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O uso do creep feeding e o desafio de se criar leitões saudáveis e produtivos

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Vamos usar uma “raçãozinha” para dar suporte aos leitões na lactação? Claro, mas qual das opções disponíveis no mercado escolheremos? O que uma ração deve apresentar para ser considerada boa? Com qual idade deveremos iniciar o fornecimento? Quais os impactos se eu não usar?

Estas são apenas algumas das várias perguntas feitas quando abordamos o tema do uso de creep feeding para leitões durante a lactação. E sejamos claros, são todas pertinentes e nem sempre fáceis de responder.

Há décadas a academia e o mercado buscam incessantemente soluções para que a suinocultura produza leitões saudáveis e capazes de tolerar bem a fase de desmame, que é reconhecidamente o evento mais estressante e desafiador da vida do suíno. Parte do estresse é causado pela transição abrupta da base alimentar dos leitões do leite materno para uma ração pré-inicial. Portanto, os leitões, além de lidarem com o novo ambiente e a necessidade de socialização com outros leitões, precisam adaptar-se à nova dieta, que é sólida e frequentemente de menor digestibilidade.

Não raro, percebe-se uma redução no consumo desses leitões no pós-desmame imediato. E o impacto disso é uma redução do ganho de peso diário na primeira semana e, com ele, o aumento das probabilidades de remoção e comprometimento do desempenho subsequente do lote (Figura 1). Esse fato pode comprometer mesmo leitões que desmamaram com bom peso, ou seja, todos os animais são passíveis de sofrer com um período pós-desmame mal manejado.

 

Figura 1. Probabilidade de remoção de leitões até a saída de creche com diferentes classes de peso, em função do ganho de peso diário durante a primeira semana pós-desmame (Dados internos, Agroceres Multimix, 2020).

 

Então, como podemos preparar os leitões para o desafio digestivo que enfrentarão? A resposta, sem dúvidas, passar por estabelecer o uso de uma ração creep feeding de alta qualidade.

As rações creep feeding são formuladas especificamente para atender às necessidades nutricionais dos leitões em fase de lactação e pós-desmame imediato, isto é, sua composição considera a produção enzimática dos animais nessa fase, caracterizada por baixas quantidades de carboidrases e proteases, em detrimento a uma maior quantidade de lactase.

Outra característica é o uso de ingredientes de alto padrão de digestibilidade e qualidade, estimulando o desenvolvimento intestinal, sobretudo por preservar a estrutura das vilosidades, para uma transição segura e gradual para as dietas mais simplificadas das fases subsequentes no sistema produtivo.

Um dos resultados imediatos desta combinação de fatores é a promoção do desenvolvimento precoce dos leitões, especialmente em termos de capacidade de consumo de alimentos sólidos e aumento na taxa de crescimento. Ainda, com o uso de rações creep feeding é possível a suplementação de nutrientes e aditivos específicos que atuarão na maximização da qualidade intestinal dos leitões.

 

FATORES DE ATENÇÃO.

Sob a ótica produtiva, os benefícios do uso de creep feeding podem ser quantificados na melhoria do ganho de peso e consumo, como resultado da melhor adaptação digestiva e saúde intestinal. Porém, muitos detalhes importantes devem ser observados, pois o leitão irá desempenhar melhor quanto mais ajustado estiver a implementação do manejo e uso da ração.

O elemento mais relevante versa sobre a duração do uso de creep feeding durante a lactação. Em uma metanálise que buscou elucidar os efeitos do uso de creep feeding durante o pré e pós-desmame, Muro et al. (2023) verificaram que, além da importância do fornecimento, é fundamental atentar-se à exposição dos leitões precocemente à ração. Os autores encontraram relação positiva entre duração do uso de creep feeding e consumo total da ração pela leitegada, na ordem de 0,27 kg de ração para cada dia de fornecimento extra (p < 0,001; Figura 2).

 

Figura 2. Associação entre o consumo e duração do uso de creep feeding durante a lactação (Muro et al., 2023).

 

Os mesmos autores identificaram que leitegadas que consumiram creep feeding por até 13 dias apresentaram peso ao desmame 4,3% maior que leitegadas que não consumiram ração, ao passo que leitegadas que consumiram creep feeding por mais de 14 dias desmamaram 8,1% mais pesados do que as leitegadas sem ração (p = 0,003; Figura 3).

É reconhecido que o consumo não é linear, já que animais jovens tem menor capacidade de ingestão, ao passo que, quanto mais próximo ao desmame, mais adaptado ao consumo o animal se tornará. Porém, fica evidente que, quanto antes os animais estiverem expostos, maior o benefício sobre o ganho proporcionado à leitegada a partir do consumo da ração creep feeding.

