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O que a alta umidade do milho pode causar em uma granja de poedeiras comerciais?

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Na produção de poedeiras, a nutrição fornecida para as aves é um dos principais fatores que influenciam no sucesso da criação, pois deve atender as exigências das poedeiras para que não afete negativamente o desempenho. A ração é considerada o item mais caro da atividade, com valores que podem representar 70 a 80% do custo de produção.

O milho é o insumo mais utilizado nas rações, sendo a principal fonte de energia nas dietas das aves, compondo aproximadamente 65% da ração. Dessa forma, o uso de grãos com grandes variações qualitativas gera a necessidade de ajustes dos níveis nutricionais e inclusões de aditivos nas rações como, por exemplo, adsorventes e ácidos orgânicos, o que impacta financeiramente o processo produtivo.

A obtenção de grãos de alta qualidade depende de diversos fatores, como: características da espécie e da variedade, condições ambientais durante o seu desenvolvimento, época e procedimento de colheita, método de secagem e práticas de armazenagem (BROOKER et al., 1992).

No recebimento do grão de milho na granja é necessário o controle dos padrões de qualidade e possíveis contaminantes presentes no milho como, por exemplo, as sementes de Crotalaria spectabilis (crotalária) e Senna occidentalis (fedegoso) que são tóxicas aos animais e que podem prejudicar o desenvolvimento e desempenho das aves, sendo indispensável a garantia da qualidade para que se forneça uma ração que atenda suas necessidades.

Com relação às variáveis químicas e bromatológicas, os principais parâmetros avaliados são: umidade, fibra bruta, proteína bruta, extrato etéreo, presença de micotoxinas (Aflatoxinas e Fumonisinas).

A Instrução Normativa nº60, de 22 de dezembro de 2011, elaborada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, estabelece o Regulamento Técnico do Milho e tem por objetivo definir o padrão oficial de classificação do grão, ou seja, como os grãos de milho são classificados em todo o Brasil. De acordo com esta normativa, os grãos de milho ideais devem chegar à fábrica de ração fisiologicamente desenvolvidos, limpos e secos, apresentando percentual máximo de umidade de 14% (MAPA, 2011). Abaixo, na Tabela 1, estão apresentadas as tolerâncias estabelecidas nesta Instrução Normativa.

Tabela 1. Limites máximos de tolerância expressos em percentual (%)

Tipo

Grãos avariados

Grãos quebrados

Matérias estranhas/impurezas

Carunchados

Ardidos

Total

Tipo 1

1,00

6,00

3,00

1,00

2,00

Tipo 2

2,00

10,00

4,00

1,50

3,00

Tipo 3

3,00

15,00

5,00

2,00

4,00

Fora do tipo

5,00

20,00

>5,00

>2,00

8,00

 

Além da classificação dos grãos, outro parâmetro que nos orienta sobre a qualidade do milho é a determinação da massa específica ou densidade. De acordo com Pomeranz et al. (1986), a densidade é reduzida com o aumento dos danos ocorridos nos grãos, pelo manuseio mecanizado e por outras situações de estresse. Em concordância com estes autores, Alves et al. (2001) afirmaram que a massa específica diminui à medida em que se aumenta a umidade de colheita dos grãos e a temperatura do ar de secagem, resultando, assim, em uma quantidade menor de grãos por metro cúbico. A análise da densidade é uma variável importante a ser analisada, pois há alta correlação com contaminação por micotoxinas, além de um menor nível nutricional do grão.

A determinação correta do teor de umidade do milho é de extrema importância para o controle de qualidade e o produtor deve evitar o recebimento do grão com umidade acima 14%. Para isso é necessário que o equipamento utilizado para a medição da umidade seja validado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

Grãos de milho com teor de umidade acima de 14%, além de apresentarem baixa qualidade nutricional, possuem processo de moagem dificultado, pois exige mais dos moinhos, gerando um custo a mais de energia elétrica, fazendo com que o processo de elaboração da ração fique mais lento.

O excesso de umidade nos grãos representa um dos fatores que resultam na perda do produto devido à sua associação a outros fatores, como: temperatura, danos mecânicos e impurezas, além da umidade relativa do ar que influencia nas condições dos produtos armazenados. O ataque de insetos e de fungos também deteriora a qualidade dos grãos, que em uma massa com umidade e calor adequados, encontram ambiente ideal para a proliferação e consequente deterioração do produto armazenado (WEBER, 1995).

Dessa forma, outro cuidado que o produtor deve ter é: caso ocorra o recebimento de grãos com alta umidade, estes devem ser utilizados o mais rápido possível e não devem ser armazenados juntos com os grãos com baixa umidade, pois o armazenamento de milho com teores de umidade acima do considerado ideal (12-13%) propicia a proliferação de fungos (Mantovani et al., 2015), principalmente dos gêneros Alternaria, Cladosporium, Fusarium, Helmintosporium, Aspergillus e Penicillium (PUZZI, 1986).

