O alojamento coletivo de fêmeas em gestação está substituindo gradualmente os sistemas de alojamento individual, em gaiolas, em sistemas de produção de suínos no mundo todo, e no Brasil não é diferente. Em levantamento realizado, cerca de 61% das granjas nacionais já alojam fêmeas em gestação, a partir dos 30 dias até o parto, em baias coletivas (Callegari et al., 2019), mesmo o país não possuindo legislação que obrigue sua utilização. Em partes, isso se explica pela pressão do mercado que demanda – e demandará cada vez mais – que as fêmeas estejam alojadas em grupos sociais estáveis, que promovam bem-estar e a percepção dos técnicos e produtores de que é há vantagens e ganhos em produzir animais em sistemas coletivos.
Diante disso, houve empenho de toda a cadeia (agroindústrias e produtores) em substituir paulatinamente o sistema de alojamento, com proposta para o final da transição de readequação das granjas, para 2025-2026. Porém, é necessário avaliar uma série de aspectos inerentes ao sistema, que são chave para manejos eficientes e bem-sucedidos.
Diante da iminente necessidade de se readequar os sistemas, os produtores e técnicos devem ser capazes de escolherem qual sistema melhor adapta-se à realidade da granja, considerando tanto aspectos estruturais e econômicos, quanto aspectos comportamentais, fisiológicos e de ordem prática, relacionados aos diversos manejos aplicados à fêmea gestante. Dentre eles, o tamanho das baias, o tamanho dos grupos alojados, o sistema de arraçoamento a ser empregado, características das instalações e sua relação com a ambiência, são alguns dos fatores de grande impacto sobre os resultados obtidos em sistemas de alojamento coletivo.
Gaiolas individuais x Baias coletivas: vantagens e desvantagens dos sistemas
Primeiramente, é necessário entender que ambos os sistemas apresentarão suas vantagens e desvantagens. As gaiolas permitem a individualização da alimentação, melhor supervisão dos animais e evitam agressões entre fêmeas, contudo, podem proporcionar problemas relacionados ao bem-estar, como ocorrência de comportamentos estereotipados, doenças urinárias e privação da capacidade de se exercitar. Já o alojamento em baias coletivas, desde que adequadamente implementado e manejado, permite melhorias da condição sociais e comportamentais, reduzindo os níveis de estresse, sem alterar o desempenho reprodutivo das fêmeas (Li e Gonyou, 2013; Jang et al., 2017). Os efeitos a longo prazo também tendem a ser favoráveis, estudos demonstraram que fêmeas alojadas coletivamente ao longo da vida produtiva apresentaram maior resistência óssea, menor atrofia muscular e menores níveis de cortisol do que fêmeas alojadas individualmente em gaiolas (Marchant and Broom 1996; Hemsworth et al., 2006).
Porém, o alojamento coletivo demanda também uma série de cuidados, como a participação de colaboradores experientes para seu manejo, instalações de boa qualidade que suportem o grupo, bom planejamento produtivo e fluxo de produção, além de informações precisas sobre o consumo das porcas em gestação. A Tabela 1 resume vantagens e desvantagens dos sistemas individuais e coletivos de alojamento. Ainda, dentro dos sistemas coletivos, existem diferenças que se relacionarão ao tamanho da área disponível para as fêmeas, o tamanho dos grupos, o tipo de piso empregado, além de fatores relacionados à ambiência.
