Massa de forragem, por que e como calcular?
Por outro lado, quando olhamos ao analisar os números médios da cadeia pecuária brasileira, nos deparamos com índices muito aquém do desejado, frutos do mau uso e manejo do pasto, o que de certa forma confere incoerência ao sistema.
A questão é que: se o pasto é a base da produção e seu uso é o definidor de toda sustentabilidade econômica do sistema, por que cuidamos – na maioria das vezes – mal desse recurso? Ainda, por que encontramos tantas áreas mal manejadas e em estado crítico de degradação?
O primeiro passo a ser dado para começarmos a cuidar melhor dos pastos da fazenda é conhecer sua produção por hectare e, a partir desse valor, ajustar a lotação e buscar boas práticas de manejo.
Sendo assim, preparamos um guia prático que mostra como calcular a massa de forragem no piquete. Confira:
1ª Etapa: Definir o ponto de amostragem
Antigamente, quando falávamos em amostragem de forragem, a técnica utilizada era “a lanço”. Jogava-se ao acaso um quadrado de área conhecida e o ponto onde o quadrado caía era amostrado. Hoje em dia não se utiliza mais esta técnica, uma vez que, ao lançar ao acaso o quadrado, ele pode cair em uma área que não represente a situação real do piquete, resultando em erros na estimativa.
Assim, utilizar a altura média do pasto como critério para escolha do ponto a ser amostrado, permite uma estimativa da massa de forragem de forma mais assertiva.
Para obter essa altura média, devemos caminhar em “zig-zag” pelo piquete, parando em intervalos iguais de deslocamento (por exemplo: a cada 20 passos) e realizar a leitura da altura em cada uma das paradas. Importante ressaltar que, durante a tomada dos pontos de altura, deve-se percorrer toda a área do piquete e medir pelo menos 50 pontos diferentes.
A partir dos valores obtidos – mínimo de 50 pontos – o valor da altura média é obtido pelo somatório de todos os pontos, divido pelo número de pontos, como demonstrado abaixo:
Ponto | Altura | Ponto | Altura | Ponto | Altura | Ponto | Altura | Ponto | Altura |
1 | 20 | 11 | 15 | 21 | 33 | 31 | 12 | 41 | 32 |
2 | 26 | 12 | 47 | 22 | 21 | 32 | 36 | 42 | 12 |
3 | 34 | 13 | 32 | 23 | 27 | 33 | 41 | 43 | 25 |
4 | 48 | 14 | 9 | 24 | 15 | 34 | 25 | 44 | 24 |
5 | 12 | 15 | 15 | 25 | 19 | 35 | 28 | 45 | 19 |
6 | 5 | 16 | 12 | 26 | 32 | 36 | 29 | 46 | 35 |
7 | 29 | 17 | 24 | 27 | 33 | 37 | 31 | 47 | 43 |
8 | 30 | 18 | 29 | 28 | 21 | 38 | 19 | 48 | 29 |
9 | 10 | 19 | 30 | 29 | 9 | 39 | 12 | 49 | 38 |
10 | 8 | 20 | 24 | 30 | 5 | 40 | 25 | 50 | 27 |
Soma da altura de todos os pontos = 1.216
Com o tempo e um bom treinamento, é possível “ajustar o olho” para identificar pontos que representem a condição média do piquete, permitindo a amostragem direta sem a mensuração da altura.
No entanto, mensurar a altura e correlacioná-la com a massa amostrada, pode ser interessante do ponto de vista prático, uma vez que a criação de um banco de dados associando estas duas variáveis pode resultar na não necessidade de amostragem e utilização da altura como ferramenta de predição da massa de forragem no futuro.
2ª Etapa: Como amostrar
Com a altura média em mãos, é possível encontrar – ao longo do piquete – pontos que representem tal altura para a coleta de amostra. Em áreas uniformes, a amostragem de 3 pontos é suficiente para uma boa estimativa, já em áreas mais desuniformes, recomenda-se fazer a coleta em pelo menos 5 pontos. Normalmente em forrageiras como as brachiarias e cynodons a amostragem de uma área de 0,25m² (quadrado de 0,5 X 0,5 m) é suficiente para uma boa estimativa, já no caso de forrageiras que tendem a formar touceiras, como no caso do capim Tanzânia, recomenda-se a amostragem de pelo menos 1 m² (quadrado 1,0 x 1,0 m).
Achado o ponto, posicione o quadrado delineando a área a ser amostrada e corte todas as plantas que estiverem dentro do quadrado. Para a estimativa da massa de forragem total, o corte deve ser feito rente ao solo. No caso da estimativa da massa de forragem no extrato pastejável, realiza-se o corte na altura de saída dos animais.
Após o corte, coloca-se as amostras em um saco, pesando-a na sequência. Importante saber o peso do saco para descontar esse valor no peso da amostra na hora de realizar os cálculos.
3ª Etapa: Descobrindo a matéria seca (MS)
Após a pesagem da amostra coletada, retira-se uma subamostra para determinação da matéria seca (MS). Para isso, dois métodos práticos podem ser usados para definir a matéria seca na fazenda: micro-ondas ou koster.
