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Manejo integrado da coccidiose: maximizando a saúde e o desempenho avícola

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Mesmo com o uso de alta tecnologia e mão de obra capacitada em todos os setores que envolve a produção avícola, não asseguramos que o ambiente onde as aves estejam alojadas seja livre de patógenos.

Dentre as doenças que afetam as aves, podemos destacar a coccidiose, uma das principais doenças parasitárias que afetam aves comerciais, especialmente reprodutoras, frangos de corte e poedeiras. Ela é causada por protozoários do gênero Eimeria, que compromete a saúde intestinal, reduz o desempenho zootécnico e gera significativas perdas econômicas.

A coccidiose é causada por diferentes espécies: Eimeria acervulina, Eimeria brunetti, Eimeria maxima, Eimeria mitis, Eimeria necatrix, Eimeria praecox e Eimeria tenella, sendo que três novas espécies foram propostas recentemente: Eimeria lata, Eimeria nagambie e Eimeria zaria (Blake et al., 2021). A campo, as comumente monitoradas são:

Eimeria acervulina, que tem predileção em parasitar a parte superior do intestino;

Eimeria máxima, que possui predileção em parasitar o intestino médio, mas que em casos mais graves, pode ir afetar desde o duodeno até próximo aos cecos, podendo até resultar em mortalidade;

Eimeria tenella, que tem maior predileção em parasitar os cecos. É fundamental avaliar ambos os cecos, pois as lesões podem variar entre os dois, mesmo em uma única ave.

As espécies do gênero Eimeria infectam o epitélio intestinal e se caracterizam pela invasão do parasita nos enterócitos das aves acometidas e, como consequência, promovem a diminuição da digestão e absorção intestinal de nutrientes essenciais para o seu desenvolvimento (GONZALES 2001). Desta forma, há o comprometimento do desempenho zootécnico das aves e da produtividade econômica da indústria avícola.

O controle eficaz exige um conjunto de ações envolvendo vacinação, manejo, biosseguridade e nutrição.

O uso de vacinas contra coccidiose é uma estratégia preventiva que estimula a imunidade das aves contra os principais sorotipos de Eimeria. Apesar destas vacinas terem surgido no ano de 1950, passou-se a ter um uso maior após o ano de 1980, devido à exigência de alguns mercados consumidores por aves livres de promotores de crescimento e anticoccidianos.

Este tipo de exigência tem ganhado espaço, e com isso, o uso destas vacinas, que já são comuns em lotes de reprodutoras e poedeiras comerciais, tem se expandido também para o uso em frangos de corte. Estão disponíveis no mercado as vacinas vivas e atenuadas, e normalmente são aplicadas via spray no incubatório, via ocular ou na água de bebida nos primeiros dias de vida.

Mesmo que as aves sejam vacinadas, o ambiente pode favorecer a proliferação da Eimeria. Por isso, o manejo é crucial, principalmente no que diz respeito a limpeza, desinfecção e intervalo entre lotes e controle da umidade da cama, pois os oocistos se desenvolvem melhor em ambientes úmidos, sendo a ambiência outro ponto importante a ser considerado.

Estes oocistos são extremamente resistentes e se disseminam rapidamente no ambiente. A esporulação destes oocistos é facilitada pela temperatura e umidade da cama, pelo contato direto das aves com as excretas e pela alta densidade de criação.

Vale ressaltar que somente oocistos esporulados são infectantes e enquanto na forma esporulada podem sobreviver fora de seu hospedeiro por até cerca de 20 meses; enquanto na forma de oocistos não esporulados podem sobreviver por cerca de 7 meses no intestino de seu hospedeiro (CASTAÑEDA e GONZÁLEZ, 2015).

As lesões causadas pela coccidiose podem ser clínicas, onde são visíveis por meio de lesões no intestino, dos sintomas de diarreia, presença de sangue nas excretas, passagem de ração, queda de desempenho, entre outros; ou subclínicas, onde não há sinais perceptíveis, porém ocorre a perda de desempenho, e predispõe a infecções secundárias por outros microrganismos como Clostridium perfringens e Salmonella spp. (SANTIN, 2017).

Portanto, apesar das ações de biosseguridade, limpeza e desinfecção das instalações, tratamento da cama e do ambiente, essas ferramentas não são medidas totalmente eficazes para o controle, sendo a nutrição uma excelente forma de auxílio no controle.

