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O papel da nutrição na qualidade de penas em frangos de corte

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Na avicultura, o desenvolvimento adequado da plumagem, sua qualidade e o padrão de muda comprometem não apenas a aparência externa das aves, mas também prejudica a uniformidade das carcaças e a conversão alimentar, acarretando perdas econômicas significativas.

O crescimento das penas, denominado anagênese, é um processo complexo, regulado por fatores nutricionais, hormonais, genéticos e ambientais, além das interações entre esses elementos.

Esse processo é dinâmico, com variações na maturação das penas conforme a região corporal, e se inicia nos primeiros 12 dias de vida embrionária, com a formação da papila, estrutura germinativa dos folículos. Embora as penas apresentem variações morfológicas ao longo das fases da vida, todas se originam a partir de um folículo piloso e de uma papila localizada em sua base, dispostos em fileiras definidas pelo corpo da ave.

 

Estrutura das penas

A pena é composta por dois segmentos principais dispostos ao longo de seu eixo longitudinal: o cálamo e o ráquis. O cálamo corresponde à porção basal, curta e tubular, que se insere no folículo da pena, localizado na pele da ave. Acima da superfície cutânea estende-se o ráquis, eixo central responsável por sustentar as ramificações primárias denominadas barbas. Essas barbas, por sua vez, organizam-se lateralmente e formam o vexilo, estrutura dividida em vexilo externo e vexilo interno. Cada barba apresenta ramificações secundárias chamadas bárbulas, as quais possuem minúsculos ganchos microscópicos. Esses ganchos promovem a interligação entre bárbulas adjacentes, conferindo coesão às estruturas e assegurando a manutenção da forma e da integridade funcional da pena (Figura 1).

Figura 1. Estrutura anatômica da pena Fonte: Elaborado pela autora com auxílio de inteligência artificial (2025)

 

As penas representam uma das estruturas mais complexas do tegumento entre os vertebrados, sendo classificadas em diversos tipos, cada um com funções e características estruturais específicas que contribuem para sua respectiva finalidade funcional.

De acordo com Leeson e Walsh, as penas das aves comerciais podem ser classificadas em três tipos principais (Figura 2), com base em sua função e localização:

  1. Penas de contorno – Representam a maior parte da cobertura corporal externa das aves. São responsáveis pela proteção contra lesões físicas e desempenham um papel importante na manutenção do equilíbrio térmico.
  2. Rêmiges – Correspondem às penas de voo, localizadas nas asas. Sua estrutura é especialmente adaptada para promover sustentação e manobrabilidade durante o voo (em aves com aptidão para tal).
  3. Retrizes – São as penas situadas na cauda. Auxiliam na estabilidade e no direcionamento durante o deslocamento.
Figura 2. Diferenciação dos tipos de penas Fonte: Elaborado pela autora com auxílio de inteligência artificial (2025).

 

Composição química das penas

Proteínas

As penas são compostas predominantemente por proteínas fibrosas (85 a 90%), sendo a queratina o principal componente estrutural. Esta proteína apresenta alta resistência, conferindo rigidez, leveza e durabilidade às penas. Sua estrutura apresenta uma organização cristalina compacta, sustentada por numerosas ligações de hidrogênio e pontes de dissulfeto, responsáveis pela elevada resistência mecânica e pela estabilidade térmica da queratina.

A queratina presente nas penas é classificada como queratina β. Com maior nível de reticulação e insolubilidade, essa composição torna as penas uma estrutura biologicamente adaptada para resistir à abrasão, umidade e variações de temperatura, características importantes para a proteção térmica e desempenho aerodinâmico das aves.

Além de sua função biológica essencial, o alto teor proteico das penas tem despertado interesse na valorização de subprodutos avícolas, como na produção de hidrolisados proteicos e ingredientes para ração animal, evidenciando também a importância econômica do entendimento de sua composição.

 

Aminoácidos

Cruciais na formação, estruturação e manutenção das penas, dentre os aminoácidos sulfurados que compõem as penas, a metionina e a cistina são os mais exigidos durante o crescimento das penas em frangos de corte. Segundo Leeson e Summers, aproximadamente 25% da cistina e 2% da metionina dietética são utilizadas exclusivamente na síntese de queratina.

Vale destacar que a cistina atua diretamente nesse processo, enquanto a metionina é convertida em cistina no organismo para suprir essa demanda específica. Dessa forma, os níveis de metionina digestível em uma formulação de dieta merecem atenção, e a utilização de fontes suplementares, como DL-metionina ou metionina hidroxianáloga, pode ser uma estratégia eficiente para atender a essas exigências.

Ainda, aminoácidos de cadeia ramificada, como valina, leucina e isoleucina, também exercem papel relevante no crescimento das penas. Em conjunto, esses aminoácidos representam mais de 15% da composição da queratina e estão diretamente relacionados à resistência estrutural e à integridade da fibra proteica das penas.

