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Peste Suína: preocupação e oportunidades para o Brasil

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peste suína clássica

A Peste Suína Africana (PSA) e a Peste Suína Clássica (PSC) são doenças semelhantes nos sintomas e lesões, porém, diferem pelo tipo de vírus e pela disponibilidade de vacinação, ou não. Outra semelhança é o prejuízo que causam, seja pela alta mortalidade, ou perdas na reprodução.

Mas, sobretudo, pela perda da capacidade de exportação de carnes pelo país onde se manifestam.

Manter o país livre de PSA e controlar e circunscrever a PSC pode gerar oportunidades para o Brasil. Países como Filipinas, Vietnã, Coreia do Sul, Rússia e a República Dominicana vêm perdendo produção e exportações diante da continuidade da manifestação da Peste Suína Africana.

A China é um capítulo à parte e, pelo seu potencial enorme de importação, produziu um mercado até então não operado. Até 2018, a China era autossuficiente em carne suína, sendo o país de maior produção e consumo mundiais desta proteína.

A manutenção da PSA na China, e em muitos países, mantém o mercado aberto, estabelecendo uma grande oportunidade, assim como aumentando a preocupação com a chegada da doença aos territórios livres como o Brasil.

O objetivo desta publicação é atualizar as informações sobre a ocorrência mundial da PSA e da PSC no Brasil, focando nas preocupações e oportunidades, informando sobre as ameaças e busca das soluções, pela vacina, para a PSA, e pelo programa de erradicação no Brasil, para a PSC.

1. Peste Suína Africana

1.1 – O vírus da Peste Suína Africana é complexo, de DNA fita dupla, pertencente à família Asfarviridae, gênero Asfivírus. Não é um vírus zoonótico, ou seja, não afeta os seres humanos. Acomete os suídeos selvagens e domésticos: suínos domésticos (Sus scrofa domesticus), javalis (Sus scrofa) e mestiços chamados de “javaporco”.

1.2 – Situação da doença pelo mundo:

1.2.1 – China:

peste suína africana China

A PSA na China é recorrente, ou seja, os surtos continuam, o que causa reações no mercado local. Quando ocorrem os surtos, aumenta a mortalidade, diminui a oferta e aumenta a importação, ou a liberação dos estoques estatais de carne suína.

O contrário é verdadeiro. Tempos de calmaria aumentam a oferta de carne suína e o governo chinês freia as importações.

Segundo o banco holandês Rabobank, no entanto, os ciclos de produção de carne suína na China estão mudando e sendo influenciados pela alta produção em escala, em granjas com maior biosseguridade. O novo ciclo, desde meados de 2022, será diferente dos anteriores e terá menos volatilidade de preços, sendo um pouco mais curto e tendo mais monitoramento por parte do governo.

A maior capacidade de produção nas novas unidades produtivas levará a oferta a se recuperar de forma mais rápida. Outro fator é que, pela necessidade de controle da inflação na China e, a carne suína sendo um item importante na economia do país, medidas serão adotadas com a finalidade de controlar o aumento deste índice.

Aparentemente, a meta chinesa é voltar a ter uma autossuficiência de 95% em carne suína até 2030, deixando apenas 5% para a importação, a serem disputados por todo o mercado global. Uma forma de acelerar este processo seria através da obtenção da vacina, o que até agora parece não ter sido possível.

1.2.2 – Alemanha:

alemanha peste suína africana

A Alemanha é um importante player no mercado mundial de carne suína, sendo forte exportador e com alta qualidade na produção de suínos. Uma das medidas adotadas pelo país foi a construção de uma cerca (com 255 km) para tentar impedir a entrada de javalis contaminados, oriundos da vizinha Polônia.

No entanto, apesar dos intensos esforços, em 2020 a PSA foi detectada em javalis no território alemão, trazendo consequências graves para o país, que era um importante exportador.

A China e outros compradores asiáticos proibiram as importações de carne suína da Alemanha no outono de 2020, depois que a Peste Suína foi encontrada em javalis. Outros exportadores, incluindo Espanha e Holanda, venderam mais carne suína para a China e Ásia após a proibição do produto oriundo da Alemanha, ficando os suprimentos alemães destinados a preencher lacunas deixadas pelos exportadores da UE (União Europeia).

Em 04/07/2022, o Ministério de Alimentação e Agricultura da Alemanha confirmou casos de Peste Suína Africana (PSA) em dois rebanhos de suínos domésticos, na Baixa Saxônia e em Brandemburgo. As granjas envolvidas são de alta tecnificação e o caso já foi resolvido.

