A expectativa para a avicultura brasileira no ano de 2021, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (2021), foi a de crescimento, tanto no setor de corte como no de postura. A previsão é de que a produção de carne de frango alcançasse 14,35 milhões de toneladas, aumento de 3,6% em relação ao ano de 2020. Por outro lado, a produção de ovos poderia ter um acréscimo anual de 2,2% e atingir a marca de 54,5 bilhões de unidades.
Com o aumento da produção, aumenta-se também os resíduos gerados por essas atividades. Tomando como exemplo o setor de produção de frangos de corte, no qual foram abatidos 6,0 bilhões de aves no ano passado (IBGE, 2021); e se considerarmos uma mortalidade média de 3%, classificado como uma mortalidade regular para um plantel comercial de frango de corte (ABREU et al., 2009), haveria a necessidade de um descarte de 240 milhões de carcaça de aves no período de um ano.
Descarte de aves mortas: métodos para a correta realização deste descarte
A causa da mortalidade de aves pode ser ocasionada por diversos fatores, como de origem metabólica, infecciosa, refugagem, falhas de manejo, entre outros (BONFATI, 2016). Independente da causa da morte, essas carcaças devem ser removidas e descartadas, uma vez que se tornarão fontes de contaminação e podem colocar em risco a sanidade das outras aves. Contudo, o descarte de aves mortas deve ser realizado de maneira adequada, pois se realizado sem nenhum tipo de tratamento prévio no meio ambiente, pode resultar em uma série de problemas de contaminação química e microbiológicas do solo e da água. A seguir, são apresentados alguns métodos para a correta realização do descarte de carcaças de aves.
Compostagem
A compostagem é um processo aeróbio, no qual a matéria orgânica é transformada em húmus ou composto. Atualmente, é uma das formas mais utilizadas para o descarte de carcaças de aves, por se tratar de um método ecologicamente eficiente, uma vez que se realizado de maneira correta, não há riscos de contaminação do solo ou de efluentes, com redução de odores desagradáveis. Além disso, apresenta baixo custo e ao final do seu processo, há a produção de adubo (OVIEDO-RANDÓN, 2008; JAENISCH, 2003).
Esse processo é realizado em uma composteira, uma construção de alvenaria e, preferencialmente, com piso de concreto, onde ocorre o empilhamento de carcaças e/ou cama de frango com uma fonte de carbono (maravalha, capim seco, palhada de feijão, milho, arroz, bagaço de cana, entre outros) e adição de água, que deve respeitar uma certa proporção de carbono:nitrogênio (C:N) do substrato e umidade adequados para que ocorra o processo aeróbico da matéria orgânica depositada. É recomendado uma relação inicial de 30:1 de C:N; uma umidade de 40 a 50% e oxigenação contínua. Em termos práticos, recomenda-se adicionar um litro de água para cada dois quilos de carcaça (OVIEDO-RANDÓN, 2008). Quando a cama é utilizada como fonte de carbono, devemos considerar que as proporções de C:N se diferem ao compararmos com a utilização de uma cama nova, devido, principalmente, à matéria orgânica acumulada e à uma menor aeração.
O empilhamento (de aproximadamente 15 cm) de carcaça e/ou cama de frango deve ser alternado com a fonte de carbono (também de aproximadamente 15 cm) e adicionada água, sendo que a camada inicial e final deverá ser de fonte de carbono de, aproximadamente, 30 a 35 cm. Além disso, um espaço de 15 a 20 cm entre a parede da composteira e as carcaças deverá ser preenchido com a fonte de carbono, de modo que a carcaça não fique em contato com a parede da composteira (DE PAIVA, 2004).
Durante esse processo de pré-compostagem ou primeiro ciclo, há geração de calor que pode atingir temperaturas de até 800C e, geralmente, são necessários cerca de 60 a 90 dias até a fermentação completa das carcaças, além da mistura desse material, de duas a três vezes, para que haja o suprimento de oxigênio e manutenção da fermentação aeróbia. Além da oxigenação, os fatores que influenciam na compostagem são: temperatura, água, aeração, microorganismos, relação C:N e tamanho das partículas da matéria orgânica e pH (OVIEDO-RANDÓN, 2008; WACHTER, 2011).
Após o fechamento da pilha, a temperatura pode variar de 60 a 710C nos próximos 10 dias durante o processo de compostagem, denominado também de segundo ciclo e, caso não atinja essa temperatura mínima, é recomendado utilizar menos água, usar mais fonte de carbono ou então mudá-la. Esse intervalo de temperatura deve ser respeitado, uma vez que as larvas de moscas e a maioria das bactérias patogênicas e vírus não resistem a temperaturas superiores a 600C. Após atingir o pico de temperatura e quando esta começar a cair, o material deve ser removido e misturado para proporcionar mais oxigênio e reativar as ações das bactérias, permitindo um novo ciclo de aquecimento que deverá atingir sua temperatura máxima após sete dias (DE PAIVA, 2004). A realização de – no mínimo – dois ciclos para a realização da compostagem permitem garantir níveis controlados de coliformes totais e fecais, além da ausência de Salmonella, garantindo a biossegurança do processo de compostagem (Costa et al., 2005).
É importante ressaltar que a duração total da compostagem pode variar devido às diferentes condições para a fermentação do material, sendo que, em média, varia de 120 a 180 dias. Costa et al. (2005) ao avaliarem o efeito da aeração no processo de compostagem de carcaças de aves determinaram que a injeção de ar no primeiro ciclo permitiu a aceleração do segundo ciclo, de 72 para 64 dias, em relação a um sistema sem aeração.
