Início Bovinos de Leite Qual frequência ideal de fornecimento de dietas para vacas em lactação?

Qual frequência ideal de fornecimento de dietas para vacas em lactação?

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Atualmente, convivemos com a intensificação dos estudos sobre práticas de manejo alimentar na pecuária leiteira.

Reflexo da necessidade de aumento de produtividade e da eficiência da atividade, esses estudos demandam esforços para adequar os manejos às particularidades de cada fazenda.

Uma das práticas de manejo alimentar mais discutidas é frequência de fornecimento de dietas para vacas em lactação, porém, com ideais distintos, visto que o aumento ou redução da quantidade diária de fornecimento pode ser positiva ou negativa.

Mas, afinal, qual é a frequência ideal de fornecimento de dietas? O que a frequência de alimentação pode afetar nos resultados do rebanho?

Em fazendas leiteiras, o objetivo é que vacas em lactação alcancem o maior consumo de matéria seca (CMS) dentro do potencial esperado, pois está diretamente ligado a produção de leite.

Na maioria dos sistemas convencionais, o fornecimento de dieta fresca é realizado duas vezes por dia; mas é comum fazendas que adotam o fornecimento uma, três ou mais vezes ao dia.

A taxa de alimentação (kg de CMS/h) e o tempo em consumo (min/h) são maiores imediatamente após a distribuição da dieta fresca (DeVries e von Keyserlingk, 2005; King et al., 2016).

Além disso, de acordo com Shabi et al. (1998, 1999) e Cabrita et al. (2006), o aumento da frequência de fornecimento da dieta pode evitar uma grande flutuação do pH ruminal. Porém, o fato de fornecermos mais alimentações durante o dia não tem impacto quando pensamos em produção de leite ou até mesmo em saúde ruminal, como veremos mais à frente no texto.

Outro ponto importante a se atentar é a realidade de cada propriedade, tamanho do vagão forrageiro, tamanho de lotes de animais, disponibilidade de mão de obra, entre outros fatores importantes no momento da decisão.

A menor frequência de fornecimento de dietas frescas durante o dia pode otimizar o manejo. Quando pensamos na dificuldade de mão de obra voltada para pecuária de leite em diversas regiões do país, essa pode ser a principal vantagem, pois pode tornar possível que o mesmo colaborador realize mais de uma atividade dentro da fazenda.

Além disso, há uma maior precisão nos carregamentos quando se trabalha com volumes maiores.

Quando pensamos em desvantagens, é necessário avaliar a qualidade dos alimentos disponíveis na propriedade, uma maior necessidade de aproximação da dieta, a exigência de um cocho maior e lembrar que a quantidade de dieta oferecida não poderá ser corrigida ao longo do dia.

Uma grande preocupação ao reduzir a frequência de alimentação é a estabilidade da dieta. Se apresentar elevada temperatura ou odor ruim, provavelmente irá reduzir a aceitação pelos animais e consequentemente haverá diminuição do CMS, enquanto com uma maior frequência de tratos ao longo do dia, o risco do aquecimento da dieta é menor.

Em estudo publicado em 2020 no Journal of Dairy Science, os autores C. Benchaar e F. Hassanat avaliaram diversos dados comparando o fornecimento de dietas 1,2 ou 4 vezes ao dia. O estudo mostrou que a frequência de fornecimento da dieta não afetou o CMS, o pH ruminal médio diário e a digestibilidade da dieta consumida pelos animais de diferentes grupos.

Consequentemente, a frequência da administração da dieta não teve efeito na produção de leite corrigido para energia, assim como nas concentrações de gordura, proteína e lactose.

Tabela 1: Efeito da frequência de alimentação no consumo, digestibilidade, produção de leite e pH ruminal.

Em resumo, uma maior frequência de fornecimento de dieta não resulta necessariamente em resultados benéficos; assim como uma menor frequência também pode não resultar em prejuízos.

Isso demonstra a importância de, antes de tomar a decisão da quantidade de tratos ao longo do dia, analisar diversos fatores presentes na propriedade, junto às vantagens e desvantagens de cada uma das estratégias.

Em função dos desafios operacionais enfrentados por muitas fazendas, a tendência é que o fornecimento de dietas para vacas em lactação seja cada vez menor nas propriedades.

 

 

Referências:

CABRITA, A. R. J., R. J. DEWHURST, J. M. F. ABREU, AND A. J. M. FONSECA.Evaluation of the effects of synchronising the availability of N and energy on rumen function and production responses of dairy cows—A review. Anim. Res. 55:1–24. https://doi.org/10 .1051/animres:2005045.2006

DEVRIES, T. J., AND M. A. G. VON KEYSERLINGK.. Time of feed delivery affects the feeding and lying patterns of dairy cows. Journal of Dairy Science, v. 88:625–631, 2005.

HASSANAT, F.; BENCHAAR, C.. Frequency of diet delivery to Dairy cows: effect on nutriente digestion, rumen fermentation, mathane production, nitrogen utilization, and milk production J. Journal of Dairy Science, 103:7094-7109, 2020.

KING, M. T. M.; CROSSLEY, R. E.; DEVRIES, T. J. Impact of timing of feed delivery on the behavior and productivity of dairy cows. Journal of Dairy Science, 99:1471–1482, 2016

SHABI, Z.; ARIELI A.; BRUCKENTAL, I.; AHARONI, Y. ; ZAMWEL, S.; BOR, A.; TAGARI, H.. Effect of the synchronization of the degradation of dietary crude protein and organic matter and feeding frequency on ruminal fermentation and flow of digesta in the abomasum of dairy cows. Journal of Dairy Science, 81:1991–2000, 1998

SHABI, Z.; BRUCKENTAL, I.; ZAMWEL, S.; TAGARI, H.; ARIELI A. Effects of extrusion of grain and feeding frequency on rumen fermentation, nutrient digestibility, and milk yield and composition in dairy cows. Journal of Dairy Science, 82:1252–1260, 1999

 

Foto: Banco de imagens Girolando

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