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Necrose de ponta de orelha em suínos

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A síndrome da necrose de ponta de orelha tem dois padrões distintos de apresentação.

A forma branda é a mais frequente e as lesões iniciam-se com exsudação e dermatite superficial, localizadas na ponta da orelha ou no bordo ventral, causando pouco desconforto e sem manifestação sistêmica no animal (SOBESTIANSKY e BARCELLOS, 2007).

necrose de ponta de orelha
Figura 1. Lesão inicial com necrose e formação de crosta na extremidade da orelha
Fonte: Arquivo pessoal

A outra forma, que ocorre ocasionalmente, é a mais severa, que compromete boa parte da extremidade da orelha, causando cianose, exsudação, ulceração e necrose irregular devido a um processo inflamatório agudo e que, geralmente, é sistêmico (MORÉS e IBAÑEZ, 2016) (Figura 2A e Figura 2B).

necrose de ponta de orelha
Figura 2A (Esquerda) Necrose em fase avançada da lesão. Figura 2B (Direita) Lesão na fase final da evolução do quadro clínico em que a orelha perde sua forma característica e cai.
Fonte: Arquivo pessoal

Os principais fatores envolvidos para a ocorrência aguda da necrose de orelha são o estresse e a imunossupressão. Como a síndrome não tem sido reproduzida experimentalmente, o motivo específico ainda é pouco elucidado, pois várias causas podem estar associadas conforme abaixo:

Epidermite exsudativa, Inflamação por Staphyococcus (St.) Hyicus ou por Streptococcus (Str.) beta hemolítico

Uma alteração vasomotora é iniciada pela penetração e desenvolvimento dessas bactérias, que causam um processo inflamatório intensificando o metabolismo e resultando em celulite, vasculite, trombose, isquemia e necrose.

Esses processos geram uma deficiência na irrigação sanguínea e, consequentemente, a síndrome de necrose de orelha. As lesões traumáticas iniciais (Figura 4) permitem a penetração e desenvolvimento de um processo inflamatório bacteriano por St. Hyicus ou Str.B-hemolitico. (SOBESTIANSKY e BARCELLOS, 2007).

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Figura 4. Lesão sugestível de trauma, que pode consequentemente desenvolver a Síndrome de necrose de orelha
Fonte: Arquivo pessoal

Embora a Síndrome de necrose de orelha (SNO) ainda não esteja clara, o desenvolvimento das bactérias St. Hyicus ou Str.B-hemolitico, que são comensais na microbiota epitelial dos suínos, exige uma solução de continuidade na pele (lesões traumáticas iniciais, que permitem a penetração das bactérias como lesões por mordedura), pois não são capazes de penetrar no tecido sadio.

Circovirose

A necrose de ponta de orelha pode também ser decorrente da circovirose suína, e nesses casos as lesões são resultantes de uma vasculite generalizada por hipersensibilidade imunomediada.

Geralmente, as lesões são bilaterais e avermelhadas, começando na extremidade da orelha e se estendendo ventralmente. Nesse caso, simultaneamente à lesão auricular, ocorrem sinais clínicos e lesões sistémicas de circovirose em vários leitões do lote, sendo que o diagnóstico deve ser confirmado através de exames laboratoriais (MORÉS, 2016).

Intoxicação por Ergot

A ingestão de grãos contaminados com fungo do gênero Claviceps púrpura, que produz a toxina denominada Ergot, é outra possível causa de necrose de aponta de orelha. Esse fungo é parasita de grãos, principalmente o centeio, aveia e trigo, e quando ingerido produz uma toxina alcaloide que causa gangrena e problemas reprodutivos, especialmente hipogalaxia/agalaxia, além de leitegadas pequenas.

Nesse quadro, a gangrena que ocorre nas extremidades é do tipo seca e não exsudativa, causada por vasoconstrição e danos endoteliais. Os sintomas sistêmicos principais compreendem:

  • depressão,
  • diminuição no consumo de ração,
  • pulso acelerado,
  • laminite e,
  • em alguns casos mais severos, é visível a necrose da orelha e cauda, além da queda das unhas.

Os sinais são mais intensificados no período de inverno e o tratamento envolve limpeza local e uso de antibióticos para controlar as infeções secundárias (SOBESTIANSKY e BARCELLOS, 2007).

