Com o intuito de auxiliar o pecuarista na escolha da suplementação e aditivos, informações como a classificação do suplemento e seus requisitos básicos são de grande valor na hora de fazer a escolha do produto que será trabalhado na fazenda.
Neste artigo, traremos informações técnicas baseadas nas normativas do ministério da agricultura, contendo as características de todos os tipos dos suplementos do mercado. Com esse guia, será possível identificar e classificar o produto que está sendo utilizado na propriedade.
De forma bem simples e direta, as informações apresentadas a seguir mostram as características mínimas dos produtos disponíveis no mercado brasileiro e diferentes formas de serem trabalhados. Vale destacar a importância de ajustar o tipo de produto a realidade da propriedade. Produtos mais concentrados, normalmente utilizados para misturas, devem ser bem estudados, sendo que, quando mais concentrado, maior a capacidade de mistura, sendo estes produtos normalmente direcionados para fábricas de ração.
Suplemento – de uma forma geral – é a uma mistura que pode ser composta por ingredientes minerais, cereais, aditivos, que são incluídos na formulação de acordo com a necessidade de consumo e balanço nutricional dos animais. De acordo com as diretrizes estabelecidas pelo ministério da agricultura, podem ser classificados em duas linhas de pensamento: os produtos prontos para uso e os produtos para mistura.
|
Produtos prontos para uso
Suplementos minerais: geralmente chamados “linha branca”, são produtos que possuem: macro e micro elementos, foi uma das primeiras formas de suplementação para ruminantes. O consumo médio estabelecido pela normativa é de 70g animal/dia, mas podem apresentar consumos médios de aproximadamente 60g a 110g animal/dia.
Recentemente, essa classificação de produtos começou a apresentar aditivos em sua composição, sendo conhecidos como sal “aditivado”. Em algumas situações podem apresentar ureia, nesta situação estes produtos não devem ultrapassar o valor de inclusão de até 15% ou 420g de NNP- Equivalente Proteico por quilo de produto. Extrapolando este valor o produto passará a obter outra classificação, no caso, sal ureado.
Para o desenvolvimento de produtos para bovinos, alguns níveis mínimos devem ser respeitados (valores encontrados no anexo II da IN 12 de 2004 do ministério da agricultura). Dentre os mais relevantes podemos citar o fósforo, que para bovinos de corte não deve apresentar valores menores que 40g por quilo produto ou para vacas em lactação que devem ser de no mínimo 73 g por quilo. Lembrando que, o balanço cálcio/fósforo seja de até 7:1.
Suplementos minerais com ureia: segundo a normativa, possuem em sua composição, macro, micro minerais e ureia. Em alguns casos, podem conter aditivos e não possuem o consumo estabelecido na normativa. Com relação às exigências, são apresentadas, as mesmas dos minerais ‘linha branca’ para bovinos de corte e leite, considerando apenas que eles devam apresentar no mínimo 420g de NNP – Equivalente Proteína Bruta ou um mínimo de 15% de ureia na inclusão do produto. Para suplementos, que contenham nitrogênio de origem não proteica (NNP), devem apresentar uma relação máxima de nitrogênio e enxofre de 10:1.
Suplementos minerais proteicos: são produtos que possuem macro, micro minerais, cereais e em algumas formulações aditivos. Devem conter, pelo menos 20% de PB (proteína bruta) em seus níveis de garantia, sendo que até 85% dessa PB venha de fontes sintéticas (ex.: ureia). Nesse ponto, cabe uma ressalva, 85% é um valor definido pela legislação, sendo este o valor máximo de inclusão de ureia. Sabe-se que, dependendo do cenário, o desempenho animal será otimizado em níveis abaixo deste devido a proteína vinda de fontes verdadeiras, (ex: farelo de soja).
Tabela 01 – Quantidade de PB (proteína bruta) para um suplemento proteico e seu máximo correspondente de ureia.
PB do suplemento | 20% | 24% | 28% | 30% | 34% | 38% | 42% | 46% |
Máximo de NNP | 170g | 204g | 238g | 255 g | 289g | 323g | 357g | 392g |
Máximo de ureia | 6 % | 7,3% | 8,5% | 9,1% | 10,3% | 11,5% | 12,7% | 13,9% |
Esses produtos geralmente possuem um consumo de aproximadamente 100g até 250g para cada 100kg de peso vivo (PV). Ainda, para serem considerados proteicos, devem fornecer pelo menos 30g de proteína bruta para cada 100kg de peso vivo do animal.
São produtos com maior nível de tecnologia, sendo assim, podem garantir melhores resultados zootécnicos do que os suplementos apresentados anteriormente.
Para maiores esclarecimentos sobre o consumo dos suplementos atrelados ao desempenho animal, confiram o vídeo: Suplementação nas águas
Suplemento mineral proteico energético: possui em sua composição, macro e micro minerais em algumas formulações pode conter também aditivos melhoradores de desempenho. Pela legislação, deve possuir pelo menos 20% de proteína bruta em seus níveis de garantia, sendo que, essa proteína, da mesma forma que no suplemento proteico, deverá ser de no máximo 85% vinda de fontes sintéticas (ureia). Esta classificação de produto deverá fornecer também 30g de proteína bruta e 100g de nutrientes digestíveis totais (NDT) para cada 100kg de peso vivo do animal, conforme tabela abaixo.
