A influenza aviária é uma doença viral altamente contagiosa classificada como doença de notificação obrigatória pela Organização de Saúde Animal (WOAH, sigla em inglês) e não há tratamento específico para essa enfermidade. Ela afeta várias espécies de aves domésticas e silvestres, principalmente as aquáticas (em sua forma mais agressiva), além de mamíferos como cães, gatos, ratos, suínos, cavalos e até mesmo o homem (MAPA, 2023).
Influência Aviária de baixa e alta patogenicidade
A enfermidade pode ser subdividida de acordo com sua capacidade de provocar sinais clínicos severos, sendo classificada como:
Influenza aviária de baixa patogenicidade (IABP): resulta em sinais subclínicos que podem passar despercebidos;
Influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP): sua disseminação ocorre rapidamente, podendo atingir todo o lote em menos de 48 horas. Afeta múltiplos órgãos e pode repercutir em apatia, edema facial, inchaço da crista e barbela com coloração arroxeada, diarreia, sinais neurológicos (andar cambaleante) e respiratórios (tosse, espirros, muco e hemorragias), além de queda brusca na produção de ovos em galinhas de postura. Resulta ainda em alta mortalidade, acima de 75%.
Apenas os vírus com hemaglutininas H5 e H7 têm provocado alta patogenicidade até o momento (MAPA, 2006; UFPEL, 2021; EMBRAPA, 2023; MAPA, 2023).
Até o momeento, não foram registrados casos de influenza aviária no Brasil. Apesar disso, várias notificações de focos de IAAP têm surgido ao redor do mundo nos últimos meses, incluindo América do Sul.
Influência Aviária e sua disseminação no mundo
Focos de influenza aviária têm sido reportados em diversos continentes e países ultimamente, incluindo: França, Noruega, Islândia, Holanda, China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália, África do Sul, Inglaterra, Itália, Alemanha, Rússia, Canadá, Estados Unidos, México, Honduras e Panamá.Considerando a América do Sul, já foram afetados: Colômbia, Equador, Peru, Chile, Bolívia e mais recentemente o Uruguai. Trata-se dos primeiros registros da doença em diversos dos países afetados na América do Sul.
Além da rapidez da transmissão da doença entre aves através do contato direto (secreções nasais, oculares e excretas de aves contaminadas), ou indireto (água, alimento, fômites, circulação de pessoas, insetos, roedores, cama e carcaça contaminadas, entre outros), há fatores que contribuem para sua transmissão para outros países e continentes, que são (UFPEL, 2021; MAPA, 2023):
- Migração de aves
- Globalização e comércio internacional
- Venda de aves vivas
O impacto da Influência Aviária no mercado de frango e ovos
O Brasil, que é livre de Influenza Aviária, acabou tendo o cenário de exportações de carne de frango favorecido pela incidência da enfermidade em diversos países, além de outros fatores como o conflito entre Rússia e Ucrânia e o aumento de custos de produção na União Europeia.
As exportações brasileiras de carne de frango totalizaram 4,822 milhões de toneladas em 2022, o que representou um avanço de 4.6% em relação ao total exportado em 2021 (ABPA, 2023). Esse volume gerou uma receita de US$ 9,76 bilhões, valor 27.4% superior ao ano anterior.
Com relação ao mercado de ovos, países como Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e Nova Zelândia passam por uma escassez de ovos. Nos Estados Unidos, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2023), o surto atual resultou na morte de mais de 44 milhões de aves poedeiras, o equivalente a aproximadamente 4 a 5% do plantel norte-americano.
Na Europa, além da ocorrência da enfermidade, o cenário é agravado com a guerra entre Rússia e Ucrânia, assim como os aumentos de custos de produção, como alta dos grãos e energia elétrica. Por fim, na Nova Zelândia em 2012, foi determinado por lei que haveria uma transição gradual da produção de ovos com aves livre de gaiolas com o prazo limite ao início de 2023. Dessa forma, a produção de ovos, com essa transição, não foi suficiente para acompanhar a demanda por ovos no país.
A exportação de ovos do Brasil em 2022, por sua vez, caiu 16.5% comparado ao ano anterior, com um volume exportado de 9,47 mil toneladas. No entanto, considerando a receita anual de US$ 22,419 milhões, houve um acréscimo anual de 24.2%.
Considerando a grandeza e importância do Brasil no mercado mundial de carne de ovos, a entrada da Influenza Aviária no país impactaria não somente o mercado interno brasileiro, mas também as ofertas de produtos para as exportação, principalmente carne de frango.
Segundo estimativas do USDA (2023), o país deverá representar cerca de 14.32% da produção mundial em 2023, com uma estimativa de 14,74 mil toneladas, ficando atrás somente dos Estados Unidos.
Medidas de prevenção contra a Influência Aviária no Brasil
O Brasil tem intensificado as medidas de prevenção contra a Influenza Aviária. Esse trabalho está sendo desenvolvido no sentido de (MAPA, 2023):
- Aumentar as ações de vigilância, seja pelo serviço veterinário oficial, ou pelos órgãos ambientais, incluindo também a vigilância em portos e aeroportos pelo Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional;
- Reforçar medidas de biosseguridade nas granjas pelos avicultores;
- Lançar campanhas de conscientização, como a “Influenza Aviária? Aqui não!” desenvolvida pelo Ministério da Agropecuária, Pecuária e Abastecimento;
- Aumentar a capacidade de detecção precoce de casos suspeitos e de comprovação da condição livre da doença;
- Promover treinamentos teóricos e práticos visando as ações de prevenção e atuação emergencial para o controle da doença, se for o caso;
- Desenvolver um Plano de Comunicação direcionado para todos os públicos envolvidos com aves, com a finalidade de alertar sobre os riscos da introdução da enfermidade e aplicar a notificação imediata ao serviço veterinário oficial em caso de suspeita;
- Aumentar a capacidade de atendimento a demandas de diagnósticos laboratoriais para a Influenza Aviária, assim como treinamento e capacitação de profissionais;
- Interação entre o MAPA, órgãos estaduais de sanidade agropecuária, setor privado de avicultura, Embrapa, universidades, entre outros;
- Buscar conhecimento em reuniões e fóruns de discussão com instituições internacionais e países vizinhos, para a atualização de informações, definição de estratégias e cooperação para o combate à doença.
Passamos por um momento delicado, em que é necessário reforçar os conceitos e a aplicação de medidas de biosseguridade nas granjas brasileiras, além de realizar um trabalho de excelência em conjunto com órgãos e instituições competentes.