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Boitel é uma boa opção, ou não?

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Capa do artigo com tema sobre boitel

Por que confinar?

Já não é novidade que a atividade do confinamento se consolidou como uma prática que permitiu intensificar a categoria de terminação de bovinos de corte e que trouxe inúmeras vantagens para o sistema de produção. Os motivos por optar pelo confinamento estão relacionados ao aumento da eficiência produtiva dos animais, obtendo animais mais pesados em um espaço menor de tempo, liberação de áreas de pastagens para outras categorias durante o período que os animais se encontram “fechados” e flexibilização de produção, em um período de maior escassez de carne no mercado.

O que é um boitel?

Com o sucesso da atividade – ao decorrer do tempo – ocorreu o surgimento de um novo modelo de engorda, o boitel. O boitel tem esse nome por ser um “hotel” para bovinos em sistema de terminação, em confinamento, no qual os animais que são destinados a esse padrão de produção são tratados como “hóspedes”, e esse sistema oferece toda estrutura necessária para realização da atividade, como: a mão de obra qualificada, área adequada para o desenvolvimento da operação e instalações, ou seja, o boitel é uma empresa que receberá os animais para engorda até o abate e fornecerá a eles toda uma estrutura que os permitirá manifestar todo o seu potencial produtivo.

Por que esse assunto cresceu nos últimos tempos?

Como reparado, principalmente, nos últimos anos, o mercado de insumos tem se mantido bastante aquecido, refletindo na alta de preços dos produtos usados na alimentação animal e impactando diretamente nos custos de produção. Com base nessa realidade, o planejamento de aquisição de insumos torna-se obrigatório para o pecuarista, assim como volume de compra e a possibilidade de se fazer alimento “dentro de casa”. Sabemos que essas tomadas de decisões precisam ser realizadas antecipadamente e que exigem certo grau de profissionalismo por parte do produtor. Diante dessa realidade, tem-se aumentado a procura por terceirização da engorda de bovinos, já que as empresas do ramo possuem altíssimo poder de compra, puxados pela necessidade de obtenção de grandes quantidades de insumos, e são capazes de produzir alimentos em suas próprias áreas, amenizando os custos de produção quando comparados a um cenário em que o pecuarista necessita realizar compra de produtos de forma imediata ou sua utilização em curto prazo, para analisar o custeio da atividade, atraindo assim a atenção de produtores que buscam investir nessa forma de negócio, tornando-se um cenário mais atrativo para o ocasião de momento.

Vantagens para o boitel

Agora que já sabemos o que é e porquê esse assunto vem crescendo nas prosas de produtores, vamos elencar algumas vantagens desse perfil de produção. A localização de um boitel possui grande relevância para a consolidação da atividade, já que é necessário estar presente em regiões de grande oferta de boi magro para facilitar a busca e originação desses animais. Um outro ponto positivo dos boiteis é que não necessitam de área para recriar animais, já que a recria é feita por parte dos parceiros, podendo favorecer um aumento nas instalações do confinamento, aumentando a capacidade estática e promovendo aumento nas oportunidades de negócios. A grande quantidade de boi gordo presente nas unidades de boitel auxilia a organização da escala de abate por parte dos frigoríficos em que são abatidos esses animais, permitindo uma escala mais longa mesmo quando a disponibilidade de animais para abate é menor. Outra vantagem importante a ser salientada é que o boitel não necessita de desembolso de capital para aquisição de animais.

