Início Bovinos de Corte Ajuste na matéria seca (MS) da dieta de bovinos de corte

Ajuste na matéria seca (MS) da dieta de bovinos de corte

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Matéria Seca:

Dentre todas as tecnologias e estratégias criadas para aumentar o desempenho dos animais, nenhuma é tão eficaz e importante quanto o consumo de matéria seca digestível (Mertens, 1994). Isso porque, animais que não consomem o que necessitam, diariamente (durante as 24 horas), não satisfazem totalmente as exigências para ganho de peso e, em situações mais drásticas, nem mesmo para mantença (sobrevivência), sendo que, nesse caso, os animais acabam utilizando as reservas corporais (tecidos muscular e adiposo), resultando na perda de peso e levando à morte, em casos prolongados.

Conceito de matéria seca

O conceito de matéria seca é simplesmente: a massa do produto (podendo ser alimentos, como nesse caso) subtraída da massa de água. Dentre os alimentos volumosos e concentrados – energéticos e proteicos – absolutamente todos (até os mais secos, como: fenos e cereais) possuem algum percentual de água em sua composição.

Metodologias para mensurar a matéria seca

Existem algumas metodologias-padrão para mensurar a matéria seca. Em laboratório, coloca-se o alimento em estufa à temperatura de 55º C por 72 horas. Ainda em laboratório, é possível produzir a matéria seca em estufa à 105º C, por 12 horas, retirando-se praticamente 100% da água presente na amostra (AOAC, 1990). Nas fazendas, determina-se a quantidade de água dos alimentos através de um aparelho denominado Koster®, ou então em micro-ondas comercial (ambas as técnicas apresentando correlação alta em relação aos métodos laboratoriais). A equação é sempre a mesma, independentemente do método:

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A: Koster / B: Micro-ondas

Importância de conhecer a matéria seca dos alimentos

Mas então, qual a importância de conhecer a matéria seca dos alimentos?
Quanto mais umidade tiver o ingrediente, maior a importância. Como exemplo, cita-se a silagem de milho, que pode ter entre 20% e 45% de MS (ideal entre 30% a 35% de MS) devido – principalmente – a erros no ponto de colheita.

Tabela 1. Análises de matéria seca, de 18 amostras de silagem de planta inteira de milho, realizadas no laboratório de bromatologia da Agroceres Multimix.

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Vale lembrar que quando fazemos simulações, consideramos o consumo dos animais com base no consumo de matéria seca.
Por exemplo:
Um bezerro pesando 150 kg em jejum, consome em torno de 2,7% do peso vivo em MS, ou seja, CMS=150 ×2,70%=4,050 kg MS/cab/dia. Já um animal erado, com 500 kg em jejum, consome aproximadamente 2,25% do peso vivo em MS, resultando em: CMS=500×2,25%=11,250 kg MS/cab/dia.
Tabela 2. Simulação de consumos de matérias seca e matéria natural para bezerros (150 kg de peso vivo em jejum) e touros (500 kg de peso vivo em jejum) consumindo forragem verde (25% MS), forragem seca (50% MS), silagens de milho (20% ou 45% MS) e ração/concentrado (88% MS).

Tabela 2. Simulação de consumos de matérias seca e matéria natural para bezerros (150 kg de peso vivo em jejum) e touros (500 kg de peso vivo em jejum) consumindo forragem verde (25% MS), forragem seca (50% MS), silagens de milho (20% ou 45% MS) e ração/concentrado (88% MS).

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* MS: matéria seca (alimento sem água); MN: matéria natural (alimento com água).

Os softwares de formulações apresentam relatórios “práticos” em kg de MN/cab/dia, porém, “formulam” dietas com base na matéria seca, seja para a exigência animal – determinada pela raça, sexo, idade, peso vivo, ganho de peso almejado, etc. – ou para os alimentos.
Vale ressaltar que, dependendo do tipo de alimento, mais fibroso (volumosos) ou mais energético (milho), os mecanismos fisiológicos que regulam a saciedade dos animais variam entre: distensão da parede do rúmen (“cascata hormonal”) ou formação de ácidos graxos de cadeia curta (que, ao final da digestão, fornecerão energia – mecanismo químico), respectivamente.
Ainda, é importante frisar que animais ruminantes vivem em simbiose (interação benéfica entre duas espécies que vivem juntas) com micro-organismos presentes no rúmen, sendo que aqueles fornecem substratos para fermentação (alimentos ingeridos) e estes, por sua vez, substâncias (como ácidos graxos de cadeia curta, fontes de energia, e proteína microbiana, fonte de proteína/aminoácidos) que nutrem o organismo animal. Estes micro-organismos são, em sua maioria, bactérias, protozoários e fungos, seres vivos extremamente sensíveis às mudanças no meio em que vivem (pH, temperatura, substratos de degradação, etc.). Desta forma, supõe-se que quanto menos mudanças nas proporções entre os insumos da dieta, melhor será.

