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Como anda a biosseguridade da sua granja?

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O Brasil é um dos grandes players na produção de suínos. No ranking mundial, o país ocupa o 4° lugar em produção e exportação. Em 2024, produziu 5,305 milhões de toneladas de carne suína, exportando 1,354 milhão de toneladas, sendo o continente asiático o mercado com maior volume de compra (63,83%).

No mercado interno, a Associação Brasileira de Proteína Animal divulgou que o consumo per capita anual de carne suína aumentou de 14,7 kg em 2014 para 18,6 kg em 2024, demonstrando a força cadeia suinícola, tanto na segurança alimentar quanto na economia brasileira (ABPA, 2025).

Por sua importância, a suinocultura deve atender igualmente tanto às metas de produtividade e lucratividade quanto às exigências internacionais de qualidade dos processos e produtos, que envolvem a sustentabilidade dos sistemas de criação e a saúde animal. É nessa interface que está a biosseguridade, tema desse artigo.

Para muitos pesquisadores, o caráter preventivo de um bom programa de biosseguridade, se bem conduzido, pode reduzir o uso de antimicrobianos em granjas suínas, não apenas para controlar a disseminação de doenças de grande impacto socioeconômico, como atualmente ocorre com a Peste Suína Africana na Ásia e Europa, mas também por seu potencial efeito positivo sobre a produtividade na produção animal.

Morés (2014) apontou que, no Brasil, o sistema de produção intensivo favorecia a utilização constante de antimicrobianos na ração e que ainda havia pouca consciência sobre programas de biosseguridade. Igualmente, Dutra (2017) e Dutra et al. (2021) apontaram deficiências na implementação de medidas internas e externas de biosseguridade.

No estudo realizado por Oliveira et al. (2021) em um polo suinícola de Minas Gerais, foi avaliada a biosseguridade em 29 granjas de ciclo completo, cerca de 93% das granjas da região, totalizando 16.106 matrizes. Os proprietários e/ou responsáveis pelas granjas responderam a um questionário com 120 perguntas sobre o uso de medidas de Biosseguridade, pontuadas da seguinte forma: 0 (zero) INADEQUADO; 5 (cinco) REQUER AJUSTES e 10 (dez) ADEQUADO.

Os pontos somados conferiram um escore numérico de biosseguridade para cada granja, até o máximo de excelência de 1.200 pontos. Este foi dividido em 16 aspectos de biosseguridade (Tabela 1).

A Tabela 1 retrata os aspectos de biosseguridade pontuados como INADEQUADOS, como Educação (81% das granjas), Equipamentos e Suplementos (72,4%), Quarentena (67%), Funcionários e Visitantes (63%), Transporte de maneira geral (57,9%) e Manejo de Animais Mortos (56,9%). O escore médio encontrado nas avaliações foi de 587 pontos, com 55% das granjas ficando abaixo da pontuação média.

Tabela 1. Frequência das pontuações dos aspectos de Biosseguridade, conforme a adequação de sua aplicação, nas 29 granjas comerciais de ciclo completo.

Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2021)

Das granjas avaliadas, 81% delas não adotam ou negligenciam as medidas relacionadas ao aspecto de Educação, ou seja, não tem Programa de Biosseguridade, não seguem procedimentos operacionais padrão (POP), não fazem auditoria nem treinamento de pessoal.

Quanto às características e localização, as granjas são próximas de outras (72% a menos de 3 km de distância) e somente 24% dispõem de um “cinturão verde” para aumentar o isolamento.

As práticas de biosseguridade para funcionários e visitantes, verificadas em 11 questões, foram inadequadas em 63% das granjas, em média. Dentre elas, não registrar em livro de visitas (69,0%), não exigir o vazio sanitário (72,4%) nem banho para entrar e sair da granja (89,7%), não definir as “áreas limpas” e “sujas” (93,1%) e permitir a entrada de equipamentos e utensílios pessoais (65,5%). Apenas 34,5% das granjas exigiam a troca de roupas, calçados e higienização das mãos e 55,2% providenciavam as próprias roupas e botas.

Conforme a Figura 1, embora nenhuma granja permitisse que os funcionários tivessem sua própria criação, poderia haver contaminação cruzada entre funcionários e motoristas durante embarques e desembarques de animais em 65,5% das granjas.