A deficiência desses aminoácidos essenciais pode levar a retardo no crescimento das penas, empenamento irregular e aumento da fragilidade das estruturas, comprometendo tanto a proteção térmica quanto o desempenho zootécnico geral da ave. Por isso, a composição de aminoácidos das penas é frequentemente utilizada como parâmetro nutricional na formulação de dietas balanceadas para frangos de corte.

 

Minerais

A incorporação de elementos minerais na dieta das aves é essencial para a manutenção da saúde, crescimento e para as funções bioquímicas e fisiológicas.

Estudos conduzidos por Edens et al. demonstraram uma melhora significativa na taxa de empenamento de frangos de corte com a suplementação de selênio orgânico, já observada aos 21 dias de idade, e ainda mais evidente aos 42 dias. Os autores sugerem que esse benefício ocorre devido à rápida incorporação do selênio à queratina, proteína estrutural das penas. A utilização de selenometionina e selenocisteína na síntese de queratina parece reduzir a necessidade de cisteína derivada do fígado e dos músculos, priorizando seu uso na formação das penas.

Outro mineral de grande importância é o enxofre, diretamente relacionado à síntese de aminoácidos sulfurados, como a metionina e a cistina, fundamentais para a formação da queratina. Além disso, o enxofre participa de processos como a síntese proteica, o equilíbrio ácido-base e o metabolismo energético. A deficiência de enxofre ou de seus aminoácidos relacionados pode resultar em penas frágeis, de crescimento irregular, opacas e com maior propensão à quebra e desgaste.

Adicionalmente, minerais como o zinco e o manganês também desempenham funções relevantes na qualidade da plumagem. O zinco atua na proliferação celular e na síntese proteica, sendo fundamental para a formação adequada da epiderme e da queratina. O manganês, por sua vez, participa da ativação de enzimas envolvidas no crescimento e na diferenciação celular, e sua carência pode comprometer tanto a estrutura quanto a coloração das penas.

 

Vitaminas

Ao atuar em processos metabólicos essenciais à integridade do folículo e à formação da queratina, as vitaminas exercem influência significativa no desenvolvimento das penas. Destaque para a vitamina D3, amplamente reconhecida por seu papel no desenvolvimento do folículo piloso e na regulação do ciclo capilar.

O calcipotriol, análogo sintético da vitamina D, tem sido associado ao aumento da proporção de células na fase anágena (fase ativa do crescimento) do ciclo do folículo capilar. Por outro lado, a deficiência do receptor de vitamina D resulta no acúmulo de células nas fases finais do ciclo folicular, na redução da atividade proliferativa dos queratinócitos e na interrupção do crescimento das penas.

Além da vitamina D3, outras vitaminas lipossolúveis e hidrossolúveis também influenciam a formação das penas. A vitamina A, por exemplo, é essencial para a manutenção da integridade epitelial e do crescimento celular, sendo sua deficiência associada a penas quebradiças e má formação folicular. Vitaminas do complexo B, como biotina e niacina, também participam da síntese proteica e manutenção da queratina, enquanto a vitamina E exerce papel antioxidante, protegendo os tecidos integumentares contra o estresse oxidativo.

Assim, a composição química das penas, baseada em proteínas estruturais, aminoácidos específicos, minerais essenciais e vitaminas, constitui fator determinante na qualidade do empenamento e na saúde da cobertura tegumentar de frangos de corte. Esses elementos influenciam diretamente o bem-estar e o desempenho produtivo das aves.

A nutrição como fator determinante para a qualidade das penas

A nutrição exerce papel central na qualidade das penas em frangos de corte, sendo indicador direto do estado de saúde e do manejo alimentar das aves.

Dietas formuladas com níveis adequados de proteínas, aminoácidos essenciais (como metionina e cistina), minerais (como selênio, enxofre, zinco e manganês) e vitaminas (especialmente as dos complexos A, D, E e B) são fundamentais para garantir o crescimento saudável das penas. A deficiência ou desequilíbrio pode resultar em empenamento irregular, penas frágeis, perda de cobertura corporal e aumento da suscetibilidade a lesões e estresse térmico.

Do ponto de vista produtivo, aves com penas malformadas apresentam maior consumo energético para manter a temperatura corporal, menor conversão alimentar e, muitas vezes, menor ganho de peso. Além disso, a aparência das penas afeta diretamente a aceitação do produto no mercado, especialmente quando se considera o padrão visual exigido na comercialização de frangos.

Portanto, investir em estratégias nutricionais voltadas para a formação adequada das penas é uma medida que contribui não apenas para o bem-estar das aves, mas também para a eficiência econômica da produção. A nutrição de precisão, ao alinhar exigências fisiológicas com formulações balanceadas, torna-se uma ferramenta essencial para alcançar altos padrões de desempenho e qualidade na avicultura moderna.

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