Eperitrozoonose

Quando ocorrem infecções por Mycoplasma suis, causador da Eperitrozoonose, é possível verificar a ocorrência de necrose de ponta de orelha. Uma vez que essa bactéria está presente no plasma sanguíneo, o organismo desenvolve anticorpos que podem provocar micro aglutinações, principalmente nas extremidades das orelhas, com consequentes distúrbios circulatórios manifestados por cianose, exsudação e necrose (MORÉS, 2016).

Doenças sistêmicas

A Salmonelose e a Erisipela são outras doenças sistêmicas. Quando ocorre septicemia em casos raros e em reações tardias, um dos sinais clínicos pode ser a cianose, exsudação e necrose das extremidades das orelhas (MORÉS e IBAÑEZ, 2016).

Controle

Primariamente, deve-se avaliar as condições de criação dos leitões, principalmente na creche a no início do crescimento:

  • Brigas ou comedouros inadequados levam à ocorrência de lesões traumáticas em excesso;
  • Superlotação e formação de lotes muito grandes;
  • Evitar misturar leitegadas na formação dos lotes/baias, tanto na creche quanto no crescimento, diminui a ocorrência de brigas;
  • A qualidade do desgaste dos dentes na maternidade deve ser observada;
  • Independente da etiologia da SNO é importante melhorar a limpeza e desinfecção da maternidade, creche e crescimento.

Apesar de não estar bem definida a etiologia dessa doença, que pode ser multifatorial como relatado anteriormente, quando constatadas irregularidades com problemas sanitários, a implementação de ações corretivas é indispensável (em qualquer patologia).

É preciso atentar sempre:

  • à limpeza das baias e desinfeção correta,
  • tempo de vazio sanitário,
  • retirar água dos comedouros na chegada do lote,
  • manter baias secas,
  • manutenção de todo barracão,
  • baias,
  • ventilação,
  • chupetas,
  • cortinas e etc.

Note-se que controlar a SNO é agir na eliminação dos fatores de risco, proporcionando conforto e bem-estar aos animais e fornecendo alimento com formulação adequada.

Em se tratando de conforto e bem-estar aos animais, uma boa ferramenta é o enriquecimento ambiental. Ele pode trazer inúmeros benefícios como a redução da incidência de canibalismo de cauda (VALROS et al., 2016) e, até mesmo de orelha, uma vez que diversos estudos têm demonstrado que o enriquecimento pode ser eficaz para reduzir a severidade de doenças infecciosas (VAN DIXHOORN et al., 2016).

A escolha do material de enriquecimento é muito importante, pois devem ser adequados às necessidades comportamentais dos suínos para que os mesmos não fiquem ainda mais estressados. É preciso avaliar se os materiais são seguros, comestíveis, mastigáveis, investigáveis, manipuláveis e, ainda, como deverão ser fornecidos (STUDNITZ et al., 2007).

Vale ressaltar que as causas primárias desses comportamentos anormais devem ser investigadas. Por si só, o enriquecimento não é suficiente para atenuar o problema, mas pode ajudar a prevenir e complementar o trabalho de combate ao estresse.

Às vezes os antimicrobianos não exercem efeito direto sobre algumas causas da SNO, entretanto, quando a patologia atinge vários suínos em um mesmo lote é recomendável o uso oral de um antibiótico de amplo espectro, de oito a dez dias.

Dependendo do caso, individualmente, alguns leitões necessitam de tratamento com anti-inflamatórios e soluções tópicas. Em outros casos, quando o problema ocorre somente em alguns suínos, apenas a separação do animal em baia hospital pode ser suficiente para a recuperação espontânea.

Caso a SNO esteja associada a uma doença sistêmica como Eperitrozoonose e Circovirose, medidas específicas devem ser adotadas para o agente envolvido. Além disso, é importante manter comedouros e bebedouros suficientes para o número de animais na baia para evitar competição (MORÉS e IBAÑEZ, 2016).

Considerações finais

A síndrome da necrose de ponta de orelha pode ocorrer, independente do sistema de produção. Considerando que a disseminação da doença é multifatorial, é necessária a identificação dos fatores de risco.

O uso de enriquecimento ambiental pode amenizar os canibalismos de cauda e orelha a partir da redução do estresse dos suínos em diversas fases. Sendo assim, deve-se agir na eliminação dos fatores de risco e monitorar os animais em nível nutricional, ambiental e sanitário.

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