O composto gerado ao fim da compostagem pode ser utilizado como adubo, porém sua composição varia significativamente, pois depende de fatores como: fonte do carbono utilizada, temperatura atingida na compostagem, idade da cama utilizada, entre outros. Apesar de ser recomendada a análise de sua composição, previamente a sua utilização, devido à alta variação dos nutrientes, segue uma estimativa da composição do composto (DE PAIVA, 2004):
- Nitrogênio total: 17,23kg/t;
- Fósforo (P2O5): 24,94kg/t;
- Potássio (K2O): 18,59kg/t.
A compostagem possui inúmeras vantagens como já citadas, contudo, é uma alternativa que exige maior mão de obra e, para atender granjas de grande porte, seu uso pode ser inviável devido ao alto volume de carcaças e à capacidade limitada das composteiras (SENAR, 2017).
Incineração
Esse método é considerado prático e seguro, do ponto de vista sanitário, e recomendado em casos de ocorrência de problemas sanitários graves. Com a incineração das carcaças, o volume é reduzido consideravelmente, facilitando o descarte das cinzas. Segundo a resolução 316/202 CONAMA, a temperatura da combustão deve ultrapassar os 8000C, obtendo como fonte de energia a eletricidade ou gás. É possível incinerar cargas de 45 a 60 quilos de carcaça por hora (ex.: Incinerador Perozin modelo Inca 40, desenvolvido pela Embrapa Suínos e Aves). A produção de cinzas de carcaças de aves gerada é de aproximadamente 2,28%, que são estéreis e ricas em nutrientes, podendo ser utilizadas como fertilizante (NICOLOSO et al., 2017).
Dentre as desvantagens desse método podemos citar o alto custo, devido à necessidade do incinerador e ao custo do combustível, além da emissão de gás gerado com a queima do material (SENAR, 2017).
Fossa séptica
As fossas sépticas são eficazes para remoções diárias de carcaças, desde que edificadas corretamente, e devem ser construídas em local seco, longe de lençóis freáticos, a uma distância mínima de 200 metros do aviário e devem prover de telhado e tampa de encaixe. Com esse método não há a atração de moscas e/ou outros animais, pois há o isolamento das carcaças dentro da fossa (JAENISCH, 2003; SENAR, 2017).
Suas desvantagens incluem o alto risco de contaminação de solos e lençóis freáticos, sendo amplamente combatido ou até proibido por lei em algumas regiões, portanto, um método pouco utilizado e em desuso atualmente (Senar, 2017).
Considerações finais
Expostas as opções de descarte de aves e discutidas as vantagens e desvantagens de cada sistema, podemos refletir sobre qual o melhor método para essa finalidade.
Uma vez que não haja no Brasil, atualmente, uma legislação específica que determine qual o melhor método de descarte, é pressuposto que o avicultor possa eleger qual o método que melhor se enquadre à sua necessidade.
Contudo, vale ressaltar que apesar do menor custo ser, normalmente, o critério de seleção mais utilizado para essa decisão, deve ser levado em consideração também o impacto ambiental de cada opção.
Nutrição Animal – Agroceres Multimix
Referências:
ABREU, V. M. N.; PEDROSO-DE-PAIVA, D.; ABREU, P. G.; COLDEBELLA, A. Desempenho da casca de arroz e da palhada de soja na decomposição de carcaças de frangos de corte. IN: I Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos de Animais, 1, 2009. Anais… Florianópolis: SIGERA, 2009. 1 CD-Rom.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROTEÍNA ANIMAL (2021). Disponível em: https://abpa-br.org/. Acesso em: 28 de dezembro.
BONFATI, S. E. Principais causas de mortalidade em frangos de corte griller criados em sistema intensivo dark house. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Medicina Veterinária). Universidade Federal da Fronteira Sul, Realeza, p.18, 2016.
COSTA, M. S. S. M.; COSTA, L. A. M.; OLIBONE, D.; RÖDER, C.; BURIN, A.; KAUFMANN, A. V. ORTOLAN, M. L. Efeito da aeração no primeiro estágio da compostagem de carcaças de aves. Engenharia Agrícola, n.25, v.2, 2005.
DE PAIVA, D. P. Guia para operar uma compostagem de aves mortas. Embrapa Suínos e Aves-Fôlder/Folheto/Cartilha (INFOTECA-E), 2004.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2021). Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 28 de dezembro.
JAENISCH, F. R. F (2003). Destino das carcaças descartadas. Disponível em: http://www.cnpsa.embrapa.br/SP/aves/Destino-carcacas.html. Acesso em: 28 de dezembro.
NICOLOSO, R. D. S., DE LIMA, G. J. M. M., KRABBE, E., MORES, N., DE OLIVEIRA, P. A. V., KUNZ, A.; COSTA, O. A. D.; CARON, L.; DE ÁVILA, V. S.; BARROS, E. C.; DE OLIVEIRA, M. M. Tecnologias para destinação de animais mortos na granja. Embrapa Suínos e Aves-Fôlder/Folheto/Cartilha (INFOTECA-E), 2017.
OVIEDO-RONDÓN, E. O. Tecnologias para mitigar o impacto ambiental da produção de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, suplemento especial, p.239-252, 2008.
SENAR – SANTA CATARINA (2017). Avicultura: entenda os métodos de descarte de aves e benefícios. Disponível em: http://www2.senar.com.br/Noticias/Detalhe/8252. Acesso em: 28 de dezembro.
WACHTER, J. Compostagem orgânica e de resíduos de aves. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Zootecnia). Universidade Federal do Pampa, Dom Pedrito, p25, 2011.