Jobim et al. (2001) e Martini et al. (2009) concordam que a alta umidade nos grãos promove a presença de fungos e micotoxinas. As micotoxinas estão ligadas diretamente a danos à saúde, tanto animal quanto humana, além de trazer grandes prejuízos econômicos (AMARAL et al., 2006).

Segundo Stringhini et al. (2000) observaram que a presença de micotoxinas na dieta das aves ocasionou alterações metabólicas, fisiológicas e anatomopatológicas nos animais, comprometendo órgãos como o intestino, a moela e o fígado.

As micotoxinas de maior importância na avicultura são as aflatoxinas, fumonisinas, a zearalenona, o desoxinivalenol (também conhecido como DON ou vomitoxina), a ocratoxina A e a toxina T-2.

A aflatoxina é uma das principais micotoxinas, sendo produzida principalmente pelos fungos Aspergillus flavus e A.parasiticus. Pesquisas demonstram que as aflatoxinas são responsáveis por graves intoxicações e seu consumo pode causar câncer hepático em várias espécies, incluindo os seres humanos (OLIVEIRA, 1997). Em aves, os principais efeitos observados são a piora da conversão alimentar, lesões hepáticas e imunossupressão (DEVEGOWDA; DAWSON, 2017).

De acordo com estes mesmos autores, a ocratoxina A é conhecida como a mais tóxica para as aves, causando lesões no fígado e rins e resultando em redução de ganho de peso, retardo da maturação sexual e diminuição da produção de ovos. As ocratoxinas são produzidas pelos fungos A. alutaceus e A. alliaceus, ocorrendo mais comumente em cereais e leguminosas.

Os autores relatam também que a toxina T-2 causa lesões orais e intestinais, além de quedas de produção e aumento do número de ovos trincados. Esta toxina é produzida por fungos do gênero Fusarium, assim como as fumonisinas, que causam perda de peso, diarreia, necrose hepática, hiperplasia biliar e lesões nas células epiteliais do intestino.

A vomitoxina (DON) pertence ao grupo dos tricotecenos, que inclui mais de 30 toxinas importantes. São produzidas por vários tipos de fungos, mas principalmente espécies do gênero Fusarium. Nas aves, podem causar nefropatia, imunossupressão, acentuada redução de peso, redução do ganho de peso, comprometimento do sistema imunológico e aumento do peso da moela. Já a zearalenona, é produzida por fungos do gênero Fusarium e Giberella, estando normalmente associada à ocorrência de fumonisinas. Os principais sintomas de intoxicação por zearalenona são baixo desempenho reprodutivo, imunossupressão, baixo consumo de ração e prolapso de cloaca (DEVEGOWDA; DAWSON, 2017).

Além desses impactos das micotoxinas sobre a saúde das aves, a presença de fungos pode também influenciar no valor nutritivo do grão de milho. Segundo Mazucco et al. (2002), muitos fatores podem influenciar a composição química e valor energético do milho, tais como: origem, variedade, processamento, ataque de pragas e doenças. Os mesmos autores salientam a escassez de informações sobre o valor nutritivo do milho quando os grãos estão infestados.

As alterações nutricionais dos grãos estão relacionadas às preferências dos insetos em consumir a parte relativa ao gérmen, sendo que o desenvolvimento dos fungos ocorre quando são maiores os níveis de gordura, culminando com maior consumo do substrato, sendo maior a prevalência de prejuízos causados por Aspergillus flavus (STRINGHINI et al., 2000).

Além da presença das micotoxinas, a presença de fungos pode resultar em perda de peso, redução da relação peso/volume e alteração da composição bromatológica dos grãos de milho (STRINGHINI et al., 2020). Os fungos absorvem os nutrientes dos alimentos para sobreviver, diminuindo o valor nutritivo dos grãos e da ração para as aves. Essa alteração depende principalmente da espécie do fungo, da umidade e do tempo de armazenamento da ração. Existe uma relação entre o crescimento dos fungos e a diminuição do nível energético do alimento, que pode causar a perda de amido e, especialmente, de óleo (AVINEWS, 2017).

A realização da colheita dos grãos em condições climáticas desfavoráveis leva à necessidade de secagem, provocando reduções no conteúdo de energia metabolizável, que podem chegar até 300kcal/kg (CARVALHO et al., 2004).

