A pecuária de corte pode ser dividida em 3 fases: cria, recria e engorda (ou terminação). Extrapolando para o “universo dos seres humanos”, podemos pensar na cria como a infância, na recria como a adolescência e na engorda como a fase adulta.
Nem todas as fazendas trabalham com todas as etapas. Algumas se dedicam apenas à cria, outras apenas à engorda, e há ainda aquelas que unem duas fases — como as fazendas de cria e recria. Quando todas as etapas acontecem no mesmo projeto, chamamos de ciclo completo.
A fase da cria
A cria é o início de tudo. Nessa etapa estão as fêmeas reprodutoras, chamadas de matrizes, e os machos reprodutores, conhecidos como touros. São eles que garantem o nascimento dos bezerros, seja pelo acasalamento natural, seja por técnicas como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) ou a fertilização in vitro (FIV). Tanto os touros quanto as matrizes geralmente passam por seleção genética, para gerar bezerros mais saudáveis e produtivos.
O nascimento e a desmama
O bezerro é o foco principal dessa fase, e é ele quem determina a duração da cria.
Normalmente, a fase da cria vai do nascimento até a desmama, que acontece em média aos 7 meses de idade (ou cerca de 5 meses, em projetos de desmama precoce).
A gestação da vaca dura aproximadamente 9 meses (283 dias). No Brasil, onde predomina a raça Nelore, os bezerros costumam nascer com cerca de 30 kg (1@) e são desmamados pesando entre 150 e 180 kg (5 e 6@).
Em algumas fazendas, o acasalamento acontece o ano todo. Mas em propriedades que usam tecnologias como a IATF, é comum concentrar a reprodução em um período chamado estação de monta, que geralmente ocorre de outubro a janeiro.
Esse é um período estratégico porque coincide com a época das chuvas, quando há mais forragem disponível para alimentar as matrizes. Assim, os bezerros nascem cerca de nove meses depois, entre julho e outubro, período mais seco do ano — o que reduz a incidência de doenças e parasitas (Figura 1).
A estação de monta também facilita o manejo e a organização da fazenda, já que os nascimentos e desmamas ocorrem de forma mais concentrada.
Entre a concepção de um bezerro e sua desmama, passam-se cerca de 16 meses (9 de gestação + 7 mamando). Por isso, nas fazendas que trabalham com a cria — seja exclusivamente ou junto de outras fases — o bezerro desmamado, que é o principal produto dessa etapa, leva mais de um ano para estar pronto para ser vendido ou seguir para a fase seguinte, a recria (Tabela 1).
Geralmente, o maior descarte de vacas ocorre logo após o fim da estação de monta, quando são retiradas do rebanho as fêmeas que não emprenharam.
Já o período de maior oferta de bezerros no mercado costuma ser de fevereiro a maio, época em que ocorre a desmama.
A fase da recria
É a segunda fase da pecuária de corte e começa logo após a desmama do bezerro. O final da recria é definida pelo peso vivo do animal, geralmente ao atingir 360 a 420 kg (12 a 14@). Em termos de comercialização, ao atingir 12,5@ (375 kg) esse animal passa a ser chamado de boi magro, passando para fase de terminação.
A duração da recria pode variar e depende diretamente do ganho de peso do animal. Quanto melhor ele se desenvolve, quanto mais peso ele ganha, mais cedo estará pronto para a fase seguinte, a terminação – e isso também significa que será abatido mais jovem.
No Brasil, o tempo de recria pode variar de 18 a 36 meses, mas já existem projetos onde a recria é feita em até 12 meses.
Essa é a fase mais longa da vida do gado de corte, e uma das mais importantes. É nesse período que o animal apresenta melhor aproveitamento do alimento, transformando-o com eficiência em ganho de peso.
A recria no país é feita, em sua maioria, a pasto. Por isso, o sucesso dessa fase depende de boas pastagens, com forragem de qualidade e em quantidade suficiente.
Quando o manejo é bem-feito, a recria se torna o momento em que o produtor obtém o menor custo por arroba produzida, tornando essa fase a mais eficiente e econômica de todo o ciclo da pecuária de corte.
A fase de engorda/terminação
A fase da engorda, também chamada de terminação, é a última etapa da vida produtiva do bovino de corte – e a mais curta. Ela começa logo após a recria, quando os animais já pesam entre 360 e 420 kg (12 e 14@), e costuma durar entre 90 e 120 dias, ou seja, 3 a 4 meses, até o momento do abate.
A duração e o peso final dessa fase podem variar de acordo com diversos fatores: o peso do animal no início da engorda, sua dieta, genética, sexo e manejo.
De forma geral, busca-se que o animal atinja entre 18 e 20 arrobas, o que corresponde a 540 a 600 quilos de peso vivo, com uma camada uniforme de gordura, de pelo menos 3 milímetros.
Durante a terminação, o animal se torna menos eficiente em transformar alimento em peso. Isso acontece porque, nessa fase, ele passa a acumular mais gordura do que músculo, o que naturalmente reduz o ritmo de ganho de peso.
A engorda dos animais pode ocorrer em pasto ou confinamento. No caso da terminação realizada em pasto, o capim é o volumoso e somente o concentrado é fornecido no cocho. Já no confinamento a dieta total, com volumoso e concentrado é oferecida no cocho ao animal.
Para pensar…
Cada fase da vida do animal — cria, recria e engorda — tem suas características e desafios próprios. Compreender a duração e as particularidades de cada etapa, e estabelecer metas claras, permite escolher as estratégias, ferramentas e soluções mais adequadas para cada realidade dentro da porteira, aumentando as chances de alcançar os objetivos desejados.
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