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A conectividade no campo

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Imagem mostrando alguns pintinhos na industria avícola e um tablet, o que remete a tecnologia

Revista do AviSite e Agroceres Multimix se unem para o entendimento sobre a importância da tecnologia e seus impactos na avicultura

Ao olharmos atentamente para a história da agricultura percebemos que ela própria foi um salto tecnológico crucial para humanidade. Historiadores, pesquisadores e cientistas avaliam a revolução agrícola como um dos principais marcos que definiram os caminhos de nossa sociedade, possibilitando que o grupo de nômades caçadores e coletores se fixasse e pudesse ter o controle da produção de seus próprios alimentos, criando as primeiras cidades e civilizações.

E desde o início a tecnologia não mais parou. Depois de séculos de acúmulo de conhecimento sobre a produção e domesticação de plantas e animais, as máquinas agrícolas criaram um novo salto, trazendo enorme contribuição para aumento da produtividade no campo. Elas também permitiram a produção em longa escala.

Agricultura 4.0

Já nos dias atuais, quem faz e ainda promete fazer muito pela melhoria da atividade agrícola são as tecnologias digitais na chamada agricultura 4.0. Criando uma avicultura moderna, conectada, na qual as pessoas e as máquinas estejam integradas, com o trânsito de dados e informações transitando em velocidades inimagináveis, com análises em tempo real daquilo que é mais importante para o processo produtivo.

E foi para ‘desvendar’ os mistérios do impacto da tecnologia e da conectividade no campo que a Revista do AviSite, em parceria com a Agroceres Multimix, foi conversar com pesquisadores e players do mercado. Uma série de matérias especialmente desenhada para manter o avicultor atualizado sobre o futuro do setor, que já começou.

Inovação radical, incremental ou disruptivo

Fernando de Castro Tavernari, Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, aponta que a avicultura de corte é bastante desenvolvida e menos heterogênea, fruto de inovações e interesses comerciais ao longo dos anos. Ele explica que o termo inovação, que é bastante amplo, pode ser dividido em: radical, incremental ou disruptivo. “A inovação radical pode ser descrita como algo novo; pode ser um produto ou processo desenvolvido para uma área pouco aproveitada pela indústria. A inovação incremental é uma melhoria em um produto ou processo, o que pode ser muito útil a curto prazo. Já a inovação disruptiva está mais focada em um novo modelo de negócio e não só em um produto, trata-se de um processo gradual que altera o mercado existente e se torna acessível a todos”, disse.

Tecnologias com alta capacidade de inovação e transformação na Avicultura

Tavernari explica que, sob a ótica do novo, inovação radical ou disruptiva, em termos de ativos (produtos) duas inovações têm repercutido nos últimos anos, que é a produção de carne em laboratório (com comercialização regulamentada no exterior) e a tecnologia CRISPR ajudando na sexagem das aves. “São duas tecnologias com alta capacidade de inovar e transformar a avicultura, que existem, mas ainda não são amplamente utilizadas. Acho importante acrescentar que o desenvolvimento de uma solução pode ser considerada uma inovação na pesquisa, mas para a mercado avícola acredito que a inovação deve ser considerada quando a solução é adotada no setor produtivo. Como exemplo: a primeira prensa a funcionar usando o processo de extrusão produzindo peletes cilíndricos foi desenvolvida em 1910, mas o processamento de ração só se tornou realidade entre as décadas de 70 e 80, quando a solução se tornou uma inovação para o mercado”, detalha.

Instituições de pesquisa no Brasil e Indústria avícola

“A avicultura de corte brasileira sempre esteve em expansão e modernização. A todo instante recebemos informações da construção de novos galpões, maiores e automatizados, graças aos novos equipamentos desenvolvidos, a internet das coisas, ao uso de inteligência artificial, entre outros. Contudo, julgo importante um melhor alinhamento entre as instituições de pesquisa no Brasil e a indústria para o desenvolvimento de novas tecnologias”, aponta o pesquisador. “Acredito que a maior parte da interação entre a indústria avícola e as instituições de pesquisas brasileiras são para o incremento de tecnologias já existentes (produzidas no exterior) ou mesmo testes de produtos, são inúmeros os artigos publicados com avaliação de produtos. É necessário desenvolvermos no país melhores modelos de desenvolvimento de inovação em parceria entre as empresas ligadas à avicultura e as instituições de pesquisa para que tenhamos mais tecnologias nacionais no setor”, explica.

