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Qual a importância da nutrição do macho reprodutor de frango de corte?

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Desde 2004 o Brasil se consolidou como líder mundial na exportação de carne de frango e, de acordo com o site do Governo Federal, atualmente o país detém 35% desse mercado. Para se ter uma ideia, apenas no ano passado foram produzidas 14,3 milhões de toneladas de carne de frango, das quais 32% foram exportadas para mais de 150 países, gerando uma receita de US$ 7,6 bilhões.

Por se tratar de uma atividade econômica extremamente importante para o país, os cuidados com os lotes de matrizes de corte são fundamentais para manter a produtividade e desempenho zootécnicos na produção de frangos de corte. Ao considerarmos o lote de matrizes, apesar de os machos reprodutores constituírem apenas 10% do total de aves, eles representam 50% de toda a genética do plantel (BORGES et al, 2006), uma vez que o macho matriz é responsável pela fertilização dos ovos de 10 galinhas, ou mais (LADIR, 2012).

Reforçando a importância dos cuidados com o macho reprodutor, a fertilidade de um lote de matrizes pesadas depende, além da idade das aves:

        • do número de galos produtores de sêmen,
        • do número e da qualidade dos espermatozoides dos galos e
        • do número de acasalamentos completos (HARRIS et al, 1984).

A maturidade sexual ocorre entre 5 a 9 meses de idade e a atividade reprodutiva das aves é resultante da interação de:

  • estímulos externos ambientais como, por exemplo, o fotoperíodo, a temperatura, a disponibilidade de alimentos, bem como seu balanceamento,
  • estímulos comportamentais, tais como estresse, presença do parceiro, grau de bem-estar e por mecanismos de controle neuroendócrino (FLORIANO, 2013).

Nutrição do macho reprodutor

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Dentre os fatores citados anteriormente, cabe destacar a importância da nutrição do macho reprodutor de frango de corte. Alguns produtores de pintos de corte relutam em adotar um programa nutricional específico para galos reprodutores, devido a:

        • dificuldade adicional no manejo alimentar,
        • possibilidade de erros e
        • não convencimento sobre a obtenção de melhores resultados no desempenho reprodutivo (COUTO et al, 1998).

Diante desse cenário, a maioria dos produtores disponibiliza dietas formuladas para atender as exigências nutricionais das matrizes aos machos.

De acordo com Silva (2017), durante a fase de recria o macho reprodutor pode receber a mesma dieta da fêmea. Porém, durante o período reprodutivo, é importante utilizar sistemas de alimentação separados por sexo, visando maior controle do peso corporal do macho e uniformidade.

A estratégia da alimentação separada por sexo possibilita o uso de rações específicas para o macho reprodutor. O fornecimento de uma dieta específica para o macho, com menores níveis proteicos e aminoacídicos em comparação à ração fornecida para a fêmea, pode ajudar a prevenir:

        • o desenvolvimento muscular excessivo,
        • garantir a disponibilidade de uma ração compatível com as necessidades energéticas dos galos,
        • favorecer a manutenção da condição fisiológica e fertilidade do macho (SILVA, 2017).

Na fase reprodutiva, as exigências nutricionais do macho reprodutor adulto são menores, já que o crescimento é bastante reduzido. Ademais, os machos não produzem ovos, necessitando de energia apenas para atividades diárias e mantença (BORGES, 2001).

Energia

De acordo com manuais de linhagem, pode-se formular dietas para machos com níveis de energia entre 2600 e 2800 kcal EM/kg (ROSS, 2018), ou com energia de 2700 kcal/kg para machos a partir de 24 semanas da idade (COBB, 2020). Leeson e Summers (2005) citam energia metabolizável para machos reprodutores de 2650 a 2750 kcal/kg.

É importante trabalhar com níveis de energia adequados para os machos reprodutores, visto que o excesso de energia é armazenado principalmente na forma de gordura, resultando em aumento do peso corporal. Consequentemente, o aumento do peso corporal resulta em maior sensibilidade dos animais aos problemas de pés e pernas, além de interferir na monta natural, podendo reduzir a eclodibilidade e fertilidade (LADIR, 2012).

