Novas tecnologias na produção de leite: ordenha robotizada

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    Ordenha robotizada

    A instalação e a utilização da ordenha robotizada é algo relativamente novo no sistema de produção de leite, não só no Brasil como no mundo, e é dependente tanto do comportamento individual das vacas como da qualidade da gestão na propriedade. O primeiro robô ordenhador experimental foi construído na Alemanha, na Universidade de Hohenhein, em 1980, pelo professor Karl Rabold. O primeiro sistema comercial foi instalado em 1992 na Holanda e, desde então, a ordenha robotizada (automática) é uma tecnologia que vem ganhando espaço no mundo todo. No Brasil, a primeira unidade instalada foi em Castro-PR, em 2012 e, em 2015, já eram 10 propriedade com ordenhas robotizadas.

    Um dos pontos mais importantes e a vantagem mais enfatizada da ordenha robotizada seria aliviar o produtor da rotina da ordenha, tendo como principal objetivo a melhora na mão de obra e qualidade de vida do produtor/funcionário. Uma pesquisa nos Estados Unidos reportou que pequenos produtores que implantaram o robô aumentaram a flexibilidade nos horários, reduzindo a intensidade física da mão de obra. Para fazendas maiores, foi reportado a redução em contratações e aumento na satisfação dos empregados.

    Contudo, a ordenha robotizada é mais do que um substituto da mão de obra. Suas vantagens incluem a possibilidade de monitorar a saúde do úbere, a produção de leite, o status reprodutivo do rebanho, o consumo de matéria seca, mudanças no escore corporal, entre outras coisas, através de sensores automáticos. Informações individuais dos animais podem ser coletadas, o que não é fácil de se conseguir em um sistema de ordenha convencional.

    Em um sistema convencional de produção de leite, o objetivo nutricional de vacas leiteiras é atender os requerimentos de mantença e produção, a fim de atingir a melhor capacidade produtiva sem causar distúrbios metabólicos no animal. Normalmente, o requerimento nutricional é atendido dentro de um grupo de animais e a dieta é formulada para “uma média”.

    Tentando mudar essa percepção e buscando um novo método de avaliar a produção animal, a ordenha robótica chega, também, dando a possibilidade de fornecer e formular uma dieta diferente para cada vaca, apenas ajustando a quantidade de ração que pode ser fornecida no robô. Fatores importantes incluem o fornecimento de uma ração de qualidade e a promoção de um excelente manejo nutricional. O balanceamento de dietas se torna algo ainda mais complexo.

    ordenha robotizada
    Figura 1: Sistema de ordenha automático.

    Nos sistemas de confinamentos convencionais, é fornecido o que chamamos de dieta total ou TMR (do inglês: total mixed ration). Para a ordenha automática, normalmente é oferecido uma dieta parcial ou PMR (do inglês: partial mixed ration), completando a dieta total com a ração que é fornecida no robô. Essa ração induz as vacas a irem à ordenha, uma vez que, de acordo com pesquisas sobre o comportamento social das vacas, elas preferem comer do que serem ordenhadas. Quanto mais atrativo o concentrado fornecido na ordenha, maior é a chance das vacas aumentarem o número de visitas ao robô. Além disso, o pellet deve ser de alta qualidade, consistente e palatável.

    A quantidade ideal de concentrado que deve ser oferecido na ordenha ainda não é algo bem definido. Tudo dependerá da estratégia de cada nutricionista e de cada fazenda. Em resumo, as vacas não comem todo concentrado quando sua oferta é muito alta (> 4kg/d). Uma vaca consome de 50 a 150 g/min de uma dieta total e; de 250 a 400 g/min de pellet. Em uma ordenha que tem duração de 7 minutos, uma vaca vai conseguir comer, no máximo, 2.8 kg de ração pelletizada. Qualquer desregulagem no fornecimento de ração pode causar problemas com a formulação, diminuindo a precisão em atender o requerimento nutricional da vaca, podendo afetar a produção de leite.

    Como dito acima, é importante enfatizar que a ração no robô deve ser atrativa, mas seria interessante deixar a dieta fornecida no cocho, mais próxima possível de atingir o requerimento nutricional do animal, principalmente para garantir o consumo dos nutrientes necessários para a produção de leite. Além disso, recomenda-se que os minerais e as vitaminas sejam fornecidos no cocho, pois além de ter baixa palatabilidade também precisamos garantir seu consumo.

    A ordenha automática representa tanto uma oportunidade como um desafio. Apesar das vantagens comentadas anteriormente, ela apresenta um desafio muito grande em fazer com que a vaca entre espontaneamente para ser ordenhada. Para atingir eficiência na produção é necessário visitas frequentes e voluntárias. A frequência de ordenha é importante para a crescente produção e está ligada, não apenas à ração fornecida no robô, mas também ao manejo, conforto, saúde e interação social entre as vacas.