Para medir a matéria seca utilizando o micro-ondas, devemos pesar 100 gramas da subamostra em um recipiente de vidro e coloca-la no micro-ondas, não esquecendo de colocar um copo com água para evitar que o material queime e vire cinzas. Em seguida, ligar o micro-ondas em potência média, pesando em intervalos de 1 minuto, até que o peso da amostra se estabilize. Não esqueça de descontar o peso do recipiente de vidro no valor final obtido. Como utilizamos 100 gramas de amostra inicialmente, o peso final da amostra corresponde à porcentagem da matéria seca do material. Caso não tenha utilizado 100 gramas de amostra, é possível calcular a porcentagem de MS da amostra dividindo o peso inicial da amostra pelo peso final multiplicado por 100.
Na estimativa da matéria seca através do koster, devemos pesar e colocar 100 gramas da subamostra na peneira do equipamento. O ideal é utilizar esse equipamento em locais protegidos do sol, chuva e vento, porque assim evitamos interferências externas no processo. Deixar a subamostra no koster durante 30 minutos, pesando em seguida e anotanto o peso. Após passarem 30 minutos da primeira pesagem, pesá-la em intervalos de 10 minutos, até que o peso se estabilize. O peso final da amostra corresponderá à porcentagem da matéria seca do material.
4ª Etapa: Calculando a massa de forragem
Com o valor da MS da subamostra obtida através dos métodos da estufa, micro-ondas ou koster, podemos corrigir para o valor de matéria seca, o peso da amostra da forragem coletada no quadrado.
Com o valor da porcentagem de MS da subamostra calculamos a quantidade de MS da amostra colhida no campo (quadrado), como apresentado abaixo:
Para calcular a quantidade de MS por hectare basta realizar uma regra de três a partir da quantidade de MS obtida no quadrado. Sabendo que um hectare apresenta 10.000 m² e conhecendo a área amostrada – nesse caso considerou-se um quadrado de amostragem de 0,25m² (0,5 X 0,5 m) – seguimos com os cálculos:
Agora com a quantidade de matéria seca disponível por hectare, podemos definir quantos animais colocaremos na área (taxa de lotação), assunto este que será abordado no próximo texto.
Lembre-se:
– Sem objetivos definidos não é possível planejar, sem planejar não podemos medir e se não medirmos o resultado pode ser catastrófico.
– A falta de planejamento se torna uma grande vilã em qualquer negócio, seja no mundo corporativo, seja em grandes operações ou até mesmo em pequenas propriedades.
– Para que o animal consiga “colher” a forragem da melhor maneira, o manejo da pastagem deve buscar o equilíbrio entre a oferta de forragem e taxa de lotação.
– É possível calcular a quantidade de folhas verdes – ou outra parte da planta – por hectare, para isto basta separar as diferentes partes da planta da subamostra, realizar o cálculo da MS e calcular qual a porcentagem de folhas existe na subamostra. A quantidade de folhas verdes por hectare é obtida multiplicando a MS por hectare pela porcentagem de folhas na subamostra.
Olá, por acaso tem as referências utilizadas para a montagem desse texto? Gostei bastante do assunto e gostaria de saber mais.
Olá Carina! Primeiramente, muito obrigado por prestigiar os conteúdos do agBlog. Na nossa plataforma há inúmeros conteúdos que podem te apoiar em sua pesquisa sobre manejo de pasto. Se você cliclar no menu, sobre a opção “bovinos de corte”, vai encontrar bastente coisa. Você também pode se cadastrar para receber os novos conteúdos em seu e-mail, Basta preencher o formulário no rodapé do site. Um abraço!
Gostei da apresentação!
Direto ao ponto!
Grato, Simone!
Que bom que gostou Benilson! Não esqeuça de se cadastrar para se manter atualizado sobre nossos conteúdos!
Parabéns pela clareza. Muito interessante e útil.Grato
Muito claro quanto ao processo
O método do micro-ondas é muito interessante, junto com essa altura média da área. Nunca achei o método a lance muito confiável. Vou colocar em prática, mas desde já parabéns Simone.
Otima matéria, de fácil entendimento e muito produtiva para os pecuaristas. Meus parabens
Aula bem objetiva. Fácil compriessão.
faltou o cálculo da pressão de pasto. OK?
Olá, Luiz!
O cálculo de pressão de pasto será um dos tópicos de nosso próximo artigo da coluna “Geração AgPastto”, assim como os aspectos ligados ao ajuste da taxa de lotação. Continue nos acompanhando.
Obrigada pela participação.
Abraço!
olá…concordo com a conta….mas fica uma dúvida: se eu achei esse teor de matéria seca. Ela é total, certo? quanto o animal vai pastejar desssa oferta? e como terminar a conta? achei a MS e a quantidade animal na area?
Olá!
Muito bem observado, Maria! Na verdade, essas questões serão levantadas em nossa próxima publicação da coluna “Geração AgPastto”. Abordaremos, por exemplo, aspectos ligados ao ajuste da taxa de lotação. Continue nos acompanhando.
Agradeço sua participação.
Abraço!
Muito bom Simone. Simples e objetiva.