A nutrição adequada fortalece a barreira intestinal e modula a resposta imune das aves por meio de uma formulação balanceada e aditivos específicos para este objetivo. Níveis adequados de energia, proteína e aminoácidos evitam sobra de nutrientes no intestino, o que podem favorecer fermentações indesejadas e servir de substrato para os microrganismos patogênicos.

Além de uma nutrição balanceada, existem diversos aditivos que são ferramentas de apoio na prevenção e controle da coccidiose. Dentre os aditivos disponíveis no mercado, estão os anticoccidianos (químicos e ionóforos), as enzimas, os prebióticos, os probióticos, óleos essenciais, extratos fitogênicos e ácidos orgânicos. Muitos destes podem ser utilizados de forma conjunta, a depender da relação custo/benefício frente as diferentes realidades encontradas a campo.

Os anticoccidianos são os aditivos mais utilizados para inibir o desenvolvimento dos protozoários no trato gastrointestinal das aves, devido a sua eficácia e baixo custo relativo. Eles podem ser classificados em: químicos sintéticos (como exemplos dos mais utilizados: nicarbazina, diclazuril e robenidina) e ionóforos.

Existem três categorias distintas de ionóforos: os monovalentes (narasina, salinomicina e monensina), divalentes (lasalocida) e glicosídicos (senduramicina e maduramicina). O uso prolongado e contínuo, pode levar à resistência das Eimerias, tornando o controle menos eficaz, ou seja, a eficiência pode variar de acordo com a região, época do ano e o histórico de uso. Desta forma, recomenda-se a rotação das moléculas (uso alternado das classes de anticoccidianos), testes de sensibilidade para identificar as moléculas mais eficazes para determinada região e fazer o uso prudente conforme recomendação do fabricante.

Segundo estudo realizado por Bereta (2024), foi demonstrado que mesmo com o uso de anticoccidianos, houve a prevalência de Eimerias em uma integração localizada no estado de Santa Catarina. Neste estudo, a prevalência geral de 79,2%, e as espécies identificadas foram: E. acervulina (92,1%); E. maxima (80,3%); E. praecox (43,4%) e E. mitis/mivati (17,1%).

O desenvolvimento de uma possível resistência aos anticoccidianos e a necessidade de alternativas sustentáveis têm impulsionado a pesquisa em novas estratégias de controle, com o uso de probióticos, fitoterápicos e utilização de vacinas vivas atenuadas (Quiroz-Castañeda; Dantán-González, 2015).

Uma microbiota intestinal equilibrada fortalece a defesa do hospedeiro contra diversos parasitas, inclusive contra a Eimeria spp. e essas ferramentas alternativas agem de modos distintos, mas com o mesmo objetivo: o de modular a microbiota intestinal e fortalecer o sistema inume.

Os probióticos favorecem o crescimento da microbiota benéfica, permitindo que essas espécies ocupem maior parte do trato gastrointestinal, inibindo o crescimento de bactérias patogênicas e parasitas (Wang, et al. 2019).

Possuem diversos modos de ação, como a exclusão competitiva, a produção de substâncias antibacterianas, a melhora da digestibilidade dos nutrientes (reduzindo substratos para utilização dos patógenos) e aumento das respostas imunes do hospedeiro.

Por sua vez, os prebióticos são aditivos alimentares não digeríveis que contêm fibras alimentares naturais, como frutooligossacarídeos (FOS), inulina, β-glucanos e manooligossacarídeos (MOS), que são cruciais na indução do desenvolvimento ou atividade de bactérias comensais no intestino, excluindo a invasão de patógenos.

A inclusão simultânea de probióticos e prebióticos (simbiótico) como aditivos para ração de aves tem sido muito utilizado e demonstrado efeito sinérgico, contribuindo ainda mais para o controle dos patógenos e parasitas (ROTTER et al., 2024).

O uso de aditivos fitogênicos à base de plantas possui propriedades antimicrobianas e antiparasitárias que aumentam a imunidade em animais infectados por coccidias e outras doenças, por exemplo enterite necrótica (IDRIS et. al., 2017).  Foi relatado que eles prejudicam Eimeria spp. nos estágios iniciais de desenvolvimento, reduzindo a degradação da parede celular e induzindo o estresse oxidativo, prevenindo a invasão (FELICI et. al., 2020).