    Visando melhorar a frequência de ordenha, existem várias opções de instalações que facilitam a entrada da vaca no robô. A mais simples delas é chamada de tráfego livre, ou seja, qualquer vaca pode acessar todas as áreas do lote, sem restrições, e ir à ordenha quando sentirem vontade para isso. No fluxo livre, a qualidade do pellet e seu atrativo é ainda mais importante para induzir as vacas até o robô. Nesse tipo de instalação, as vacas recebem, normalmente, uma maior quantidade de concentrado no início da lactação até seu pico de lactação e, depois, o concentrado vai diminuindo de acordo com a produção de leite. Por isso, as vacas de final de lactação podem ser penalizadas e não terem uma frequência de visitas desejável.

    O segundo sistema é o tráfego guiado, no qual existem portões de via única e portões de seleção que são usados para guiar as vacas para a ordenha. Entre os tráfegos guiados podemos utilizar o que chamamos de “primeiro a ordenha” (do inglês: milk first) – as instalações separam a área de descanso da área de alimentação, as vacas que deixam a área de descanso devem passar por um portão, onde são selecionadas, determinando se estão aptas ou não a serem ordenhadas. Se ela estiver apta, é guiada para o robô, se ela não estiver apta, vai para a área onde está a comida e só passa para a área de descanso por um portão de via única. Nesse sistema, a quantidade de concentrado fornecido no robô é mínima, apenas para garantir a ida da vaca à estação de leite.

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    Figura 2: Fluxo guiado “milk first”: Para os animais saírem da área de descanso e acessarem a pista de alimentação precisam, necessariamente, passarem pelo portão de selaeção e serem ou não ordenhadas.

    No sistema guiado, também temos o “primeiro a comida” (do inglês: feed first) – onde as instalações ainda continuam separadas, mas ao contrário do anterior, as vacas, após comerem, entram no portão de seleção que determinam se elas estão aptas à ordenha, liberando-as para a ordenha ou para a área de descanso. Nesse sistema, como no tráfego livre, a qualidade do pellet tem grande influência na frequência de visitas das vacas ao robô – se o PMR for mais atrativo do que o pellet, as frequências diminuem.

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    Figura 3: Fluxo guiado “feed first”: Para os animais saírem da pista de alimentação e acessarem a área de descanso precisam, necessariamente, passar pelo portão de seleção e serem ou não ordenhadas.

    Algumas fazendas no Brasil vêm adaptando os métodos de tráfegos e utilizam a água como guia. As instalações possuem cama dos dois lados, mas cocho de apenas um lado e a água apenas do outro. As vacas passam pelo portão de seleção e, se estiverem aptas, vão para a ordenha. Após liberadas, vão para a área de alimentação e podem se deitar, mas para beber água precisam passar pelo portão de via única e para comerem novamente precisam passar pelo portão de seleção.

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    Figura 4: Fluxo guiado adaptado: Para os animais beberem água precisam passar pelo portão de via única e para voltar a comer precisam passar pelo portão de seleção.

    Com os desafios encontrados nesse tipo de ordenha também estão as desvantagens. A principal desvantagem do sistema é o alto custo de instalação, se fazendo necessário um grande investimento inicial. Além disso, várias medidas automáticas são criadas e uma grande quantidade de dados são gerados, podendo ser interpretados erroneamente e usados de maneira inadequada, ou ainda pior: serem ignorados.

    Outras desvantagens estão relacionadas aos animais. Algumas vacas podem não se adaptar ao robô, devido a uma posição indesejável do teto ou variação no quarto mamário, causando falha na ordenha. As vacas precisam ser treinadas por, aproximadamente, 3 a 4 semanas, dependendo do rebanho, o que necessita trabalho e mão de obra intensa. Além do mais, se a vacas não forem – voluntariamente – ao robô, é necessário mão de obra diária para que isso seja feito.

    É importante lembrar que as vacas gostam de rotina. Então, mesmo em sistema de ordenha robotizada, manter a consistência da dieta fornecida no cocho e do concentrado fornecido no robô é muito importante para manter a produção dos animais. Dois aspectos importantes que deixam a utilização da ordenha robotizada rentável são, sem dúvidas: maximizar a frequência de ordenha e minimizar a necessidade de buscar as vacas, o que não é tão simples. A opção de ordenha robótica é, com certeza, uma tecnologia que veio para ficar, mas tem suas vantagens e desvantagens, principalmente quando se fala em nutrição.

    Devemos ajustar a formulação da dieta às necessidades dos animais em frequentarem a ordenha. Muitos fatores influenciam a frequência de visitas e a produção de leite, como: o objetivo de produção da fazenda, o manejo nutricional, conforto e adaptação do animal. Esses fatores devem ser estudados por todos aqueles que participam do dia a dia da fazenda, para a escolha do melhor sistema de produção.

    Nutrição Animal – Agroceres Multimix

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