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Influência da qualidade do milho no desempenho das aves

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O Brasil é o maior exportador de carne bovina e de frango do mundo. Para alimentar essa grande potência produtiva, 83,4% do consumo interno de milho e 42,2% da soja em 2022/23 foi destinado à produção de rações.

Já é sabido que 70% dos custos totais de produção são destinadas às rações, desta forma, os grandes desafios enfrentados pelas empresas produtoras de proteína animal estão ligados principalmente a alta variação dos custos das matérias primas, como também as demandas dos consumidores, que exigem um alto padrão de qualidade com preços acessíveis.

O milho é a principal fonte de energia e é o produto de maior inclusão nas rações das aves. Ele compõe de 60% a 70% das rações de frangos de corte e postura comercial. Para a avaliação da sua qualidade, no Brasil o milho é classificado como tipo 1, 2, 3, fora de tipo e desclassificado, conforme o grau de impurezas e a proporção de grãos quebrados, chochos ou mofados, como demonstrado no quadro a seguir:

As variações na qualidade dos ingredientes das rações, principalmente a alta concentração de impurezas e a alteração de níveis bromatológicos, são as principais causas entre os desvios de desempenho esperado e observado nos animais. Mesmo com os avanços tecnológicos para atingir altas produtividades de milho no Brasil, ainda há elevadas perdas nas etapas pós-colheita, tanto em transporte como beneficiamento e armazenagem da safra (MARQUES et al, 2009). O beneficiamento pós-colheita é um dos principais fatores que podem influenciar na qualidade do grão. Uma secagem mal executada pode, inclusive, aumentar as chances de trincar no grão (RUFFATO et al, 2000).

Segundo Batista (2016), a qualidade e composição nutricional do milho é diretamente influenciada pela umidade, micotoxinas, impurezas, quantidade de grãos ardidos e densidade.

 

UMIDADE.

A umidade do milho recebida é fator determinante para a manutenção da qualidade da armazenagem e das rações. O recebimento do milho com teor de umidade acima de 14% pode causar ataque por fungos, dificultar o processo de moagem e ter prejuízos na qualidade bromatológica do grão, reduzindo em até 800kcal/kg a energia fornecida (GODOI, 2005). Segundo Gregory et al, (2019) o aumento da umidade do grão de milho acarreta o aumento do DGM (diâmetro geométrico médio) e desvio padrão do milho moído, podendo gerar diversas implicações no consumo e digestibilidade das aves.

Segundo Bamberg et al, (2018) a porcentagem de umidade e impureza do milho destinado a fabricação de ração tem uma correlação positiva com a conversão alimentar e mortalidade total das aves. Quanto maiores os valores de umidade e impureza do milho, maior será a conversão alimentar, idade de abate e mortalidade, o que é desfavorável.

 

MICOTOXINAS.

Outro fator que afeta a qualidade do milho é a contaminação por fungos. O produto secundário do metabolismo dos fungos são as micotoxinas, que contaminam os alimentos no campo e durante o armazenamento. Em grãos de cereais armazenados, a infecção por fungos bem como a produção de micotoxinas são resultados de uma interação entre alta umidade, temperatura, substrato e presença de insetos (Santin, 2005). A contaminação por fungos também pode reduzir os teores de carboidratos, proteínas, gorduras e vitaminas do milho, devido ao alto metabolismo dos fungos (Puzzi 1986).

Os alimentos contaminados por estas substâncias tóxicas, quando não provocam a morte das aves em processos de intoxicação aguda, causam perda de peso, queda na produção de ovos, aumento da conversão alimentar, disfunções renais, imunossupressão, susceptibilidade a doenças, bem como problemas reprodutivos (Santin, 2005).  Estudo realizado por Godoi et al. (2008) demonstrou que dietas com milho de baixa qualidade teve efeito negativo no desempenho de frangos de corte, com redução de 18,6% no ganho de peso e piora de 9,73% na conversão alimentar. Estes resultados também foram verificados por Toledo et al. (2003) e Rostagno et al. (2003), que relataram efeitos negativos para estas características, ao fornecerem rações com milho de baixa qualidade para frangos de corte, visto que a presença de micotoxinas afeta o metabolismo e o desempenho das aves.