No gráfico abaixo podemos observar a redução do valor energético do milho (kcal/kg), em função do teor de umidade do grão:

Umidade do Milho %
Fonte: Agroceres Multimix

Pensando nessa redução de energia no grão de milho pela ocorrência da alta umidade, é necessário ajuste da matriz nutricional do milho nas formulações das rações, caso não seja feito esse ajuste, as aves consumirão dietas com valores superestimados de energia, podendo causar piora no desenvolvimento das frangas e queda na produção dos ovos. Ao realizar os ajustes nutricionais das fórmulas das dietas, verificamos um impacto considerável no custo das rações para manter os níveis adequados para bom desempenho das aves.

Considerando os preços médios atuais de matérias-primas, no gráfico abaixo é exemplificado o aumento do custo em uma fórmula de postura na fase de produção de ovos, devido à perda de energia por conta da umidade no grão de milho. Há um impacto maior no custo da ração a partir de 15% de umidade no milho, pois é necessário suplementar a fórmula com óleo degomado de soja, matéria-prima de custo elevado, para fornecer o nível exigido de energia pelas aves.

Umidade do Milho %

Fonte: Agroceres Multimix

Dessa maneira, é de grande importância o controle da qualidade das matérias-primas que entram na granja, para uma maior biosseguridade e qualidade das rações, pois se produzidas com ingredientes de baixa qualidade, podem causar queda no desenvolvimento e desempenho das aves, menor produção e piora na qualidade dos ovos com consequente aumento no custo de produção.

Nutrição Animal – Agroceres Multimix

 

Referências Bibliográficas

ALVES, W.M. et al. Qualidade dos grãos de milho em função da umidade de colheita e da temperatura de secagem. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande, v.5, n.3, p.469-474, 2001.

AMARAL, K. A. S. Aflatoxinas em produtos à base de milho comercializados no Brasil e riscos para a saúde humana. Revista Ciência e tecnologia de alimentos. Campinas, v. 26, n.2, p. 336-342, jun. 2006.

AVINEWS BRASIL. Micotoxinas nas aves, considerações técnicas. 2017. Disponível em: <https://avicultura.info/pt-br/micotoxinas-nas-aves/>. Acesso em: 11 jun. 2021.

BROOKER et al.  Drying and storage of grains and oilseeds. New York: van Nostrand Reinhold, 1992. 450p.

CARVALHO et al. Composição química e energéticas de amostras de milho submetidas a diferentes temperaturas de secagem e períodos de armazenamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 2, p. 358-364, 2004.

DEVEGOWDA, G; DAWSON, K. Impacto das micotoxinas na saúde e desempenho produtivo de aves. In: BENNERT , Catarina. Micotoxinas: impacto na produção de aves. [S. l.], 30 jul. 2017. Disponível em: https://silo.tips/download/micotoxinas-impacto-na-produao-de-aves#. Acesso em: 10 jun. 2021

JOBIM, C.C., GONÇALVES, G.D., SANTOS, G.T. Qualidade sanitária de grãos e de forragens conservadas “versus” desempenho animal e qualidade de seus produtos. Maringá: UEM/CCA/DZO, 2001, p. 242-261.

MANTOVANI, E.C. et al. Cultivo do milho. Embrapa Milho e Sorgo. 2015.

MAPA. Instrução Normativa n° 60, de 22 de dezembro de 2011.

MARTINI, R. E.; PRICHOA, V. P.; MENEGAT, C. R. Vantagens e desvantagens da implantação de silo de Armazenagem de grãos na granja de Martini. Revista de administração e ciências contábeis do Idea. Getulio Vargas, v.4, n.8, 2009.

MAZZUCO, H. et al. Composição Química e Energética do Milho com Diversos Níveis de Umidade e Diferentes Temperaturas de Secagem para Frangos de Corte. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 31, n. 6, p. 2216-2220, nov. 2002.

OLIVEIRA, C.A.F.G., P.M.L., Aflatoxina M1 em leite e derivados: ocorrência no Brasil e aspectos relativos à legislação. Hig. Aliment. 11, 22-25, 1997.

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PUZZI, D. Abastecimento e armazenagem de grãos, Campinas-SP: Instituto Campineiro de Ensino Agrícola. 1986. 603p.

STRINGHINI, J. H. et al. Efeito da Qualidade do Milho no Desempenho de Frangos de Corte. Revista brasileira de zootecnia. Goiania, v. 29, n.1, p. 191-198, 2000.

STRINGHINI, J. H. et al. Qualidade do milho na ração de aves. InQualidade do milho na ração de aves. NutriNewsBrasil, 15 out. 2020. Disponível em: https://nutrinewsbrasil.com/qualidade-do-milho-na-racao-de-aves/. Acesso em: 10 jun. 2021.

WEBER, E. A. Armazenagem Agrícola. 1. ed. Porto Alegre: Kepler Weber Industrial, 1995. 395 p.

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