Tabela 1. Vantagens e desvantagens dos métodos de alojamento individual e coletivo de porcas em gestação
Vantagens | Desvantagens | |
Gaiola individual | Alimentação individualizada; Fácil supervisão; Baixa incidência de brigas. | Elevada incidência de estereotipias; Conduta apática; Recorrência de interações sociais negativas; Lesões de cascos e patas; Infecções do trato urinário. |
Baia coletiva | Interação entre os animais; Redução dos níveis de estresse; Menor risco de problemas sanitários; Redução de estereotipias. | Desafios com o tipo de piso utilizado; Aumento de problemas locomotores; Maior ocorrência de brigas; Desafios em relação à competição por alimentos. |
Adaptado de MAPA (2018)
Área livre disponível: a relação entre tamanho de baia e tamanho do grupo
As fêmeas em gestação coletiva podem ser alojadas em grupos que chegam a variar de 6 a 500 animais sendo que, no Brasil, a maior parte dos grupos é formada por 9 animais (Callegari et al., 2019). A determinação do número de fêmeas por grupo depende diretamente da superfície livre disponível, que é a área sem obstáculos destinada ao animal, onde eles farão as atividades (MAPA, 2018), como: se deslocar, deitar-se, interagir (positiva ou negativamente) e, a depender do sistema utilizado, alimentar-se. A recomendação europeia para área livre é de 1,64m² por leitoa por cobertura e; 2,25m² para porcas gestantes, porém esse valor ainda pode variar 10% para mais, caso o grupo alojado seja inferior a 6 fêmeas ou 10% para menos, caso o grupo alojado seja superior a 40 fêmeas, conforme demonstrado na Tabela 2. É importante lembrar que o espaço ocupado por qualquer equipamento ou estrutura dentro das baias, como comedouros, bebedouros, celas, corredores de manejo etc., devem ser descontados para o cálculo do espaço livre disponível para as fêmeas.
Tabela 2. Área livre disponível (m²/animal) em sistemas de baia coletiva
Categoria reprodutiva | Área livre disponível (m²/animal) | Superfície mínima de piso compacto (m²/animal) | ||
< 6 animais por grupo | Entre 6 e 39 animais por grupo | ≥ 40 animais por grupo | ||
Leitoas | 1,81 | 1,64 | 1,48 | 0,95 |
Porcas | 2,48 | 2,25 | 2,03 | 1,30 |
Adaptado de Council Directive 2008/120/EC.
Ao planejar o espaço livre para o grupo alojado é recomendado que existam “áreas de fuga”, que são pequenas áreas com separação física para que, ao ocorrerem brigas, as porcas submissas tenham condição de escapar daquelas mais agressivas, dando dinâmica ao grupo, reduzindo os danos causados pelas interações negativas e permitindo a formação de subgrupos, quando o número de animais em uma mesma baia é elevado. Na área coletiva comum, por sua vez, ocorrerão, normalmente, os comportamentos mais expressivos, como: alimentação, movimentação, repouso e defecação.
Além disso, não apenas a quantidade de espaço disponível é relevante, mas a qualidade do espaço também refletirá sobre o desempenho das fêmeas gestantes, assim, outro importante elemento para o sucesso do alojamento coletivo é o tipo de piso empregado. Considerando que é nele que as porcas executarão a maior parte dos seus comportamentos naturais – inclusive se alimentar, na maior parte dos casos brasileiros – a qualidade do piso importa. Em geral, porcas podem ser alojadas coletivamente em baias com piso compacto, porém, isso aumenta as exigências de densidade e reduz a qualidade do ambiente de alojamento em função do acúmulo de sujidades, embora permita o manejo de floor feeding, método de alimentação no piso. No entanto o mais adequado é que as fêmeas sejam alojadas em baias de piso ripado ou semi-ripado. Na Europa, as diretivas exigem ripas com no mínimo 80mm de largura e 20mm de espaço entre ripas, semelhante àquelas recomendadas para animais em terminação. Na prática, é importante que o piso seja resistente, não apresente arestas ou desníveis e permitam o deslocamento sem que os cascos sejam danificados, assunto já tratado pelos consultores da Agroceres Multimix.
Conforto térmico e qualidade do ar
Finalmente, o conforto térmico e a qualidade do ar devem ser tomados como elementos primordiais, tanto do bem-estar quanto da produtividade das fêmeas e, nesse âmbito, a temperatura tem grande influência, mas variáveis como a concentração de gases – sobretudo amônia –, umidade relativa do ar e ventilação tornam-se de necessário controle. No clima brasileiro, tornam-se viáveis alternativas de sistemas de ventilação sob pressão negativa, onde o controle é mais rígido e as variações menores, porém a viabilidade econômica nem sempre é alcançada e medidas de adaptação devem ser tomadas. De qualquer maneira, o monitoramento de variáveis ambientais deve ser sistemático, contínuo e a longo prazo, associando a resposta reprodutiva às características comportamentais das fêmeas, isto é, a supervisão dos animais é o principal marcador de qualidade do alojamento, pois matrizes ofegantes, tentando se refrescar nos bebedouros, bem como amontoadas e apáticas, podem ser sinais de estresse térmico.
