Utilizando ureia para ruminantes
Normalmente, o assunto: “ureia para ruminantes“, causa certo desconforto a muitos pecuaristas. O “tabu” que rodeia esse ingrediente nasce devido a casos de intoxicação e morte dos animais a partir de seu uso. No entanto, entender sua utilização é a maneira mais fácil de reverter essa má impressão, permitindo que este ingrediente “chave” da formulação seja utilizado sem medo.
Toda ureia para ruminantes que chega ao rúmen é rapidamente degradada pela ação da urease, uma enzima produzida pela microbiota ruminal, capaz de quebrar a ureia em amônia. Essa degradação tende a ser quatro vezes mais rápida que a capacidade de utilização da ureia pelos microrganismos e, dependendo da quantidade de ureia na dieta, pode ocorrer acúmulo de amônia no interior do rúmen. Esse excedente é então absorvido pelas paredes ruminais, cai na corrente sanguínea e chega ao fígado para ser metabolizada, tornando-se ureia novamente pela ação natural do “ciclo da ureia”.
Quando a quantidade de amônia na corrente sanguínea ultrapassa a capacidade de metabolização do fígado, ocorre a intoxicação do animal, uma vez que a amônia tem alta capacidade de migrar para o interior das células, em especial do sistema nervoso.
A partir dessas disfunções do metabolismo, surgem os sintomas, como: apatia, incoordenação motora, tremores musculares, timpanismo, salivação excessiva, colapso circulatório, asfixia, entre outros.
O uso incorreto da ureia para ruminantes pode acarretar diferentes graus de intoxicação, os quais dependerão da velocidade de ingestão da ureia (quantidade), do PH ruminal e da adaptação do ambiente ruminal ao ingrediente. Por isso, esteja sempre ciente da fonte e da forma de utilização da ureia para ruminantes.
O que é NNP, e qual a relação com a ureia e com os ruminantes?
O NNP (Nitrogênio Não Proteico) está em qualquer alimento e consiste basicamente de aminoácidos não essenciais, peptídeos, amidas, aminas, ácidos nucléicos e amônia.
A ureia é uma fonte de PB (proteína bruta), onde sua fonte de nitrogênio provem totalmente de NNP e é por isso que esta sigla é encontrada nas sacarias de suplementos que possuem PB em sua formulação – proteicos, proteicos energéticos e rações –, representando todo o nitrogênio contido naquele suplemento que provem de fontes “não verdadeiras”. Em alguns casos, para diminuir o custo de formulação, alguns produtos apresentam alta quantidade de NNP compondo o valor da PB. Para ilustrar, pense que: 100g de ureia para ruminantes tem o equivalente proteico de, aproximadamente, 281g de PB; o farelo de soja (uma das principais fontes proteicas) apresenta em média 46g de PB para os mesmos 100g gramas.
Entretanto, não é recomendado que se faça a total substituição da PB pela ureia na formulação para ruminantes. De acordo com o NRC (National Research Council), que considera que a proteína bruta (PB) dos alimentos é constituída de múltiplas frações, que se diferem em relação à velocidade de degradação e desaparecimento ruminal (taxa de passagem), para o que haja o equilíbrio ruminal e a conclusão do processo de elaboração da proteína microbiana, é necessário atender as exigências dietéticas de PDR (proteína degradável no rumem), que é a proteína que está prontamente disponível para ser usada pelos micro-organismos ruminais (ex.: ureia e proteína verdadeira degradável no rúmen) e; PNDR (proteína não degradável no rumem). Sendo assim, alguns tipos de micro-organismos ruminais – que precisam mais do que só amônia para seu desenvolvimento –, necessitam também de proteína verdadeira e de carboidratos não estruturais, como: amido, pectina e açucares.
Tendo posse do conhecimento do que é NNP, e como ele atua dentro dos ruminantes, vamos abordar suas fontes. Assim você poderá discernir na hora de fazer a opção entre elas.
Ureia Pecuária: é uma substância nitrogenada não proteica, que é produzida a partir da reação entre amônia e gás carbônico sob elevadas condições de temperatura (240 kg/cm3) e pressão (195°C). Possui cerca de 281 % de equivalente proteico e elevado grau de pureza. É a fonte de NNP de menor custo para ser utilizada na nutrição animal.
