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Nutrição estratégica para a saúde de bezerras

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Nos últimos anos, o foco na melhoria das condições de criação de bezerras leiteiras tem sido extremamente importante para o avanço dos índices produtivos durante essa fase. Apesar disso, ainda se observam taxas de morbidade (% de bezerras doentes em relação ao total do rebanho) e mortalidade elevadas, sendo os distúrbios gastrointestinais, como a diarreia, um dos responsáveis por esses resultados.

Pesquisas recentes (Winder et al., 2018; Becker et al., 2020; Schinwald et al., 2021) mostram que em torno de 55% das mortes em bezerreiros está atribuída a problemas de saúde intestinal. No entanto, mesmo quando o animal não chega ao quadro de morte, está sujeito a severas consequências, incluindo desidratação, acidose metabólica, bacteremia, resultando na redução no ganho médio diário (GMD) e aumento nos custos de criação. Dessa forma, quando o assunto é saúde e imunidade dos animais neonatos, ainda existem questões a serem melhoradas. É importante salientar que a manutenção da saúde intestinal das bezerras é ponto-chave na prevenção de doenças e estímulo da imunidade, uma vez que o intestino é porta de entrada de diversos patógenos causadores de problemas.

Nesse sentido, o sistema imunológico da mucosa do intestino está preparado com uma série de barreiras físicas, químicas e um enorme repertório de células envolvidas na execução das defesas do epitélio intestinal (Malmuthuge e Guan, 2016). A camada mucosa é a primeira barreira física do intestino, e secreta mucinas glicosadas, que protegem a microbiota intestinal. Logo abaixo dessa mucosa, encontra-se uma única camada de células epiteliais, conectadas por junções estreitas, que regulam a passagem de macromoléculas. Já a barreira química produz peptídeos antimicrobianos e IgA, que se ligam a bactérias patogênicas, de forma a diminuir seu crescimento (Gutzeit et al., 2014). Apesar de todo esse aparato imunológico e fisiológico, animais recém-nascidos são mais susceptíveis a problemas gastrointestinais. O que acontece é que existem variações na expressão do microRNA, que está intimamente ligado ao desenvolvimento de células epiteliais. Ou seja, uma das primeiras barreiras físicas do intestino encontra-se em maturação e, por isso, enquanto o processo de amadurecimento dessas células não acontecer por completo esses animais têm maiores chances de absorver bactérias e suas toxinas.

Um fato interessante é que, no intestino das bezerras existem comunidades de microrganismos (microbioma) que vivem em simbiose com o hospedeiro e desempenham papel crucial no desenvolvimento, maturação e homeostase da mucosa intestinal (Vinayamohan et al., 2024). Ao passo que essas comunidades são afetadas, problemas gastrointestinais, como a diarreia, se tornam mais frequentes.

Nos últimos anos, pesquisadores em todo o mundo tem focado seus estudos em formas de melhorar a saúde das bezerras, por meio da manipulação do microbioma gastrointestinal. Em alguns desses trabalhos, se observou que, conforme o animal aumenta o consumo de concentrado, ocorrem alterações importantes nas comunidades microbianas (Malmuthuge et al., 2013; Malmuthuge e Guan, 2016). Nesse sentido, à medida que o rúmen da bezerra se torna funcional, maiores quantidades de conteúdo ruminal chegam ao intestino, fazendo com que a funcionalidade das barreiras intestinais seja comprometida. Ou seja, além de todos dos patógenos comumente responsáveis por quadros de diarreia em bezerras em suas primeiras semanas de vida, existe contribuição da dieta também em causar lesões da parede intestinal, abrindo porta para que demais infecções aconteçam.

Esse fato chama a atenção de técnicos de campo e da indústria, no sentido que, se grande maioria das infecções e respostas imunes acontecem no intestino, algo deve ser feito para que os problemas gastrointestinais em bezerras tenham menor impacto sobre a rentabilidade das fazendas. Dessa forma, existe grande ajuda da pesquisa no desenvolvimento de ferramentas, via nutrição, que auxiliam na proteção física, através do espessamento do epitélio intestinal (Górka et al., 2018), melhorando a resposta imune local (Zhong et al., 2023), a inativação de substâncias capazes de danificar o intestino, como as micotoxinas, e o controle de microrganismos indesejáveis.

Uma das formas utilizadas para controle de microrganismos patogênicos no intestino de bezerras é a combinação de bactérias probióticas, via alimentação. Os dados publicados por Wang et al., 2021 mostram respostas interessantes, conforme as bezerras receberam doses mais elevadas de probióticos no concentrado inicial (gráficos abaixo).

Os resultados desse trabalho são positivos. Nesse sentido, foi observado aumento da atividade imunológica, suportado pelo fato de que ocorreu elevação das concentrações de proteína sérica total (primeiro gráfico), imunoglobulinas totais (segundo gráfico) e a capacidade antioxidante total (terceiro gráfico). Além disso, outros trabalhos mostraram aumento da captação de energia, por meio da ativação de bactérias intestinais que utilizam melhor os nutrientes, principalmente os carboidratos (Zhong et al., 2023). Já a extensa revisão de literatura escrita por Yao et al., 2022, mostra que a suplementação de leveduras tem efeito positivo sobre o desenvolvimento de papilas ruminais, microbioma e aumento da concentração de imunoglobulinas circulantes.

Todos esses resultados são promissores. Eles vêm para ajudar a melhorar o que basicamente já deve ser feito na fazenda. Ou seja, a manutenção da transferência de imunidade passiva, através de uma colostragem eficaz, fornecimento de leite de transição, plano nutricional adequado (dieta líquida e sólida), rotina no manejo e o cuidado com os animais. A soma de tudo isso traz benefícios na redução do uso de medicamentos, na melhoria do desempenho, diminuição da mortalidade e, como consequência, a entrada de vacas futuras mais produtivas e sadias nos rebanhos.

 

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