Energia na ração a mais diminui o consumo?
Entenda quais são as teorias envolvidas na regulação do consumo de ração e como o nível de energia na ração em dietas afeta a ingestão dos alimentos em poedeiras comercias
Em 2014 foram produzidas no Brasil 65,1 milhões de toneladas de rações, segundo dados do Sindirações. Desse total, aproximadamente 55% foram destinados ao setor produtivo das aves. Sendo 31,3 e 5,7 milhões de toneladas de rações, produzidas para os setores de avicultura de corte e postura, respectivamente.
Vários fatores ligados à dieta podem afetar diretamente o consumo de ração nas aves, como: a forma física da ração, o nível de inclusão de alguns alimentos, temperatura ambiente, linhagem, além dos níveis nutricionais.
O controle do consumo de ração é bastante complexo e propõe cinco teorias sobre a regulação do consumo em aves, que são: teoria glicostática, teoria termostática, distensão gastrointestinal, teoria dos aminoácidos circulantes e mecanismos lipostáticos.
A teoria termostática é associada com a regulação da temperatura corporal das aves frente às oscilações da temperatura ambiente. O conceito baseia-se na utilização do calor da metabolização do alimento consumido para equilibrar a homeotermia. Dessa forma, o consumo de alimento é estimulado em situações de temperatura ambiente abaixo da zona de conforto e desestimulado quando a temperatura ambiente eleva acima da zona de conforto. Outra teoria seria o consumo de alimento para atender as exigências de aminoácidos, na qual os níveis de aminoácidos circulantes influenciariam na ingestão de ração. Dietas desbalanceadas em aminoácidos levam à redução no consumo com modificações no comportamento de ingestão. Quando são oferecidas dietas com diferentes composições proteicas as aves tendem a regular o consumo das diferentes dietas, a fim de satisfazer suas exigências aminoacídicas.
De acordo com a teoria lipostática, as aves possuem uma quantidade mínima de gordura corporal e o consumo irá aumentar até que as reservas mínimas de energia corporal sejam atingidas. Portanto, o consumo será reduzido uma vez que o nível mínimo de gordura seja alcançado.
A distensão gastrointestinal também afetaria a regulação do consumo, essa teoria se baseia na presença de receptores de distensão no papo e moela sensíveis à pressão que, quando distendidos, estimularão o centro de saciedade. A última teoria proposta é a glicostática, que considera o nível sanguíneo pós-prandial de glicose que chega no fígado. A hipoglicemia estimula o centro nervoso para o aumento de consumo de alimento, enquanto altas taxas de glicose sanguínea estimulam o centro da saciedade, ou seja, as aves geralmente apresentam aumento de consumo de ração compensatório em dietas de baixo conteúdo energético.
A teoria lipostática provavelmente é a que menos exerce influência sobre a regulação do consumo em aves. Enquanto a teoria glicostática seria mais eficiente em controlar o consumo de ração em aves e estaria diretamente relacionada com o nível de energia da dieta. As aves tendem a elevar o consumo de ração diante do baixo nível energético da dieta. De forma geral, é assumido que os animais monogástricos ajustam o consumo de acordo com suas exigências metabólicas de energia.
O efeito de dois níveis de energia na dieta em poedeiras, na fase inicial de produção, 2414 e 2629 kcal/kg foi pesquisado por Valkonen et al. (2008). Eles observaram maior consumo, com menor nível de energia na ração, porém o consumo de energia foi similar entre os tratamentos. Ribeiro et al. (2013), também avaliaram o efeito de níveis crescentes de energia metabolizável (2700 a 3000 Kcal/kg) em poedeiras no final do ciclo de produção, entre 64ª e 80ª semanas de produção. Estes autores obtiveram resultados similares, mesmo com a inclusão de diferentes níveis de energia na ração e pontuais fases produtivas das aves, ou seja, redução no consumo de ração em resposta ao aumento da energia das dietas, mantendo constante o consumo de energia metabolizável com o aumento dos níveis energéticos das rações.
Porém, os estudos realizados por Li et al (2013) demonstraram que apesar das poedeiras reduziram o consumo de ração diante da elevação de energia das dietas, essa medida não foi suficiente para manter estável o consumo de energia metabolizável. Observou-se o aumento linear do consumo de energia metabolizável, diante do aumento dos níveis de energia na ração, sugerindo que os mecanismos teriam algumas limitações em ajustar a ingestão diária de energia em função de possíveis oscilações na ração.
Ao utilizar poedeiras na fase inicial de postura, Ribeiro et al. (2014), encontraram redução linear do consumo de ração à medida que os níveis energéticos das rações foram aumentados, de 2700 a 3000 kcal/Kg. Contudo, foi observado redução linear na produção de ovos de acordo com o aumento nos níveis de energia na ração. Essa queda de produtividade foi atribuída à baixa ingestão de nutrientes limitantes, como: aminoácidos, proteínas e minerais, à medida que se elevou os níveis de energia na ração.
Estudos têm demonstrado que o acréscimo de 33 a 39, kcal/Kg de energia metabolizável na ração de poedeiras, resulta em redução de 1% no consumo alimentar. Portanto, alterações nos níveis de energia da dieta de poedeiras devem ser acompanhadas de ajustes de todos os outros nutrientes, principalmente quando os níveis nutricionais utilizados estão muito próximos dos valores de exigidos para o desempenho adequado das aves. Além do mais, é bom lembrar: existem algumas limitações por parte das poedeiras em ajustar o consumo de energia metabolizável diário, frente a dietas com diferentes concentrações energéticas, podendo resultar em consumo excessivo de energia.
Muito bom esse artigo. Super bem explicado. Parabéns!!!
Adquirimos mais conhecimento aqui. Aabs!
ÓTIMO ARTIGO.