O período de transição seca-águas está se aproximando em algumas regiões, em outras ele já está acontecendo. A preocupação com esse período, em grande parte das fazendas, está relacionada ao escore corporal dos animais, no qual eles “escorrem” e ficam “sentidos”, sendo o broto do capim o primeiro elemento responsável que vem em nossa mente. É certo que o broto é o causador da diarreia que ocorre nos animais, uma vez que este é um alimento tenro e com elevado valor de proteína degradável no rúmen. Porém, a perda de peso não pode ser atribuída ao efeito de passagem da digesta pelo trato do animal, uma vez que, nutricionalmente, o broto apresenta alto valor nutritivo. Dito isso, vocês já pararam para analisar a perda de peso nesse período, relacionando-a à ingestão de matéria seca?
Pois bem, nesse período que está se aproximando, a chuva, temperatura e a luminosidade, transformam um cenário de talos e folhas secas em pastos que começam a ter vida. O broto é o sinal de que tudo vai melhorar e que logo teremos as pastagens de águas, período no qual a fazenda apresenta o seu melhor pasto durante o ano.
Agora, imaginem um animal, depois de meses consumindo somente um material seco e de baixa digestão, tendo acesso a um capim macio e verde. Provavelmente, ele passará todo o tempo que tiver, buscando pelo tão sonhado pasto verde. O problema é que, no início da brotação a oferta de folhas verdes é pequena, e, mesmo aumentando o tempo de pastejo (que normalmente gira em torno de 8 a 10 horas), o animal não consegue ingerir a quantidade necessária de matéria seca, resultando em perda de peso.
Para ilustrar, imagine um pasto brotando onde vemos uma folha pequena (broto), aqui, outra ali, fazendo com que o animal gaste muitas horas “pincelando” a refeição.
Nesse momento, muitos pecuaristas já devem ter observado que, até mesmo o consumo do suplemento ofertado ao animal diminui, seja ele sal mineral ou proteico energético, afinal, assim como nós seres humanos, trocar o prato favorito por qualquer outra opção só costuma acontecer quando somos obrigados, e com o animal não é diferente.
Sendo assim, como já dito, no período de transição seca-águas, o animal utiliza boa parte do seu tempo – ou todo o seu tempo – em busca de um alimento que não atende sua exigência diária em quantidade de matéria seca, ou seja, ele apresenta uma baixa ingestão desse alimento, o que contribui para a perda de peso.
Agora, vamos analisar a situação pela ótica do pasto. Temos nele – o pasto – o protagonismo da pecuária no Brasil e, nesse período de transição (formação), ele acaba sendo penalizado. O tão aguardado broto, “mensageiro” de dias melhores para nós e para os bovinos, também assume importância para o pasto, afinal, são esses brotos que impulsionarão a formação da pastagem de águas, captando os raios solares e produzindo energia para seu crescimento, através da fotossíntese. Sendo assim, temos um paradigma: como acelerar a formação de pastagens de boa qualidade e quantidade, se não oferecemos o tempo necessário para a forragem se recuperar do período da seca?
Com estes pontos levantados, fica mais do que claro o objetivo do sequestro: tirar os animais do pasto, durante aproximadamente 45-60 dias, garantindo, via cocho, uma boa ingestão de matéria seca; ao mesmo tempo em que oferecemos ao pasto um “respiro” para se recuperar de maneira mais rápida e eficiente, chegando em boas condições no período das águas. O sequestro é uma estratégia que beneficiará o animal e o pasto ao mesmo tempo.
Temos no “sequestro” o ato de recolher os animais em alguma área onde não tenham acesso ao pasto. Essa área pode ser, desde um confinamento convencional, quanto uma área de lazer/praça de alimentação multiuso (área com cocho e bebedouros semelhante ao que encontramos no confinamento, e que é utilizada em períodos de pastejo, dando a opção de fechar os animais e transformá-la em um confinamento).
O objetivo do sequestro não é onerar os custos de produção, muito pelo contrário, o investimento nesse período é transformado em ganho de peso, utilizando uma dieta que se assemelha a um pasto de águas (volumoso + suplemento).
Qualquer estratégia que faça com que nossa indústria de carne funcione 365 dias no ano deve ser considerada. Cabe a cada empresário decidir o que é possível ser feito para melhorar a produção em sua propriedade. Planejar pode ser o primeiro passo em busca de bons resultados e, em se tratando de pecuária, não devemos nunca esquecer de focar no “time” boi + pasto.