Ter como rotina a avaliação do escore de fezes é uma forma fácil e prática de avaliar a saúde ruminal do animal. Oscilações no padrão de fezes podem ocorrer devido a um manejo no curral, mudança de rotina, alteração de dieta ou por alguma enfermidade que acometa o rebanho. Indiretamente, a avaliação das fezes também pode ser um ótimo caminho para avaliar a qualidade e eficiência da dieta.
As variações dos tipos de fezes podem ser analisadas por diferenças de consistências (líquida, mole, pastosa, firme, dura), na coloração (clara, esbranquiçada, escura e preta) e nas características físicas (odores, presença de grãos, bolhas, muco, sangue).
O uso da leitura do escore de fezes é uma ferramenta sem custo e fácil de ser incorporada à rotina do confinamento. Pode ser considerada como um dos itens do check list de rotinas, contribuindo para o monitoramento do manejo nutricional.
Na prática, são avaliadas as fezes de um grupo de animais e/ou piquetes, por amostragem, com a mesma dieta. O importante é que sejam adotados os mesmos critérios em todas as avaliações para permitir a comparação e analisar a evolução ao longo dos dias de cocho.
Um funcionário da propriedade pode ser treinado e executar leituras diárias ou semanais do escore de fezes. Para essas leituras são atribuídas notas, podendo variar de 1 a 5, que correspondem às variações de consistências: líquida, mole, pastosa, firme e dura. Ainda, as características físicas e de coloração podem enriquecer a coleta de informação.
O “escore ideal” corresponde as fezes na consistência pastosa (nota 3), sem odor, com poucos, ou nenhum, grãos aparentes e coloração verde amarronzada. Todas as variações que ocorrerem a partir desse padrão devem ser investigadas. Não se pode considerar essa avaliação como um diagnóstico do problema, mas como um indicativo do problema, sugerindo possíveis causas.
Um dos focos relacionado à dieta, que apresenta interferência direta no escore de fezes é teor de fibra fisicamente efetiva (fibra longa). O balanceamento da dieta é de suma importância para a manutenção do pH ruminal e a maximização do aproveitamento da energia proveniente dos alimentos.
Os aumentos observados na utilização de concentrado e redução de fibra nas dietas, assim como a utilização de alimentos com diferentes tipos de processamentos, são observados em decorrência de um maior surgimento de desordens digestivas. Essas desordens metabólicas geralmente vêm acompanhadas de diarreia e alteração nas características das fezes.
Em grande parte das dietas formuladas para bovinos de corte, o volumoso é fonte de fibra longa e fisicamente efetiva, o que determinará como será o funcionamento do rúmen. O excesso de fibra fisicamente efetiva, assim como a falta dela, prejudicam o desempenho dos animais e causa alteração direta na consistência das fezes.
A fibra fisicamente efetiva é a fração do alimento que estimula a mastigação, a produção de saliva e a motilidade ruminal, e está relacionada com o tamanho de partícula. O tamanho das partículas influencia a estratificação do conteúdo ruminal (partículas maiores na porção superficial e partículas menores distribuídas mais ao fundo). O estímulo à motilidade permite aumentar o contato do substrato com as enzimas dos microrganismos do rúmen, auxiliando na ruminação e na renovação de conteúdo ruminal, ajudando a aumentar a taxa de passagem e manutenção do processo digestivo.
A porcentagem mínima recomendada de FDNfe (fibra fisicamente efetiva) para manter o rúmen com um bom funcionamento, irá variar conforme o perfil da dieta e genética do animal. Estabelecendo um limite mínimo seguro, seria de 10 a 15% para dietas com o uso de ionóforos.
Na prática, a observação das fezes resumirá todo esse processo que acontece dentro do rúmen. Sendo considerada como a “dedo duro” do sistema de produção, ela sinalizará a eficiência da dieta formulada e/ou uma falha dentro do manejo.
Ao encontrar fezes mais firmes e aneladas dentro de um mesmo lote de confinamento, pode-se inferir que há um excesso de fibra na dieta ou falta de proteína. Esse excesso pode se dar por falta de ajuste da MS (matéria seca) do volumoso dentro da formulação ou por uma dieta desbalanceada (deficiente em PDR (proteína degradável no rúmen)), que não está atendendo a exigência do animal. Ambos os fatores podem comprometer os resultados, pois causam restrição de consumo de MS, devido à digestão mais lenta do alimento ingerido e baixa renovação do conteúdo ruminal.
Por outro lado, quando se encontram fezes moles e animais com o “traseiro sujo”, há um indicativo de falta de fibra na dieta. Pode ser observado, concomitante a essa avaliação das fezes, um consumo de matéria seca variável e seleção da dieta no cocho por falta de homogeneidade na mistura. Se não for ajustada a dieta e corrigida a falha no manejo, essa consistência mole pode evoluir para uma forma líquida e acompanhada de odor forte, presença de muco e bolhas, podendo caracterizar um quadro de acidose e distúrbios metabólicos. Tudo isso é reflexo de uma acidificação do pH ruminal, causada pelo comprometimento do estímulo da ruminação, reduzindo o crescimento microbiano, o que interfere diretamente na eficiência de extração de nutrientes dos alimentos fornecidos na dieta.
A resposta do animal estará diretamente associada ao consumo de matéria seca. As fezes são um retrato fiel de como o animal foi tratado e manejado no ambiente confinado, assim como a qualidade dos alimentos que foram utilizados na formulação da dieta.
É indispensável considerar, juntamente com a avaliação das fezes, outros fatores importantes para compor o cenário de análise, como: leitura de cocho, qualidade da água, FDNfe, qualidade e tempo de mistura. Esses últimos podem ser “dedurados” por variações no padrão de fezes dentro de um mesmo curral.
Assim, como uma informação prática, rápida e sem custo, a avaliação das fezes no confinamento auxilia técnicos, proprietários e funcionários envolvidos na atividade em tomadas de decisões importantes que poderão impactar diretamente no sucesso da operação.
Algum medicamento pra esse poblema?
Caro Josiel, a medicação de animais depende da avaliação criteriosa de diferentes fatores. Sugerimos como opção mais segura para a adoção de qualquer medida medicamentosa a consulta a um médico veterinário. Um abraço!