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Particularidades da nutrição de frangos na primeira semana de vida

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foto de pintinhos - nutrição de frangos na primeira semana

Na criação de frangos de corte, é fundamental que se tenham cuidado e atenção à nutrição dos animais. O fornecimento de uma nutrição de qualidade resulta em maior desempenho e é especialmente importante durante a primeira semana de vida dos frangos. Ressalte-se que esse período influencia o desempenho das aves nas fases subsequentes, representa a fase de maior percentual de crescimento dos frangos de corte e equivale a 16% da vida da ave no ciclo de produção.

Imediatamente após a eclosão, os pintinhos já possuem a habilidade de utilizar os alimentos – parcialmente – estabelecida. A ave se torna capaz de utilizar a gordura corporal armazenada durante a incubação, mobilizar estoques contidos no saco vitelino (responsável por 29% da energia e 45% dos lipídios requeridos pelo animal nos primeiros três dias de vida) e se adaptar à alimentação exógena (SILVA, 2015).

Durante a primeira semana de vida, o frango de corte passa por grandes transições fisiológicas, como a maturação do trato gastrointestinal e do sistema imunológico, além do desenvolvimento do sistema termorregulador (CHRISTENSEN, 2009; LAMOT, 2017). Coincidindo com essas transições fisiológicas, a gema residual restante é metabolizada (reservas oriundas do ovo esgotam em torno de 3-4 dias de idade), a ração exógena é oferecida como fonte de nutrientes e o trato gastrointestinal (TGI) assume a responsabilidade pela nutrição da ave (JIN et al. 1998; BAREKATAIN; SWICK, 2016).

O animal recém-eclodido nasce com o trato gastrointestinal anatomicamente completo, porém imaturo tanto fisiológica quanto morfologicamente, podendo prejudicar o desempenho caso não ocorra o rápido desenvolvimento do TGI (SCOTTÁ et al., 2014). Por ser imaturo, o intestino exigirá matérias-primas altamente digeríveis e seu desenvolvimento máximo irá requerer disponibilidade de ração e água o mais rápido possível após a eclosão.

foto de pintinhos no artigo sobre nutrição de frangos na primeira semana

Dessa maneira, a alimentação exógena deve ser introduzida o quanto antes para estimular o desenvolvimento das funções digestivas e absortivas dos pintinhos e, consequentemente, acelerar a adaptação das aves ao ambiente externo. Quanto mais cedo ocorrer o estímulo à alimentação, menor a perda de peso inicial pós-eclosão, maior a taxa de crescimento e melhor a uniformidade de peso das aves até 21 dias de idade (NOY; SKLAN, 2002; SILVA, 2015).

Comumente, é realizado o fornecimento de dietas pré-iniciais para as aves, desde a chegada na granja até em torno dos 10 dias de idade. Na primeira semana de vida dos frangos, é necessário fornecer ingredientes de alta digestibilidade, com estrutura física adequada, atender às maiores exigências nutricionais da fase e estimular o consumo de alimento e água.

Em relação à estrutura física, de acordo com Yan et al. (2015), a ração peletizada melhora o desempenho das aves, reduz o desperdício de ração, ameniza a alimentação seletiva, destrói patógenos através do seu processamento, melhora a palatabilidade e aumenta a digestibilidade dos nutrientes. Além dos efeitos citados anteriormente, a peletização aumenta o diâmetro geométrico médio (DGM) das partículas da ração favorecendo o consumo, pois quando existe a possibilidade de escolha, as aves preferem as partículas maiores (NIR et al., 1994; FREITAS et al., 2009).

A ração pré-inicial deve colaborar no desenvolvimento adequado dos sistemas esquelético, intestinal, cardiovascular e imunológico com elevada uniformidade de desenvolvimento dentro do lote. Embora os desenvolvimentos fisiológicos da primeira semana de vida devam ser apoiados por meio da nutrição, o seu efeito pode depender de outros fatores como: genética, condições de incubação, higiene do alojamento, temperatura do alojamento e momento de acesso à ração após o nascimento (LAMOT, 2017).

Normalmente, a ração pré-inicial é composta pelos principais ingredientes utilizados nas formulações de rações na avicultura brasileira, como: milho, farelo de soja, farinha de carne e ossos, óleo, calcário e sal. É importante que as matérias-primas sejam de qualidade e que as exigências nutricionais dos animais sejam atendidas – níveis nutricionais de energia metabolizável entre 2950 e 3000 kcal/kg e de proteína bruta entre 22,5 e 24% – já que a ração pré-inicial proporciona maior ganho de peso nos primeiros dias de vida, que persiste até o abate quando os animais são mantidos em condições adequadas.

