Altamente contagiosa e distribuída em todo o mundo, a bronquite infecciosa acomete aves domésticas (Gallus gallus) (CAVANAGH, 2007) e se configura como uma das maiores endemias em aves (CHEN et al., 2019). Doença viral aguda, apresenta manifestações clínicas respiratórias, reprodutivas, renais e entéricas (DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
Essa enfermidade provoca grandes impactos econômicos, desde atraso no crescimento das aves, diminuição da eficiência alimentar e ganho de peso até malformações nas cascas, infertilidade e maior susceptibilidade a infecções secundárias, passando, ainda, por queda na produção e qualidade de ovos e aumento na mortalidade e condenação de carcaças ao abate (CAVANAGH e GELB JR, 2008).
O agente etiológico da bronquite infeciosa é o Gammacoronavírus, pertencente ao gênero Coronavirus, família Coronaviridae. A partícula viral é constituída por um envelope lipoproteico e glicoproteínas de superfície, além de uma fosfoproteína que interage com o RNA viral (CAVANAGH e GELB JR, 2008; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
Diversas cepas foram relatadas em todo o mundo, com exceção da Antártida (JACKWOOD e WIT, 2020). A primeira variante desse vírus foi relatada em 1940, circulando em aves presentes nos Estados Unidos; ao longo dos anos, foram relatados vários outros casos. Devido ao fato de serem descritas mundialmente diversas variantes da bronquite infecciosa, houve uma maior atenção para a identificação das estirpes, assim como o conhecimento de que muitos países possuem suas próprias estirpes (JACKWOOD et al., 2012).
No Brasil, ela foi diagnosticada pela primeira vez em 1957, pelo Professor Osmane Hipólito, no Estado de Minas Gerais (HIPÓLITO et al., 1979). Porém, somente nos anos 2000 foi relatada a presença de diferentes cepas da doença no país, onde notaram que se diferenciavam dos isolados em diversos países da Europa, América e Ásia. Uma série de estudos foram realizados, e de maneira geral, foi verificado que os vírus isolados no Brasil, em sua grande maioria, demonstram-se pertencer ao mesmo genótipo, representando, desta forma, um novo sorotipo brasileiro (DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
A bronquite infecciosa apresenta um período e incubação curto, em torno de 24 a 48 horas, e pode permanecer cerca de 18 horas em incubação na traqueia das aves. Por isso, é possível encontrar alta carga viral de três a cinco dias na traqueia desses animais. Já na fase crônica da doença, o vírus é encontrado comumente no trato gastrointestinal (MARTINS et al., 2015; JACKWOOD e WIT, 2020).
O vírus apresenta alta taxa de virulência, sendo facilmente transmitido entre as aves por meio de inalação ou ingestão de gotículas de animais infectados, seja por contato direto ou indireto. As aves de todas as idades e ambos os sexos são suscetíveis a infecção, entretanto, a doença se apresenta mais grave em aves mais jovens (JACKWOOD e WIT, 2020).
A morbidade é de 100%, uma vez que o lote onde ocorre a presença da bronquite infecciosa tem todas as aves infectadas. Já a mortalidade é variável dependendo da virulência apresentada pela estirpe envolvida na infecção, na imunidade do lote, fatores referentes ao estresse e até o estado nutricional das aves (SANTOS, 2018).
Seus sintomas se advêm de um amplo espectro de síndromes clínicas. A manifestação clínica mais comum da doença é a respiratória, que inclui tosse, espirro e coriza. Assim como, também são comuns estertores, dispneia, asfixia e insuficiência respiratória, que podem levar à morte, principalmente, de animais mais jovens (OIE, 2012; ALSULTAN et al., 2019).
As manifestações reprodutivas incluem infertilidade, diminuição na produção de ovos, com diminuição da qualidade interna (albúmen aquoso) e externa (descoloração da casca, casca fina e porosa) dos ovos (CAVANAGH e GELB JR, 2008; COOK et al., 2012; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
A manifestação renal pode ser observada em alguns casos, no entanto, são inespecíficos e podem se confundir com outras doenças. Estes incluem depressão, fezes aquosas e aumento no consumo de água. A doença renal pode ou não ser precedida ou acompanhada pela apresentação respiratória (CAVANAGH e GELB JR, 2008; COOK et al., 2012; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009). Já a manifestação entérica da doença, os animais podem apresentar fezes aquosas e/ou diarreia severa (DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009).
O diagnóstico da bronquite infecciosa no campo é normalmente realizado com base no histórico do lote e presença de sinais clínicos, sendo que estes podem ser os mais diversos, conforme previamente destacado. A sua confirmação é realizada por meio de exames laboratoriais, já que ela apresenta sinais comuns a outras doenças.
