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Influência da ambiência na prevalência da Síndrome Ascítica

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Resumo

A síndrome ascítica é uma das principais causas metabólicas de mortalidade em frangos de corte, estando associada a um desequilíbrio entre a alta demanda metabólica por oxigênio e sua oferta limitada (JULIAN, 2000; WIDEMAN, 2016). Além dos fatores genéticos e nutricionais, aspectos relacionados à ambiência e ao manejo são determinantes na manifestação da doença. Evidências indicam que condições adversas durante a incubação, como hipóxia e temperatura elevada, podem comprometer o desenvolvimento cardiopulmonar, predispondo os animais à ascite (ABREU; ABREU, 2013). Este artigo discute os principais fatores incubacionais e ambientais associados à síndrome, com ênfase no uso de tecnologias como IoT e inteligência artificial para a ambiência de precisão (MOURA et al., 2023; LIU et al., 2021). O controle adequado da ambiência representa uma estratégia eficaz para promover bem-estar, desempenho produtivo e sustentabilidade na avicultura de corte.

Palavras-chave: síndrome ascítica; frango de corte; ambiência; ventilação; hipóxia; IoT; inteligência artificial.

 

Introdução

A moderna avicultura industrial é caracterizada por linhagens genéticas de rápido crescimento e alta conversão alimentar. No entanto, esse progresso fisiológico aumentou a suscetibilidade dos frangos a distúrbios metabólicos, especialmente à síndrome ascítica (LARA; ROSTAGNO, 2022).

Essa síndrome, também conhecida como ascite, ocorre quando o fornecimento de oxigênio é insuficiente para suprir a elevada demanda metabólica das aves em crescimento acelerado, resultando em sobrecarga cardíaca (WIDEMAN, 2016).

Entre os fatores predisponentes, a ambiência desempenha papel central, influenciando diretamente a fisiologia respiratória e cardiovascular dos animais (ABREU; ABREU, 2013).

 

Fisiopatologia da Síndrome Ascítica

A síndrome ascítica tem como base a hipertensão pulmonar progressiva, desencadeada principalmente pela hipóxia tecidual crônica. Esse processo fisiopatológico aumenta a resistência vascular pulmonar e à hipertrofia do ventrículo direito, culminando em insuficiência cardíaca com consequente a cúmulo de fluido na cavidade abdominal e apresenta custo fisiológico elevado (JULIAN, 2000; WIDEMAN, 2016).

O aumento da resistência vascular pulmonar causa elevação da pressão nas artérias pulmonares, o que pode resultar em ruptura de capilares e extravasamento do plasma. Alterações estruturais no sistema cardiopulmonar podem ter início ainda na fase embrionária, sendo agravadas por fatores ambientais adversos no período pós-eclosão (ABREU; ABREU, 2013).

Fases da Fisiopatologia da Síndrome Ascítica:

FaseDescriçãoPrincipais Características
1. Hipóxia InicialDeficiência de oxigênio tecidual por fatores ambientais ou incubacionais.Aumento do esforço respiratório; metabolismo aeróbico limitado.
2. Resposta CardiovascularHipertensão pulmonar e hipertrofia do ventrículo direito.Sobrecarga do ventrículo direito; aumento da pressão arterial pulmonar.
3. Insuficiência Cardíaca DireitaComprometimento da função cardíaca.Congestão venosa, aumento da pressão venosa sistêmica.
4. Extravasamento de Plasma (Ascite)Pressão capilar elevada e extravasamento para a cavidade abdominal.Acúmulo de líquido abdominal (ascite); edema abdominal visível.
5. Insuficiência Respiratória e MortalidadeComprometimento progressivo da troca gasosa.Fraqueza, apatia, morte dos animais afetados.

 

Fatores Ambientais Determinantes

O ambiente no qual os frangos são incubados e criados exerce grande influência significativa na ocorrência da síndrome ascítica. Durante a incubação, especialmente entre o 18º e o 21º dia, quando o embrião passa a respirar ar atmosférico por meio do sistema pulmonar (JULIAN, 2000; ABREU, ABREU, 2013), a ventilação inadequada, principalmente por acúmulo de CO² e baixa taxa de oxigênio pode resultar em hipóxia embrionária, devido à dificuldade da troca de ar entre embrião e ambiente, comprometendo o desenvolvimento pulmonar e cardíaco (LARA; ROSTAGNO, 2022).

Além disso, temperaturas acima de 38,3 °C no nascedouro elevam o metabolismo basal, exacerbando a demanda por oxigênio e predispondo à hipertensão pulmonar (ABREU; ABREU, 2013).

 

Resumo prático:

ParâmetroRecomendação de 18º a 21º dia incubação
Temperatura (casca do ovo)Redução progressivamente de 37,2 °C para 36,8 °C entre o 18º e o 21º dia.
CO₂< 3.000 ppm (máx. tolerado 8.000 ppm)
Umidade relativa65–70%
VentilaçãoAlta renovação, sem correntes diretas
MonitoramentoContínuo e automático (IoT, IA)

 

No aviário, a ventilação inadequada eleva as concentrações de CO² e amônia, agravando a hipóxia e promovendo inflamação crônica nas vias respiratórias (WIDEMAN, 2016). A superlotação intensifica esses efeitos ao dificultar a dissipação térmica, compromete a qualidade do ar e aumenta o estresse favorecendo a incidência da doença (JULIAN, 2000).

O fato em que na maioria das vezes só nos atentamos pela temperatura desejada no alojamento pode determinar a falta de sucesso na criação.