 

IMPUREZAS.

O manejo da pré-limpeza de grãos tem como finalidade separar o produto de outros materiais através de uma corrente de ar e por peneiras, onde os grãos passam por uma série de peneiras com diferentes perfurações, separando os grãos de outros produtos maiores e menores (Dalpasquale, 2018).

Do ponto de vista técnico, para a melhor conservação dos grãos, controle de insetos, temperatura e do melhor desempenho da aeração, quanto menos impurezas os grãos apresentarem, melhor será a qualidade do armazenamento (Weber, 2005). Segundo Schropfer et al, (2023), o tratamento com pré-limpeza foi eficiente em reduzir significativamente os teores de impurezas, matérias estranhas e grãos quebrados da massa de grãos armazenada.

De acordo com Dhingra (1985), as impurezas como resíduos de caule e folhas, poeira, pequenos torrões de terra, presentes no lote de sementes de baixa densidade são mais absorventes e retentoras de umidade, fazendo com que o lote fique mais susceptível ao crescimento fúngico. O crescimento de fungos nessas impurezas produz água metabólica que, absorvida pelas sementes ao redor, faz com que seu teor de umidade aumente a níveis acima da umidade crítica. Rodrigues et al. (2015) verificaram que o processo da pré-limpeza foi eficiente na redução da umidade e atividade de água em amostras de milho. Essa variável é importante para diminuir a incidência de fungos e outras pragas, que podem gerar defeitos nos grãos, além de acelerar a sua deterioração.

 

QUANTIDADE DE GRÃOS ARDIDOS.

O milho é classificado em ardido quando os grãos ou pedaços perdem a coloração ou a cor característica, por ação do calor, umidade ou fermentação. De acordo com Santin et al (2004), os grãos ardidos diminuem a quantidade de energia que os grãos podem disponibilizar na ração e consequentemente prejudicar o desempenho das aves.

 

DENSIDADE.

Outro manejo interessante na recepção do milho na fábrica de ração é a avaliação da densidade. Silva (2011), estudando os valores energéticos para milhos de diferentes qualidades, determinados com frangos de corte, verificou que os valores da EMAn foram decrescendo à medida que a densidade do milho foi reduzida, refletindo sua pior qualidade. O milho de alta densidade foi energeticamente superior ao milho de densidade intermediária e de baixa densidade, cerca de, respectivamente 6,0 e 12,5% com frangos de 11 a 19 dias de idade.

Sheres e Robblee (1991) estabeleceram relação entre a densidade do grão e os valores de EMA. Os autores observaram que o decréscimo de 20% da densidade do grão está associado à redução de 4,3% no valor de EMA. Rostagno (1993) afirma que este valor não pode ser desconsiderado, uma vez que a porcentagem média de incorporação do milho nas rações de aves é de 62% e redução de 4% no valor de EMA do milho corresponderá a 85 kcal/kg de ração, o que provocará menor peso final e piora na conversão alimentar de, aproximadamente, 3% nas aves, o que não é desejável.

A implantação de equipamentos, como a mesa densimétrica, pode ser uma interessante alternativa para separar e armazenar milho de diferentes densidades, podendo utilizar o grão com maiores densidades nas rações das aves mais jovens.

CONCLUSÃO.

O melhoramento genético das aves resultou em um alto ganho produtivo ao longo dos anos; esse ganho será mais bem expressado com o fornecimento de rações com ingredientes com alta qualidade e com formulações com matrizes nutricionais ajustadas de acordo com os ingredientes utilizados. A implantação de rigorosos padrões de recebimento e armazenagem do milho, assim como o monitoramento durante o período de armazenagem e o uso de novas tecnologias de segregação e limpeza dos grãos de milho, refletem na alta qualidade das rações de frango de corte e poedeiras.