Desse modo, o excesso de peso do macho reprodutor correlaciona-se negativamente com a fertilidade e eclodibilidade, conforme verificado em estudo de Brown e McCartney (1986), que observou redução da produção e volume de sêmen em machos com excesso de peso (BORGES, 2001). Outrossim, Gonçalves et al (2015) afirmam que alterações metabólicas causadas por níveis mais elevados de circulação lipídica em animais com excesso de peso, também podem ser associados à infertilidade do galo.

Proteína Bruta

Além da energia, Tardin (1990) relata que rações com 16% de proteína bruta utilizadas na nutrição das fêmeas, quando fornecidas aos galos, encarecem de 7 a 11% o custo com alimentação, comparado a uma dieta com 12% de proteína para reprodutores de corte (LADIR, 2012).

Em estudo de McDaniel (1985), os galos que receberam dietas ricas em proteínas, destinadas às fêmeas, apresentaram redução da produção e da viabilidade de espermatozoides, o que torna a fertilidade e as taxas de eclosão dos lotes de matrizes comerciais passíveis de efeitos negativos (GONÇALVES et al., 2015). Em outro estudo, Cherry et al (1984) defendem que dietas contendo 12% de proteína bruta e 1% de cálcio (Ca) podem ser fornecidas aos machos adultos, sem causar prejuízos à fertilidade.

Cálcio

As fêmeas reprodutoras consomem dietas ricas em cálcio para a formação da casca dos ovos. No caso dos machos reprodutores, o excesso deste mineral se associa à interferência na absorção inorgânica de manganês, zinco e magnésio, tornando-os indisponíveis para absorção intestinal, resultando em queda do desempenho (WALDROUP, 1996; GONÇALVES et al., 2015).

Em contrapartida, Kappleman et al (1982) assinalam que machos alimentados com dietas contendo mais de 3% de cálcio não tiveram a fertilidade prejudicada, demonstrando que o fornecimento de dietas voltadas para as fêmeas em produção, apesar de aumentar a concentração de cálcio no sêmen, não influencia na fertilidade.

Neste contexto, Rostagno et al (2017) recomendam o uso de:

        • 12,61% de PB e 0,50% de Ca para um consumo de 130 g de ração/ave/dia
        • 11,71% de PB e 0.464% de Ca para um consumo de 140 g de ração/ave/dia.

Já Leeson e Summers (2005) recomendam níveis de PB de 10 a 12% e nível de Ca de 0,75%.

Restrição Alimentar

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Além dos ajustes nutricionais citados anteriormente, outro fator essencial no cuidado com os lotes de machos reprodutores é a restrição alimentar. Para alcançar os objetivos de retardar a maturidade sexual, reduzir o peso corporal e melhorar o desempenho reprodutivo do plantel, a restrição alimentar tem sido um método praticado com sucesso nas granjas de matrizes (BORGES, 2001).

Na pesquisa de McCartney e Brown (1980), não houve prejuízo ao desempenho reprodutivo em galos que receberam 70% do consumo médio de ração no período de 25 a 28 semanas de idade. Foi observada redução do tamanho dos testículos por conta da restrição alimentar, contudo a fertilidade e a capacidade de eclosão não foram afetadas.

Em programas de restrição alimentar para reprodutores de frangos de corte é possível observar menos problemas ósseos, articulares e nos pés, redução da mortalidade, melhores respostas de anticorpos e resistência a doenças, em comparação às aves que receberam dieta ad libitum (MENCH, 2002).

Acrescenta-se que, além dos cuidados mencionados até então, como um programa de manejo nutricional adequado com restrição alimentar e dietas com níveis nutricionais específicos para machos, o uso de ingredientes que possam beneficiar a qualidade espermática, sendo esta, também, uma estratégia importante a ser utilizada na nutrição do macho reprodutor.

Minerais

A suplementação da dieta com componentes antioxidantes, como o mineral selênio (Se), é capaz de reduzir os efeitos adversos do estresse oxidativo e melhorar a taxa de fertilidade em galos.

