No Brasil, é muito comum que o sucesso (ou fracasso) de uma operação pecuária seja avaliado apenas com base no ganho de peso dos animais ou no rendimento de carcaça. De fato, essas são métricas importantes — mas, isoladamente, contam apenas metade da história.
Afinal, de que adianta um bom ganho de peso se foi preciso muito alimento (e dinheiro!) para isso?
No confinamento de bovinos de corte, buscar bons resultados exige eficiência no uso dos alimentos, que serão transformados em carne. E é nesse contexto que duas métricas ganham destaque: conversão alimentar e eficiência biológica.
O que é conversão alimentar?
A conversão alimentar (CA) é uma métrica direta que responde a uma pergunta simples: quantos quilos de matéria seca (MS) o animal precisa consumir para ganhar 1 kg de peso vivo?
É uma métrica quantitativa que relaciona o consumo total de matéria seca e o ganho de peso vivo do animal.
Quanto menor a conversão alimentar, melhor. Isso indica que o animal foi mais eficiente em transformar alimento em peso.
Como a conversão alimentar é uma relação de duas variáveis, é importante ressaltar que, para ter uma boa conversão alimentar o consumo de matéria seca não pode ser muito alto e/ou o ganho de peso não pode ser muito baixo.
Exemplo prático:
Imagine dois bovinos de corte (bovino 1 e bovino 2), cada um consumindo 11 kg de matéria seca por dia:
– Ambos consumiram 11 kg de matéria seca por dia
– O bovino 1 ganhou 1,500 kg
– O bovino 2 ganhou 1,650 kg
Qual deles apresentou melhor conversão alimentar?
Bovino 1: CA = 11 kg MS ÷ 1,500 kg = 7,33 kg MS para ganhar 1 kg de peso vivo
Bovino 2: CA = 11 kg MS/1,650 kg = 6,66 kg de alimento para ganhar 1 kg de peso vivo
Conclusão: o bovino 2 apresentou uma conversão alimentar melhor. Ele precisou de menos alimento (6,66 kg) para produzir o mesmo 1 kg de peso vivo, sendo, portanto, mais eficiente.
O que é eficiência biológica?
A eficiência biológica (EB) vai além do peso vivo: ela mede o quanto de matéria seca foi necessária para produzir 1 arroba (15 kg) de carcaça.
Quanto menor o valor, maior a eficiência. Significa que o animal transformou melhor o alimento em carcaça — que é o produto comercializado.
A eficiência biológica, como conceito mais amplo, envolve, além do consumo de matéria, outras métricas importantes como o ganho de peso, período (dias de confinamento ou pasto), rendimento de carcaça, peso vivo de entrada e saída.
Exemplo prático:
– Um bovino confinado por 100 dias
– Peso vivo inicial: 400 kg; peso vivo final: 560 kg
– Rendimento de carcaça inicial: 50% (valor estimado, adotado na maioria dos confinamentos)
– Rendimento de carcaça final: 56%
– Consumo de matéria seca: 10,5 kg/dia (total 1.050 kg MS)
Qual foi a eficiência biológica desse animal?
– Carcaça inicial: 400 kg x 50% = 200 kg = 13,33 @ de carcaça
– Carcaça final: 560 x 56% = 313,6 kg = 20,90 @ de carcaça
– Arrobas ganhas: 20,9 @ – 13,33 @ = 7,57 @
– Eficiência biológica: 1.050 kg MS ÷ 7,57 @ = 138,7 kg de MS/@
Isso é bom ou ruim? A resposta está no custo da matéria seca. Se a sua dieta custa, por exemplo, R$ 1,20 por kg de MS, o custo para produzir cada arroba foi de R$ 166,44 (138,70 x R$ 1,20).
Perceba: o pecuarista não controla o preço da arroba no mercado, mas pode controlar o custo para produzi-la!
O custo com alimentação é o segundo mais impactante na pecuária, perdendo apenas para a aquisição do animal. Mas atenção: buscar somente uma “comida barata” pode custar caro, tornando a operação ineficiente. Deve-se buscar uma dieta bem formulada, com ingredientes de qualidade e alinhada aos objetivos da operação.
O que os dados nos dizem?
Dados do benchmarking da Agroceres Multimix (2024), via Software Confinatto, mostram que:
- Média dos clientes: EB de 159,54 kg de MS/@.
- Clientes TOP 10%: EB de 130,58 kg de MS/@.
O que diferencia os melhores? Um dos fatores de maior impacto é o manejo.
Não medimos o que o animal come, mas sim o que fornecemos
Na prática, não medimos o que cada animal come, mas sim o que fornecemos no cocho. Salvo raras exceções, o consumo individual não é monitorado, o que torna a gestão um desafio.
Geralmente, a comida é oferecida com base na média do lote. Se sobra alimento de um dia para o outro, raramente essa sobra é pesada, dificultando saber o quanto foi efetivamente consumido.
Uma das ferramentas que ajudam a estimar o consumo real é o manejo de cocho limpo –o cocho deve amanhecer limpo (apenas um “farelo”), e os animais devem estar calmos, sem sinal de fome.
Mas essa estratégia só é eficaz se não houver desperdícios, que pode ocorrer em várias situações:
- Distribuição incorreta: alimento jogado para fora durante a distribuição
- Excesso de comida no cocho: animais “brincalhões” podem empurrar a comida para fora
- Cochos danificados: o que permite perdas de alimento
- Falta de leitura de cocho ou falha na leitura: provoca sobras recorrentes por falhas no ajuste da oferta de alimento
- Falta de monitoria e ajuste da matéria seca: especialmente de alimentos úmidos, como a silagem
Pesagem: outro ponto crítico
Outro manejo essencial — e muitas vezes negligenciado — é a pesagem correta dos animais.
Para que o ganho de peso seja confiável:
- A pesagem inicial e final deve seguir os mesmos procedimentos:
- Mesmo horário.
- Mesmo tempo de jejum.
- Balança calibrada.
Esses cuidados garantem dados mais precisos tanto para a conversão alimentar quanto para a eficiência biológica.
Na prática
Analisar o desempenho de diferentes lotes confinados por meio da conversão alimentar e da eficiência biológica permite identificar, por exemplo, os melhores fornecedores de animais — no caso de compras externas — ou avaliar o próprio sistema produtivo, quando se trata de animais próprios. Nesse último caso, o uso estratégico da genética e da nutrição contribui para a melhoria de variáveis essenciais para os resultados do confinamento.
Mensagens finais
Qual métrica usar? Para quem vende o animal por peso vivo com rendimento pré-acordado, a conversão alimentar é uma ótima aliada. Quem vende com base no peso da carcaça, a eficiência biológica é a melhor bússola.
O manejo é rei: Em cenários de insumos caros, um manejo alimentar impecável otimiza tanto a conversão alimentar quanto a eficiência biológica, potencializado o lucro.
Vá além do óbvio: Avaliar o desempenho do confinamento é muito mais do que olhar o ganho de peso. O controle rigoroso do manejo é o caminho para refinar a eficiência.
A regra de ouro: Em uma operação pecuária, o sucesso depende de medir e controlar tudo o que está dentro da porteira!









































