A aveia é uma gramínea típica de inverno, que pode ser utilizada como: volumoso (pastejo, silagem e feno), cobertura do solo, adubação verde e produção de grãos (consumo humano e animal). Dentre as espécies existentes de aveia, as mais cultivadas no Brasil são: aveia preta (Avena strigosa Schreb) e aveia branca (Avena sativa L.).
A aveia preta apresenta menor tamanho e rendimento dos grãos e maior produção de matéria seca, além de resistência ao pisoteio e, por esse motivo, costuma ser mais utilizada como pastagens, cobertura do solo e produção de feno e silagem. Já o cultivo da aveia branca tem como principal objetivo a produção de grãos para alimentação humana e animal (seu grão tem o dobro do peso da aveia preta). Independente das características de cada espécie, no campo, vemos ambas sendo utilizadas para diferentes finalidades.
A aveia é exigente em relação a água e se desenvolve bem em regiões frias. No Brasil, o cultivo de aveia está concentrado no Rio Grande do Sul e Paraná, também sendo encontrada em Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, São Paulo e sul de Minas Gerais.
O grão de aveia
O grão de aveia pesa entre 30 e 35 mg e apresenta densidade entre 520 e 760 kg/m³. Este é envolto por uma camada com aspecto similar à palha, formando uma casca resistente e fibrosa (celulose e lignina) que corresponde a cerca de 20 e 30% do grão. Os demais componentes do grão são: pericarpo (9 a 12%), endosperma (60 e 85%), gérmen (2,5 e 4%) e farelo, estrutura que apresenta elevado teor de fibra (15 a 20%), principalmente solúvel (35 a 50%), rica em ß-glucana, muito explorada na nutrição humana (Figura 1).
Graças a sua estrutura, a aveia tem elevado teor de fibra (cerca de 10%), composta por fibras solúveis (beta-glucanas) e fibras insolúveis, presentes principalmente na casca, representadas pela celulose, hemicelulose e lignina. O elevado teor de fibra, de boa digestibilidade, presentada na aveia, faz com que se encaixe muito bem em dietas com elevado teor de concentrado, ajudando a manter o ambiente ruminal saudável.
A proteína da aveia apresenta boa digestibilidade e pode variar de 12 a 25% (teor este elevado quando comparado a outros cereais). Em relação a energia, por ter de 44 a 61% de amido, o grão de aveia apresenta cerca de 87% dos nutrientes digestíveis totais (NDT) do grão de milho. (Tabela 1).
No geral, o amido é formado, basicamente, por dois polissacarídeos, amilose e amilopectina, e a proporção de cada um deles influenciará sua digestibilidade. Sendo assim, quanto mais amilose no amido, menos digestível será. A aveia, diferente do milho e do sorgo, terá maior teor de amilopectina na sua composição, o que torna seu amido mais digestível que o milho. Além disso, a digestibilidade do amido do milho e do sorgo é comprometida devido à presença de uma matriz proteica resistente à ação dos microrganismos, as chamadas prolaminas, o que não ocorre com a aveia.
O grão de aveia, ainda apresenta um bom teor de extrato etéreo, podendo variar entre 3 e 11%. Aproximadamente, 95% dos lipídios do grão de aveia são compostos pelos ácidos graxos insaturados oleico (cerca de 41%) e linoleico (aproximadamente 39%), e pelo ácido graxo saturado palmítico (ao redor de 15%).
Tabela 1 – Composição química da aveia branca e milho, em matéria seca
% em Matéria seca | Aveia branca | Milho |
Matéria seca | 90,44 | 87,96 |
Proteína bruta | 14,60 | 9,01 |
Extrato etéreo | 3,82 | 4,02 |
Fibra bruta | 10,20 | 2,21 |
FDN | 27,69 | 13,05 |
FDA | 22,92 | 3,89 |
NDT | 75,24 | 86,11 |
Amido | 52,71 | 71,45 |
CNF | 50,70 | 72,32 |
Fonte: VALADARES FILHO, S.C., LOPES, S.A. et al., CQBAL 4.0. Tabelas Brasileiras de Composição de Alimentos para Ruminantes. 2018. Disponível em:www.cqbal.com.br
Modo de uso da aveia
A aveia é um substituto parcial do milho. Estudos indicam que a aveia pode substituir o milho em até 40% na matéria seca, ou ser incluída até 30% na dieta, na matéria seca, sem prejudicar o desempenho dos animais.
O milho e a aveia apresentam diferentes taxas de degradação de carboidratos e proteínas (a aveia degrada mais rápido), o que pode favorecer o desenvolvimento dos microrganismos ruminais devido ao sincronismo de degradação, otimizando o desempenho dos animais.
Além disso, seu uso pode ser estratégico em dietas com baixa inclusão de volumoso, pois, além de contribuir com a fibra para manutenção do ambiente ruminal, a aveia apresenta elevado teor de FDN (fibra em detergente neutro) e, com isso, elevado teor de celulose e hemicelulose (40 a 45%), fração B2 dos carboidratos, que tem como característica o fornecimento mais lento de energia para o ambiente ruminal, minimizando os riscos de distúrbios metabólicos.
Em relação ao seu manejo, a aveia pode ser utilizada inteira, sem moer, uma vez que vários estudos já demonstraram pouco ou nenhum benefício no desempenho dos animais quando o grão de aveia é processado, promovendo praticidade no seu manuseio e fornecimento, com redução nos custos de moagem. A mastigação é suficiente para romper a barreira física (casca) do grão de aveia, por esse motivo, a moagem da aveia pode ser justificada em casos de animais mais velhos e/ou com problemas de dentição.
Em algumas situações, é normal relatos sobre a presença de aveia nas fezes e isso traz a questão da moagem à tona. Moer a aveia não vai fazer com que ela não saia nas fezes, apenas fará com que não seja visível a olho nu. Em alguns casos, ajustes relacionados ao manejo e formulação serão necessários, além de ser importante avaliar se a aveia se ajusta bem a dieta.
Cuidado!
Apesar de apresentar menor teor de amido e ser mais fibrosa, a aveia é um alimento concentrado e seu uso deve ser ajustado nas formulações, pois, em excesso, pode provocar distúrbios metabólicos.
Ótimo conteúdo
Excelente material informativo, principalmente em comparação ao milho.
Parabêns.
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