uma imagem dando exemplos do impacto da tecnologia no campo, na indústria avícola

De acordo com o pesquisador Ricardo Hayashi, drones, robótica, inteligência artificial são termos que até pouco tempo atrás estavam associados à ficção científica, mas que estão cada vez mais presentes em nosso agronegócio. Eles fazem parte de um novo conceito, a agricultura digital ou agricultura de precisão, que integra a coleta de dados no campo com técnicas de modelagem computacional, permitindo tomadas de decisão mais assertivas aos produtores. A promessa é que as novas tecnologias aumentem a produtividade, reduzam custos e impactos ambientais, e evitem desperdícios na agricultura, tornando o agronegócio mais sustentável.

Além da ciência e da inovação, temos algo disruptivo: novos arranjos, tudo cada vez mais integrado, novas formas de atuação das esferas pública e privada em um novo modelo de relacionamento. A afirmação é da chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá.

Segundo ela, o maior desafio no campo, nos dias atuais, talvez seja o de integrar diversas tecnologias para que o Brasil continue a ser protagonista da produção e exportação agropecuária. “As soluções relacionadas à agricultura 4.0 promovem um trabalho mais conectado e automatizado. Com isso, a tomada de decisões na fazenda passa a ser orientada em dados retirados do clima, da terra, da lavoura e do mercado em geral”, explica.

A Internet das Coisas

A Internet das Coisas (do inglês, Internet of Things, IoT), é uma rede de objetos físicos, veículos, prédios e outros que possuem tecnologia embarcada, sensores e conexão com rede capaz de coletar e transmitir dados. Ela emergiu dos avanços de várias áreas como sistemas embarcados, microeletrônica, comunicação e sensoriamento. De fato, a IoT tem recebido bastante atenção, tanto da academia quanto da indústria, devido ao seu potencial de uso nas mais diversas áreas das atividades humanas.

A Internet das Coisas, em poucas palavras, nada mais é que uma extensão da Internet atual, que proporciona aos objetos do dia a dia (quaisquer que sejam), mas com capacidade computacional e de comunicação, se conectarem à Internet. A conexão com a rede mundial de computadores viabilizará, primeiro, controlar remotamente os objetos e; segundo, permitir que os próprios objetos sejam acessados como provedores de serviços. Todavia, estas possibilidades apresentam riscos e acarretam amplos desafios técnicos e sociais. A busca constante pela produtividade e eficiência no segmento de proteína animal estimula as empresas a desenvolverem soluções cada vez mais focadas na gestão do negócio.

É o que explica Hivna de Brito, Marketing Manager da Big Dutchman. De acordo com ela, a implementação de Sistemas de Gestão seguindo as diretrizes da Tecnologia 4.0 hoje já é uma realidade no campo. A coleta de dados via sensores e análise dos mesmos através de “cloud systems” permite a tomada de decisões, remota e imediata, por um smartphone ou tablet. “As grandes indústrias se beneficiam desta tecnologia e integram os controladores aos próprios sistemas. Desta maneira é possível, de maneira ágil, atingir altos índices de produtividade e redução de custos”, diz. “O principal impacto desta transformação para o produtor está diretamente relacionado a melhoria da produtividade, tendo maior lucratividade para o mesmo e integradora, que se beneficiará com maior controle de produção, consumo de ração e tempo de abate.

Já os consumidores perceberão nas gôndolas dos supermercados preços mais baixos da proteína”, afirma Hivna. Nos últimos tempos, a avicultura nacional passou por um processo de inovação impressionante. Segundo Ricardo Ribeiral, Presidente do Sindirações, hoje o Brasil é uma referência para os principais países produtores do mundo na parte de sanidade, biosseguridade, nutrição, manejo e ambiência. “No caso da nutrição, os principais vetores de mudança e de inovação têm sido os consumidores e a evolução genética. Ambos vêm pressionando a nutrição cada um com seu direcionamento”, afirma Ribeiral. “No âmbito dos consumidores, a pressão por bem-estar animal e por dietas com menos antibióticos e livres de promotores de crescimento têm levado as empresas de nutrição a intensificarem suas pesquisas na busca de soluções que contemplem essas necessidades”, diz.