Comportamento, hierarquia e o revés da alimentação de porcas em alojamento coletivo
Suínos são animais gregários e, quando alojados em grupo, tendem a estabelecer rapidamente estruturas hierárquicas estáveis. É justamente por ocasião da reestruturação social que ocorrem a maior concentração de agressões entre fêmeas. Tal comportamento é o maior desafio para o sucesso de um alojamento coletivo, sobretudo na fase pós-inseminação – motivo pelo qual a recomendação é de que as fêmeas permaneçam em gaiolas individuais durante o primeiro terço de gestação – momento de estabelecimento da prenhez e de maior risco de perdas embrionárias (Langendijk, 2015). Uma vez estabilizadas socialmente, as matrizes passam a apresentar um comportamento bastante característico, a depender do sistema produtivo em que estejam alojadas. A Tabela 3 demonstra a frequência dos principais comportamentos de matrizes em gestação.
Tabela 3. Frequência (minutos/dia) de comportamentos de matrizes gestantes em diferentes sistemas de alojamento
Comportamento (minutos/dia) | Tipo de alojamento | ||
Gaiola | Alimentação no piso | ESF1 | |
Parada, em pé | 77a | 52b | 56b |
Chafurdando | 46b | 63a | 29c |
Movimentando | 9b | 27a | 28a |
Alimentando | 39a | 37ab | 31b |
Dessedentando | 34a | 26b | 13c |
Sentando | 91a | 13b | 11b |
Deitando (decúbito lateral) | 1145c | 1222b | 1271a |
1Eletronic sow feeding
Adaptado de Weng et al. (2009)
*Médias seguidas de letras distintas na linha diferem estatisticamente (P<0,05)
Quanto maior o repertório comportamental permitido à fêmea, menores são as chances de ocorrência de estereotipias e eventos estressantes durante o período de gestação. Fêmeas que despendem maior tempo deitadas – supõem-se, portanto, em repouso – tendem a necessitar de menor número de interações gerais, sobretudo àquelas relacionadas à exploração e interação social. Ao chafurdar os animais refletem a necessidade de nidificação, comportamento naturalmente elevado ao final do período de gestação, porém, em ambientes menos confortáveis, as porcas tendem a elevar esse comportamento, como sinal de estereotipias (Weng et al., 2009). Por outro lado, o aumento de movimentação terá como consequência maior número de encontro entre fêmeas, promovendo o desencadeamento de comportamentos relacionados às estruturas hierárquicas. Estudos revelam que as fêmeas alojadas em baias coletivas podem ser classificadas segundo três níveis hierárquicos (Verdon et al., 2018): as dominantes, as subdominantes e as submissas, havendo, dentre outras, direta relação entre o manejo alimentar e classificação hierárquica. Porcas classificadas como dominantes gastam mais tempo se alimentando diretamente sobre o local onde a ração é depositada. As subdominantes alimentam-se ao redor do espaço deixado pelas dominantes, mais frequentemente nas bordas e arestas da baia. As submissas consomem no centro da baia, local de menor concentração de alimento, pois evitam a área de alimentação mais populosas, apesar de motivadas a se alimentar.
Como as matrizes gestantes possuem, na grande maioria dos casos, alimentação controlada, podem experienciar ocasionalmente a fome, logo, o momento da alimentação passa a ser o principal evento do seu dia. Como consequência, a escolha do sistema de alimentação tem impacto direto sobre o comportamento – sobretudo referente à competição por alimentos e agressividade – e resposta produtiva e reprodutiva (Spoolder et al., 2009). O manejo de alimentação no piso é o manejo mais comum por ser de simples execução e de baixo custo, sobretudo em sistemas produtivos que adaptaram o setor de gestação ao manejo de alojamento coletivo. Esse manejo cumpre com alguns elementos do comportamento natural de alimentação, permitindo que as porcas se alimentem simultaneamente (Verdon et al., 2015a).
