Resíduo úmido de cervejaria, também chamado de resíduo úmido de cevada ou, ainda, erroneamente chamado apenas de cevada, é um coproduto da indústria de cerveja composto pela parte sólida da mistura de malte de cevada e adjuntos (milho, arroz, trigo, aveia, entre outros). Os adjuntos são matérias-primas mais baratas do que o malte e fornecem parte dos açucares necessários para produção de cerveja. O objetivo da indústria é utilizar o amido e açucares como substrato para ação de microrganismos e posterior produção de cerveja. O resíduo é um alimento palatável, com boa composição nutricional e, geralmente, apresenta boa disponibilidade o ano todo, sendo um bom ingrediente para ser utilizado em dietas de ruminantes.
É um alimento proteico, com cerca de 25 a 32% de proteína bruta, e se apresenta como boa fonte de proteína não degradável no rúmen (PNDR), no qual, cerca de 40 a 50% da sua proteína bruta escapa para o intestino, onde será absorvida e utilizada pelo animal.
Em relação ao perfil de aminoácido, o resíduo úmido de cervejaria é um alimento rico em metionina e pobre em lisina, sendo um bom complemento ao farelo de soja (pobre em metionina e rico em lisina). A metionina e a lisina são considerados os primeiros aminoácidos limitantes para produção de ruminantes.
É um coproduto com baixo teor de amido, uma vez que o amido é utilizado no processo de produção de cerveja. Apresenta bom valor energético, com o NDT variando de 62 a 80%, e elevado teor de FDN, entre 45-65%, podendo ser usado de forma estratégica em dietas energéticas, ricas em amido, podendo ajudar na prevenção de acidose.
Esse insumo deve ser bem avaliado em relação ao seu uso na alimentação de ovinos, uma vez que apresenta níveis elevados de cobre (10 a 20 ppm), elemento extremamente tóxico para esses animais (consumo acima de 10 ppm de cobre pode causar intoxicação).
Como todos os resíduos utilizados na alimentação animal, o resíduo úmido de cervejaria pode apresentar variações em sua composição, devido as diferentes matérias-primas utilizadas na fabricação de cerveja, além dos diferentes processos utilizados nas cervejarias, por isso, é importante monitorar a composição desse resíduo sempre que possível e realizar os ajustes necessários na dieta.
Processo que origina o resíduo úmido de cervejaria
A principal matéria prima utilizada na produção de cerveja, além da água, são os cereais maltados, sendo a cevada o mais utilizado. O processo que envolve a produção do malte se chama malteação e consiste em promover a germinação do grão através de condições controladas de umidade e temperatura. Ao promover a germinação, o grão libera suas enzimas que transformarão o amido em açucares simples que servirão como alimento para leveduras realizarem a fermentação.
Após obter o malte inicia-se a etapa de mosturação que pode ser considerada o início do processo de produção de cerveja propriamente dito. De maneira simplista, o resíduo úmido de cervejaria é obtido da seguinte forma: o malte prensado é cozido junto com os adjuntos, obtendo-se assim o mosto. O mosto é então filtrado, originando uma porção sólida e uma porção líquida. A fração líquida, rica em açucares, será fermentada, sendo que, além da multiplicação das leveduras, os açúcares serão convertidos em CO₂ e álcool para continuidade do processo de produção da cerveja.
A fração sólida, obtida na filtragem do mosto, corresponde ao resíduo úmido de cervejaria, que pode ser descrito como: uma mistura da casca dos grãos e compostos que não foram solubilizados durante o processo de produção do mosto (mosturação), sendo um material rico em lignina e celulose, apresentando maiores níveis de proteína e carboidratos do que os grãos de origem.
Principal limitação para seu uso
Sem dúvida a principal limitação para o uso desse resíduo é a sua elevada umidade, que pode variar entre 80 e 85%. Alguns problemas podem ser causados devido ao baixo teor de matéria seca:
– Dificuldade do transporte do material em longas distancias, além de encarecer o frete;
– O armazenamento e conservação são difíceis, uma vez que alimentos úmidos fornecem condições ideais para ação de microrganismos que degradam o alimento. A ação dos microrganismos pode fazer com que o alimento perca a palatabilidade e nutrientes o que pode reduzir o consumo e ainda ocasionar doenças nos animais;
– Manejo de cocho pode exigir mais atenção, pois dietas muito úmidas podem fermentar e estragar com mais facilidade no cocho, o que exigirá um maior cuidado com a quantidade de tratos por dia e com a limpeza de cocho;
– O consumo de matéria seca também pode ser prejudicado devido ao excesso de água.
O ideal é que a propriedade esteja localizada próxima à fábrica de cerveja, assim, além de economizar com o frete, poderá receber o material com maior frequência, o que facilita o seu armazenamento, que pode ser feito em um box comum de insumos (limpo e, se possível, com uma certa inclinação para que a água possa escoar), além de ter sempre um alimento novo e com boas condições de consumo. O ideal é que o alimento seja consumido até, no máximo, 5 dias, mas é importante considerar o clima da região, uma vez que, em locais mais quentes a tendência é que esse alimento deteriore mais rápido.
Alguns métodos são utilizados na tentativa de evitar que o resíduo se deteriore ao ser armazenado na propriedade, como por exemplo: adição de sal branco (NaCl), ensilagem e secagem ao sol. Mais estudos sobre a eficácia desses métodos são necessários, além disso, se considerarmos que muitas propriedades apresentam certa dificuldade no manejo de alimentos com menos umidade, como é o caso de silagens convencionais (milho, sorgo, capim, entre outros); em alimentos com alta umidade, como é o caso do resíduo úmido de cervejaria, a dificuldade tende a ser um pouco maior.
Normalmente, a secagem desse tipo de resíduo é onerosa para a indústria, por isso é mais comum encontrar o resíduo úmido de cervejaria. É importante frisar que métodos térmicos de secagem, se feitos de forma incorreta, podem alterar nutricionalmente o alimento. Portanto, se informar como a secagem foi feita ajuda a avaliar se o alimento vale a pena ou não.
Para finalizar…
O resíduo úmido de cervejaria é um excelente alimento, mas se utilizado de forma equivocada pode causar desordens metabólicas, como acidose, ou ainda, provocar doenças relacionadas à contaminação por fungos e bactérias nos animais.
Vale ressaltar que avaliar um alimento, seja ele um coproduto ou não, é muito mais do que apenas saber seus níveis nutricionais. Qualquer alimento exige cuidado com seu armazenamento e conservação, assim como é necessário saber combinar todos os ingredientes disponíveis para formulação de uma dieta ou suplemento de forma que, além de obter o melhor custo-benefício, seja possível alcançar o máximo desempenho produtivo da fazenda.
Lembre-se:
Ingredientes úmidos, como o resíduo de cervejaria, precisam ser constantemente monitorados em relação ao teor de MS (matéria seca).
Falamos mais sobre este assunto no nosso último texto: Cuidados com os ingredientes úmidos.
Otimo trabalho, obrigado por compartilhar conhecimentos. Att Marcio A Fernandes