Probióticos, simbióticos, óleos essenciais, enzimas, nano tecnologias, além de vários estudos de novas composições nutricionais e de diferentes manejos estão sendo desenvolvidos, validados e implementados no mercado de aves, para atender essa demanda do consumidor, detalha Ricardo Ribeiral. Ele ainda explica que, no âmbito da genética, a pressão é ainda mais intensa. “O perfil genético das aves vem se atualizando e aprimorando cada vez mais rápido e a nutrição precisa estar preparada para otimizar esses incrementos genéticos”, diz.

Imagem que mostra um resumo do que é a Agricultura 4.0 na industria avícola

Nesta linha, Marco de Almeida, Diretor da Hendrix Genetics na América do Sul, aponta que o desafio da produção de alimentos exige antecipação de necessidades produtivas por parte de uma casa genética; antecipação que exige inovação continuada em direção a demandas clássicas de produtividade, tais como: a quantidade de ovos por ave alojada, eficiência alimentar, resistência de casca, longevidade e resistência a doenças dos animais, qualidade dos alimentos destinado a consumo final e outros. “Os melhoramentos fisiológicos genéticos têm sido notáveis, por exemplo, nos idos de 1960 uma tonelada de ração levaria as aves a produzir cerca de 5.000 ovos, atualmente, a mesma tonelada produz mais de 10.000 ovos”, diz.

“Sob o ângulo da produtividade existem diversas inovações em andamento e as que parecem oferecer maiores contribuições aos criadores e consumidores são relacionadas a ciclos de produção mais longos e sustentáveis; persistência produtiva; uso de insetos como nutrição alternativa dos animais, reduzindo concorrência por grãos; edição gênica ética, visando maior resistência a patógenos; e reprodução de animais com comportamento coletivo mais dócil, como alternativa já comprovadamente viável ao tratamento de bico”, destaca.

Ele ainda afirma que é de se observar que mesmo sob o prisma da produtividade a necessidade de antecipação inovadora não deve, em hipótese alguma, se restringir a aspectos quantitativos na busca do combate à escassez alimentar: obrigatoriamente deve considerar fatores de saúde do alimento, bem-estar animal e sustentabilidade.

Ainda sob esse foco, Eduardo Souza, Vice-Presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Aviagen, destaca que a evolução da indústria avícola nos últimos 100 anos foi impressionante. Em todas as áreas: saúde (vacinas e medicamentos), nutrição (exigências nutricionais e dietas balanceadas), equipamentos (incubatórios, granjas e abatedouros), técnicas de manejo e genética. “Na decisão de compra, valores tradicionais, tais como: preço, sabor e conveniência, estão cedendo espaço para alguns novos valores, como: saúde e bem-estar, segurança alimentar, transparência e impacto social.

Cada vez mais aumenta o número de consumidores interessados em saber de onde vem seu alimento e como ele é produzido. Muito acertadamente, o consumidor quer estar mais informado. Neste contexto, toda a cadeia produtiva precisa ser transparente. Nossa contribuição, como casa genética, é informar à sociedade como o processo de seleção funciona, como os objetivos de seleção são considerados de forma balanceada para melhorar as características de grande impacto econômico (como peso, conversão alimentar e rendimento), mas também como contempla aspectos de impacto social como a não utilização de antibióticos, e a contínua visão em critérios de bem-estar animal e sustentabilidade”, aponta Eduardo.


E o que é essa tal de IOT?
É a Internet das coisas (Internet of Things). São tecnologias que conectam informações coletadas através de equipamentos instalados no ambiente.

 

Já o Diretor Geral da Hy-Line do Brasil, Tiago Lourenço, aponta que o programa de melhoramento da poedeira comercial, extensos conjuntos de genes são testados e selecionados para atender às exigências do mercado e devem ser previstos com, pelo menos, 5 anos de antecedência. “Os resultados de campo confirmam uma tendência genética positiva contínua na produção de ovos e uma melhor eficiência alimentar que pode ser convertida em sustentabilidade e economia de diversos recursos, inclusive menor área necessária paraprodução de mais ovos”, diz. “O bem-estar animal e a adaptação para criação fora de gaiolas dominam as necessidades futuras do mercado. O comportamento de nidificação e a tendência mínima a desenvolver bicagem ou canibalismo sem tratamento de bico são os principais atributos, juntamente a cascas mais fortes para ciclos de produção mais longos sem muda devem ser combinadas com ossos melhores e fígados mais saudáveis”, relatou.

