Produção por área uma ferramenta para aumentar a suplementação
Esse é um excelente momento para obtermos incrementos em produção por área com o uso da suplementação. Você pode relembrar o que já conversamos, clicando nos links abaixo:
Como potencializar o ganho de peso dos animais durante o período das águas
Intensificando a recria – Suplementação durante o período chuvoso
Hoje discutiremos como a suplementação pode ser utilizada em conjunto com o manejo da pastagem para aumentar o número de arrobas produzidas por hectare. Especificamente, vamos falar sobre a suplementação de alto consumo.
Quando nos referimos a esse tipo de estratégia, pensamos no fornecimento de proteína e energia para o animal, por isso, normalmente essa prática é conhecida como suplementação proteica energética. Em algumas fazendas pode ser conhecida como: proteinado de alto consumo, ração, entre outros nomes. Durante as águas, em função das características do pasto, o uso da suplementação energética (< 20%PB) pode se apresentar como melhor opção. Porém, independentemente do tipo de suplemento (proteico e/ou energético), o que iremos discutir segue o mesmo raciocínio em termos de aumento de produção por área.
A média obtida através de alguns estudos, aponta que a suplementação proteica energética permite ganhos médios diários (GMD) adicionais da ordem de 0,250 kg/dia. Porém, este não é um valor que deve ser considerado como padrão, uma vez que, como demonstrado na Figura 1, o GMD adicional obtido é dependente da qualidade do pasto que o animal esta consumindo.
Independente de como avaliamos o desempenho do animal frente a suplementação proteica energética (baseado na porcentagem de aumento do GMD ou quilos adicionais por dia), a resposta é muito parecida. Quanto maior o GMD obtido a partir do consumo de pasto e sal mineral (GMD base), menor seria a resposta adicional da suplementação proteica energética.
O que acontece é que, o pasto de melhor qualidade (composição química e estrutura) leva a maior GMD e diminui o efeito da suplementação. Isso ocorre devido a substituição da dieta pelo animal. Quanto melhor o pasto, menores as chances do suplemento elevar o nível nutricional da dieta e, nesse caso, o animal troca “seis por meia dúzia” (deixa de comer pasto de boa qualidade para comer o suplemento).
Mas então, como fazer da suplementação uma ferramenta para potencializar a produção animal por área? Vejamos.
Uma das formas para conquistar aumentos em produção na fazenda, seria o aumento da taxa de lotação (nº de cabeças por área). O problema é, quando se aumenta o número de animais no piquete, aumenta-se também a competição por forragem, o que reflete diretamente sobre o consumo do animal e consequentemente no ganho individual.
A Figura 2, correlaciona a altura do pasto e o consumo do animal. Quanto mais baixa a altura do pasto, significa maior taxa de lotação.
Fica claro que o aumento do número de animais por área refletiu na queda do consumo de forragem, o que acarretaria em queda de desempenho individual e por área. Nessa situação, a suplementação poderia ser utilizada como ferramenta para corrigir esse “déficit” do consumo, e assim, restabelecer o ganho de peso dos animais
Como já demonstramos, quanto pior é o cenário (traduzido pelo GMD do animal), maior ganho adicional obtido com a suplementação (Figura 1). Nesse sentido, poderíamos utilizar a suplementação de forma estratégica para corrigir o GMD que foi comprometido com o aumento da lotação, e assim, aumentar a produção por área.
Para exemplificar mais esse efeito, vejamos os dados apresentados na Figura 3. Em laranja, temos animais que receberam suplemento proteico energético, e em verde, animais recebendo sal mineral. Com o aumento da altura do pasto, o desempenho individual (figura esquerda) melhora, independentemente do tipo de suplementação (sal mineral ou suplemento proteico energético).
Criando uma situação hipotética e utilizando o sal mineral como exemplo, fazendo os cálculos da produção por área, temos:
- Altura de 15cm: 4,5 animais/ha * 0,400 kg/animal/dia = 1,8 kg/ha/dia;
- Altura de 35cm: 3 animais/ha * 0,600 kg/animal/dia = 1,8 kg/ha/dia;
Em ambas situações o ganho por área é de 1,8 kg/ha (nº animais x GMD).
Note na Figura 3, no gráfico à direita (representação da produção por área), que a linha verde não se altera em função da altura do pasto, demonstrando o efeito citado, ou seja, menos animais ganhando mais peso, ou mais animais ganhando menos peso, resultando em mesmo ganho por área.
O que chama a atenção é que os ganhos na altura de 35cm, obtidos com o sal mineral, são muito semelhantes aos conquistados na altura de 15cm com o uso da suplementação proteica energética, demonstrando que a suplementação corrige a queda de desempenho individual gerada pelo aumento da lotação.
