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O desafio da rebrota: cuidados com o gado e o pasto na virada da Estação

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A passagem do período seco para o chuvoso, geralmente entre setembro e novembro, é relativamente curta, mas traz alguns desafios importantes nas fazendas de grande parte do Brasil. Com a chegada das primeiras chuvas, aumentam a umidade, a temperatura e a luminosidade — condições perfeitas para o início da rebrota das pastagens.

Embora seja um período muito esperado pelos produtores por marcar a renovação das pastagens, ele exige atenção tanto em relação aos animais quanto ao manejo adequado do pasto.

 

O broto, o animal e o pasto

Durante essa fase, o capim começa a crescer rapidamente, formando perfilhos (novas hastes) e folhas jovens, com alta umidade (pouca matéria seca), a fibra presente na planta diminui, enquanto o teor de proteína aumenta. Essa proteína é, em grande parte, composta por nitrogênio não proteico (NNP), classificado como fração A, que é rapidamente aproveitada pelos microrganismos do rúmen.

O bovino, como ruminante, tem preferência por folhas — especialmente as mais novas e macias. Depois de passar por um período de escassez de forragem, ele busca com avidez essas folhas verdes assim que elas surgem. E é aí que começam os problemas.

Essas folhas jovens, por terem alto teor de água e baixa matéria seca, não fornecem energia suficiente para atender às necessidades nutricionais do animal. Mesmo passando de 8 a 12 horas por dia em pastejo, o bovino coleta pouca matéria seca, o que compromete seu desempenho produtivo. Nessa fase, também é comum haver uma redução na ingestão de suplementos, o que pode agravar ainda mais o problema nutricional.

Do ponto de vista da planta, esse consumo precoce das folhas jovens pode prejudicar o estabelecimento do pasto. São essas folhas que captam luz solar e gás carbônico, essenciais para o crescimento saudável da forrageira. Quando o gado consome essas folhas muito cedo, pode atrasar a formação de um pasto bem estruturado para a estação das águas.

 

Estratégias para cuidar do pasto e dos animais

Sequestro de Animais: protegendo o pasto

Durante a rebrota das pastagens, uma estratégia eficaz de manejo é o sequestro dos animais em recria, que consiste em retirá-los do pasto e mantê-los confinados em áreas específicas sem acesso a pastagem, como confinamento, praças de alimentação ou piquetes com cocho.

Para que essa prática funcione bem, é fundamental oferecer uma fonte adequada de volumoso (como silagem ou feno) e o suplemento necessário à dieta. Também é indispensável que o local de confinamento tenha estrutura suficiente, com espaço, cochos adequados e acesso contínuo a água limpa e de qualidade.

O período de sequestro deve durar de 45 a 60 dias, tempo necessário para que o pasto possa rebrotar e se desenvolver sem interferência dos animais. É importante lembrar: o objetivo principal do sequestro não é o ganho de peso dos animais, mas sim preservar o crescimento saudável e vigoroso da pastagem, garantindo produtividade ao longo da estação das águas.

 

Quando não é possível retirar os animais do pasto

Em situações em que não há estrutura ou viabilidade para retirar os animais do pasto durante a transição da seca para as águas, algumas alternativas nutricionais podem ser adotadas para minimizar impactos:

  • Uso de aditivos, como a flavomicina, que contribuem para melhorar a eficiência do aproveitamento proteico no rúmen; (Por que utilizar aditivos em suplementos para bovinos de corte no sistema a pasto? Confira o artigo).
  • Fornecimento de fontes de carboidrato, como o milho, que ajuda as bactérias ruminais a utilizarem melhor a proteína de rápida degradação (fração A) presente nas folhas novas;
  • Ajuste na composição dos suplementos, priorizando produtos com pouca ou nenhuma ureia, já que o pasto jovem já fornece grande quantidade de nitrogênio não proteico (NNP).

 

Cuidado com os animais na TIP

Para os animais em terminação intensiva a pasto (TIP), o ideal é que o abate ocorra antes da chegada das primeiras chuvas. Isso porque, com o surgimento da rebrota, os animais tendem a reduzir o consumo da ração, o que compromete o desempenho e a eficiência da terminação.

O manejo ideal seria:

  • Abater os lotes em terminação antes da rebrota do pasto;
  • Iniciar novos lotes apenas quando o pasto já estiver estruturado, garantindo suporte adequado à terminação.

Algumas fazendas optam por confinar os animais durante essa transição, seja em estruturas típicas de confinamento ou em praças de alimentação localizadas nos próprios piquetes. Nesse caso, como os animais não terão acesso ao pasto, é indispensável fornecer volumoso e manter a dieta balanceada para garantir bom desempenho.

 

Considerações finais

Na transição entre seca e águas, o olhar do produtor deve ir além do animal: é o pasto que precisa de tempo e proteção para se estabelecer com vigor. A rebrota é frágil, e o consumo precoce compromete sua capacidade de sustentar o rebanho ao longo da estação. Cuidar do pasto nesse momento é investir em nutrição de qualidade, ganho de peso constante e produtividade a longo prazo.

 

 

 

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