Já tem um certo tempo que não tomo a liberdade de escrever aqui no agBlog, com uma linguagem mais informal sobre assuntos e pensamentos do meu dia a dia e deixando a parte técnica um pouco de lado.
Da última vez, foi quando nasceu a coluna “Reflexão @gro”, na qual falamos dos riscos do óbvio, fazendo uma analogia de como tarefas simples do dia a dia podem se tornar um problema quando atribuímos a elas o óbvio. Caso não tenha lido, fica o convite para conferir mais esse texto no blog.
Pois bem, hoje pela manhã, como de costume, abri meu e-mail e me deparei com uma matéria da turma da Scot consultoria, que compunha a carta boi, intitulada: “Mercado do boi gordo: ano atípico, ano típico, conversa fiada”. De uma forma simples e direta, o autor relembrou os acontecimentos dos últimos cinco anos que rondaram a pecuária de corte, deixando claro que, cada ano teve sua particularidade e, no seu momento, o mesmo foi tido como atípico, ou ainda, um momento de adversidade em relação ao comportamento esperado. Em resumo: ano de crise.
Fica claro que, por mais que a gente queira – e alguns até tentem – é difícil demais prever o futuro. E é aí que vem a primeira pergunta: se não conseguimos prever o futuro, como então nos preparar para ele?
Pensando na resposta, lembrei de um podcast que ouvi ontem. O entrevistado era o ex-treinador da seleção brasileira de vôlei, o Bernardinho, que falava da sua vida pós-seleção, dos seus novos desafios como triatleta e anseios de vida. Em dado momento da entrevista, citando princípios que sempre o nortearam, comentou: “eu sou uma pessoa guiada, basicamente, por dois propósitos: a busca incessante pelo aprendizado, pelo novo, e, viver constantemente em “modo de crise””, como ele mesmo definiu.
Parte da sua explanação voltou ao fato de que as pessoas buscam por soluções – na maioria das vezes muito proveitosas – somente em momentos de crise. E, dizendo isso, questionou o porquê esperar situações negativas para pensar em soluções positivas.
Segundo ele, viver em “modo de crise”, constantemente, é o que nos tiraria da inércia, ou melhor, da zona de conforto, permitindo assim uma evolução contínua na busca pela excelência.
Ouvir isso fez muito sentido. Comecei a questionar algumas coisas, como, por exemplo: por que esperamos ter um problema de saúde para começarmos a nos cuidar mais? Por que esperar um problema aparecer para pensar na solução? E por aí vai…
Ao ler o texto da Scot, hoje, mais uma vez me vieram questionamentos dessa mesma natureza, como: por que precisamos esperar a arroba do boi gordo cair (por algum problema de mercado) para buscar estratégias que aumentem a eficiência de produção, reduzindo custo da engorda? Por que precisamos esperar o preço do milho disparar para pensar em estratégias de processamento e conseguir aproveitar melhor o amido do grão? E, mais uma vez, por aí vai…
Exemplos como estes são inúmeros, não só no nosso dia a dia, como também no dia a dia da fazenda, e, infelizmente só ganham força em momentos de crise.
Para piorar, quantas das soluções que adotamos em cenários de crise já existiam, ou pior: quantas já estavam dentro de casa e estavam sendo utilizadas com ineficiência?
Vejo muitos querendo discutir valor de venda, sem conhecer custo de produção; se interessando por adubação, sem se interessar por manejo do pasto; olhando para os insumos e discutindo custo da dieta, sem se preocuparem se o milho está bem moído. Silagem de grão úmido, digestibilidade do amido, o que é isso? Manejo de cocho e treinamento dos funcionários envolvidos na atividade, quando foi a última vez mesmo?
Antes de me sentar para escrever este texto, dei um google sobre “lições do Bernardinho” e “modo crise”, e alguns pontos, mais uma vez, me chamaram a atenção.
Segundo Bernardinho, a busca pela excelência é caminho árduo e mais difícil que o próprio sucesso. Pensando nisso, ele criou o que chamou de “A roda da excelência”. Um esboço teórico que situa alguns fundamentos, como: trabalho em equipe, liderança, motivação e disciplina. A roda se movimenta sobre um caminho, chamado de planejamento, no qual, avançar significa ir em busca de um objetivo, uma meta. À medida que progride, os componentes entram em contato com o planejamento para alcançar a meta. Ele faz questão de citar que esse modelo foi criado com base na “Pirâmide do Sucesso”, do americano John R. Wooden, um famoso treinador de basquete.
Ainda pela busca no Google, pude conferir um artigo que elencava cinco pontos que levariam ao “modo crise”, sendo eles: falta de direção, deixar para depois, falhar no desenvolvimento da equipe, não saber delegar e falta de previsão dos riscos. Fatores estes, coincidentemente, todos combatidos pela “Roda da excelência” do Bernardinho.
Sendo assim, se prever o futuro é impossível, sair da zona de conforto e buscar ser melhor hoje do que fomos ontem e ser melhor amanhã do que fomos hoje, com certeza é o que garantirá o sucesso no futuro.
Momentos difíceis e “pedras no caminho”, sempre aparecerão, mas, se estivermos em nossa melhor performance, com toda certeza, sentiremos menos os efeitos das crises e passaremos mais facilmente por elas.
Muitos falam que após passar por uma crise, nos tornamos pessoas melhores. A pergunta é: por que esperar uma crise para se tornar melhor?
Matheus, parabéns. Não precisa desenhar.