O interessante de observar nesse caso, é o efeito que a suplementação proteica energética proporciona sobre a produção por área.
Assumindo que a suplementação irá agregar 0,250 kg/dia no GMD dos animais que estão na altura de 15cm (GMD base de 0,400 kg/dia), e 0,200 kg/dia no GMD dos animais que estão na altura de 35cm (GMD base de 0,600 kg/dia) (Figura 1), e proceder com o cálculo da produção por área, temos:
- Altura de 15cm: 4,5 animais/ha * (0,400 + 0,250 kg/dia) = 2,9 kg/ha/dia.
- Altura de 35cm: 3 animais/ha * (0,600 kg/dia + 0,200 kg/dia) = 2,4 kg/ha/dia;
Considerando as lotações exemplificadas (que são dependentes de vários fatores, como: fertilidade do solo, nível de adubação, precipitação, temperatura, manejo, etc.), o ganho adicional por hectare seria de + 0,500 kg/dia. Este valor representaria uma produção de 0,5 arroba a mais por hectare no mês, ou 6 arrobas a mais por hectare no ano.
Fica claro que, manejo do pasto (ajuste da lotação) associado à suplementação, é uma ótima opção para aumentar a produção por área, e segue como mais uma opção a ser utilizada na busca pela maior eficiência do sistema de produção.
Vale ressaltar que a adoção de uma nova tecnologia deverá vir acompanhada da análise criteriosa do custo X resultado obtido. Além disso, a definição da estratégia nutricional é apenas uma das várias etapas até a obtenção de resultado, sendo o manejo do pasto e o ajuste da lotação um dos grandes desafios a serem estabelecidos na fazenda.
Parabéns pelo artigo. Faço uma sugestão. Considere a possibilidade de o produtor precisar vender para o abate os animais. Aqueles que estão na área consumindo pastagem mais alta levam vantagem pois encurta seu ciclo de permanência. São vendidos antes que os da pastagem mais baixa. A suplementação aumenta o ganho por área, mas nem tanto o ganho por animal. Uma estratégia interessante poderia ser num pastoreio rotativo onde existe o lote do desnate e outro lote do repasse. Uma suplementação do lote de repasse poderia sim incrementar muito a produtividade por área sem afetar tanto o GMD individual. Concorda?
José Antônio,
Que bom que gostou do artigo e obrigado pela pergunta. Partindo do princípio de que o manejo de dois lotes na área não seja um problema, vamos pontuar como a suplementação proteica energética (SPE) (0,3%PV) poderia influenciar e ser empregada nos dois casos. No primeiro – lote do desnate – os animais consomem forragem de excelente qualidade (ponta de folha), sendo baixo o potencial de incremento no GMD obtido com a suplementação (como você pode avaliar na Figura 1). Isso acontece, uma vez que a forragem apresenta bom valor nutritivo e a suplementação não agrega muito na dieta do animal, não refletindo em aumento no GMD. Nesse caso, o que ocorre é o efeito substitutivo da pastagem. Sendo assim, podemos pensar em utilizar a SPE de forma estratégica – como discutimos no texto -, aumentando a taxa de lotação (que resultará em queda do GMD individual) e corrigindo o GMD com o suplemento. Dessa forma, ajustaríamos o ganho por animal, porém, pelo aumento de lotação, aumentaríamos o ganho por área. No segundo caso – lote repasse – visto a pior qualidade do pasto, o GMD tende a ser mais baixo do que no primeiro caso, sendo a suplementação uma excelente ferramenta pala aumentar o GMD individual (Figura 1). Nesse caso, com o aumento do GMD por animal também ocorre um aumento no GMD por área, uma vez que a lotação é mantida. Lembre-se que o ganho por área é obtido pela combinação de lotação x GMD individual e, desde que bem estruturada, temos o potencial de agregar em produtividade com o uso correto da suplementação.
Mais uma vez obrigado pelo seu comentário.
Fala Matheus, tudo bem? Muito bom este artigo, já até enviei para um cliente que atendo em Jaciara aqui no MT, onde acabei de entrar com uma FE do AgPasto no rotacionado, mas a intenção é colocar os proteicos 0,2% PV. Esse artigo me embasa totalmente nesse caso específico desse cliente, já que ele vinha usando mineral no rotacionado, com altas lotações e ganhos individuais muito baixos.Já teve ano do GMD dar abaixo dos 300g/cab/dia. Show de bola o artigo!!!!
Muito boa matéria, atual e necessária para o meu manejo – Cria e Recria.
As praticas demonstradas, direciona ao Manejo Inteligente para a pecuária de corte.
A sobrevivência e lucratividade na pecuária atual, requer Manejos Inteligentes para sua viabilidade e sustentabilidade.
Parabéns
Benedito Pereira