Ganho em carcaça: Como vemos a exploração do ganho compensatório no confinamento
Para pecuaristas que trabalham com sistemas de recria e terminação, a decisão de deixar categorias mais jovens ou até mesmo garrotes passarem premeditadamente por restrição alimentar durante a fase de recria, para que o animal tenha taxas de ganho mais aceleradas, principalmente na fase de terminação, pelas características do sistema de produção brasileiro, não é uma medida adequada. É fato que o animal ganha mais peso corporal, porém o que precisamos saber é o quanto está sendo o ganho em carcaça, ou seja, o rendimento do ganho dependerá invariavelmente da forma e extensão do período de restrição.
Nas últimas décadas, as dietas utilizadas no confinamento vêm se modificando, de forma que a inclusão de concentrado aumentou drasticamente, chegando a valores próximos a 90%. Além disso, o período de adaptação a esse tipo de dieta vem reduzindo. Há uma busca cada vez maior para adaptar o animal à dieta num prazo curto (podendo chegar a 7 dias) e aí vem a questão: quais eram as condições do animal antes de entrar no confinamento. Este animal está preparado para o desafio que está por vir?
Quanto mais curto for o período de confinamento, maior é a necessidade de adaptar o animal o mais rápido possível. Nesse ponto surge a questão: o animal pode até atingir as metas de consumo de matéria seca (MS), porém, será que os órgãos metabolicamente mais ativos estão preparados para metabolizar os nutrientes ingeridos e converter os mesmos em ganho em carcaça? Ou, essa energia ingerida será utilizada para recompor o tamanho das vísceras e, neste caso, o rendimento do ganho em carcaça será menor? Nesse cenário, os índices produtivos avaliados em termos de GMD e conversão alimentar baseada em kg de MS ingerida/kg de ganho de peso corporal podem ser bons, porém quando passamos a avaliar o RG ou o GMD carcaça, ou ainda, calcular a eficiência biológica (kg MS/@ ganha) tais índices podem ser ruins.
Em cenários de preço de diária de confinamento elevadas, fazer a recuperação de vísceras no confinamento não é a melhor tomada de decisão. Logicamente que há no mercado as chamadas ¨oportunidades de negócio¨, em que é possível encontrar animais de reposição a preços mais atraentes.
Em qualquer cenário há compreensão por parte do produtor, que os componentes integrantes do peso do animal (carcaça, CNC e conteúdo do TGI) precisam ser levados em conta e a meta não ser o maior GMD, e sim a melhor eficiência biológica.
Com as transformações que a pecuária de corte vem passando nos últimos anos, com custos de produção cada vez mais crescente, a busca por eficiência é cada vez maior. É consenso entre a maioria dos técnicos e produtores que a melhoria da eficiência passa pela redução na idade média de abate dos animais. Além disso, também já é consenso a necessidade, cada vez maior, de aumento no peso médio no ganho em carcaça. Tais objetivos somente serão alcançados com um planejamento nutricional adequado durante as diferentes fases da curva de crescimento do animal.
A sazonalidade de produção forrageira é inerente ao sistema de produção em condições tropicais, portanto, há momentos de maior oferta de forragem de melhor qualidade (período das águas), seguidos de pior qualidade (períodos das secas), porém as exigências nutricionais dos animais aumentam constantemente. Assim, é possível afirmar que os animais passam por períodos de restrição nutricional ao longo da curva de crescimento e apresentam, em algum momento, um crescimento compensatório. Portanto, o produtor rural precisa estar atento, para entender o que pode estar por traz dessa maior taxa de crescimento, pois o que interessa são os kgs de ganho em carcaça produzido por animal, por unidade de tempo.
No modelo de confinamento brasileiro, em que a duração é relativamente curta, há a necessidade de adaptação dos animais à dieta num menor espaço de tempo, nesse caso, é importante ficar atento, pois os órgãos metabolicamente mais ativos também precisam estar desenvolvidos para poder metabolizar os nutrientes ingeridos, de forma a canalizar os mesmos para uma maior produção de ganho em carcaça.
Como o ganho em carcaça é a “moeda” do produtor, todas as avaliações técnica e econômica devem ser consideradas no conceito de rendimento de ganho, ou seja, kg de carcaça produzida de incremento de peso corporal. O ganho médio diário de peso corporal pode induzir a erros na interpretação dos resultados de desempenho. Taxas de ganho de peso elevado podem ser ilusórias e precisam ser melhor analisadas por técnicos e produtores. Para isso, informações sobre o histórico nutricional do animal, que antecede a fase de terminação no confinamento, são importantes para melhor interpretação dos resultados
Por fim, embora amplamente estudado, o crescimento compensatório ainda é cercado de muitos mitos, trazendo muitos problemas de interpretação dos resultados de desempenho animal, principalmente nas condições de produção de gado de corte no Brasil. Há a necessidade de se avaliar, ainda mais, o real incremento em carcaça que poderia ocorrer após um período de restrição alimentar, pois aumentos de taxas de ganho de peso corporal sem aumento no ganho em carcaça, certamente é ilusório.
Nutrição Animal – Agroceres Multimix
* Texto publicado na integra nos Anais do Evento da Confinamento da Coan Consultoria de 2015; Agradecimento especial aos Professores Flávio Dutra Resende e Gustavo Rezende Siqueira para liberação do material.