1.2.3 – Itália:

peste suína africana itália

A PSA na Itália é considerada endêmica na ilha da Sardenha.

Segundo informado em 07/01/2022 pelo Instituto Zooprofiláctico Experimental da Úmbria e Marche, centro de referência nacional para os Pestivírus, a presença de Peste Suína Africana (PSA) foi confirmada em um javali, na região continental do Piemonte, no norte de Itália. Trata-se de um animal encontrado morto na zona de Ovada, Província de Alexandria.

1.2.4 – República Dominicana e Haiti:

1.2.4.1 – República Dominicana:

O país tem uma condição econômica relativamente estável, conseguindo se organizar e estabelecer maior controle da doença, assim como compensações aos produtores atingidos.

O número de produtores antes da PSA era de 25 mil, sendo que produtores de “fundo de quintal” são cerca de 35%. O rebanho (pré PSA) era de 18 milhões de suínos.

A data da infecção foi 21/07/2021 e 29, das 32 províncias existentes, foram infectadas. O número de suínos abatidos pela PSA foi de 180 mil até março de 2022

A redução do rebanho foi de 25% e a compensação aos produtores foi de US$ 22 milhões.

1.2.4.2 – Haiti:

O Haiti é um dos países mais pobres do mundo, assolado por dois terremotos, nos últimos anos, o que piorou muito a situação. A doença não está sendo controlada no país por falta de condições financeiras e capacidade técnica, sendo, portanto, um grande risco de biosseguridade para as Américas.

A situação é indefinida:

Trinta e um surtos reportados. O total de suínos doentes é de 3.077, segundo as poucas informações disponíveis. O último surto reportado até o fechamento deste conteúdo foi em 12/03/2022.

1.2.5 – Estados Unidos da América – EUA:

A grande preocupação do país, que hoje é um dos principais exportadores mundiais de carne suína, é a contaminação do território americano com a PSA, que poderia resultar na interrupção das exportações da proteína.

república dominicana

A grande ameaça à segurança sanitária do país norte-americano são os territórios vizinhos à República Dominicana (Porto Rico e Ilhas Virgens, ambas no Caribe). A proximidade expõe os territórios limítrofes e a possibilidade de uma contaminação interditar todo o território levou os EUA à intensificação das medidas preventivas na região, o que indiretamente acaba se refletindo em uma garantia para todas as Américas e para o Brasil.

1.3 – Medidas de controle: vacinação.

Em 08/06/2022 foi noticiado que a primeira vacina comercial para a prevenção da PSA havia sido aprovada numa parceria entre Vietnã e USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

Em julho do mesmo ano, 600 mil doses da vacina desenvolvida a partir de vírus atenuado chegaram a ser aplicadas em animais do país asiático, porém, a iniciativa foi suspensa devido à morte de dezenas de suínos inoculados. Isso se deve ao grande desafio que é conseguir atenuar o vírus de forma segura.

2. Peste Suína Clássica

2.1 – O vírus da Peste Suína Clássica (PSC) é um vírus RNA envelopado da família Flaviviridae, gênero Pestivírus, que sobrevive bem em ambientes frios, e também pode ser viável após a cura e a defumação da carne.

Não é um vírus zoonótico, ou seja, não afeta os seres humanos. Acomete os suídeos selvagens e domésticos: suínos domésticos (Sus scrofa domesticus), javalis (Sus scrofa) e mestiços chamados de “javaporco”.

2.2 – Situação da PSC na América do Sul:

peste suína clássica

As áreas em verde, na ilustração acima, representam as áreas livres de PSC na América do Sul, enquanto as mais claras são as áreas contaminadas, incluindo parte das regiões norte e nordeste do Brasil.

2.2 – A PSC no Brasil:

A Peste Suína Clássica (PSC) está presente no Brasil. Embora esteja isolada em área considerada não livre da doença, ela ocorre de forma endêmica, ou seja, com regularidade na região.

As áreas consideradas não livres no Brasil são os estados de Alagoas, Amazonas, Roraima, Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Destes estados, focos foram registrados em Alagoas, Ceará e Piauí.

O surto de PSC ocorreu em regiões brasileiras com menor concentração de suinocultura industrializada, com baixa tecnificação, o que lembra a situação relatada na China com a Peste Suína Africana (PSA). Ambos os vírus se ambientam muito bem em áreas de baixa biosseguridade.