Há forte implementação de inovações nos processos produtivos, tanto no campo, quanto na fábrica, aponta Ricardo Santin, Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal. “Novos insumos, tecnologias em equipamentos nas granjas, introdução de novos processos na linha de produção, a inovação é pauta permanente na avicultura nacional. Esta preocupação é uma constante, não apenas nos investimentos e aplicação de novas técnicas, como também no debate com o Poder Público para a criação e atualização de legislações”, relata Santin.

Ele ainda destaca os impactos dessa transformação para o produtor e para o consumidor final. “Mais produtividade e mais tecnologia nos processos reforçam a segurança e, ao mesmo tempo, redução de custos para o consumidor. Um produto obtido com melhores índices de produtividade implica em custos reduzidos. A constante inovação nos diversos processos é um alicerce importante para a segurança alimentar e para a segurança dos alimentos para o consumidor do Brasil e do mundo”, afirma.

A transformação digital do campo
O avanço tecnológico, associado à internet das coisas e a uma geração que nasceu com habilidades de compreender o mundo digital com grande facilidade, deverá transformar todas as formas como tomamos decisões hoje, aponta Irenilza Nääs, Presidente da FACTA.

Imagem que remete ao uso da tecnologia dentro da industria avícola - dois homens em expressao de conversa e com um tablet na mão

No passado, o produtor rural, incluindo o avicultor, se desenvolveu com o conhecimento das gerações passadas, abrangendo inclusive experiências de regiões com características bem diferentes das nossas no Brasil. “Nos últimos vinte anos houve a incorporação das inovações tecnológicas, inicialmente de forma lenta e gradual. Mas o mundo mudou e os avanços tecnológicos, sobretudo aqueles que têm como suporte a tecnologia da informação, que foi barateando com o passar dos anos, permitiram que os produtos e processos inovadores pudessem ser absorvidos na agricultura como um todo e, na avicultura em particular.

São hardwares e softwares que associados a sensores e controladores, permitem entender situações de campo e prover suporte à decisão inclusive em tempo real”, é o que explicou Irenilza Nääs, Presidente da Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, FACTA.

Ela explica que o avanço tecnológico, associado à internet das coisas e a uma geração que nasceu com habilidades de compreender o mundo digital com grande facilidade, deverá transformar todas as formas como tomamos decisões hoje. Este futuro, segundo ela, já começou e faz parte de nossa vida em pequena ou larga escala, talvez até sem que não nos demos conta disto.

“O debate desta perspectiva e os impactos que tais transformações devem causar nos processos decisórios dos setores da agricultura, inclusive na avicultura, precisam ser discutidos e aprendidos. Tornar esta tecnologia acessível, simples e intuitiva, é o grande desafio das indústrias do mundo digital. Precisamos preparar as empresas, produtores e demais profissionais que atuam na avicultura para esta realidade”.
Irenilza Nääs, Presidente da FACTA

Irenilza aponta ainda que a avicultura 4.0 avança devagar, mas a passos firmes. De acordo com ela, já é possível realizar várias tarefas dentro de um centro de produção avícola de forma eletrônica e mecanizada, programada e com controle à distância.

“Existem, no Brasil e no mundo, várias soluções e vários pesquisadores em busca de aumentar este potencial de decisões mais precisas e em tempo real. Nas universidades brasileiras várias start-ups são criadas justamente visando este mercado agrícola novo.”, destacou. “Uma das novidades que a inovação 4.0 traz para a avicultura é a extensão das funcionalidades dos sistemas tradicionais de produção, integrando processos às plataformas digitais e suas tecnologias. No setor da avicultura, que adota soluções inovadoras para incrementar seu potencial de produção e exportação, a adoção desta nova geração de tecnologias não pode deixar de acontecer, com o risco de se afastar de produtividade que tem hoje”, destaca a presidente da FACTA, Irenilza de Alencar Nääs.

As perspectivas de diversas autoridades do setor avícola mostram que a inovação assume elevado grau importância para o desenvolvimento do mercado e na busca por produtos que atendam às exigências do consumidor final. E essa foi apenas a primeira parte da série especial de matérias produzidas através da parceria entre a Revista do AviSite e Agroceres Multimix, que ainda trará exemplos reais de tecnologia aplicada a favor da produção agrícola e ideias que mudaram a forma de produzir proteína animal com qualidade e em escala comercial.


Autora: Giovana de Paula, editora da Revista do Avisite.

 

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

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