Dentre os ingredientes, o milho é considerado como alimento energético devido à sua composição predominante de carboidratos e lipídeos. As aves praticamente não possuem glicogênio na eclosão e, portanto, fontes altamente digestíveis de carboidratos podem melhorar o status do glicogênio de pintinhos recém-nascidos. Do ponto de vista prático, dietas formuladas com alto teor de milho são fontes desses carboidratos (LILBURN, 1998). Além disso, em estudo de Garcia (2006), foi demonstrado que o fornecimento de dietas contendo até 50% de milheto resultou em desempenho e rendimento de carcaça semelhantes ou superiores aos das aves alimentadas com dietas à base de milho e soja (BAREKATAIN; SWICK, 2016).

O milho e o sorgo contêm menos polissacarídeos não amiláceos em comparação ao trigo e, consequentemente, possuem maior teor de energia metabolizável e devem ser utilizados em dietas pré-iniciais para frangos de corte (BAREKATAIN; SWICK, 2016).

Já o farelo de soja é uma fonte proteica que contém vários fatores antinutricionais que podem limitar sua utilização como ingrediente na alimentação de animais jovens (BAREKATAIN; SWICK, 2016), devendo passar por processamento térmico para ser incluído nas dietas. A proteína e os aminoácidos são componentes nutricionais fundamentais nesta fase da vida dos pintinhos (PENZ JUNIOR, 2018). Altas concentrações de aminoácidos podem melhorar a síntese de proteínas e o crescimento de frangos de corte. Dentre os aminoácidos, a lisina afeta positivamente o crescimento inicial e pode ter um efeito residual nas fases de crescimento subsequentes. Segundo Kang et al. (1985), a taxa de deposição dos músculos do peito, na primeira semana de idade, é quase três vezes (68%) maior do que nas 6 semanas de idade (23%), destacando-se assim a importância do fornecimento de aminoácidos em uma idade precoce e seu efeito prolongado na idade de abate (BAREKATAIN; SWICK, 2016). Além do mais, de acordo com Lamot (2017), o aumento dos níveis de inclusão de aminoácidos na ração pré-inicial, fornecida de 0 a 14 dias de idade, resultou em aumento do peso do duodeno em aproximadamente 7 dias de idade.

Tradicionalmente, a inclusão de fibras em níveis elevados nas dietas das aves tem demonstrado efeitos adversos no consumo de ração e na utilização de nutrientes. Contudo, alguns estudos sugerem que uma quantidade moderada de fibra (2% ou 3% de fontes insolúveis), especialmente em uma idade precoce, pode beneficiar o desenvolvimento do trato gastrointestinal e principalmente a moela (MATEOS et al. 2012).

Levando em conta, ainda, os possíveis ingredientes das rações, a inclusão de gorduras e óleos em uma dieta pré-inicial deve ser realizada com cuidado, devido à sua baixa digestibilidade em pintinhos recém-nascidos em comparação com o amido do milho (LAMOT, 2017), principalmente porque as funções intestinais não estão totalmente desenvolvidas (BAREKATAIN; SWICK, 2016). Soma-se a isso que, no início da vida, a imaturidade de algumas funções fisiológicas, como a redução na secreção de sais biliares, pode reduzir a eficiência na absorção dos lipídios e, ainda, a secreção da enzima lipase parece ser insuficiente logo após o nascimento (TRIGINELLI, 2016).

Em relação aos macrominerais, a nutrição de cálcio (Ca) e fósforo (P), concentração de sódio (Na) e balanço eletrolítico da dieta – que envolve cloro (Cl), potássio (K) e sódio – são, particularmente, importantes durante a primeira ou duas semanas de vida dos frangos de corte. Os minerais de Na, Cl e K desempenham um papel fundamental na manutenção da pressão osmótica e do equilíbrio ácido-base para um desempenho ideal dos animais (MAIORKA et al. 2004; BAREKATAIN; SWICK, 2016).