O sêmen dos galos contém alta proporção de ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs) suscetíveis à peroxidação lipídica na presença de espécies reativas de oxigênio. A inclusão de selênio na dieta melhora a qualidade do esperma produzido e pode ajudar a melhorar a fertilidade dos lotes por meio de suas propriedades antioxidantes (SABZIAN-MELEI et al, 2022).

Além do selênio, a inclusão do mineral zinco na dieta de frangos de corte:

        • aumenta o volume do sêmen,
        • aumenta as concentrações de estrogênio e progesterona,
        • melhora a qualidade do sêmen
        • melhora a motilidade espermática,
        • reduz a porcentagem de espermatozoides mortos
        • reduz anomalias cromossômicas,
        • pode resultar em melhoria da fertilidade dos galos e de todo o lote (JAFARI et al, 2021).

Suplementação dietética

Diversos estudos mostram que a suplementação dietética, com ácidos graxos ômega-3 e ômega 6, aumenta significativamente a fertilidade espermática das aves. Ao fornecerem dieta com proporção adequada de ácidos graxos ômega-3 e ômega 6, Feng et al (2015) relataram:

        • aumento da secreção hormonal,
        • melhora do desenvolvimento testicular e
        • aumento do desempenho reprodutivo.

Fouad et al (2020) descrevem a importância da vitamina E na proteção do sistema reprodutor masculino contra danos oxidativos e na manutenção do desenvolvimento testicular normal. Outros fatores nutricionais citados pelos autores, que podem aumentar a fertilidade dos galos, incluem:

        • a coenzima Q10,
        • aminoácidos e seus metabólitos (ácido D-aspártico, L-carnitina, ácido guanidinoacético, L-arginina),
        • probióticos e
        • fitoquímicos.

Em suma, para que se obtenha êxito na produção de reprodutores de frangos de corte, é fundamental desenvolver programas de alimentação e cuidados voltados aos machos reprodutores, visando desenvolvimento adequado do sistema reprodutor, melhoria da qualidade do sêmen e da fertilidade, que favoreçam o desempenho reprodutivo do plantel como um todo.

REFERÊNCIAS

BORGES, C. A. Q. Exigências nutricionais de proteína e de energia para galos reprodutores de corte na fase de produção. 2001. 109 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2001.
BORGES, C. A. Q. et al. Exigência de proteína e composição da carcaça de galos reprodutores de 27 a 61 semanas de idade. R. Bras. Zootec., v. 35, n. 5, p. 1971-1977, 2006.
BROWN, H. B.; McCARTNEY, M. G. Restricted feeding and reproductive performance of individually caged broiler breeder males. Poultry Science, v. 65, p. 850-855, 1986.
CHERRY, J. A. et al. Fertility and behavioral responses of roosters to diets differing in protein and calcium. Poultry Science, v. 63, p. 863-870, 1984.
COBB – Guia de Manejo de Matrizes Cobb. Disponível em: . Acesso em: 12 jul. 2021.
COUTO, H. P. et al. Níveis de proteína em rações de galos reprodutores de corte. R. Bras. Zootec., v. 27, n. 1, p. 95-103, 1998.
FENG, Y. et al. Effects of dietary omega-3/omega-6 fatty acid ratios on reproduction in the young breeder rooster. BMC Vet Res, v. 11, n. 73, 2015.
FLORIANO, L. S. Anatomia e fisiologia das aves domésticas. Urutaí: IF Goiano, UFRN e Rede e-Tec Brasil. 2013, 94 p.
FOUAD, A. M. Nutritional modulation of fertility in male poultry. Poultry Science, v. 99, p. 5637–5646, 2020.
GONÇALVES, F. M. et al. Nutritional aspects and reproductive management of roosters in Brazil. World’s Poultry Science Journal, v. 71, p. 515-521, 2015.
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TARDIN, A. C. Novos conceitos de alimentação de matrizes pesadas. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira De Zootecnia, 27, Campinas, SP, 1990. Anais… Campinas-SP: Avicultura, SBZ, 1990. p. 36-70.
WALDROUP, P. W. Bioassays Remain Necessary to Estimate Phosphorus, Calcium Bioavailability. Feedstuffs, v. 68, p.: 13-20, 1996.

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