Tabela 02 – Quantidade de NDT (Nutrientes Digestíveis Totais) para categorizar um suplemento proteico energético.
Consumo suplemento (g / 100 kg PV) | NDT (g/kg) Níveis de garantia* | ||||||
350 | 400 | 450 | 500 | 550 | 600 | 650 | |
200 | 70 | 80 | 90 | 100 | 110 | 120 | 130 |
300 | 105 | 120 | 135 | 150 | 165 | 180 | 195 |
400 | 140 | 160 | 180 | 200 | 220 | 240 | 260 |
500 | 175 | 200 | 225 | 250 | 275 | 300 | 325 |
600 | 210 | 240 | 270 | 300 | 330 | 360 | 390 |
700 | 245 | 280 | 315 | 350 | 385 | 420 | 455 |
800 | 280 | 320 | 360 | 400 | 440 | 480 | 520 |
900 | 315 | 360 | 405 | 450 | 495 | 540 | 585 |
* Consumo final deverá ser maior que 100 g;
Proteicos energéticos – dependendo da formulação – podem apresentar o consumo de 200g, até 900g para cada 100kg de peso vivo, mas ao observar os dados marcados em vermelho, quando um suplemento apresenta baixo NDT e baixo consumo, ele provavelmente não deveria ser classificado como tal, pois não fornecerá o mínimo de 100g de NDT a cada 100kg de peso vivo.
Rações: seguindo a linha de pensamento que engloba produtos para pronto uso, as rações não possuem diretrizes legais que regem seus mínimos níveis de garantia, como os suplementos minerais. São compostas por: macro e microminerais, ingredientes com fontes proteicas (ex.: farelo de soja) e energéticas (milho) e, em alguns casos, melhoradores de desempenho e devem atender às exigências nutricionais dos animais designados.
São produtos que apresentam o consumo de pelo menos 1% do peso vivo do animal, sendo utilizados puros, como por exemplo na recria ou terminação intensiva a pasto, ou em confinamentos, misturada a volumosos (geralmente silagens).
Produtos para mistura
Essa linha de produtos – obrigatoriamente – deve ser misturada a outros ingredientes para serem fornecidos aos animais e são denominados como: concentrados, núcleos e premixes. Lembrando que, a qualidade da mistura é um fator primordial para assegurar os resultados almejados. Para ver mais acesse: “Por dentro do cocho – Qualidade da mistura: ferramenta aliada aos resultados zootécnicos“.
Concentrado: esse tipo de produto pode ser desenhado para tornar-se em um suplemento mineral (linha branca) ou um suplemento mineral proteico, proteico energético ou até mesmo uma ração.
O concentrado deverá conter em sua formulação, macro e micro minerais e/ou aditivos que serão diluídos em cloreto de sódio (sal comum), em proporções recomendadas tecnicamente para posteriormente serem fornecidos aos animais e, nesse caso, apresentar as características finais de um suplemento mineral ‘linha branca’, conforme descrito anteriormente.
Para o produto final ser um proteico, proteico energético ou ração, o concentrado deverá conter em sua formulação – além dos micro e macro minerais e/ou aditivos – ingredientes cereais, como o milho e o farelo de soja, para conseguir alcançar altas concentrações de PB. Para sua utilização, esse produto é diluído em uma fonte energética (ex.: milho), conforme recomendação técnica e, dependendo da diluição, será a sua classificação.
Núcleo: é um composto de macro e micro minerais e/ou aditivos e/ou vitaminas, sua inclusão tende a ser de – no mínimo – 1% da mistura total. Tem a função de facilitar a dispersão dos micros, macros ingredientes e aditivos em grandes misturas. A partir de um núcleo é possível formular todos os produtos citados acima, até uma dieta completa.
Premix: é constituído apenas de microelementos e/ou aditivos. Sua inclusão tende a ser menor que 1% da mistura total, sendo necessário que se inclua macronutrientes (cálcio, fósforo, enxofre etc.) na mistura final, visto que no premix eles não estão presentes. É um produto que requer maior atenção na hora da mistura, necessitando que seja feita uma pré-mistura antes com algum ingrediente da fórmula (ex.: macronutrientes e milho), para posteriormente ser adicionado à mistura final.
Para produtos que contenham aditivos em sua composição, as recomendações a serem utilizadas são aprovadas para cada espécie e suas restrições, estão estabelecidas na Instrução Normativa 13/04. Para mais informações sobre a utilização de aditivos em suplementos confira no post: “Por dentro do cocho – Por que utilizar aditivos em suplementos para bovinos de corte no sistema a pasto?“
As questões sobre as classificações e características dos suplementos, cabem as normativas disponíveis nos links:
IN N° 12 – 2004 : http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/arquivos-alimentacao-animal/legislacao/instrucao-normativa-no-12-de-30-de-novembro-de-2004.pdf/view (data de acesso: 27/11/2017).
IN N° 15 – 2009 :http://www.agricultura.gov.br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-pecuarios/alimentacao-animal/arquivos-alimentacao-animal/legislacao/instrucao-normativa-no-15-de-26-de-maio-de-2009.pdf/view. (data de acesso: 27/11/2017).
A partir dessas informações é possível elaborar uma análise crítica sobre o tipo de suplemento utilizado. É indispensável dar atenção não apenas aos níveis de garantia, mas também ao consumo e a classificação, a fim de evitar frustrações sobre o desempenho animal esperado.
Muito boa a matéria.