Estamos chegando no melhor momento do ano na fazenda, o período das águas. Nos meses seguintes, as condições climáticas favoráveis, aliadas a uma boa fertilidade do solo e ao adequado manejo das pastagens, permitirão ofertar aos animais forragem de excelente qualidade, refletindo em ótimos resultados. Não é difícil encontrarmos animais em recria, exclusivamente a pasto, recebendo somente sal mineral, apresentando ganhos diários da ordem de 0,600 kg. Sem dúvida nenhuma, essa é uma das arrobas produzidas mais lucrativas da fazenda. Animais jovens, no auge da fase de crescimento e com ótima conversão alimentar, associados ao pasto de qualidade, é certeza de bom resultado.
No entanto, por vezes, precisamos pensar um pouco além e nos questionarmos sobre as possibilidades de conseguirmos ainda mais. Isso porque existe um lucro latente a ser explorado no período das águas, que muitos produtores não o exploram por estarem satisfeitos com os resultados do tradicional “arroz e feijão” (pasto e sal mineral) e, portanto, fechados a qualquer outra estratégia.
Quando analisamos o sistema padrão de produção de bovinos no período das águas, alguns pontos chamam a atenção. É sabido que os animais não consomem sal mineral todo dia, ou seja, quando falamos em consumo de 100 gramas por cabeça/dia, este valor se refere à média do lote. Sendo assim, pensando em animais em crescimento, o consumo diário e constante de minerais é um ponto a ser pensado. Notamos aqui nosso primeiro ponto de atenção.
Ainda sobre o período das águas, a avaliação química das folhas revela que a quantidade de proteína bruta na forragem é suficiente para subsidiar o crescimento microbiano ruminal, levando à falsa conclusão de que, se algo a mais fosse fornecido, o suplemento utilizado deveria ser energético. Ao aprofundarmos na análise do perfil proteico encontrado na planta, observamos que existem diferentes frações compondo a proteína total da planta (valor de proteína bruta), sendo que, a principal diferença entre elas é a velocidade e aproveitamento pelo animal. Assim, mesmo que o valor bruto seja ideal, existe uma fração que está ligada à fibra e é indisponível para o animal, enquanto outra apresenta taxa de degradação muito alta (similar à ureia), sendo facilmente perdida, justificando o uso de suplementação proteica mesmo nas águas.
Visto os pontos levantados até aqui, podemos entender então por que a suplementação proteica, mesmo durante o período das águas, tem mostrado excelentes resultados. Nesse caso, o conceito é muito mais do que nutrição. Trata-se de um pacote tecnológico, uma vez que, com o fornecimento do proteinado, conseguimos promover o consumo regular de macro e micro minerais, suprindo as exigências do animal e permitindo um crescimento adequado, além de promover a melhora no ambiente ruminal, promovido pelo ajuste fino do perfil proteico da dieta. Um ponto importante deste pacote tecnológico é o uso obrigatório de um aditivo melhorador de desempenho como, por exemplo, a monensina.
Como um bom produtor, você deve estar se questionando sobre o custo de tudo isso.
Visto que o cenário padrão durante o período das águas já é muito favorável, qualquer desembolso a mais teria que ser justificado pelo ganho adicional promovido pela estratégia adotada, e é sobre essa ótica que qualquer estratégia de suplementação no período das águas, para animais em recria, deve ser avaliada.
Resultados de trabalhos de pesquisa e confirmações a campo têm evidenciado um ganho adicional diário por animal, da ordem de 0,150 kg. Nesse sentido, uma análise econômica bem simplista para avaliar a estratégia seria calcular a receita obtida com o ganho adicional (venda de 150g), e descontar dela o custo adicional da estratégia (valor gasto por dia com suplemento proteico – valor gasto por dia com sal mineral), em que, a diferença obtida é o lucro adicional por animal por dia. Em diferentes simulações temos obtido uma relação benefício:custo que varia de 1:3 até 1:5, ou seja, para cada real investido – dependendo do cenário – o retorno será de três a cinco reais.
A grande oportunidade do período das águas, considerando os resultados zootécnicos e econômicos do uso do proteinado, reside na simplicidade de adoção da técnica, uma vez que, para sua implementação, o único ajuste necessário seria a adequação da quantidade de cocho por animal. Diferente da suplementação de maior consumo (ex.: suplementos proteicos energéticos), que precisa ser fornecida todo dia e demanda ajustes operacionais, o fornecimento do proteinado pode seguir a mesma logística de distribuição já realizada na salgação dos animais, ou seja, seu fornecimento poderá ser intervalado de acordo com o operacional da fazenda.
Sendo assim, devemos pensar na oportunidade do custo de produção da arroba adicional com o proteinado, e considera-la como uma oportunidade latente para o período das águas. Pense que: em tempo de incertezas econômicas assombrando nosso mercado, garantir a produção de uma arroba a mais no período das águas – com baixo custo – é, sem dúvida, um ótimo caminho a seguir.
Ótimo texto Matheus! Um dos principais entraves nos programas de suplementação hoje em dia, acredito eu que seja a interpretação do pasto como dieta, ( O pasto não nasce pra ser dieta, ele nasce pra ser pasto). Mas acredito também que além do que você descreveu da proteína indigestível ligada a fibra, outro motivo da suplementação nas águas ser importante é o desequilíbrio na relação proteína: energia (P:E), com excesso de energia nos pastos. (Detmann et al 2010; 2014). Claro que com exceção de pastos altamente proteícos, encontrados com manejo intensivo associados a quantidades elevadas de adubação nitrogenada.
Ótimo texto,sobre uma ótima estratégia!
Certamente haverá um conforto maior na hora da negociação para o produtor que conseguir otimizar sua produção com essa visão de lucro latente fazendo uso dessas tecnologias de mineralização e proteinados, pra não dizer: Vantagem Competitiva, o que também pode-se considerar lucro acima da média.