Entretanto, possui alta capacidade de degradação ruminal instantânea, o que pode resultar em problemas de intoxicação se mal utilizada. A alta higroscopia (capacidade de absorver umidade do ambiente) é um fator que dificulta a homogeneização do produto final.
Existe também a ureia fertilizante, fonte de nitrogênio mais utilizada para a adubação do solo. A fórmula química é a mesma da ureia pecuária, porém, são inseridos aditivos na ureia fertilizante para aumentar o grau de dureza dos grãos, sendo que a questão da pureza não é levada em consideração – principalmente quando se trata de ureias importadas –, devido a contaminação com outros produtos nos galpões dos navios. Consequentemente, sua utilização na nutrição animal é proibida.
Ureia protegida ou ureia de liberação lenta: é basicamente a ureia pecuária revestida por camadas de polímeros e/ou ceras vegetais. Esse processo visa reduzir a velocidade de liberação de nitrogênio no rúmen, fazendo com que a microbiota tenha mais tempo de utilização em seu metabolismo. Nesse ingrediente, a concentração do equivalente proteico é de aproximadamente 261%. Tecnicamente, não é recomendado substituir totalmente a PB de uma dieta, ou de concentrado, pela ureia protegida, ou por outra fonte de NNP. Conforme dito anteriormente, o animal precisa de um equilíbrio de fontes de nitrogênio (PDR e PNDR).
No mercado, existe também a ureia fertilizante revestida com polímeros, que visa uma liberação gradual do nitrogênio, de acordo com a umidade do solo. Não há experimentos sobre o comportamento dessa ureia no rúmen, até porque ela não foi desenvolvida para esse fim. Da mesma maneira que ocorre com a ureia fertilizante tradicional, pode ocorrer a contaminação com outros produtos químicos.
Ureia extrusada: é feita a partir do milho, da ureia pecuária e do enxofre. Esses três ingredientes – depois de moídos – passam por uma processo de alta temperatura, pressão e posterior resfriamento. Devido aos seus ingredientes, a ureia extrusada tem o balanço entre: nitrogênio, enxofre e energia, parcialmente estabelecidos, o que favorece a utilização pela a flora ruminal, recomendando-se uma parte de enxofre para nove partes de nitrogênio.
A associação do nitrogênio com enxofre é necessária para que os microrganismos sintetizem os aminoácidos sulfurados, a metionina e a cisteina. O equivalente proteico desse produto tende a variar de 100% a 200%, devido a dosagem de nitrogênio em cada formulação especifica. Na maioria dos estudos pesquisados, os resultados mostram que essa fonte de NNP não possui a capacidade de tornar a liberação de nitrogênio controlada.
Fica claro que compreender como a ureia é metabolizada no ruminante é obrigatório para evitar eventuais problemas com esse ingrediente. Saber quais são os tipos de ureia disponíveis no mercado e como utilizá-las em formulações, permite a redução de custos, e nesse ponto não há motivos para não aproveitar seus benefícios.
Excelente materia , parabens gostei
Obrigado pela consideração e por prestigiar nossos conteúdos, Osvaldo. Não deixe de se cadastrar no rodapé desta página para receber notificações de novos conteúdos. Um abraço!
Muito bem explicado.
Excelente..
Que bom que gostou Júnior! Inscreva-se para receber a nossa newsletter com as atualizações de conteúdos do agBlog!
Importante a informação de novas tecnologias
Muito bom. Eliminei algumas duvidas. Pois estou entrando agora nessa área de revestimento de ureia tando como fertilizante e como nutrição animal.
Excelente abordagem e bastante esclarecedora, pois muitos querem desacreditar o bom uso da mistura uréia + sulfato de amônio!!!!!
Muito bom, quanto mais informação sobre um assunto melhor, precisamos de muita orientação. Obrigado.
Muito bom. Gostei da explicação.
Excelente !!!
Matéria super interessante e trazendo mais conhecimento nosso segmento.
Parabéns.
Parabéns pela publicação . Está muito esclarecedora.