Vantagens para o pecuarista

Na prática, as principais vantagens que se tem quando decide-se terceirizar a engorda, é que as empresas responsáveis assumem todos os manejos operacionais de um confinamento (rotina de trato, equipe, máquinas, fábrica de ração, etc.), assumindo total responsabilidade do sistema de terminação (custos e operacional), até mesmo dos animais rejeitos (que refugam o cocho) e possíveis mortes, além de permitir ao pecuarista, em determinadas ocasiões, livrar áreas de pastagem e destinar para a categoria de recria, aliviando a pressão de pastejo ou até mesmo o descanso da pastagem para eventuais projetos futuros. Além disso, o boitel realiza a rastreabilidade dos animais dentro do confinamento, permitindo um valor agregado da arroba no momento do abate e ainda conta com um valor diferencial das bonificações. As negociações com os frigoríficos, geralmente, são feitas pelo próprio confinamento e oferecem aos produtores/clientes diferentes modalidades de parceria, possibilitando a escolha da melhor forma de se engorda dos animais dentro do “hotel”, mas antes de decidir qual a melhor modalidade é importante se fazer uma pergunta: qual é o meu boi?

Pontos de atenção: qual o meu boi?

Sabemos que a recria vem passando por um processo de intensificação e que novas estratégias e tecnologias nutricionais já estão sendo aderidas por parte dos produtores, tendo como o principal objetivo encurtar o tempo do animal na fazenda e, por muitas vezes, atender as necessidades de mercado, mas não devemos esquecer que muitos animais ainda são recriados de maneira tradicional (sal mineral nas águas e proteico de baixo consumo na seca). Saber qual tipo de animal estou levando para engorda é de suma importância para definir a modalidade de parceria a ser negociada com o boitel. Animais que são recriados de forma tradicional ou que sofrem algum tipo de restrição alimentar tendem a apresentar um ganho compensatório (quando o animal tem um ganho de peso mais elevado após passar por restrição alimentar) no confinamento, já que precisam ajustar sua atividade metabólica para ingerirem grandes quantidades de concentrados, que elevam o consumo de energia pelo animal. O ajuste do metabolismo se dá pelo aumento dos órgãos que possuem grande atividade metabólica, como: coração, pulmão, fígado, rins e o TGI (trato gastrointestinal), já que esses órgãos possuem menor tamanho quando o animal sofre algum tipo de restrição alimentar, pelo fato de o animal entender que precisa diminuir sua atividade metabólica e poupar energia. Apesar desses órgãos não terem grande representatividade quanto ao peso corporal, eles possuem um alto gasto de energia e representam a metade do gasto energético para manter o animal vivo. Sendo assim, o animal tende a apresentar um ganho de carcaça inferior a um animal já acostumado com a ingestão de altas quantidades de concentrado.

Quando falamos de um animal recriado de forma mais intensiva (proteico energético, RIP, recria confinada), o seu organismo já está preparado para continuar ingerindo elevado teor de energia e, assim, não precisa ter uma restruturação de órgãos, ocasionando um baixo ou nulo ganho compensatório, favorecendo o ganho de carcaça.

Ponderar esses fatores influenciam diretamente no tipo de parceria a ser feita com o boitel, pois os animais que apresentarem um ganho diário maior no confinamento provavelmente ficarão menos tempo confinados, por isso é importante ter em mente qual tipo de animal estou levando para engorda e assim firmar a melhor modalidade de parceria. Para isso vamos elencar as principais modalidades encontradas na terceirização da engorda.

fotografia de vários bovinos - foto referente o artigo com o tema sobre boitel

Modalidades de parceria

As modalidades de parceria podem variar de boitel para boitel, sendo as principais citadas abaixo:

– Modalidade @ produzida: o cliente recebe pela quantidade de arrobas engordadas, do dia da entrada dos animais no confinamento ao abate. O valor a ser pago é de acordo com o peso de entrada do animal;

– Modalidade diária: é o valor pago pelo tempo de permanência do animal no confinamento, e o valor da diária é calculado pelo peso corporal do animal;

– Modalidade parceria: seria o peso do animal na fazenda de originação, com rendimento de carcaça a combinar. Esse peso, vezes o valor apurado da arroba no dia do abate, é o valor a ser pago para o pecuarista.

Mortes e rejeitos que são de responsabilidades do boitel, conforme dito anteriormente, são pagos da seguinte maneira: peso de entrada no confinamento, vezes o valor da arroba apurada para o dia do abate.