Figura 1 – Frequência das pontuações das questões de educação, localização e isolamento da propriedade e orientações a funcionários e visitantes, conforme a adequação destes aspectos de biosseguridade nas granjas comerciais de ciclo completo.

Fonte:Adaptado de Oliveira et al. (2021)

No aspecto quarentena, observa-se que grande parte dos suinocultores acredita no status sanitário dos animais de reposição, não realizando ou realizando de maneira inadequada a quarentena. Morés et al. (2017) afirmaram que o suíno vivo é o principal disseminador de agentes infecciosos e a compra de animais de Granjas de Reprodutores Suínos Certificada (GRSC) não assegura a sanidade do animal.

No aspecto transporte, de maneira geral, observou-se que a maioria das granjas não realiza registros e não faz treinamento dos motoristas para biosseguridade, muito menos vazio sanitário dos caminhões nem segue status sanitário dos sítios. Também há contato com os funcionários durante embarques e desembarques, sendo outro fator de risco negligenciado pelos suinocultores (Figura 2).

Outros aspectos se apresentam basicamente ADEQUADOS, são eles Retirada de Lixo (83%), Manejo de Dejetos (81%), Manejos Gerais (70%), Qualidade do Sêmen (62%) e Controle de Pragas (61%). Estes devem se ter cautela para serem avaliados, pois possuem algum tipo de cobrança por órgãos regulamentadores com legislações específicas para tal fator.

Figura 2 – Frequência das pontuações das questões sobre quarentena, transporte de animais, transporte interno e transporte de rações, conforme a adequação desses aspectos nas granjas comerciais de ciclo completo.

Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2021)

Depois de concluído o questionário sobre as práticas de biosseguridade adotadas pelos criadores, as respostas foram pontuadas para obter o escore de biosseguridade de cada granja.

A questão era saber se haveria alguma relação da biosseguridade com a com o número de matrizes do plantel, com a produtividade em Kg produzidos/fêmea/ano, e com o ganho de peso diário (GPD) dos cevados. A análise estatística indicou que sim.

Nas 29 granjas estudadas, o número de matrizes variou de 22 a 3.208, com média de 549 matrizes por granja. A produtividade variou de 2.074,27 a 3.668,00 kg de suíno/fêmea/ano e o GPD dos cevados do nascimento ao abate variou de 0,599 a 0,738 Kg.

As análises das correlações, mostradas na Figura 3, pode-se confirmar que granjas maiores e mais produtivas tem maior escore de biosseguridade.

Figura 3 – Gráficos das correlações significativas (p < 0,05) entre as variáveis.

Fonte: Oliveira et al. (2021)

Em outra análise, usando os modelos de regressão linear múltipla mostrados na Tabela 2, o escore de biosseguridade foi a variável que melhor explicou os resultados de ganho de peso diário e de produtividade.

Tabela 2 – Modelos de regressão linear múltipla.

Fonte: Oliveira et al. (2021)

Não apenas no estudo apresentado aqui, mas em inúmeras pesquisas semelhantes, realizadas no Brasil e nos principais países produtores de suínos, comprovou-se que a adoção de práticas de biosseguridade guarda relação positiva com aspectos de produtividade das granjas.

Em resumo, no pólo de suinocultura estudado, as granjas de ciclo completo adotam algumas medidas isoladas de Biosseguridade, que não compõem um programa completo e cuja eficácia é desconhecida, favorecendo a exposição e vulnerabilidade à entrada de patógenos.

Vale lembrar que a negligência na adoção de medidas de biosseguridade comprometeu os resultados zootécnicos tanto em produtividade (kg/fêmea/ano) quanto em GPD, validando a tese de que granjas comerciais com maior biosseguridade têm maior produtividade.

Assim, é essencial desenvolver um programa de biosseguridade robusto, mas, adaptado para cada granja, no qual seja identificado e efetivamente adotado um conjunto de medidas prioritárias, tanto para evitar a entrada de patógenos (medidas externas) quanto para minimizar a transmissão dentro do sistema (medidas internas).

A biosseguridade não é só uma ferramenta de controle sanitário. Ela deve ser entendida como um insumo de produção, uma “malha fina” na gestão de processos e pessoas, um investimento que se faz para minimizar perdas, melhorar o desempenho zootécnico e, por fim, conferir maior retorno econômico à atividade.

 

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