Dando sequência à nossa reflexão sobre produção animal a pasto e, uma vez que já abordamos os conceitos básicos sobre métodos de pastejo no texto anterior, cabe agora discutirmos como incrementar a produção a partir do uso de recursos externos, como adubação e suplementação.
Via de regra, desde que as condições básicas do sistema de pastejo não sejam limitantes, ao aumentar o nível de adubação ou o nível de suplementação, a produção por hectare tende a aumentar de forma linear, levando algumas pessoas a encarar as estratégias como concorrentes.
Todavia, na contramão deste pensamento, adubar os pastos e/ou suplementar os animais são estratégias que deveriam ser encaradas como “complementares”, uma vez que, o caminho para o aumento da produção, trilhado por cada uma delas, é diferente.
Precisamos lembrar que, o aumento da produção por hectare é uma resultante da interação de dois fatores: lotação e ganho de peso, no qual, adubação e suplementação, apresentam respostas diferentes sobre cada uma dessas variáveis, tornando-se assim ferramentas complementares para aumento da produção a pasto.
Obviamente, apesar de não estar demonstrado nas figuras, sempre existirá um platô biológico/produtivo que será alcançado a partir de determinado aporte externo. Sabe-se ainda que, a ótima resposta econômica será atingida um passo antes do ponto ótimo produtivo.
Adubação: mais boi na mesma área
Na prática, podemos encarar a adubação da pastagem sobre duas óticas: 1) adubação corretiva: cujo objetivo é suprir as deficiências do solo, ajustando os nutrientes a partir do laudo obtido com a análise de solo; 2) adubação produtiva: feita após a correção dos nutrientes limitantes, com o objetivo alavancar a produção forrageira a partir do aumento da velocidade de crescimento da planta, sendo essa, normalmente, associada à aplicação de nitrogênio na área.
Entendendo a adubação nitrogenada
Quando adubamos um pasto com nitrogênio, fazemos com que a planta aumente seu “estoque” de enzimas fotossintéticas, elevando seu teor proteico e sua velocidade de crescimento.
Entender esse efeito, auxiliará no manejo da pastagem, permitindo aproveitar ao máximo os resultados conquistados com a adubação, convertendo da melhor forma pasto em carne.
Ter como foco o uso da adubação nitrogenada para melhorar o valor nutritivo do pasto (principalmente o valor proteico), provavelmente não seja a estratégia mais interessante. Isso porquê, explorar a adubação com esse objetivo torna-se “cara”, visto que, corrigir possíveis limitações proteicas do capim, através da suplementação no cocho, é mais efetivo, do ponto de vista técnico e econômico. Todavia, entender os efeitos da adubação sobre as mudanças na composição bromatológica do capim é fundamental, uma vez o suplemento que será ofertado deverá ser formulado com base no valor nutritivo da forragem.
Sem dúvida, o grande trunfo a ser explorado com a adubação é a velocidade de crescimento da planta, o qual proporciona o aumento da massa de forragem disponível para pastejo e permite aumentar o número de animais na área.
Esse efeito evidencia que o resultado obtido no aumento da produção de arrobas por hectare, a partir da adubação, está diretamente relacionado à taxa de lotação e não da melhora do ganho de peso.
Sabendo disso, o pecuarista precisa ter ciência de que fazer uso dessa técnica demandará um bom planejamento e alinhamento com o contexto da fazenda, uma vez que, errar no ajuste de lotação pode propiciar a perda de controle da estrutura do pasto, refletindo em perdas produtivas, relacionadas principalmente à perda da eficiência de colheita do pasto (pasto passado).
Na prática, é comum vermos produtores se organizarem financeiramente para adubar os pastos, mas esquecem de se organizar para aumentar a lotação da fazenda (estoque de gado). Quando isso acontece, o pasto cresce, falta “boca” para comer; o pasto passa e perde-se dinheiro.
Como referência, para um bom planejamento, pode-se considerar que: para cada 50 kg de nitrogênio aplicado por hectare no período das águas, aumenta-se 1 unidade animal (450 kg de peso vivo).
Suplementação: incrementando o ganho e explorando a lotação
Diferente do resultado obtido com a adubação, a principal (porém não única) contribuição da suplementação no aumento da produção de arrobas por hectare é através do ganho de peso do animal.
Vale lembrar que a premissa básica da suplementação é fornecer nutrientes ao animal, visando potencializar os processos ruminais, aumentando o ganho de peso através da melhora do padrão fermentativo, síntese microbiana e consumo de matéria seca. Nesse caso, a formulação do suplemento deve ser voltada para atender as exigências dos microrganismos do rúmen com foco em otimizar o processo fermentativo.
Sobre essa ótica, independente da qualidade do pasto e época do ano, sempre iremos explorar ganhos adicionais, desde que façamos a correção dos nutrientes limitantes de forma correta.