Quando devo pensar no boitel?

Dito isso, quando nos deparamos com dificuldade na compra de insumos, seja ela por valor, volume de estocagem ou imediatismo de uso associado aos elevados valores de bezerro e/ou boi magro encontrados no mercado, mais a falta de planejamento futuro, nos força a sermos eficientes em nossa operação de confinamento. Portanto, o boitel ganha força por ser um modelo especializado nesse tipo de operação.

 Conclusão

Importante ressaltar que: quando falamos que o produtor está sendo pressionado para profissionalizar a atividade pecuária, isso nos remete diretamente à realização de um bom planejamento da propriedade (compra de insumos, período da atividade, ganho esperado por animal, investimento em estruturação), que seja feita de forma antecipada e com tomadas de decisões baseadas em fatos. Com isso, conseguimos nos tornar mais eficientes e produtivos, termos que são pilares para a pecuária moderna. Para concluir: a melhor escolha para o sucesso na pecuária, seja ela qual for a categoria, é estar alinhado com o seu planejamento e o propósito da fazenda. Decidido o caminho, é necessário permanecer nele e enfrentar as intempéries, pois esses frequentemente surgirão durante a trajetória.

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8 COMENTÁRIOS

  1. Prezados, primeiramente gostaria de parabeniza-los pelo esclarecedor artigo.
    Em segundo lugar, tenho uma dúvida: Vejo em quase toda lugar falar do Boitel como um instrumento para ajudar o pecuarista, que faz a recria em sua propriedade, na terminação de seus animais, entretanto, gostaria de saber se uma pessoa que não tem terra pode se utilizar do Boitel para, tipo, comprar o boi magro e já levar direto para o Boitel. É possível? Se sim, é “fácil” achar vendedor desse tipo de gado, já no jeito de levar pro confinamento? E, por último, essa estratégia trata-se uma forma que pode ser lucrativa?
    Abraços a todos

    • Obrigado Felipe! Fico feliz com seu comentário.
      Sobre sua pergunta, é sim possível comprar um animal direto para o Boitel. Nesse caso, você precisa avaliar a oportunidade (custo) de compra, os valores e a modalidade de boitel, assim como o valor de venda. Se tiver experiência, você poderia até comprar o animal, fechar um valor da arroba produzida com o Boitel e “travar” a venda, garantindo o seu lucro. A margem dessa operação irá depender da sua habilidade em realizar as negociações. Espero te ajudado, grande abraço.

    • Marcus, normalmente os animais entram com 13 a 14 arrobas no confinamento, permanecendo até atingirem o peso de abate. O tempo para atingir o peso de abate, que estará relacionado ao ganho de peso vivo diário do animal, irá depender de alguns fatores como frame (tamanho) do animal, raça, sexo, manejo e dieta, entre outros. Os animais podem entrar mais jovens e mais leves no confinamento, porém, será necessário pensar em trabalhar com dietas de crescimento para não comprometer a curva de crescimento e peso de abate dos animais (evitar o boi “bolinha”). Vale ressaltar que, quanto mais leve e mais jovem o animal, mais tempo ele ficará no confinamento.

  2. Olá, achei muito interessante seu artigo. Agora, em suma: um gado criado no método tradicional (pastagens com pouco consumo de mineral), tende a ter um ganho maior de idade peso no ‘boitel’?

    Seria isso?

    • Marcelo, acredito que você esteja se referindo ao que a turma chama de ganho compensatório. Como comentamos no texto, podemos enxergar a composição do ganho do animal dividido em 3 grandes grupos: carcaça, não carcaça e conteúdo do TGI. E, no caso do ganho compensatório, os trabalhos têm mostrado que esse ganho (acima do esperado) é dado em grande parte por recomposição do metabolismo do animal (crescimento de vísceras) e não ganho em carcaça, causando a “ilusão” dos altos ganhos. Explorá-lo, ou não, irá depender do sistema de produção de cada um e da forma como o animal é comercializado. Grande abraço.

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