No entanto, a competição resultante pelo acesso ao alimento deriva em agressão imediatamente após a entrega dos alimentos e pode durar até 20 minutos (Verdon et al., 2015b), que coincide com o momento em que a maioria dos alimentos é consumida. Assim, é necessário lançar mão de estratégias para o fornecimento de ração, garantindo que o volume diário seja fracionado entre duas e três vezes e distribuído igualitariamente em toda a baia, para que fêmeas submissas também tenham oportunidade de ingerir a quantidade diária prevista. Por outro lado, sistemas de alojamento mais modernos – que serão tratados mais adiante –, como o ESF (eletronic sow feeding), permitem a individualização da alimentação, de modo que fêmeas possam despender o tempo que julgarem necessário no módulo de alimentação, sem influência direta das demais porcas. Dessa forma o viés negativo da estruturação hierárquica, ainda existente nesses sistemas, é amortizada nos momentos de alimentação, garantindo ingestão adequada de nutrientes.
A intervenção nutricional para controle do peso corporal das porcas é de extrema importância, independente do sistema de alojamento utilizado pela granja. O manejo alimentar restringe o metabolismo a alternar entre armazenamento e uso de nutrientes para manter o contínuo suprimento de energia para os tecidos entre as refeições (Le Naou et al., 2014). Essa dinâmica determinará o ganho tecidual das fêmeas ao longo da gestação e pode ser influenciado por diversos fatores, como: os níveis nutricionais e composição das dietas, frequência e horário de alimentação. Porcas subalimentadas e, portanto, que perdem peso na gestação, apresentam maior frequência de comportamentos estereotipados, maiores chances de perdas ou falhas reprodutivas, maior intervalo para retorno ao cio, menor sobrevivência embrionária e tendem a permanecer visivelmente abatidas (Verdon et al., 2016).
Grupos dinâmicos x Grupos estáticos: como lidar com o agrupamento ao longo dos ciclos reprodutivos
O momento do primeiro contato entre as fêmeas é considerado o maior desafio para sistemas produtivos que utilizam alojamento coletivo, independente do grau de tecnologia empregado. Considerando que a cada ciclo reprodutivo um novo reagrupamento entre as porcas ocorre, há novo momento de estresse e agressões, resultado da reestruturação hierárquica, como já tratado anteriormente. Nesse cenário, duas opções de manejo são possíveis e devem ser definidas pelo produtor e técnico responsável pelo sistema: o alojamento em grupos dinâmicos ou estáticos. É importante notar que cada método terá suas vantagens e desvantagens relacionadas ao bem-estar, desempenho reprodutivo e uso de instalações, portanto, a escolha de uma certa estratégia de manejo deve ser feita com base nas capacidades de suas instalações, e entendendo os efeitos de cada opção de manejo no bem-estar e no desempenho das porcas.
O manejo do alojamento coletivo em grupos dinâmicos prevê a possibilidade de agrupamento de matrizes de diferentes idades gestacionais na mesma baia, com introdução e retirada de animais a qualquer momento. Isso proporciona melhor utilização da área útil e maximização do planejamento e fluxo de produção, permitindo a formação de grupos maiores, com até 240 matrizes, porém é fundamental o uso de estações de alimentação individualizadas. O viés está relacionado à frequente ocorrência de comportamentos agressivos como resultado da constante alteração do padrão hierárquico entre as matrizes (Anil et al. 2006), para tanto, como estratégia que visa mitigar esse quadro, recomenda-se que a introdução de novos indivíduos se dê em pequenos grupos de três a cinco fêmeas.