Caso a proposta seja acelerar ainda mais o ganho de peso dos animais, além de corrigir os nutrientes limitantes, devemos fornecer “combustível” para as bactérias ruminais, no caso, energia, acelerando o processo fermentativo e aumentando ainda mais a síntese microbiana.
Da mesma forma que o nível de adubação tem correlação direta com a lotação, vemos que o nível de suplementação tem correlação direta com o ganho de peso do animal, ou seja, aumentando o nível de suplementação, aumenta-se o ganho de peso do animal.
Para o sucesso econômico da suplementação, precisamos entender muito bem a origem do ganho de peso obtido com a estratégia proposta e saber se o ganho conquistado está sendo originado por um efeito adicional ou substitutivo em relação ao consumo de pasto. Esse é um ponto é importante, uma vez que, substituir pasto por suplemento é caro, e, a partir deste momento, obrigatoriamente devemos explorar, além do aumento do ganho de peso, o aumento da lotação, mudando a ótica da avaliação econômica do animal para a produção por área.
Entendendo os efeitos da suplementação
Uma boa forma de elucidar o resultado da suplementação sobre o ganho de peso dos animais e aumento de lotação é através da análise dos ganhos adicionais conquistados a partir do seu uso.
Antes de seguir, cabe explicar que, quando falamos em ganho adicional, estamos nos referindo ao ganho conquistado, descontando o ganho que o animal apresentaria se estivesse consumindo apenas pasto e sal mineral (ganho “basal”).
Exemplificando: imagine um bovino consumindo pasto de brachiaria e sal mineral, ganhando 0,500 kg/dia, e, ao passar a receber determinado suplemento, eleva esse ganho para 0,550 kg/dia, tem-se então um ganho adicional de 0,050 kg/dia (0,550 -0,500kg/dia).
Ao avaliar o padrão de resposta da suplementação proteica de baixo consumo (0,05 a 0,1% PV) em relação ao uso de sal mineral, observamos que o ganho de peso adicional obtido independe da qualidade de forragem, na qual, a conquista do ganho adicional virá da otimização da fermentação ruminal através do ajuste fino no consumo de proteína verdadeira e da regularidade de consumo dos minerais e aditivo. Nesse cenário, o efeito da suplementação sobre o aumento da produção por hectare se dará, exclusivamente, pelo aumento do ganho de peso dos animais.
Diferente da resposta da suplementação de baixo consumo, quando utilizamos a suplementação proteica energética (0,3 a 0,5% do peso vivo), o resultado do ganho adicional obtido decresce em função da qualidade do pasto, e, entender esse efeito torna-se a base para explorar o ganho por animal e por área, dentro do sistema de produção a pasto.
Em um extremo, temos um animal ganhando pouco peso, o que significa que o pasto apresenta baixo valor nutritivo por estar passado ou, que a oferta de forragem está baixa por falta de pasto. Na primeira situação, a suplementação proteica energética atua corrigindo os nutrientes limitantes, dando velocidade aos processos fermentativos. Já no segundo, a suplementação atua corrigindo o consumo de matéria seca do animal que está comprometido, visto a baixa oferta de forragem.
Em ambos os casos os resultados observados são ganhos adicionais consideráveis e, da mesma forma que a suplementação proteica, resultam em aumento da produção pelo aumento do ganho de peso individual.
Do outro extremo, quando o animal está com ganho de peso mais alto, recebendo somente suplementação mineral, significa que o pasto apresenta bom valor nutritivo e que a oferta de forragem está adequada, sendo o ganho adicional obtido com a suplementação proteica energética, baixo, visto que, nesse cenário, o animal substitui consumo de pasto por suplemento, literalmente trocando “seis por meia dúzia”.
Surge assim a oportunidade do uso da suplementação de forma estratégica, associado ao manejo da pastagem, no qual, podemos manejar a área aumentando a lotação e corrigindo o ganho com a suplementação, potencializando o ganho por área e por animal.
Adubação e suplementação: aliadas no aumento de produtividade
Sabendo, então, das diferenças no padrão de resposta em relação ao uso da adubação e suplementação; e dos conceitos aprendidos sobre o manejo da pastagem, podemos explorar aumentos produtivos, tanto pelo ganho de peso individual quanto pelo aumento de lotação. Imagine um cenário em que adubamos os pastos, manejamos com lotação mais alta e suplementamos os animais para otimizar o ganho… Para onde irá a produção de arrobas por hectare? Tudo é uma questão de planejamento e execução bem-feita.
Lembre-se: antes de buscar pela ALTA performance dos resultados da fazenda, se comparando aos melhores indicadores, tentando utilizar o que tem de melhor no mercado, prime pela AUTO performance. Busque ser melhor hoje do que você (ou a fazenda) foi ontem e esqueça os outros! Utilize os recursos de forma inteligente e coerente, melhorando diariamente o seu sistema de produção, aprimorando assim os resultados conquistados.