Situação:
Se a formulação é feita, por exemplo, com uma silagem de milho que, na média, tem 33% de MS, mas na verdade está com 20% de MS na “Fazenda A” e 45% na “Fazenda B”, muda-se completamente a formulação com base na matéria seca, embora na matéria natural permaneça a mesma.

Vejamos os três exemplos a seguir:

Matéria Seca | Nutrição Animal - Agroceres Multimix

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Na prática, observando os níveis nutricionais, temos que:

– NDT são nutrientes digestíveis totais;
– PB é proteína bruta;
– FDNfe é fibra em detergente neutro fisicamente efetiva (quanto maior a %, menor o risco para a saúde ruminal e menor o desempenho);
– CNF são carboidratos não fibrosos (para CNF e amido, quanto maior a %, maior o risco para a saúde ruminal e maior o desempenho, quando a saúde do rúmen não é afetada).

Portanto, é possível perceber que a dieta referência é a correta, ou seja, mais equilibrada. Porém, por um “descuido” em não se verificar a real matéria seca da silagem de milho (aqui entraria a mensuração da MS de outros alimentos úmidos que, porventura, componham a dieta, tais como: milho grão úmido, cevada úmida, polpa de laranja úmida, et.), alguns pontos importantíssimos mudam.

Para a silagem mais úmida, com 20% MS, por exemplo:
• Animais consomem quase 1,5 kg a menos do que deveriam em matéria seca (10,472 para 9,058 kg MS/cab/dia), pois toda a dieta fica com mais água (56,2% para 48,6% MS, ou 43,8% para 51,4% de umidade) – na prática, por dominância entre os indivíduos do lote, alguns animais continuarão a consumir até a saciedade, enquanto outros passarão fome;
• A FDNfe cai de 16,1% para 12,1%, em que o nível crítico para manutenção da saúde ruminal é de 15%;
• CNF e amido sobem, aproximadamente, 4 pontos percentuais;
• Para manter os mesmos níveis nutricionais da “dieta referência”, a silagem de milho deveria sair de 10,881 para 17,953 kg/cab/dia.

Para a silagem mais seca, com 45% MS, teríamos:
• Animais consomem quase 1,3 kg a mais do que deveriam em matéria seca (10,472 para 11,778 kg MS/cab/dia), pois toda a dieta fica com menos água (56,2% para 63,2% MS, ou 43,8% para 36,8% de umidade). Na prática, a regulação do consumo é fisiológica, portanto, os animais não consumiriam mais do que o necessário para a categoria – peso vivo e ganho médio diário -, consequentemente, sobraria alimento e haveria desperdício de dinheiro;
• A FDNfe sobe de 16,1% para 19,0%, certamente diminuindo o desempenho dos animais;
• CNF e amido caem, aproximadamente, 6 pontos percentuais;
• Para manter os mesmos níveis nutricionais da “dieta referência”, a silagem de milho deveria sair de 10,881 para 7,979 kg/cab/dia.

Concluímos que a mensuração correta da matéria seca dos ingredientes é o primeiro passo a ser considerado na dieta do animal, pois trata-se da base para a inclusão dos demais nutrientes constantes nos níveis nutricionais. O investimento (micro-ondas ou Koster®) é baixíssimo, se comparado ao imobilizado, aos maquinários/equipamentos e os estoques referentes aos animais e insumos. O ideal é mensurar diariamente, reajustando a dieta quando necessário. Somente dessa forma teremos uma maior aproximação entre a “dieta que sai do computador” e a dieta que os animais consomem de fato.

Agroceres Multimix – Nutrição Animal

5 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom. Não li tudo, mas já na introdução vi dados importantíssimos para o planejamento…salvei e vou concluir a leitura mais tarde.

  2. Muito obrigado, Oderman.
    Levamos a sério nosso slogan “muito mais que nutrição”.
    Bom saber que estamos conseguindo transmitir conteúdo de qualidade.
    Abraço

  3. Excelente artigo Fernando, e muito esclarecedor. Aliás, todos os artigos da equipe da Agroceres Multimix é show. Estou sempre consultando para adquirir novos conhecimentos. Parabéns.

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