Os grupos estáticos, por outro lado, são compostos por matrizes de mesma idade gestacional sem a incorporação de novas matrizes ao longo da gestação, esse método assemelha-se ao já conhecido sistema “Todos dentro-Todos fora” utilizado em fases de engorda. Os grupos tendem a ser menores, com até 20 matrizes, e homogêneos em termos de condição corporal. A movimentação das fêmeas deve se dar tão somente em casos de problemas reprodutivos, como abortos, problemas de saúde ou excesso de brigas, contudo este último comportamento tende a ser reduzido em grupos estáticos.
Comparados aos grupos estáticos, as porcas de grupos dinâmicos tendem a apresentar alta incidência de claudicação, maior número e grau de intensidade de lesões crônicas de pele, resultado que pode estar associado à maior existência de interações negativas. Os resultados de desempenho reprodutivo, por outro lado, ainda são controversos. Estudos canadenses demostraram que a taxa de parto não é afetada pelo tipo de grupo utilizado em baias coletivas (Li e Gonyou, 2013), enquanto estudos europeus mostraram que granjas que alojaram porcas em grupos estáticos apresentaram maior risco de perdas embrionárias nos estágios iniciais de gestação, comparadas às porcas de grupos dinâmicos (Anil et al., 2006). A Tabela 4 expõe a comparação de características reprodutivas e indicadores de comportamentos agressivos de matrizes alojadas em diferentes sistemas.
Tabela 4. Parâmetros reprodutivos e indicadores de comportamentos agressivo de matrizes em gestação, segundo manejo de alojamento coletivo em método estático ou dinâmico e alojamento individual
Característica | Gaiolas | Método de alojamento coletivo | |
Estático | Dinâmico | ||
Taxa de parição, % | 86,2 | 85,0 | 88,0 |
Duração da gestação | 114,6 | 114,6 | 114,4 |
Peso da porca, kg | |||
Pré-cobertura | 217 | 211 | 208 |
Ao Parto | 283 | 277 | 273 |
Nascidos totais, nº | 12,0 | 12,2 | 12,1 |
Nascidos vivos, nº | 10,8 | 11,1 | 11,0 |
Natimortos, nº | 0,9 | 0,7 | 0,8 |
Claudicação, % de fêmeas do lote | 2,3b | 1,2a | 4,7c |
Lesões na pele, nº/ porca | |||
Pré-cobertura | 1,2 | 1,3 | 1,2 |
Ao Parto | 1,8b | 1,4a | 1,8b |
Escore de ferimentos | |||
Pré-cobertura | 5,6 | 5,8 | 5,5 |
Ao Parto | 6,4b | 6,0a | 6,4b |
Adaptado de Li and Gonyou (2013).
*Médias seguidas de letras distintas na linha diferem estatisticamente (P<0,05)
Sistemas de alojamento coletivo: do simples ao complexo
Na prática, apesar de considerarmos todo modo de agrupamento de matrizes como alojamento coletivo, essa técnica pode ser classificada em uma série de sistemas de alojamento, que variam quanto às práticas de manejo e nível tecnológico empregado, desde sistemas adaptados e sem estruturas especializadas para alimentação, até grandes grupos com automatização da alimentação e de sistemas de climatização (Spoolder et al., 2009). Cada sistema apresentará características distintas que promovem resultados em bem-estar e desempenho reprodutivo, bem como uso das instalações e nível de investimento também distintos, como demonstrado na Tabela 5.
Tabela 5. Classificação de intensidade de diferentes variáveis a serem consideradas em cada sistema de alojamento de matrizes suínas gestantes
Variável | Gaiolas | Alojamento coletivo | ||
Alimentação no piso | Minibox | ESF1 | ||
Bem-estar | + | + + + | + + + | + + + |
Manejo de escore corporal | + + + + | + + | + + + | + + + + |
Agressividade | + | + + + | + + | + + |
Custo das instalações | + | + | + | + + + |
Custo operacional | + | + + | + + | + + |
Facilidade de manejo | + + + + | + + + | + + + | + + |
Ração usada | + | + + + | + + | + |
1Eletronic sow feeding
Adaptado de Mapa (2018).
