gênica é importante por influenciar o desenvolvimento imune do animal (Schokker et al., 2014)Yun, et al. (2017) utilizaram amoxicilina como tratamento preventivo em animais ao primeiro dia de vida e encontraram maior seleção de genes de resistência antimicrobiana. Isso quer dizer que há interferência no desenvolvimento imune do leitão, mas não necessariamente que isso seja ruim, caso fosse único e exclusivo fator, observaríamos isso mais acentuadamente a campo.

Realmente não existe uma regra ou um fator isolado que rege uma consequência definitiva na vida dos animais. A relação microbiota e hospedeiro é complexa, multifatorial e os estudos dessa interação desvendam pouco a pouco os mecanismos dessa conexão.

Segundo Yu et al. (2018), a microbiota intestinal de leitões lactentes é menos diversa e mais dinâmica quando comparada com leitões em fase de pós desmame ou crescimento. Isso corrobora a menção de que a diversidade da microbiota intestinal é sinônimo de robustez, sendo mais resiliente às mudanças sofridas pelo animal. Nesse sentido, a fase de aleitamento e o período pós-desmame são as fases de maior cuidado quando quisermos produzir um animal mais resistente, saudável e rentável, ou seja, um animal mais tolerante a alterações de condições do trato gastrointestinal causadas pela dieta e/ou pela ocorrência de patógenos que irão encontrar durante os 180 dias de vida.

Além da questão da expressão gênica, Janczyk e colaboradores (2007) aplicaram amoxicilina em leitões recém-nascidos e observaram uma redução da diversidade da microbiota desses animais aos 39 dias de vida, mas essa redução da diversidade não é sinônimo de que o animal irá ter baixo desempenho zootécnico, de fato, a única resposta que temos no momento é que esses animais serão mais sensíveis a mudanças do meio ao longo da vida, o que pode necessitar de maior suporte até o abate.

Então, o que podemos fazer para criar um animal capaz de resistir aos desafios que irão encontrar durante sua vida e expressar seu potencial genético em desempenho?

Ficou claro que o uso de ATB injetáveis nos primeiros dias de vida pode influenciar a resiliência dos leitões. Contudo, a principal forma de reduzir a dependência dessa prática é conhecer detalhadamente os agentes patogênicos circulantes na granja, implementar protocolos consistentes de biosseguridade, controle ambiental e imunização.

Paralelamente, práticas de manejo adequadas — como o planejamento do fluxo de animais e pessoas, a realização de vazio sanitário, bem como a correta higienização das instalações com controle de umidade e temperatura — constituem a base para a formação de animais mais robustos.

A antibioticoterapia mantém papel relevante na produção animal e não deve ser descartada. No entanto, seu uso deve ocorrer de forma criteriosa, baseada em conhecimento técnico e sempre com foco na parcimônia.

Para complementar essa abordagem e apoiar o desenvolvimento de leitões mais resilientes, é possível adotar estratégias que limitem a adesão e colonização de patógenos nas células epiteliais, promovam equilíbrio da microbiota intestinal, favoreçam a digestão e preservem a integridade da mucosa intestinal.

Em um próximo artigo abordaremos tais estratégias.

 

 

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