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RIP quebra paradigma da pecuária brasileira

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Técnica dá impulso à intensificação, otimizando a produção de arrobas/ha e reduzindo o ciclo produtivo em 8-9 meses

Não avalie a Recria Intensiva a Pasto (RIP) a partir de visões pré-concebidas. É perfeitamente viável fornecer quantidades maiores de ração aos animais a pasto, afinal, este é o melhor momento de explorar todo seu potencial de conversão alimentar, transformando alimento em carne”, afirma Matheus Moretti, gestor técnico da Agroceres Multimix, que segue questionando: “Por que o produtor, frequentemente, considera normal investir no chamado sequestro; acha normal tratar os animais nesse sistema com uma dieta contendo de 20%-40% de concentrado, mas se espanta ao falarmos em fornecer ração na faixa de 0,5% a 1% do peso vivo na RIP? A quantidade é a mesma! Dados, tanto de pesquisa quanto de campo, mostram que o desempenho dos animais é muito próximo. Neste caso, tudo é questão de onde se coloca o cocho no processo de intensificação, no confinamento ou no pasto”.

Deixando o paradigma do uso de ração a pasto de lado, o avanço da RIP no País esbarrou em questões operacionais, devido à realidade das fazendas de gado de corte e o desafio da mão de obra. Tratar dos animais diariamente, movimentando grandes quantidades de ração pelas pastagens, por longo período, inviabilizava sua adoção em projetos de média a grande escala. “Sabíamos do potencial da estratégia, tínhamos resultados promissores, porém esbarrávamos na operação. Foi aí que surgiu a solução da ração com modulação de consumo”, diz Moretti.

Após vários testes e experiências de campo, entendeu-se como a modulação funcionava e comprovou-se o potencial da estratégia, que permite o fornecimento de ração duas a três vezes por semana, ao invés de todos dos dias. Ou seja, manteve-se os ganhos esperados e otimizou-se a operação. “A partir daí, somente vimos o uso da RIP crescer, tanto na recria de animais para abastecer a engorda, principalmente em fazendas que tinham adotado a TIP, quanto em projetos de cria, visando acelerar a reposição das fêmeas, que passaram a entrar em reprodução aos 14 meses”, comenta Moretti.

Dê atenção ao pasto
Na RIP, a alimentação dos animais é composta em 50%-70% de forragem, por isso o pasto precisa ser bem manejado e, preferencialmente, adubado para reposição de nutrientes, pois o sistema trabalha com lotações altas, podendo chegar a 4-6 cab/ha. Por mais que o fornecimento de ração reduza o tempo de pastejo do animal e sua dependência em relação ao capim, não se obtém bons resultados em ganho individual e em arrobas/ha sem esse alimento básico, o “arroz-com-feijão” da pecuária bovina brasileira. “Fazendo uma analogia simples, se a gramínea forrageira for um volumoso de baixa qualidade como um bagaço de cana (somente fibra), o animal não terá o mesmo desempenho observado em uma pastagem bem cuidada, ‘tipo silagem boa’ (rica em energia)”, compara Moretti.

Outro detalhe importante é o planejamento forrageiro. Se os bezerros desmamados entram no sistema em maio, por exemplo, já se sabe que irão sair em janeiro/fevereiro, cedendo lugar a novos lotes. Para garantir um fluxo contínuo de animais, é preciso ter reserva de pasto (vedar áreas) ou recorrer à adubação estratégica. Pode-se fazer aplicações de adubo nitrogenado tanto no início das águas, para acelerar a saída do capim, quando no final do período chuvoso, vedando parte dos pastos, estocando forragem para o período seco. Tudo depende do cronograma de reposição de animais da fazenda. O fundamental é planejar as operações para evitar escassez de forragem em momentos críticos. Deve-se buscar a perenidade do sistema. “Cuidado para não pesar na lotação e rebaixar demais o pasto, porque você pode ficar sem forragem para o ciclo seguinte”, alerta o técnico da Agroceres.

Como o capim representa 50%-60% da dieta dos animais na RIP e a composição nutricional desse alimento sofre variações ao longo do ano, é necessário ajustar a ração, em momentos específicos, para garantir as necessidades dos animais. “Recomendamos o uso de formulações diferentes para águas (20%-25% de proteína bruta) e para a seca (25% a 30% de PB), sempre contando com orientação técnica”, explica Moretti.

Deve-se também dimensionar bem a área, para que o tamanho do piquete seja compatível com o número de animais alojados. “Evite trabalhar com lotes muito grandes, porque eles tendem a apresentar maior variação de desempenho e maior dificuldade no manejo de pastejo. Lembre-se que o cocho é o prato dos animais: ofereça pelo menos 20 cm de espaço linear por cabeça, visando evitar disputa pelo alimento e formação de “fundo” (bovinos que engordam menos, por comer menos). Caso a fazenda opte por fazer RIP nas águas, os cochos precisam ser cobertos e ter boa capacidade de armazenamento. Vale a pena posicionar os bebedouros a certa distância dos cochos. Assim como na TIP, essa ação ajuda a manter a água mais limpa.

Ração com modulador de consumo facilita o manejo na recria intensiva a pasto, possibilitando trato apenas duas ou três vezes por semana.


Como avaliar resultados

Os resultados da RIP, contudo, não podem ser avaliados somente pelo ganho individual do animal. Seu benefício vai além. Dado o aumento do GMD e da lotação, colhe-se mais arrobas por hectare e em menor espaço de tempo. Se, por um lado, o boi 7.7.7 tratou da produção de arrobas sob o ponto de vista do animal, propondo 7@ na recria em até 12 meses, a RIP trata o sistema com os olhos voltados para o hectare, elevando a produção de arrobas na recria.

De forma geral, é importante frisar que a RIP permite encurtar esse período, aumentar a taxa de lotação, reduzir o custo fixo por cabeça/mês e,  consequentemente, obter maior lucro por hectare. A proposta é simples: fornecer ração aos animais pós-desmama de duas a três vezes na semana, com autoregulação do consumo na proporção de 0,5% a 1% do peso vivo. Os ganhos variam de 650 g a 1 kg/cab/dia, sob lotações de 3 a 5 UA/ha, resultando em produção de 7@/cab e 28-35@/ha, em oito a nove meses. Evidentemente, cada fazenda tem sua realidade, o que exige ajustes na estratégia.

Um lembrete importante: não basta planejar as ações associadas ao sistema; é fundamental executá-las bem e, principalmente, monitorá-las para identificar eventuais gargalos ou erros de manejo. Se bem conduzida, a RIP possibilita abater bovinos mais jovens e pesados, com bom acabamento de gordura, que atendem tanto o mercado chinês quanto projetos de carne premium ou possibilita emprenhar novilhas aos 13-14 meses e produzir “bezerros do cedo”, que desmamam mais pesados.


Assista à entrevista de Matheus Moretti sobre a RIP

Fique de olho
Ao longo de 2020, a tecnologia da Recria Intensiva a Pasto (RIP) foi apresentada em reportagens publicadas nas edições de junho e agosto da edição impressa da revista DBO, além de uma página criada na internet especialmente para o projeto, conduzido em parceria com a Agroceres Multimix . Lá você encontra vídeos, entrevistas sobre
a RIP e farto material técnico para auxiliá-lo na gestão de seu negócio.

Também encontra textos sobre a TIP (terminação intensiva a pasto), tema do projeto em 2019. Consulte a página (www.portaldbo/agroceres) e nos envie suas dúvidas por nossas redes sociais.

Autora: Maristela Franco, editora chefe da Revista DBO.


Nutrição Animal – Agroceres Multimix

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