 

REFERÊNCIAS

BATISTA, L. F. Avaliação nutricional da qualidade do milho para frangos de corte em Goiás. 2016. Disponível em: http://repositorio.bc.ufg.br/tede/handle/tede/6719 Acessado em: 10/04/2018

BAIDOO, S.K. A.; SHERES, A R.; ROBBLEE. Effect of kernel density on the on the apparent and true metabolizable energy value of corn for chickens. Poultry Science, Champaign, v.70, p.2102-2107,1991.

BAMBERG, C. L., FUKUMOTO, N. M. 2018. Influência da qualidade do milho na alimentação de aves de corte. Disponível em: https://www2.fag.edu.br/coopex/inscricao/arquivos/encitec/25-10-2018–15-08-57.pdf

DALPASQUALE, V. A. Procedimentos essenciais de recepção e limpeza de grãos. In: LORINI, I,; MIIKE, L. H.; SCUSSEL, V. M.; FARONI, L. R. D. Armazenagem de Grãos. Seção 3: Recepção, classificação, secagem e aeração de grãos. Jundiaí: Instituto Bio Geneziz, 2018, p. 147-184.

DHINGRA, O.O. Prejuízos causados por microrganismos durante o armazenamento de sementes. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v.7, p.139-146, 1985.

GODOI, M. J. S. Utilização de aditivos em rações formuladas com milho normal e de baixa qualidade para frango de corte. 2005. Disponível em: http://www.locus.ufv.br/bitstream/handle/123456789/11371/texto%20completo.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acessado em: 07/04/2018.

GREGORY, A.D., SCHNEIDER R., GALLI, D. S., LENZ M. H., HOLZSCHUH, M. Influência do nível de umidade na granulometria do milho utilizado para alimentação de aves e suínos. 2019. Disponível em: https://conbea.org.br/anais/publicacoes/conbea-2019/anais-2019/ctp-ciencia-e-tecnologia-pos-colheita-11/348-influencia-do-nivel-de-umidade-na-granulometria-do-milho-utilizado-para-alimentacao-de-aves-e-suinos/file

NUNES, R.V.; ROSTAGNO, H.S.; ALBINO, L.F.T.; GOMES, P.C.; TOLEDO, R.S. Composição bromatológica, energia metabolizável e equações de predição da energia do grão e de subprodutos do trigo para pintos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 3, p. 785-793, 2001.

PUZZI, D. Abastecimento e armazenagem de grãos. Campinas: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1986. 603 p

RODRIGUES, S. I. F. C.; STRINGHINI, J. H.; CECCANTINI, M.; PENZ JUNIOR, A. M.; RIBEIRO, A. M. L.; PERIPOLLI, V.; MCMANUS, C. M. Chemical and Energetic Content of Corn Before and After Pre-Cleaning. Ciência Animal Brasileira, v. 16, n. 2, p.158- 168, 2015.

ROSTAGNO, H.S. Disponibilidade de nutrientes em grãos de má qualidade. in: CONFERÊNCIA APINCO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AVÍCOLAS, 1993. Campinas. Anais… Campinas: FACTA, 1993. p.129 – 139..

RUFFATO, S., Corrêa, P. C., Martins, J. H., MANTOVANI, B. H., & SILVA, J. N. D. (2000). Efeito das condições de colheita, pré-processamento e armazenamento na qualidade do milhopipoca. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 35, p. 591-597.

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SCHROPFER, Daniel José et al. Efeito da Pré-limpeza Sobre Qualidade Física e Tecnológica de Grãos de Milho Após Seis Meses de Armazenamento. In: VII Conferência Brasileira de Pós-Colheita, Londrina–PR. 2018.

SILVA, Cynthia Siqueira et al. Avaliação de milhos de diferentes densidades para frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 40, p. 1554-1561, 2011.

WEBER, E. A. Excelência em Beneficiamento e Armazenamento de Grãos. 3. ed. Canoas: Salles, 2005, 586p.

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