 

Figura 3. Efeitos de diferentes durações do uso de creep feeding sobre o peso da leitegada desmamada (Muro et al., 2023).

 

Considerando que a maior parte dos sistemas produtivos atuais desmama leitões a partir dos 21 dias, parece uma estratégia acertada o uso de creep feeding a partir do 7º dia de lactação. Com isso, é possível garantir que os leitões que recebem creep feeding tenderão a ter um desenvolvimento mais rápido e robusto, resultando em suínos mais saudáveis e produtivos ao longo do seu crescimento.

Percebe-se, portanto, que uma estratégia capital para o sucesso do uso das rações creep feeding é estimular e garantir o consumo. E uma série de fatores pode influenciar com que leitões se interessem e consumam a ração. Os mais básicos, já conhecidos há bastante tempo, são o espaçamento e acessibilidade aos comedouros, que devem ser resistentes, preferencialmente fixos ao piso e com acesso por ambos os lados, ou em torno do comedouro, quando circular (Wattanakul et al., 1997).

Ainda, foi observado que a localização do comedouro também importa. Alocar o comedouro para leitões próximos à cabeça da fêmea elevou o consumo de ração creep feeding e, consequentemente, a taxa de crescimento de leitões durante a lactação, se comparado à leitões no qual o comedouro se encontrava próximo ao posterior das fêmeas (Oliveira et al., 2021).

O desperdício é um elemento inerente ao manejo de rações creep feeding, sobretudo no início do fornecimento, quando os leitões são jovens e ainda estão aprendendo o ato de consumir ração. Some isto à curiosidade natural dos leitões e temos um cenário muito propício ao desperdício. Estratégias como o fornecimento fracionado várias vezes ao dia, bem como o aumento gradual da presença de ração nos comedouros e o uso de tapetes abaixo deles, podem auxiliar neste cenário.

 

RETORNO SOBRE O INVESTIMENTO.

O custo associado ao uso de rações creep feeding é frequentemente o elemento de maior preocupação por parte dos produtores, sobretudo, durante momentos em que as margens do negócio suinocultura estão estreitas e os investimentos devem ser bem direcionados. Contudo, apesar de as rações para essa fase apresentarem o custo por quilo elevado, já que são compostas por ingredientes de alta digestibilidade e segurança sanitária, as quantidades empregadas são baixas e, ao final, a participação no custo do programa alimentar de creche gira em torno de 5% a 6%; e, se tratarmos do custo do programa alimentar do desmame ao abate, o impacto é de 1% a 2%.

Ainda, é importante considerar no momento de se calcular a viabilidade econômica da estratégia de uso de rações creep feeding que leitões bem preparados, com bons resultados ao desmame e durante a primeira semana de creche, tendem a apresentar não apenas reduzida mortalidade, como já citado, mas também maior peso ao abate. O acompanhamento de mais de 3.500 leitões do nascimento ao abate demonstrou que a cada 100g de GPD na primeira semana pós-desmame, há possibilidade de redução de 4 a 5 dias no tempo para abate (r = 0,22; P < 0,001; Figura 4a). O mesmo banco de dados permite observar que para cada 1 kg de diferença no peso ao desmame, há acréscimo de 3,83 kg ao abate (r = 0,36; P < 0,001; Figura 4b).

 

Figuras 4a e 4b. Relação entre o GPD de primeira semana e o peso ao abate (a, esquerda) e relação entre o peso ao desmame e o peso ao abate (b, direita) (Dados internos, Agroceres Multimix, 2020).

 

Reconhecidamente, fala-se sobre os benefícios sobre a redução de competição por tetos entre os leitões de diferentes tamanhos, ao disponibilizarmos uma fonte suplementar de alimento. Esse fato gera uma consequência relevante no pós-desmame imediato, pois, os menores leitões da leitegada, portanto aqueles que normalmente perdiam a disputa por tetos, são os mesmos que mais tendem a consumir creep-feeding (Pluske et al., 2007).

 

EFICIÊNCIA REQUER CONTROLE.

Finalmente, para o sucesso no uso de rações creep-feeding é necessário monitorar de perto o consumo de alimentos pelos leitões para garantir que recebam a quantidade adequada sem desperdícios. O creep feeding é uma prática que oferece benefícios significativos em termos de desenvolvimento e saúde dos leitões, mas requer cuidadosa gestão e monitoramento para garantir seu sucesso comercial.

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