 

2.2.1 – Os focos mais recentes de PSC:

Em 22/03/2021 ocorreram dois focos de PSC no Piauí, em suínos de subsistência, e em 14/09/2021 ocorreu um foco na Cidade de Marco (CE). O foco mais recente ocorreu em 01/08/2022, também no estado do Ceará, na região de Chaval, onde envolveu 76 suínos (mortos ou sacrificados) de nove propriedades, na mesma unidade epidemiológica.

2.2.2 – Estratégias de solução:

A principal diferença da situação da PSC e da PSA é que, no caso da primeira, a vacina está disponível e é eficaz para prevenir a doença. Está em andamento no Brasil o Plano Estratégico Brasil Livre de Peste Suína Clássica, que dividiu a região não livre de PSC em microrregiões.

 

O objetivo do Plano é erradicar a PSC na zona não livre do Brasil, reduzindo as perdas diretas e indiretas causadas pela doença e gerando benefícios pelo status sanitário de país livre da doença. A regionalização do plano foi necessária devido às muitas diferenças regionais.

peste suína clássica
Foto: MAPA: Regionalização do Plano Estratégico Brasil Livre de PSC.

A Instrução Normativa (IN) n⁰10/2020 autoriza o uso da vacina na área não livre de PSC. Como estratégia da erradicação houve a vacinação na área não livre, com início em 17/05/2021 no estado de Alagoas, como um plano piloto.

A terceira etapa da campanha foi encerrada em 31/01/2023 e imunizou 100% do rebanho alagoano, o que representa mais de 110 mil animais. Mais duas etapas estão previstas para ocorrer no primeiro e no segundo semestre de 2023, mais precisamente nos meses de abril e novembro.

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Uma vez que a vacinação no estado de Alagoas demonstre bons resultados, o plano é vacinar toda a região não livre de PSC, tornando-a livre com vacinação, primeiramente, para depois erradicar totalmente a doença. Neste primeiro ano de vacinação não houve registro de focos da PSC no estado de Alagoas, o que aumenta a esperança do controle definitivo da doença.

O maior risco para a região livre do Brasil é o trânsito de veículos. As barreiras sanitárias têm sido eficazes, prevenindo a entrada da PSC na área livre.

Conclusões e considerações finais

I – Se, por um lado, a Peste Suína Africana traz a oportunidade ao Brasil de se manter e aumentar as exportações de carne suína, por outro traz a preocupação com a entrada da doença nas áreas livres, como a brasileira.

II – Uma vacina eficaz e segura para a PSA ainda não foi concretizada, apesar do anúncio do laboratório vietnamita em junho de 2022, o que havia trazido uma enorme esperança para o controle definitivo da doença.

III – Apesar de tantas semelhanças entre a PSA e a PSC, a grande diferença é a disponibilidade da vacina para a PSC.

IV – Existe uma grande preocupação em impedir que a PSC venha a contaminar a área livre do Brasil, onde está situada a maior parte da suinocultura industrial. Esforços estão sendo feitos pelo MAPA, através do Programa Brasil Livre da PSC, no sentido de erradicar definitivamente a doença do país.

V – Focos recentes da PSC têm ocorrido na área não livre da doença, o que demonstra a urgência no controle definitivo da doença.

VI – Por um lado, a quarentena de Cananeia (SP), aumenta a capacidade de prevenção da entrada de doenças como a PSA, PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva dos Suínos) e PED (Diarreia Epidêmica dos Suínos) no Brasil. Por outro, pragas naturais, sem fronteiras, como os javalis, nos deixam expostos aos riscos.

Referências:

Rabobank, banco holandês, setembro de 2022, publicado pela redação do site Suinocultura Industrial. Os ciclos da produção de carne suína na China.
Pig Progress. A PSA atinge suínos domésticos na Alemanha, 04 de julho de 2022.
Site 3tres3, Sanidade. PSA na Itália continental em 07 de janeiro de 2022.
Ter Beek, Vincent, Editor site Pig Progress. Artigo da situação da PSA na República Dominicana e Haiti.
Redação Suinocultura Industrial. Insights do mercado americano de carne suína. 15 de julho de 2022.
Porcinews.com. Suíno Brasil. Primeira vacina comercial para a PSA. Junho de 2022.
Agência Reuters. Agosto de 2022. Suspensão temporária da primeira vacina comercial para a PSA.
OIE  – Organização Mundial de Epizootias. Situação da PSC na América do Sul.
ADAGRI – Ceará. Foco de PSC no estado do Ceará – Brasil.
MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Plano Estratégico Brasil Livre de Peste Suína Clássica.

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