A opção destes aditivos naturais nas rações tem sido favorecida visto que além de serem eficazes, são seguros e estão prontamente disponíveis na natureza. O custo ainda é mais oneroso, quando comparados com os aditivos sintéticos, mas à medida que passarem a ser utilizados com mais frequência, este custo tende a diminuir.

Vale ressaltar, que atualmente, há diversas opções destes aditivos disponíveis no mercado, com uma excelente relação custo/benefício, e desta forma, já estão sendo amplamente utilizados.

A coccidiose é um desafio constante na avicultura, mas com uma abordagem integrada e bem planejada, é possível manter o controle da doença e garantir o desempenho zootécnico das aves.

O sucesso no seu controle depende da integração entre vacinação, manejo e nutrição. Cada granja deve adaptar seu programa conforme o desafio local, histórico de infecção e tipo de produção. A chave está na prevenção, monitoramento e suporte nutricional contínuo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERETTA, BRUNA MATARUCCO SAMPAIO. Infecção por Eimeria spp. em núcleos comerciais de frangos de corte na região oeste do estado de Santa Catarina: prevalência, identificação molecular e correlação com a profilaxia anticoccidiana. 2024. 96 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araçatuba. Disponível em: https://repositorio.unesp.br. Acesso em: 02 set. 2025.

BLAKE, D. P.; MARUGAN-HERNANDEZ, V.; TOMLEY, F. M. Spotlight on avian pathology: Eimeria and the disease coccidiosis. Avian Pathology, v. 50, n. 3, p. 209-213, 2021.

CASTANEDA, Q.E.R.; GONZÁLEZ, D.E. Control of avian coccidiosis: future and present natural alternatives. BioMed Research International. Article ID 430610, 2015.

CHEN HL, ZHAO XY, ZHAO GX, HUANG HB, LI HR, SHI CW, YANG WT, JIANG YL, WANG JZ, YE LP, ZHAO Q, WANG CF, YANG GL. 2020. Dissecção da comunidade microbiana cecal em galinhas após infecção por Eimeria tenella. Parasitas e vetores, 13, 56.

FELICI M, TUGNOLI B, GHISELLI F, MASSI P, TOSI G, FIORENTINI L, PIVA A, GRILLI E. 2020. Atividade anticoccidial in vitro de timol, carvacrol e saponinas. Ciência Avícola, 99(11), 5350–5355.

GONZALES, E. Aditivos Para Rações de Aves e Suínos. Apostila- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – FMVZ-UNESP, 2001.

Idris M, Abbas R, Masood S, Rehman T, Farooq U, Babar W, Hussan R, Raza A, Riaz U. 2017. O potencial dos óleos essenciais ricos em antioxidantes contra a coccidiose aviária. Jornal Mundial de Ciências Avícolas, 73(1), 89–104

QUIROZ-CASTAÑEDA, R. E.; DANTÁN-GONZÁLEZ, E. Control of avian coccidiosis: future and present natural alternatives. BioMed research international, v. 2015, n. 1, p. 1-11, 2015.

ROTTER, A. G., DA ROSA, B. C. D. O., FERNANDES, A. P. M., SIMÕES, E. P., PINTO, A. N., REUTER, A., … & FERNANDES, J. I. M. (2024). Efeito do uso de simbiótico sobre o desempenho e saúde intestinal de frangos de corte submetidos a um desafio entérico. Semina: Ciências Agrárias45(5), 1367-1390.

SANTIN, E. Conhecimentos imunológicos da interação entre hospedeiro e patógeno na coccidiose aviária – o papel da imunidade. Material técnico: Traçando um novo caminho na imunologia da coccidiose aviária. Radisson Montevideo Victoria Plaza Uruguai. p.6-9, 2017.

WANG X, FARNELL YZ, KIESS AS, PEEBLES ED, WAMSLEY KGS, ZHAI W. 2019. Efeitos da vacinação contra Bacillus subtilis e coccidiano na diversidade microbiana cecal e composição de frangos de corte machos desafiados por Eimeria. Ciência Avícola, 98(9), 3839–3849.

 

 

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