Os ensaios laboratoriais incluem: ELISA, soroneutralização, teste de inibição da hemaglutinação, imunodifusão em gel de ágar, isolamento em ovos embrionados, cultivo em anéis de traqueia e técnicas de biologia molecular, como a reação em cadeia da polimerase (PCR – Polymerase Chain Reaction) (LIMA, 2007; DI FÁBIO e BUITRAGO, 2009; OIE, 2012).
A prevenção é a principal medida para evitar a disseminação da infecção (WIT e COOK, 2019). O envelope viral se degrada na presença de detergentes e sabões, desta forma, é de grande importância a higienização dos plantéis. Além disso, foi observado que fatores como o calor e radiação solar atuam como mecanismos que inativam a bronquite infecciosa. Ou seja, galpões sempre arejados e com presença de raios solares podem reduzir a incidência da enfermidade (JACKWOOD e WIT, 2020).
Atrelado as medidas preventivas sanitárias das granjas, há ainda o programa de vacinação das aves. Para que seja efetivo, primeiramente é necessário que os plantéis com grandes quantidades de aves tenham disponibilidade de realizar o vazio sanitário, principalmente caso ocorra infecções pela bronquite infecciosa na granja (MARTINS et al., 2015). É notório que plantéis que não dispõem dessa importante ferramenta têm problemas conhecidos com surtos da doença e grande déficit da produção (CAVANAGH e GELB JR, 2008).
É aconselhado que as aves sejam divididas em grupos de mesma idade e a vacinação ocorra na mesma data. Desta forma, a imunidade contra a bronquite infecciosa se torna mais homogênea e dificulta o surgimento de estirpes variantes. Mas caso ocorra a imunização em aves de idade diferentes, ela será efetiva. Contudo, a imunidade pode tem uma relação diretamente proporcional ao tempo, devido ao surgimento de novas variantes que não são prevenidas pela vacina (CAVANAGH e GELB JR, 2008; MARTINS et al., 2015; AMANOLLAHI et al., 2020).
A principal vacina utilizada no Brasil e no mundo é a do tipo Massachusetts, em que se faz uso do vírus vivo, sendo produzida mediante a cultivos celulares por meio de passagens em série do vírus de campo em ovos embrionados em galinhas SPF (“Specific Pathogen Free” – livre de patógenos específicos), obtendo, assim, uma redução da virulência do vírus (SANTOS, 2018; AMANOLLAHI et al., 2020).
As cepas do sorotipo Massachusetts são definidas por estudos que estimam quais estão envolvidas no local e a sua prevalência. No entanto, estudos desse calibre são escassos nacionalmente, o que corrobora para a permanência da infecção e dificulta o controle nos plantéis brasileiros. Por conta disso, são utilizadas cepas que foram encontradas em países da Europa e dos Estados Unidos (MARTINS et al., 2015).
A vacina pode ser administrada em aves de todas as idades, mas comumente é recomendada a vacinação de pintinhos logo após a eclosão ou ao chegar na granja. As suas vias de administração podem ser por nebulização ou gota ocular. Já as aves em período reprodutivo devem ser revacinadas sempre que possível durante a fase de produção de ovos, uma vez que a vacinação protege o oviduto e assegura uma produção e ovos sem alterações. Nessas aves, a vacina utilizada deve ser na forma inativa e administrada por via intramuscular no peito da ave (MARTINS et al., 2015; JACKWOOD e WIT, 2020).
Diante deste cenário, para um bom controle da infecção por bronquite infecciosa aviária, a granja precisa estar bem alinhada às normas de biosseguridade e realizar vistorias periódicas, além de adotar um bom programa vacinal.
REFERÊNCIAS
ALSULTAN, M. A.; ALHAMMADI, M. A.; HEMIDA, M. G. Infectious bronchitis virus from chickens in Al-Hasa, Saudi Arabia 2015-2016. Veterinary World. v. 12, p. 424-433, 2019.
AMANOLLAHI, R.; ASASI, K.; ABDI-HACHESOO, B. Effect of Newcastle disease and infectious bronchitis live vaccines on the immune system and production parameters of experimentally infected broiler chickens with H9N2 avian influenza. Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Diseases, Shiraz, 20 April 2020, n. 71.
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CHEN, H.; MUHAMAAD, I.; ZHANG, Y.; REN, Y.; ZHANG, R.; HUANG, X.; DIAO, L.; LIU, H.; LI, X. SUN, X.; ABBAS, G.; LI, G. Antiviral activity against infectious bronchitis virus and bioactive components of Hypericum perforatum L. Frontiers in Pharmacology, 29 October 2019, p. 1-22.
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OIE – WORLD ORGANIZATION FOR ANIMAL HEALTH. Avian infectious bronchites. Manual of diagnostic tests and vaccines for terrestrial animals (mammals, birds and bees). 7th ed. Paris, 2012. p. 414-426.