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Resfriamento: reduzindo o estresse térmico em vacas leiteiras

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Capa do artigo com tema sobre resfriamento de vacas leiteiras

O estresse gerado por calor excessivo é uma preocupação constante nas propriedades leiteiras no mundo todo. No Brasil, essa preocupação é ainda maior por estarmos em um país tropical, com temperaturas altas praticamente o ano todo. Esse fato gera consequências importantes no bem-estar e na performance desses animais ao longo de suas vidas. As consequências do estresse térmico incluem: queda na produção de leite, piora na eficiência alimentar, baixa taxa de concepção e queda na imunidade, deixando os animais mais suscetíveis a doenças, como: mastite, retenção de placenta, aborto e problemas de casco. O estresse térmico está intimamente ligado à ingestão de matéria seca, ao aumento de CCS e queda de gordura no leite.

Além dos problemas relacionados às vacas em fase de lactação, as consequências se estendem para as bezerras nascidas de vacas em estresse térmico durante o pré-parto. As bezerras têm pior absorção de colostro, além de menor potencial leiteiro, redução do peso ao nascer e menor ganho de peso diário. As novilhas acabam tendo menor chance de chegar à primeira lactação e quando chegam, a produção de leite é menor se comparado às filhas de vacas que não sofreram estresse no pré-parto.

Foto onde uma fazenda se utiliza do método de resfriamento das vacas leiteiras

Quando as vacas passam de 39 graus de temperatura corporal elas começam a perder rendimento, os batimentos cardíacos ficam superiores a 100bpm e a frequência respiratória ultrapassa 60 movimentos respiratórios por minuto. Toda energia que deveria ser utilizada para a produção de leite, por exemplo, vai para tentar dissipar esse calor. Para mudar essa realidade, muitas fazendas vêm investindo em métodos de resfriamento, para que o animal receba água e vento, baixando sua temperatura corporal e possibilitando um melhor conforto. O sistema faz com que o calor do corpo dos animais, quando em contato, passe para a água. O ventilador, por sua vez, faz com que a água quente evapore, roubando calor do animal.

A rotina de resfriamento deve durar de 30 a 60 minutos e para ser eficiente é necessário resfriar pelo menos três vezes ao dia, podendo chegar até 9 resfriamentos diários. É importante que, para um bom resfriamento a vaca esteja recebendo vento e água no lugar certo e na velocidade certa. O sistema deve ser iniciado quando a temperatura ambiente, no meio dos animais, for maior que 18-19 ⁰C. A velocidade mínima dos ventiladores deve ser de 3,5 m/s (melhor se chegar a 4,5 m/s) e utilizar 3 litros de água por vaca por ciclo. Cada ciclo deve ter de 30 segundos a 1 minuto de água e 4 a 6 minutos de vento.

Uma questão que é bastante discutida, quando pensamos em resfriamento, é: onde seria o melhor lugar para se resfriar uma vaca? A sala de espera da ordenha, hoje, seria o local de menor investimento e onde as vacas passam o maior tempo em ócio. Com isso, juntamos o útil ao agradável, principalmente em fazendas que já possuem sistema de 3 ordenhas diárias. A sala de ordenha é, também, uma oportunidade de resfriamento de animais que não estejam confinados e nem em fase de lactação (pré-parto, por exemplo). Os animais podem ser levados ao local de resfriamento quantas vezes forem convenientes durante o dia. Além disso, esse é um local onde normalmente a ventilação é ineficiente, tem-se uma elevada produção de calor e umidade e uma alta densidade de animais, minimizando esses efeitos quando instalado o processo de resfriamento.

A linha de cocho é outra oportunidade para resfriar as vacas várias vezes ao dia. A maior dificuldade é resfriar as vacas no tempo desejado, portanto, melhora muito se for associado ao canzil, travando-o antes da dieta ser oferecida – algumas fazendas encontram dificuldade nesse manejo. Devemos, também, tomar cuidado para não molhar a cama e a comida das vacas, deixando-as desconfortáveis e alterando a dieta que foi formulada. O investimento e manutenção dos aspersores e ventiladores na linha de cocho é maior nesse caso, assim como o consumo de água e a produção de dejetos líquidos, podendo causar transtornos ao manejo diário de limpeza da fazenda. A dificuldade se estende a resfriar outros lotes que não estão na linha de cocho.

Foto onde uma fazenda se utiliza do resfriamento das vacas leiteiras diminuindo o estresse térmico

Algumas fazendas optam por construir uma sala própria para resfriamento, que pode ser usada para diminuir o deslocamento dos animais ou quando o espaço na sala de espera é limitado – o espaçamento entre os animais precisa ser de 1,7 a 3,4 m² se não o resfriamento se torna deficitário. O resfriamento de vacas leiteiras é um assunto que vem sendo discutido há muitos anos e que a cada dia tem se tornado mais essencial. Turnell et al (1992) mostrou que as vacas que são resfriadas na linha de cocho, por água e ventilação, produzem 15,9% a mais de leite quando comparadas a vacas que não são resfriadas, resultando em 2 a 2,4 kg de leite a mais por dia, na média. Em seu estudo, a média de produção para as vacas não resfriadas foi de 22,7 litros de leite por dia, com temperatura retal de 38,7 ⁰C e frequência respiratória de 91,2 respirações por minuto. Contudo, as vacas resfriadas produziram 26,3 litros de leite por dia, com temperatura retal de 38,7 ⁰C e frequência respiratória de 75,2 respirações por minuto.

Silva e Passini (2018) mostraram resultados interessantes em produção de vacas leiteiras em diferentes ambientes de sala de espera. As vacas que estavam no sol durante a espera pela ordenha tiveram média de produção, durante o experimento, de 20,29 litros por dia. Vacas que recebiam apenas sombra na sala de espera tiveram média de produção de 20,89 litros por dia. Vacas que recebiam apenas aspersão com água na sala de espera tiveram produção média de 21,61 litros por dia. E por fim, as vacas que receberam ventilação e aspersão na sala de espera tiveram média de 22,18 litros por dia de produção.

Os resultados e benefícios, entretanto, vão além da média de produção, se estendendo aos índices reprodutivos e ao futuro e longevidade do rebanho. Não temos certo ou errado. O sistema de resfriamento deve se adequar ao manejo e as instalações da fazenda. O importante é resfriar!

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