A não utilização de sensores para aferir estes gases, levam a erros cruciais na qualidade do ar fornecido as aves e consequentemente ocasionam danos ao sistema cardiovascular.

Aves adultas predispostas a fatores de alta temperatura e não controle da umidade também acabam por agravar o quadro já existente.

 

Manejo Ambiental do 1º Dia ao Abate

FaseParâmetros Ambientais CríticosRecomendações para Prevenção da Ascite
1ª semanaTemperatura: 30-32 °C Umidade: 40-70% Velocidade do ar ideal: < 0,4 m/s, sem restrições.Implementar ventilação mínima; conforto térmico e maximizar a qualidade do ar, CO₂ < 1.000 ppm e amônia < 10 ppm.
2ª a 4ª semanaRedução gradual da temperatura.

Aumento controlado da velocidade do ar

Conforto térmico; qualidade do ar com CO₂ < 1.000 ppm e amônia < 10 ppm.
Fase de crescimento:35 diasTemperatura 19 °C Velocidade do ar: >2,5 m/s ao máximo.Evitar excesso de umidade (40 a 70%) qualidade do ar com CO₂ < 1.000 ppm e amônia < 10 ppm.
Pré-abate 42 a 50 diasAjuste da ventilação, densidade temperatura ideal: 18 a 16 °CVentilação >3 m/s evitar excesso de umidade (>40 a70%)

 

Estratégias de Prevenção Baseadas em Ambiência de Precisão

O uso de tecnologias digitais, como IoT (Internet das Coisas) e IA (inteligência artificial), permite o monitoramento e cruzamento de dados fornecidos por técnicos e adquiridos por sensores distribuídos pelo aviário, possibilitando o controle em tempo real dos parâmetros ambientais críticos, como temperatura, umidade, CO₂ e NH₃ (MOURA et al., 2023).

A ambiência de precisão atua de forma preventiva, antecipando distúrbios térmicos e realizando ajustes automáticos em sistemas de ventilação, aquecimento e nebulização (LIU et al., 2021). Essas tecnologias contribuem para manter o conforto térmico, reduzir a incidência de hipóxia e preservar a saúde cardiovascular das aves através do correto tratamento da qualidade do ar no ambiente das aves.

A adoção de parametrizações personalizadas para cada tipo de aviário, traz junto a “IA”, uma melhor eficácia do sistema, possibilitando ajustes pontuais, monitoramento a distância e através de sua leitura proporcionar o máximo de conforto, tendo todos os fatores ambientais como parâmetros lógicos e em tempo real.

A integração dessas ferramentas com estratégias nutricionais e genéticas representa uma abordagem promissora para mitigar a síndrome ascítica na avicultura moderna.

 

Considerações Finais

A síndrome ascítica permanece como um desafio multifatorial na produção de frangos de corte, exigindo controle rigoroso da ambiência desde a incubação até o abate.

A parametrização correta do sistema leva ao controle tanto da temperatura como principalmente da qualidade do ar no ambiente das aves. A alta tacha de CO² em muitos casos se dá como principal fator a falta de sensores e de não emitir cheiro, tornando difícil sua detecção.

Já o gás amônia (NH3), pode ser detectado pelos humanos a partir de 20ppm e sentida pelas aves a partir de 10ppm, quando não feito o tratamento adequado do ar, eleva as chances de surgimento da ascite entre outros efeitos negativos.

O uso de tecnologias como sensores ambientais, automação e inteligência artificial amplia as possibilidades de prevenção, promovendo ganhos no bem-estar animal e na eficiência produtiva (MOURA et al., 2023). Assim, investir em ambiência de precisão não é apenas uma estratégia de manejo, mas um requisito essencial para garantir sustentabilidade e a competitividade da avicultura industrial moderna.

 

 

Referências

ABREU, V. M. N.; ABREU, P. G. de. Ambiência e bem-estar animal: a importância do conforto térmico para frangos de corte. Revista Eletrônica Nutritime, Viçosa, MG, v. 10, n. 6, p. 2642–2651, 2013.

FERREIRA, R. A. et al. Avaliação do microclima e gases em aviários e seus efeitos sobre a saúde das aves. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 21, p. e54259, 2020.

JULIAN, R. J. Ascites in poultry. Avian Pathology, London, v. 29, n. 6, p. 519–527, 2000.

LARA, L. J.; ROSTAGNO, M. H. Impact of heat stress on poultry production. Animals, Basel, v. 3, n. 2, p. 356–369, 2022.

LIU, L. et al. Intelligent poultry house environmental control using deep reinforcement learning. Computers and Electronics in Agriculture, Amsterdam, v. 185, 106147, 2021.

MORAES, H. L. S. et al. Ascite em frangos de corte: revisão. Ciência Rural, Santa Maria, v. 35, n. 1, p. 226–233, 2005.

MOURA, D. J. et al. Aplicações de inteligência artificial e IoT na avicultura de precisão. Revista Brasileira de Ciência Avícola, Campinas, v. 25, eRBCA2023, 2023.

ROSA, D. F. et al. Ambiência de precisão aplicada à avicultura: avanços e desafios. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v. 26, n. 3, p. 175–181, 2022.

WIDEMAN, R. F. Pathophysiology of pulmonary hypertension syndrome in broilers. Poultry Science, Champaign, IL, v. 95, n. 2, p. 289–304, 2016.

YAHAV, S. The effect of ambient temperature on performance of poultry. Journal of Poultry Science, Tokyo, v. 38, p. 1–8, 2001.

 

 

 

 

 

 

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