Sistemas tradicionais (alimentação no piso): modelos mais comuns de alojamento coletivo são compostos por pequenos grupos de fêmeas, alojados em sistemas estáticos, geralmente em baias de piso de concreto ou semi-ripado. A alimentação ocorre de forma manual, pelo já citado modelo de alimentação no piso, assim as matrizes são alimentadas com quantidades iguais entre as porcas da mesma baia, independente do peso ou ciclo reprodutivo. Consequentemente, o consumo tende a ser fortemente afetado pela classificação hierárquica, de modo que é importante ter em mente a necessidade de, no momento da alimentação, sempre garantir que a ração esteja bem dispersa e fracionada na baia, para garantir a ingestão de ração pelas fêmeas submissas que se alimentam em locais da baia distante das dominantes. Logo, pode-se notar que o desafio em sistemas tradicionais se relaciona à manutenção da homogeneidade da condição corporal das matrizes.
Sistema em minibox: tendo em vista a necessidade de ajuste do fornecimento de ração, pela redução da agressividade entre matrizes no momento do arraçoamento, uma adaptação ao sistema tradicional foi desenvolvida, pela inclusão de divisórias nas paredes da baia com espaço de, aproximadamente, 50 cm de largura, simulando um ambiente individualizado para alimentação. Nessa divisória a ração pode ser depositada em comedouros ou no próprio piso, por meio de drops, com a quantidade fixa por fêmea, tornando a alimentação mais uniforme e menos estressante. Como consequência, há benefícios sobre a facilidade no manejo do escore corporal e manutenção da hierarquia, mantendo-se grupos semelhantes aos do sistema tradicional.
Sistemas com alimentação eletrônica: modelos modernos de alojamento foram desenvolvidos, os chamados ESF – electronic sow feeding, ou estação com controle eletrônico de alimentação – a partir da aplicação de tecnologias de automação. Com eles, é possível o gerenciamento da alimentação das matrizes, utilizando brincos eletrônicos que são lidos e identificados pelo sistema de alimentação, que é automatizado. O produtor e o técnico podem definir a curva de alimentação a ser desempenhada, individual e diariamente, pelas porcas. Todo o sistema é integrado à uma plataforma que compila as informações que podem ser acessadas para ajustes de maneira intuitiva e célere, permitindo correções diárias nas curvas de alimentação. Ainda, como o módulo de alimentação é individual, não há competição por ração, já que as fêmeas têm um espaço isolado disponível, apenas para consumo e durante o tempo que julgarem necessário. O ESF é o sistema mais citado nas pesquisas com fêmeas gestantes, já que permite a individualização dos animais para alimentação, a utilização de curvas de arraçoamento de acordo com a fase gestacional e a condição corporal. Os sistemas ESF tem, ainda, a opção de serem equipados com balanças para verificar a variação do peso, diariamente, cada vez que a fêmea entra no módulo de alimentação, permitindo ajustes em tempo real das curvas de alimentação. Como consequência, o manejo de controle do escore corporal tende a ser bastante facilitado, as respostas de desempenho reprodutivo estáveis e o desperdício de ração reduzido. Os sistemas automatizados costumam ser utilizados em grupos maiores, tanto em sistemas dinâmicos quanto estáticos, a depender do fluxo de produção e o principal desafio nesse modelo está relacionado à necessidade de treinamento das matrizes para a alimentação nos módulos automáticos e disponibilidade de mão de obra capacitada para manejar os sistemas automáticos.
Considerações Finais
Diante das diversas opções disponíveis, a verificação da viabilidade econômica da implantação do melhor sistema de alojamento na gestação é fundamental. Aspectos de adaptação estrutural, ajuste de fluxo de produção, investimento em equipamento e treinamento de pessoal, devem ser pesados no momento da tomada de decisão e contrastadas com os resultados produtivos esperados. Fato é que os manejos em sistemas coletivos de gestação são cada vez mais empregados, apresentando elevados níveis de produtividade e bem-estar dos animais, o que os concede lugar comum na cadeia produtiva de suínos de todo o mundo.