Por fim, vários aditivos podem ser recomendados para uso em dietas pré-iniciais, podendo-se citar prebióticos, probióticos, simbióticos, enzimas, mananoligossacarídeos, ácidos orgânicos, adsorventes de micotoxinas e antioxidantes (PRETORIUS, 2011). Alguns estudos sugerem o uso de nucleotídeos e plasma spray-dried, porém os resultados dependem do desafio ambiental, do estado fisiológico e de saúde das aves e do tipo de dieta à qual o produto é suplementado (BAREKATAIN; SWICK, 2016).

foto que mostra pintinhos na granja, pertencente ao artigo sobre nutrição de frangos na primeira semana

Diante do exposto, ficam claros a importância e cuidados necessários com a ração pré-inicial fornecida na primeira semana de vida dos frangos de corte. O uso da ração pré-inicial é fundamental para que seja possível obter um adequado desenvolvimento inicial do sistema muscular-esquelético, do sistema imunológico, do sistema cardiorrespiratório e intestinal, com consequente uniformidade e viabilidade do lote. Cabe lembrar que por mais que os custos com as rações pré-iniciais sejam maiores, as mesmas são fornecidas apenas por um curto período de tempo (de 7 a 10 dias) e devem ser consideradas como um investimento para o produtor.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

 

REFERÊNCIAS

BAREKATAIN, M. R.; SWICK, R. A. Composition of more specialised pre-starter and starter diets for young broiler chickens: a review. Animal Production Science, 2016. http://dx.doi.org/10.1071/AN15333

CHRISTENSEN, V. L. Development during the first seven days post-hatching. Avian Biol. Res., v. 2, p. 27-33, 2009. doi:10.3184/175815509X430417

FREITAS, E. R. et al. Uso de diferentes formas físicas e quantidades de ração pré-inicial para frangos de corte. Revista Ciência Agronômica, v. 40, n. 2, p. 293-300, 2009.

GARCIA, A. R. Evaluating feed components for formulation of pre-starter diets for broiler chickens. PhD Dissertation, University of Georgia, Athens. 2006.

JIN, S-H et al. Digestive system development in post-hatch poultry. World’s Poultry Science Journal, v. 54, p. 335–345, 1998. doi:10.1079/WPS19980023

KANG, C. et al. Growth and protein turnover in the skeletal muscles of broiler chicks. Poultry Science, v. 64, p. 370–379, 1985. doi:10.3382/ps.0640370

LAMOT, D. First week nutrition for broiler chicken: effects on growth, metabolic status, organ development, and carcass composition. PhD Thesis. School of Wageningen Institute of Animal Sciences, Netherlands, 2017.

LILBURN, M. Practical aspects of early nutrition for poultry. Journal of Applied Poultry Research, v. 7, p. 420–424. doi:10.1093/japr/7.4.420

MAIORKA, A. et al. Different sodium levels and electrolyte balances in pre-starter diets for broilers. Revista Brasileira de Ciência Avícola, v. 6, p. 143–146, 2004. doi:10.1590/S1516-635X2004000300002

MATEOS, G. et al. Poultry response to high levels of dietary fiber sources varying in physical and chemical characteristics. Journal of Applied Poultry Research, v. 21, p. 156–174, 2012. doi:10.3382/japr.2011-00477

NIR, I. et al. Effect of particle size on performance. 1. Corn. Poultry Science, v. 73, n. 01, p. 45-49, 1994.

NOY, Y.; SKLAN, D. Different types of early feeding and performance in chicks and poults. J. Appl. Poult. Res., v. 8, p. 16-24, 1999.

NOY, Y.; SKLAN, D. Nutrient use in chicks during the first week post hatch. Poultry Science, v. 81, n. 3, p. 391-399, 2002.

PENZ JUNIOR, A. M. Nutrição de frangos durante a primeira e última semana. aviNews América Latina, p. 73-84, 2018.

PRETORIUS, C. The effect of highly digestible carbohydrate and protein sources included in pre-starter diets of broilers on their performance. University of Stellenbosch, Stellenbosch, South Africa. 2011.

SILVA, B. V. Alimentação de pintinhos no período pós-eclosão. 2015. 68 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

SCOTTÁ, B. A. et al. Nutrição pré e pós-eclosão em aves. PUBVET, v. 8, n. 8, 2014.

TRIGINELLI, M. V. Emulsificante na ração para frangos de corte. 2016. 43 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

YAN M. L. L. et al. Effects of feed form and feed particle size on growth performance, carcass characteristics and digestive tract development of broilers. Animal Nutrition1, p. 252–256, 2015.

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